Campos cheios de prazer (1595)

Redondilhas de Luís Vaz de Camões

Glosa

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a este mato alheio:
Campos bem-aventurados,
tornai-vos agora tristes,
que os dias em que me vistes
alegre são já passados.

Campos cheios de prazer,

vós, que estais reverdecendo,

já me alegrei com vos ver;

agora venho a temer

que entristeçais em me vendo.

E, pois a vista alegrais

dos olhos desesperados,

não quero que me vejais,

para que sempre sejais

campos bem-aventurados.

Porém, se por acidente,

vos pesar de meu tormento,

sabereis que Amor consente

que tudo me descontente,

senão descontentamento.

Por isso vós, arvoredos,

que já nos meus olhos vistes

mais alegrias que medos,

se mos quereis fazer ledos,

tornai-vos agora tristes.

Já me vistes ledo ser,

mas despois que o falso Amor

tão triste me fez viver, .

ledos folgo de vos ver,

porque me dobreis a dor.

E se este gosto sobejo

de minha dor me sentistes,

julgai quanto mais desejo

as horas que vos não vejo

que os dias em que me vistes.

O tempo, que é desigual,

de secos, verdes vos tem;

porque em vosso natural

se muda o mal para o bem,

mas o meu para mor mal.

Se perguntais, verdes prados,

pelos tempos diferentes

que de Amor me foram dados,

tristes, aqui são presentes,

alegres, já são passados.

Fonte: www.bibvirt.futuro.usp.br

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