Poesia – O que é
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A Poesia é uma forma de arte em que a linguagem humana é utilizado pelas suas qualidades estéticas, além de, ou em vez de seu conteúdo fictício e semântica.
Consiste em grande parte de obras literárias orais ou em que língua é utilizada de uma forma que é sentida por seus usuários e público e diferem da prosa ordinária.
Ela pode ser usada de forma condensada ou comprimida para transmitir emoções ou idéias para os leitores. Ela também pode utilizar dispositivos como assonância e repetição para conseguir efeitos musicais ou encantatórios.
Poemas freqüentemente contam para o seu efeito em imagens, de associação de palavras, e as qualidades musicais da linguagem utilizada. A estratificação interativa de todos esses efeitos gerarm um significado que é o que marca a poesia.
Devido à sua natureza de enfatizar a forma linguística em vez de utilizar linguagem puramente pelo seu conteúdo, a poesia é notoriamente difícil de traduzir de uma língua para outra: a possível exceção a esta pode ser a hebraica Salmos, onde a beleza é encontrada mais na balança de idéias do que no vocabulário específico.
Na maioria poesia, são as conotações e da “bagagem” que as palavras carregam (o peso das palavras) que são mais importantes. Estes tons e nuances de significado podem ser difíceis de interpretar e pode causar nos diferentes leitores de “ouvir” uma determinada peça de poesia de forma diferente. Embora existam interpretações razoáveis, nunca poderá haver uma interpretação definitiva.
Natureza da poesia
A poesia pode ser diferenciada a maioria do tempo a partir de prosa, que é a língua destinada para transmitir um significado de uma forma condensada e menos mais expansivo, com freqüência usando estruturas lógicas ou narrativas mais completas do que a poesia faz.
Isto não implica, necessariamente, que a poesia é ilógica mas sim que a poesia é muitas vezes criada a partir do necessidade de escapar da lógica, bem como expressar sentimentos e outras expressões de uma forma apertada, condensado.
Outras formas incluem a poesia narrativa e a poesia dramática, sendo que ambas são usadas para contar histórias e assim se assemelham a romances e peças de teatro.
No entanto, ambas as formas de poesia utilizam as características específicas de composição de verso para fazer essas histórias mais memoráveis ou para melhorá-los de alguma forma.
Poesia – História
A poesia como uma forma de arte antecede a alfabetização.
Nas sociedades pré-letradas, a poesia era frequentemente usada como um meio de gravação de história oral, narrativa (poesia épica), genealogia, da lei e outras formas de expressão ou o conhecimento que as sociedades modernas podem esperar ser tratado em prosa.
O Ramayana, um épico sânscrito que inclui poesia, provavelmente foi escrito no século 3 aC em uma linguagem descrita por William Jones como “mais perfeito do que Latina, mais abundante do que o grego e mais primorosamente refinado do que qualquer um.”
A Poesia é também muitas vezes estreitamente identificado com a liturgia nessas sociedades, como a natureza formal da a poesia torna mais fácil de lembrar encantamentos sacerdotais ou profetiza. A maior parte das escrituras sagradas do mundo são feitos de a poesia, em vez de da prosa
Alguns autores acreditam que a poesia tem suas origens na música.
A maioria das características que o distinguem de outras formas de elocução-ritmo, rima, a compressão, a intensidade de sentimento, o uso de refrões parecem ter surgido a partir de esforços para se encaixar palavras para formas musicais.
No entanto, na tradição européia os poemas mais adiantados da sobrevivência, da Homero e épicos de Hesíodo, identificam-se como poemas para ser recitado ou cantado com um acompanhamento musical ao invés de pura música.
Poesia – Origem
Poesia Clássica
Sob a ação do processo de evolução cultural das civilizações mais adiantadas, como a grega e a latina, a poesia, essencialmente narrativa no princípio, foi tomando características definidas.
A Odisséia, de Homero, define o poema épico antigo, por uma vinculação às raízes primitivas e populares. Entende-se por épica (do grego epos, canto ou narrativa) a narrativa poética de substrato histórico, considerando-se ambas as obras, a Odisséia e a Ilíada, como a codificação de todos os mitos gregos.
Os poemas homéricos possuem tom eloqüente em seus versos (hexâmetros) e duração das vogais, como se tivessem sido feitos para serem falados em voz alta.
A poesia Lírica nasceu da fusão do poema épico com o instrumento que a acompanhava, a lira.
As formas foram então se diversificando; variedades e novas técnicas surgiram, como: a ode, a elegia, os epitáfios, as canções, as baladas e outras mais que se desenvolveriam posteriormente como o soneto, e o madrigal.
Safo (século VI a.C.) é a primeira poetisa conhecida.
Sua obra, dedicada às musas, é uma variedade de poesia lírica: odes, elegias, hinos e epitalâmios. Píndaro foi o primeiro grande criador de odes, que conservava uma narrativa heróica, embora já admitisse um canto pessoal, subjetivo, retratando a vida e experiências do próprio autor.
Simônides de Ceos foi um grande criador de epitáfios, poesia em memória dos heróis mortos.
Outra forma lírica derivada é a poesia bucólica, que teve em Teócrito (século III a.C.) um grande cultor.
A primeira característica da poesia lírica é a maior liberdade quanto ao número de sílabas dos versos.
Ela também foi de grande influência sobre a poesia dramática, que se apresentava com duplo caráter: épico e lírico (objetivo/subjetivo). A poesia dramática mantinha a narrativa épica, mas transfigurava os narradores nos próprios personagens das ações, pintando seus estados emotivos, o que lhe conferia um sabor lírico.
Os três grandes poetas dramáticos da Antigüidade Clássica são: Eurípedes, Ésquilo e Sófocles. Das inúmeras peças que escreveram, somente algumas foram preservadas, sendo ainda representadas em todas as partes do mundo.
Anchieta, em sua campanha catequista, no Brasil do século XVI, usou um subgênero dramático, o auto sacramental, como forma de difusão do ideais cristãos entre os indígenas.
A cultura latina apresenta acentuado mimetismo literário em relação à cultura grega. Virgílio escreveu um grande poema épico, a Eneida, calcado sobre a unidade latina. As Metamorfoses, de Ovídio, também apresentam caráter épico-lírico.
Outro gênero poético de importância é a sátira com destaque para Horário, PércioeJuvenal.
Poesia Renascentista
Entre os séculos XII e XVI a Europa foi invadida por subgêneros poéticos, de feição popular, que derivavam diretamente das muitas formas de poesia lírica grego-romana. A poesia continuava com o seu substrato narrativo, em poemas longos ou curtos.
Nessa época surgiu Dante Alighieri, já trabalhando outra língua que não o latim e que marchava para a sua estratificação, o italiano. Antes de escrever a Divina Comédia, Dante criou a obra A Vida Nova. Nessa obra trabalha o soneto, ao lado de algumas passagens em prosa, para cantar um amor. Mas o soneto só viria a se difundir em toda a Europa por Petrarca, que de fato exerceria forte influência sobre o renascimento literário, entre os séculos XVI e XVII.
Como não havia mais uma mitologia a codificar, os poetas começaram a por em seus versos um amontoado de citações mitológicas e da história antiga. Tais recursos se refletiriam até o Romantismo e, em pleno século XIX, via literatura portuguesa e francesa, estariam presentes na obra de poetas brasileiros, como Gonçalves Dias, Castro Alves, Fagundes Varela e Álvares de Azevedo.
Os dois grandes poemas épicos posteriores a Grécia e Roma foram as obras: A Divina Comédia, de Dante e Os Lusíadas, de Camões.
Outros poetas tentaram a epopéia, em termos homéricos ou camonianos, como Ronsard, na França do século XVI; ou Bento Teixeira Pinto, ainda no século XVI; ou ainda Milton na Inglaterra setecentista. Ariosto, também na Itália é autor de um grande poema épico, Orlando Furioso.
Ainda podem ser observadas outras formas renscentistas: A Canção de Rolando, na França; ou El Cantar de Mio Cid, na Espanha; e Os Nibelungos, na Alemanha.
Ainda como sintoma da revitalização da cultura clássica, aparece William Shakespeare, poeta dramático que transfigurou a tragédia com seu gênio.
Poesia Romântica
Entre o fim do século XVIII e início do século XIX surgiu o movimento romântico. Apareceu como uma tendência literária oposta ao espírito clássico. Apesar da preocupação em fugir aos modelos clássicos, os poetas românticos jamais se afastaram da poesia lírica, agora com a exaltação exacerbada de paixões e emoções.
Goethe desfraldou a bendeira na Alemanha, mas a essência do movimento foi definida na França por Chateaubriand, com O Gênio do Cristianismo, de 1802 e por Mme. De Staël, com Da Alemanha, de 1810.
Uma face mais positiva dessa escola foi a que se voltou para a literatura popular, daí a necessidade de que o poeta romântico sentiu em fazer uma poesia que fosse acessível, com motivos populares, e, ao mesmo tempo, que fosse de um nível literário respeitado. Inaugurou, assim, uma nova concepção de forma, mais livre em sua estruturação técnica, o que permitiu a criação de novas medidas para o verso.
Os críticos dão Gonçalves de Magalhães, como o primeiro poeta romântico brasileiro. Araújo Porto Alegre seria o seu companheiro nesse primeiro grupo romântico.
Um pouco recuado no tempo, encontra-se uma espécie de pré-romantismo brasileiro, na segunda metade do século XVIII, com Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e outros. Por uma adoção mais total aos cânones da nova escola, destacam-se Álvares de Azevedo, produtor de uma poesia na linha byroniana, e Junqueira Freire. Ainda com destaque, Castro Alves e Joaquim de Souza Andrade. O segundo, mais desconhecido, é autor de uma poesia adiantada para o seu tempo, prenunciando o Simbolismo e o Surrealismo.
Na segunda metade do século XIX surgiram na França as escolas literárias que receberam o nome de Parnasianismo e Simbolismo. A primeira procurava reestabelecer o rigor da forma, que o movimento romântico deixara em um segundo plano. Os simbolista irromperam com um espírito romântico ainda mais acentuado. Abandonaram o rigor formal apenas de modo aparente, devido ao aspecto de terem continuado como rimadores e metrificadores.
Permaneciam os dois movimentos, porém, com o mesmo pathos da exacerbação emotiva. No Brasil, mais uma vez, surgiram por influência francesa, pois então já eram lidos Verlaine, Baudelaire, Valéry, Mallarmé, Rimbaud e outros. A trindade brasileira – Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia – que se considerava helenista, compôs inúmeros sonetos.
Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens representaram os simbolistas no Brasil.
Poesia Moderna
No início do século XX, a poesia passou por outras mudanças formais. Cansados de filiação a escolas e ideologias, os poetas resolveram criar seus próprios meios, recursos e técnicas.
O verso branco, sem rima ou metro rigoroso, surgiu como revolucionário nessa nova etapa. Mallarmé fora um dos primeiros a abolir a rima, a métrica e até mesmo a sintaxe convencional do verso; em seu poema “Jogo de Dados” exibe os novos recursos.
Graça Aranha, que, já tendo estado na França, tomara contato com as novas experiências, alertaria alguns poetas brasileiros que, mais tarde, em 1922, lançam a Semana de Arte Moderna, rompendo publicamente todos os vínculos com o passado. Mário de Andrade e Oswald de Andrade são as vozes iniciais.
Não só os temas brasileiros, como também a linguagem coloquial, servem de matéria prima aos inovadores. Cada poeta traz a sua contribuição ao novo movimento, como Cassiano Ricardo, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, os mais altos momentos da poesia brasileira anterior a 1945.
A reação de Mallarmé, já no fim da vida, contra sua própria posição artística, fez que sua obra ficasse dividida em duas fases, a simbolista e a espacial. Ao quebrar o verso, verifico que o espaço em branco da página poderia ser usado não só como simples suporte gráfico, mas também, e principalmente, como material orgânico.
Apollinaire também verificaria a importância da quebra do discurso. Pertencente a um grupo de poetas chamados dadaístas, usaria o caligrama, palavras soltas e até letras, procurando figurar a idéia central do poema.
No Brasil, os primeiros poetas que se interesseram pela palavra em si, como signo concreto, foram Oswald de Andrade, na fase de 1922, e João Cabral de Mello Neto, da chamada “Geração de 1945”. Não se entregaram à poesia espacial, mas seu discurso é concreto e essencial, sem derrames subjetivistas.
Um grupo de escritores paulistas lançou, em 1956, a I Exposição Nacional de Arte Concreta.
Foram eles: Décio Pignatari, Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Ferreira Gullar. A poesia concreta receberia, ainda no Brasil, a adesão de poetas de fases anteriores, como Cassiano Ricardo e Manuel Bandeira.
Os grupos paulista e carioca, por uma discordância teórica, acabariam por se separar, insurgindo-se o segundo contra o cerebralismo de alguns poemas do primeiro, e defendendo a permanência do subjetivismo na poesia, como uma dimensão maior da experiência humana. O fato é que as experiências de uma poesia sem verso continuam como sintoma de uma nova linguagem poética.
Poesia – Texto
Poesia é a forma especial de linguagem, mais dirigida à imaginação e à sensibilidade do que ao raciocínio. Em vez de comunicar principalmente informações, a poesia transmite sobretudo emoções.
Por sua origem e por suas características, a poesia está muito ligada à música. Ela é uma das mais antigas e importantes formas literárias. Desde tempos remotos as pessoas sentem prazer em cantar enquanto trabalham ou brincam. Os poetas antigos recitavam histórias de deuses e heróis. Eles conquistaram grandes honrarias em todas as civilizações. Hoje em dia, nomes como T. S. Eliot, Pablo Neruda ou Carlos Drummond de Andrade merecem o maior respeito. Milhões de pessoas lêem poesia, e muitas já escreveram alguns versos, ao menos uma vez em suas vidas.
Ao longo do tempo, os poetas e os filósofos preocuparam-se em definir a poesia. Para o poeta espanhol García Lorca, “Todas as coisas têm seu mistério, e a poesia é o mistério que todas as coisas têm”. O poeta francês Mallarmé, defendendo uma outra concepção, afirmou que “a poesia se faz com palavras, e não com idéias”. E, segundo T. S. Eliot, “aprendemos o que é poesia lendo poesia”.
Tipos de Poesia
Os poetas têm escrito poemas de vários tipos.
Dois deles, entretanto, são considerados os principais: o poema lírico e o poema narrativo. Alguns críticos e ensaístas acrescentam, como um terceiro tipo, o poema dramático.
Poema Lírico
É geralmente curto.
Muitos carregam grande musicalidade: ritmo e rima às vezes os fazem parecer canções. No poema lírico o autor expressa sua reação pessoal ante as coisas que vê, ouve, pensa e sente. Alguns teóricos incluem nesse tipo de poesia o poema satírico. Para conhecer os vários tipos de poesia lírica.
Poema Narrativo
conta uma história e geralmente é mais extenso que os outros. O poeta apresenta os ambientes, os personagens e os acontecimentos e lhes dá uma significação. Um exemplo de poema narrativo é Os Lusíadas, de Luís de Camões. As epopéias e as baladas estão entre os principais tipos de poesia narrativa. Costumamos pensar que as fábulas são trabalhos em prosa, mas muitas delas foram escritas originariamente como poemas narrativos. Para maiores informações sobre essas formas poéticas.
O Poema Dramático
assemelha-se ao poema narrativo porque também conta uma história e é relativamente longo. Mas, no poema dramático, essa história é contada através das falas dos personagens. As peças de teatro escritas em verso constituem forma de poesia dramática. Em sentido amplo, também pode ser considerado um exemplo o “Caso do Vestido”, de Carlos Drumonnd de Andrade. Através de uma suposta conversa entre mãe e filhas, o leitor acompanha uma história de amor e traição e tem os elementos para reconstituir o caráter e os sentimentos dos personagens principais.
Como o poeta escreve
Para transmitir idéias e sensações, o poeta não se apóia unicamente no significado exato das palavras e em suas relações dentro da frase. Ele utiliza sobre tudo os valores sonoros e o poder sugestivo dessas mesmas palavras combinadas entre si.
Do ponto de vista de sua forma, a poesia caracteriza-se pela existência de versus (linhas que constituem o poema). No texto em verso, as linhas de palavras são tão extensas quanto o poeta o deseje. No texto em prosa, elas têm o tamanho que a página ou coluna que as contém comporta. Quem lê versos sente um ritmo mais ou menos regular, diferente do ritmo da prosa. Os versos podem ou não ser reunidos em estrofes, grupos de dois ou mais versos. A rima (repetição de sons existentes no final dos versos) é própria da poesia, embora não indispensável.
Além disso, o poeta faz uso daquilo que as palavras podem sugerir ao leitor. Esse efeito sugestivo das palavras é obtido através dos sons que elas têm e, sobretudo, das diversas imagens, ou figuras de linguagem, que o autor for capaz de criar. Em suma, a poesia resulta da combinação sensível e inteligente de todos esses aspectos da linguagem.
Verso e Melodia
Os poetas modernos usam tanto o verso metrificado quanto o verso livre. O verso metrificado, isto é, que obedece a um esquema métrico, a uma espécie de “compasso” regular, é o tipo mais antigo e mais comum. Um poema em verso livre, como o de Cecília Meireles, não tem um esquema métrico regular.
Para se identificar que tipo de verso o poeta usa: basta ler em voz alta algumas linhas do poema. Se ele revela uma “batida” regular, um ritmo constante, isso significa que tem um esquema métrico e, portanto, está escrito em versos metrificados. Em caso contrário, trata-se de um poema em verso livre.
Assim que o leitor percebe o esquema métrico, o tipo de construção do poema, espera que ele continue regularmente até o fim.
Mas a melodia de um poema não reside propriamente em sua métrica. Ela resulta do uso que o poeta faz do esquema escolhido, e da liberdade que ele se permitir. O poeta encontra sua forma própria, mas não se torna escravo dela. Quando você lê ou ouve um poema, espera certa regularidade na cadência. Às vezes, entretanto, é agradavelmente surpreendido por algumas variações. Como nos poemas de João Cabral de Melo Neto.
Os sons das palavras
Assim como um compositor aproveita-se dos sons dos diferentes instrumentos e do contraste entre notas graves e agudas, o poeta obtém efeitos musicais e significativos utilizando os diversos sons de que se compõem as palavras. Por exemplo, um verso em que existam muitas vogais abertas, como a , é, pode lembrar ao leitor um clima de alegria e luminosidade; a predominância de sons fechados r, ô, pode sugerir uma atmosfera pesada. É claro que o poeta não usa mecanicamente esses recursos, como se fossem ingredientes de uma receita. O bom resultado dependerá, em última análise, de sua sensibilidade. A utilização dos efeitos sonoros das palavras é mais conhecida através da rima e da aliteração.
A rima, num paralelo com a música, já foi chamada de “harmonia do verso”. Em principio, ela é agradável ao ouvido. Isso, por si só, já a justificaria. Mas, além desse aspecto, a rima pode ajudar a constituir o ritmo do poema, sobretudo na poesia clássica, onde assinala o final do verso. Aliás, as palavras rima e verso provêm do latim rhytmus, originado do grego rhythmós, “movimento regulado e compassado, ritmo”.
A excessiva preocupação com a rima, sobretudo no parnasianismo, levou muitos poetas a forçarem sua expressão e caírem num formalismo de pouco significado. Hoje em dia, os poetas usam indiscriminadamente versos rimados e versos brancos.
A aliteração é uma repetição de sons consonantais dentro do verso, como neste exemplo se pode ver em “O Navio Negreiro”, de Castro Alves: “Auriverde pendão de minha terra;/que a brisa do Brasil beija e balança.”/. A aliteração pode ser usada para gerar eufonia (efeito sonoro agradável) ou para imitir sons ou ruídos naturais.
Imagem e Pintura
O poeta não trabalha apenas com a melodia da língua, mas também com as imagens e cenas que lança à mente do leitor.
Às vezes, ele faz quase a pintura de uma cena, como neste início de “O Banho”, de Ribeiro Couto:
Junto à ponte do ribeirão
Meninos brincam nus dentro da água faiscante.
O sol brilha nos corpos molhados,
Cobertos de escamas líquidas.
Mas o poeta não tem que limitar-se às coisas que podem ser vistas. Muitas vezes, para melhor comunicar o que pretende, ele sugere sons, movimentos, perfumes — através de imagens bastante fortes. Em “Mormaço”, Guilherme de Almeida, não é à toa que palmeiras e bananeiras têm “ventarolas”e “leques”; que “(…) as taturanas escorrem quase líquidas na relva que estala como um esmalte”; e que “— uma araponga metálica — bate o bico de bronze na atmosfera timpânica”. O conjunto do poema transmite ao leitor a sensação de calor, desconforto e impossibilidade de sonhar sob uma tal temperatura. Ao chamar a araponga de “última romântica”, Guilherme de Almeida está ironizando, pois nada existe de menos romântico que o canto seco e agressivo desta ave.
Pensamento e Sentimento
Às vezes o poeta lida com idéias e emoções complexas, mesmo através de assuntos aparentemente simples. A “Morte do Leiteiro”, de Carlos Drummond de Andrade, fala de uma situação comum — a entrega do leite — em linguagem bastante acessível. Mas, ao terminar a leitura, sentimos que o poeta deu a essa situação um significado muito mais amplo. Drummond transforma o que não passaria de uma cena policial — confundido com um ladrão, o leiteiro é morto — num retrato das diferenças sociais entre as pessoas, da violência da vida urbana e da insegurança dos ricos, preocupados apenas em defender suas propriedades.
Sistema de versificação
Através da história, foram criados vários sistemas de versificação, devido às diferenças entre as culturas e as línguas. Os versos que conhecemos na poesia de língua portuguesa — metrificados e livres, rimados e brancos, assim como as combinações entre esses tipos — constituem apenas alguns exemplos desses sistemas. Os primeiros hebreus escreviam numa espécie de padrão de frase semelhante aos versos livres das literaturas posteriores. Os antigos gregos desenvolveram versos quantitativos. Esses versos eram baseados na quantidade, isto é, duração das sílabas, e não em seu número, como em português e francês, de acordo com o ritmo de sua língua. Os anglo-saxões escreveram estrofes de quatro versos cujo ritmo se baseava em aliterações. Os poetas medievais franceses já contavam as sílabas como base rítmica dos seus versos e usavam assonâncias (rimas em que coincidem apenas as vogais, a partir da última vogal tônica, apoiadas em consoantes diferentes. Os poetas franceses posteriores criaram esquemas de rimas bastante elaborados. Povos como os hindus, os japoneses e os persas inventaram vários outros sistemas de versificação. Uma famosa forma poética japonesa, o haicai ou haiku, compõe-se de apenas dezessete sílabas, distribuídas em três linhas. À diferença da poesia ocidental, o haicai não possui rima nem ritmo.
Poesia social
O que é
As poesias sociais tem como temática os assuntos relacionados e direcionados a defesa de ideias igualitárias e sociais. As poesias sociais abordam temas relacionados as questões sociais e as questões politicas, utilizando uma linguagem bem simplificada.
A Poesia social é um termo que tem sido amplamente utilizado para descrever a poesia que realiza uma função social ou contém um nível de comentário social.
Alguns escritores e artistas são adeptos desse estilo de poesia, tais como: Thiago de Mello e Ferreira Gullar entre tantos outros.
Além da poesia social outros estilos de poesia fazem parte da literatura brasileira, tais como:
Poesia lírica
Poesia existencial
Poesia Marginal
Poesia-Práxis
Poesia Concreta
Poesia e Mensagem Social
I.
Condição imprescindível para se fazer poesia social: o humor.
Por definição a poesia social pretende ser eficaz. Ora, a eficácia dificilmente harmoniza-se com a poesia.
É por assim dizer a anti–poesia. O poeta social tenciona influir diretamente na história, persuadido de que tem nas mãos uma arma. Mas que arma? A poesia, em última análise, é um cacho de imagens na expressão de Gaston Bachelard. Destinam-se essas imagens a levar o homem além de seu círculo habitual de preocupações e interesses. A metáfora quer dizer, precisamente, transcendência de indicação, de objeto, de visão. Por se relacionar com a parte emocional do homem, a poesia tem a ver com seus sonhos. Nenhum sonho é inocente. Todo sonho anuncia alguma coisa, refere-se a determinada necessidade vital, insatisfeita na vigília, ou desejando ser satisfeita em vigília. Portanto a poesia é utópica, não se relacionando propriamente com o tempo e o espaço da vigília, mas com o tempo e o espaço da vida, que são maiores. Imaginar que quando se sonha se está fora da realidade é imaginar que o sonho nos exclui da vida. Com humor, pois, é possível realizar poesia social, uma vez que a ficção (fingimento) completa a vida, sugerindo-lhe coisas de cuja possibilidade esta jamais suspeitaria. A imaginação, fonte princi-pal da poesia, é o reino do impossível hic et nunc, não do impossível em si. A imaginação, pelo contrário, existe porque existe o impossível.
II.
Quando um poeta escreve um poema social localiza-se no espaço e no tempo. Abdica da utopia, numa tentativa extrema – e a priori fracassada – de influir na história. O poema torna-se, realmente, uma arma para ele. O poeta quer produzir determinado efeito, não só emocional como atual. Não se limita a lavrar o coração, esperando que um dia a semente frutifique em ações eficazes; o poeta, nesse caso, quer induzir o coração à ação. Ao menos intencionalmente, o poema social reafirma-se prático. Como conciliar, então, o lado teórico da poesia com o lado prático da mesma, posto que a poesia se caracteriza, justamente, pela distância psíquica que a metáfora introduz? Para haver poesia importa operar uma ruptura no mundo intelectual ordinário; necessário inserir uma imagem mediadora na vida psíquica. Além disso, a natureza formal da poesia, digamos sua morfologia, exige determinados elementos que não se coadunam com a praticidade e eficiência da linguagem ordinária. Poesia é linguagem extraordinária. Nesse caso, poder-seá falar poeticamente permanecendo-se dentro dos limites do ordinário?
III.
A poesia pode visar a ação indiretamente. Ela é uma emoção revivida na tranqüilidade. Portanto, todo poema possui uma finalidade, se é que se pode empregar tal termo de conotações práticas. O poema quer ordenar as emoções, não as ações. Indiretamente ordena também estas, pois as emoções são as molas de nossa atividade em todos os sentidos. O humor lembra-nos que o poeta é não só um artista (teórico), mas uma personalidade ética (um moralista). Portanto, no âmago do poema lateja uma vocação política. O poema, juntamente com tudo que o homem, realiza, relaciona-se com seu estarno- mundo, com sua intervenção no mundo. Um poema, por mais poema que seja, participa do mundo de seu autor. E algo em conexão com a natureza global do homem. Embora a natureza específica do poema seja utópica, sua realidade humana geral não o é. O poema é uma ação inserida no contexto de outras ações, finalizadas pelo ético. O ético (pouco importa o que se entenda por esta noção, em termos de credo ou ideologia) governa as demais ações, submetendo-as ao objetivo supremo. A poesia, por estética que seja, possui uma dimensão ética, isto é, política. Em última análise, deve servir aos fins supremos da personalidade, mantendo seu caráter de ação autônoma.
IV.
O poeta social deverá ser, obrigatoriamente, humilde. Pelo menos, da humildade do humor que consiste em ter os pés fincados sobre a terra. Que é um poema?
Uma coisa alada que não pode transformar-se num leão ou elefante. Se o poeta quiser ser eficaz, seja homem de ação. A praxis da poesia é a da ação indireta. A praxis política, a da ação direta. Se o poeta social quiser ser eficaz terá que compreender que sua eficácia nada tem a ver com a eficácia imediata. Uma metáfora não se destina a mover um gatilho; pode ajudar a movê-lo. Na medida em que um poema se pretende eficaz, nega-se como poema. Na medida em que se aceita poema, torna-se eficaz. Aparentemente desligado da história, o poema introduz-se nela pela conspiração do silêncio e da ruptura da linguagem. V. O caráter específico da poesia não a exime de responsabilidade. Uma delas, a de sujar-se as mãos. Embora consciente de sua ineficácia, o poeta deve situar-se dialeticamente entre a ação e a contemplação. Entre a teoria e a praxis. Sua praxis é teórica, sua teoria possui vocação prática. Portanto, sua luta com as palavras consiste em trazê-las para o cotidiano. O cotidiano, por definição, é prático. Como, então, conciliar a distância psíquica da poesia com a imediatez das opções urgentes? E aí que se situa a poesia social.
O poeta social é uma espécie de ferreiro que malha o ferro em brasa, ciente de que este se esfriará. Seu ponto de partida é o cotidiano.
Seu ponto de chegada, o mito.
Inverte o processo de fabricação poética: em vez de abastecer-se do arsenal mitológico, extrai mitos da vida prosaica. Na medida em que obtém êxito, sua poesia contribui para a elucidação da consciência do tempo. Sua poesia é impura por necessidade de solidariedade.
Por que Escrever Poesia?
I. Primeiramente, duas definições de poesia, ambas precárias:
1) Poesia é lucidez enternecida
2) Poesia é emoção social mediatizada por uma emoção pessoal, através da linguagem.
E o poeta?
– Um operário da emoção social. Por emoção social entendemos uma emoção que não se exaure nos confins da subjetividade, mas, por apoiar-se na língua, invenção coletiva, possui uma dimensão objetiva. Todo homem experimenta emoções pessoais provocadas por recordações, fantasias, pormenores de sua existência. Essas emoções exprimem-se através da linguagem, e também, por meio de gritos, gestos, palavrões, suspiros. Ora, o próprio da poesia é o distanciamento relativo da emoção em relação às suas fontes originais. Poesia é emoção em câmera-lenta, emoção saboreável. Pode, eventualmente, reconverter-se à violência primitiva. Na medida, porém, em que é poesia exige um clima de degustação. O fato de somente o animal humano poder provocar a emoção artificialmente, mostra que existe nele um aparelho espiritual, ou, pelo menos, noético. O animal não conscientiza sua emoção; o instinto o submerge. O homem pode conscientizá-la. É por isso que a poesia, além de significar uma produção artificial de emoções, significa uma produção consciente de emoção. O homem pode emocionar-se com o que quer emocionar-se. Neste sentido, o homem pode aumentar sua capacidade de autodefesa e expansão, pois a emoção foi dada ao animal para que este possa defender-se e prolongar-se. A emoção de defesa desencadeia forças que o ajudam a sobreviver; a emoção sexual ou erótica) permite-lhe dar continuidade à sua forma vital e intensificá-la. De qualquer maneira, a poesia está relacionada com o instinto, por ser, principalmente, uma emoção. Segue-se que a literatização da poesia implica sua morte. Na medida em que se sofistica, a poesia degenera. Todos os formalismos conspiram contra ela, pelo fato de tornarem a emoção uma emoção in vitro. É preciso aperceber-se de que não se pode isolar o vírus da poesia. A poesia nasceu suja, ou limpa como toda a vida, mas não enxuta, nem sem cordão umbilical e placenta. Grande parte da inapetência do público pela poesia tem a ver com a maneira pela qual os professores a encaram. Estes consideram a poesia um fenômeno literário, desvinculado da vida, exercido por uma elite que se compraz em viver numa atmosfera rarefeita, na qual a imponderabilidade instintiva e emocional os mantém separados do comum dos mortais.
Com dolorosa lucidez, cumpre admitir: a poesia tomouse uma heresia existencial. Isto significa que deixou de ser eficiente. Deixando de ser eficiente, poderá ainda ser poesia?
II. Por que escrever poesia? Para sobreviver.
A poesia é uma arma da vida. Possui a mesma função que todo instinto. Num século como o nosso, em que se reprimem as emoções, ou elas são sistematicamente eliminadas, a poesia dificilmente aparece. Nosso existir cotidiano obriga-nos a abafar a imaginação, a ignorar os sentimentos. Sendo um sonho fora do sono, a poesia exige a libertação do subconsciente, e o faz em plena vigília. O homem que cria um poema – o poeta ou o leitor, pois não há leitor que não seja de alguma forma, co-poeta – dispõe-se a sonhar de olhos abertos, mesmo que isto lhe exija responsabilidade. Não existem, apenas, sonhos líricos, como se pensa; há pesadelos também. Os poemas contemporâneos tendem mais para o pesadelo do que para o sonho gratificante. Escreve-se porque é necessário respirar. No seio de uma comunidade justa, livre, a poesia ajudaria o homem a viver intensamente; numa sociedade consumista, ela ajuda o homem a sobreviver. Já é alguma coisa. Mas, para tanto, importa redescobri-la, remergulhá-la no sangue, no pó, na angústia do tempo presente. O leitor terá que persuadirse de que sua responsabilidade poética é igual à do autor. Porque o leitor é um poeta, talvez mais puro que o próprio autor, uma vez que este produz seus poemas sob pressão, ao passo que o leitor só pode ler um poema por aspiração. Se ler o poema, há de recriá–lo. Quando professores e críticos compreenderem que a poesia não se analisa, mas deve ser assimilada mediante um esforço árduo, mediante uma decisão, estarão dando um passo em direção ao verdadeiro mundo da poesia. Também os poetas, na medida em que admitirem que a poesia exerce uma função vital, compreenderão que sua linguagem não pode afastar-se demais da via comum. O distanciamento da linguagem só é lícito em termos de necessidade de uma ruptura, posto que não existe palavra sem silêncio. E o silêncio, praticado com alegria, é a verdadeira pátria da palavra.
Como Ler Poesia
Que é Poesia?
A poesia é uma captação da realidade, que se caracteriza por uma espécie de imediatez ou tato. Uma forma de apalpar as coisas com o coração. Será possível definir o deslizar dos dedos sobre a penugem, o acariciar os cabelos de uma pessoa, ou as crinas de um cavalo, para citar uma experiência a que se refere o grande filósofo e místico Martin Buber? São experiências indizíveis. Por esta razão, tenta o poeta despertá-las mediante imagens.
A palavra metáfora quer dizer: passar adiante. Poesia é algo que nos obriga a ir além daquilo que se vê, a transpor as palavras. Tentamos produzir em nós uma sensação ou sentimento semelhante ao do poeta.
Nesse sentido, toda poesia exige um poeta, ou antes, dois: o poeta-autor e o poeta-leitor.
Com isso não se exclui o outro lado da poesia, que não é agradável, mas que nem por isso deixa de ser emoção: a denúncia do que existe de inumano na conduta dos homens, o processo global que conduz a sociedade à demissão de suas responsabilidades. Existe um lado violento nela; também se realiza pela emoção, embora a maioria das emoções sejam emoções agradáveis. O ódio é uma emoção; sob esse aspecto, pode ser expresso em poesia. Mas a verdade é que o amor é uma emoção mais fundamental, portanto mais poética. Excepcionalmente, a poesia expressa sentimentos agressivos; na maioria das vezes, sua função é favorecer a vida.
Sobre a Literatização da Poesia
A expressão é infeliz, mas, à falta de outra, servimo-nos dela. Entendemos por literatização da poesia o processo que a transforma num fenômeno sobre o qual se fala, em vez de um fenômeno que se vive, que é existido.
A emoção caracteriza-se por sua natureza concreta: ou se sente amor, ou não se sente. Pode-se ter idéias nas quais não se acredita, mas não se pode ter emoções que não nos envolvam. Foi Schiller quem disse que as emoções são o que de mais próprio existe. Não obstante, com a absorção da poesia oral pela escrita, com o distanciamento da poesia vivida da poesia indiretamente experimentada, criou-se uma sorte de distância psíquica, que favorece uma despoetização da poesia. Encontram-se pessoas, até autores, que se impressionam com a poesia fora de si, com o artefato-poesia, não com o móvel que lhe deu origem, com o lado erótico dela. Semelhantes leitores, ao invés de procurarem refazer o caminho do poeta, fixam-se em aspectos contabilizados estilisticamente, em realidades faladas ou escritas. No fundo a poesia converte-se em uma realidade abstrata, pasteurizada, que não tem mais a ver com a vida. São raros (convenhamos) os leitores autênticos de poesia, leitores que se esforçam para reencontrar em si a experiência descrita ou sugerida pelo poeta. Ou outra experiência, não importa qual, desencadeada pela linguagem. Trata-se, sempre, de recriar algo em si, de não olhar o poema como uma coisa, um sinal de trânsito.
Muito da inapetência das pessoas, em relação à poesia, origina-se disso: elas estão cansadas de se defrontar com objetos, em vez de se defrontar com estímulos vitais. Uma certa crítica endossa tal tipo de alienação. Semelhantes críticos interessam-se mais em etiquetar o poeta, confrontá-lo com este ou aquele autor, apontar-lhe uma genealogia, do que em compreendê-lo, simpatizar com ele, pôr o poema à prova.
Trata-se disso: pôr o poema a prova.
A poesia só terá uma nova vez à medida que surgirem leitores capazes de acionar o próprio eros poético, a faculdade criadora emocional, existente em cada ser humano.
Esta faculdade criadora pode ser acionada de duas maneiras: por um fato, realmente emocionante, da vida real; por um poema, algo que tenta fazer reviver a emoção da tranqüilidade, produzi-la, não artificialmente, mas naturalmente, só que doutro modo, diferente do que acontece na vida cotidiana, quando a emoção surge brusca ou impositiva. O homem, precisamente, tem capacidade de emocionar-se também quando não é obrigado a isso, quando deseja, simplesmente, viver duas vezes. Algo semelhante ocorre com sua faculdade de amar que, ao contrário dos animais, se realiza fora das necessidades obrigatórias da espécie. O homem pode amar quando quer, porque sua natureza é superior; o homem também pode emocionar-se quando quer, porque não só possui percepção, mas memória e imaginação. Por esta razão o homem faz poesia.
Donde Vem a Poesia?
Cada autor tem seus sonhos, pesadelos, traumas. Sobretudo, sua infância. Por isso, a temática do poeta é determinada por uma série de experiências longínquas.
Os primeiros contatos da criança com a natureza condicionam-lhe, em grande parte, o arsenal metafórico. Quem viveu entre árvores, circundado por animais, terá outro mundo que quem nasceu no asfalto, entre edifícios e produtos de uma sociedade tecnológica, até certo ponto opressiva. A despoetização da realidade depende da agressividade da sociedade em relação à natureza. Embora não minimize os progressos técnicos, penso que atingimos um ponto de saturação e violação da natureza que, se for continuado, acabará por conduzir o homem não à destruição da poesia, um dos aspectos de sua vida, mas à destruição de sua própria vida. No fundo, o poeta, vivo dentro do homem, luta pela sobrevivência deste mesmo homem. Alguém disse que a poesia não passa de uma das formas pelas quais o homem se empenha por sobreviver. Se serve para alguma coisa, a poesia serve para isso. E uma arma da natureza. Algo que esta inventou, como inventou nossos sentidos, para proteger-nos. Para ampliá-la, intensificá-la. Pode-se viver sem poesia? Até certo ponto; uma vida sem poesia acabará por empobrecer o homem, por diminuir-lhe a vontade de viver. A poesia deve reencontrar essa natureza instintiva, sua funcionalidade vital. Para tanto, terá que desculturalizar-se. Os leitores devem ser mais incitados à descoberta poética deles mesmos, pela mediação do poeta, do que à descoberta de um determinado acervo cultural, sob certo sentido, morto.
Explico-me: não cogito num retorno, puro e simples, às origens, como se não tivesse havido uma série de poetas, aperfeiçoadores da linguagem do povo, de seu patrimônio expressivo. Não é disso que se trata. Quero significar que cada poeta deve inserir-se na tradição de seu povo para, reassumindo o que foi dito pelos outros, desencadear novos sentimentos neste mesmo povo, trabalhando pela tradição. A poesia há de ser vista, primordialmente, como uma experiência a ser vivida, não como uma experiência cultural, embora esta seja o termo daquela. Uma experiência vivida, para manter-se, terá que se submeter à codificação fatal da história que a guardará, para outros, como um reservatório de estímulos semivivos.
Armindo Trevisan
Fonte: www.poetry.org/www.reginaceliaseusite.hpg.ig.com.br/www.ufrgs.br
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