Lima Barreto
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Os jornais, dentro em breve, hão de noticiar o seguinte, com grandes títulos e subtítulos:
“Ontem, pelas primeiras horas da manhã, a casa de detenção foi abalada pela explosão de uma bomba de dinamite. A surpresa que causou, tão inesperado acontecimento, não impediu que o seu pessoal superior não desse imediatamente as necessárias providências.
“Tratando-se de averiguar onde tivera lugar o fato, soube-se logo que se dera a explosão no cubículo em que está alojado, Francisco Manso de Paiva Coimbra, o célebre assassino do general.
“Como é sabido de todos, esse desgraçado rapaz, em 8 de novembro do ano último, na ocasião em que o general Pinheiro penetrava no Hotel dos Estrangeiros, assassinou-o fria e covardemente pelas costas.
?Preso em flagrante, foi convenientemente processado e aguardava o julgamento que devia ter lugar proximamente.
“O pessoal da detenção não sabe explicar como o criminoso conseguiu ter em seu poder uma bomba de dinamite.
“Há várias versões, mas todas elas nada explicam, antes complicam a situação dos funcionários daquele presídio.
“É ocasião de recordar que não é a primeira vez que tal fato se dá.
“Há tempos, durante o longo sítio que o marechal Hermes decretou, o cabo Ramos, recolhido à Detenção, por ser acusado de ter tentado contra a vida do referido general, então ministro da Guerra, suicidou-se misteriosamente, com o auxílio de uma bomba de dinamite, que ele fez explodir no cubículo em que estava recolhido.
“Até hoje, como agora com o caso de Paiva Coimbra, o fato não foi satisfatoriamente explicado e o seu mistério tem resistido a todas as investigações.
“É de esperar que, daqui em diante, tais acontecimentos não se repitam e esperamos que o pessoal da detenção não permita que os detentos tenham nas suas prisões laboratórios de pirotécnica, de modo a permitir-lhes o fabrico de explosivos violentos.”
Pela adivinhação.
Careta, Rio, 25-9-1915
Fonte: pt.wikisource.org
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