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Revolução Mexicana – O que foi
A Revolução Mexicana foi um conflito complexo e sangrento que provavelmente durou duas décadas, e no qual 900.000 pessoas perderam a vida.
Qual foi a causa de tal levante persistente e, em última análise, o fim justificou os meios?
A Revolução Mexicana, que começou em 1910, acabou com a ditadura no México e estabeleceu uma república constitucional. Vários grupos, liderados por revolucionários, incluindo Francisco Madero, Pascual Orozco, Pancho Villa e Emiliano Zapata, participaram do longo e caro conflito. Embora uma constituição redigida em 1917 tenha formalizado muitas das reformas buscadas pelos grupos rebeldes, a violência periódica continuou na década de 1930.
A Revolução começou com um chamado às armas em 20 de novembro de 1910 para derrubar o atual governante e ditador Porfirio Díaz Mori.
Díaz foi um presidente ambicioso, ansioso por transformar o México em um país industrializado e modernizado. Enquanto trabalhava na implantação de uma sociedade capitalista construindo fábricas, represas e estradas, os trabalhadores rurais e camponeses sofreram muito.
Díaz reinou usando uma campanha de bullying, intimidando os cidadãos para que o apoiassem. Enquanto as liberdades civis, como a liberdade de imprensa, sofreram sob seu governo, a maior injustiça veio na forma de novas leis de terras.
Em uma tentativa de fortalecer os laços com os Estados Unidos e outros influentes interesses estrangeiros, Díaz alocou terras, antes pertencentes ao povo do México, para estrangeiros ricos. Além disso, nenhum mexicano era capaz de possuir terras, a menos que possuísse um título legal formal. Os pequenos agricultores ficaram totalmente desamparados, não havia outra opção a não ser uma revolta.
O caminho da Revolução certamente não correu bem e o país viu uma série de presidentes não confiáveis.
Francisco Madero, responsável pela remoção de Díaz do poder, era um líder fraco e não conseguiu implementar as reformas agrárias que havia prometido.
Ele foi rapidamente substituído pelo general Victoriano Huerta, que o executou uma semana após chegar ao poder. O próprio Huerta era um ditador e foi derrubado por Venustianio Carranza em 1914.
Embora muitos acusassem Carranza de ter fome de poder, ele também desejava a paz. Em busca do descanso civil, ele formou o Exército Constitucional e uma nova constituição na qual aceitou muitas das demandas rebeldes.
O fim oficial da Revolução Mexicana é frequentemente considerado como a criação da Constituição do México em 1917; no entanto, a luta continuou por muito tempo na década seguinte.
Em última análise, embora a Revolução Mexicana visasse garantir um modo de vida mais justo para as classes agrícolas, muitos argumentam que ela alcançou pouco mais do que a frequente mudança de liderança no país.
Foi apenas em 1942, quando os ex-presidentes mexicanos subiram ao palco do Zócalo da Cidade do México para mostrar seu apoio à Grã-Bretanha e à América na Segunda Guerra Mundial, que os cidadãos do México viram seu primeiro vislumbre de solidariedade política e finalmente de um país Unido.
Revolução Mexicana – Movimento
Revolução Mexicana
A Revolução Mexicana é o movimento armado iniciado em 1910 para acabar com a ditadura de Porfirio Díaz e terminou oficialmente com a promulgação de uma nova constituição em 1917, apesar de surtos de violência continuar até vinte e tantos anos.
O movimento teve grande impacto sobre os trabalhadores, agrícolas e círculos anarquistas internacionalmente como a Constituição dos Estados Unidos Mexicanos, 1917 foi o primeiro no mundo a reconhecer as garantias sociais e grupos de direitos trabalhistas. Estima-se que durante a luta de mil pessoas, civis e militares matou mais de novecentos.
O movimento teve grande impacto sobre os trabalhadores, agrícolas e círculos anarquistas internacionalmente como a Constituição dos Estados Unidos Mexicanos, 1917 foi o primeiro no mundo a reconhecer as garantias sociais e grupos de direitos trabalhistas.
Estima-se que durante a luta de mil pessoas, civis e militares matou mais de novecentos.
Pancho Villa e os camponeses na Revolução Mexicana
A Revolução Mexicana abre a era das Revoluções do século XX e atravessa toda a década de 1910, contando com a atuação dos mais diferentes grupos sociais dos ricos proprietários aos camponeses pobres.
No entanto, o processo revolucionário destaca-se pelo papel decisivo desempenhado por exércitos de camponeses, que detinham certa autonomia.
Na vertente camponesa da revolução é apreciável a participação da Divisão do Norte, comandada pelo enigmático Pancho Villa.
Francisco Pancho Villa, filho de uma família camponesa, nasceu no norte do México e tornou-se um dos principais nomes da Revolução Mexicana, após aliar-se a Francisco Madero, latifundiário que resolveu unir forças para acabar com a longa ditadura imposta por Porfírio Diaz.
Villa foi o líder de um exército camponês que chegou a contar com milhares de homens e desempenhou um importante papel durante o processo revolucionário.
Ele estabelecia com seus soldados uma relação de igualdade, alimenta-se com eles; fazia uso de roupas simples e participava diretamente nas batalhas. Era um líder presente.
Desde 1910, Villa tinha assegurado um acordo com Madero, o principal articulador dos diversos grupos insatisfeitos com governo de Porfírio Diaz. Para Villa e os camponeses, era fundamental nessa aliança a garantia de medidas de desapropriação de terras e reforma agrária que atendessem às demandas dos trabalhadores rurais. No entanto, a queda de Porfírio e a chegada ao poder de Madero não estabilizaram a sociedade mexicana. Este líder não consegue permanecer no poder, é assassinado e, a partir de então, a Divisão do Norte e os camponeses passam a atuar com decisiva autonomia. Até 1915, o exército camponês trava grandes batalhas no norte, conseguindo conquistar importantes cidades dessa região do país.
Frente à instável situação política e econômica do México, Villa consegue tornar-se governador de uma importante cidade do norte Chihuahua durante os anos de 1913 e 1915, tornando-se o único estado totalmente livre do domínio federal.
Em Chihuahua, Villa viveu a experiência de administrador. Na economia, criou uma moeda própria que, de início, encontrou resistência entre os comerciantes locais, mas acabou por ser aceita.
Além disso, fixou o preço de gêneros considerados essenciais à alimentação, tais como: carne, leite e pão. Principalmente, deu início na cidade a um processo de expropriação de grandes latifúndios, fundamental no fortalecimento de uma bandeira agrária camponesa.
Carranza e Villa: dois projetos incompatíveis.
Carranza era um latifundiário com extensa carreira política foi governador do estado de Coahuila. Apesar de nunca ter feito oposição ao regime ditatorial de Diaz, apoiou Madero na campanha anti-reeleição que derrubou Diaz.
Demonstrou forte oposição ao sucessor de Madero na luta pelo governo federal, o general Victoriano Huerta (principal articulador do assassinato de Madero) e, por ser o único governador a não aceitar Huerta no poder, reivindicou para si a liderança do movimento revolucionário.
Em repúdio ao governo representado por Huerta, divulgou o Programa de Guadalupe, onde Carranza conclamava a população a resistir ao governo e nomeava-se primeiro-chefe da revolução.
È importante destacar que o Programa de Guadalupe não incorporou demandas sociais. Por exemplo, a reforma agrária, tão cara aos camponeses, nem sequer foi mencionada no corpo do texto.
Deve-se a isso o desejo de Carranza de se indispor o mínimo possível com os grandes proprietários de terras. Como é possível perceber, desde o início, existia uma forte incompatibilidade entre os interesses de Villa e Carranza. O descaso de Carranza em relação à situação agrária do país serve para ilustrar esta diferença de projetos.
Em setembro de 1914, a situação tornou-se insustentável e os villistas divulgaram um manifesto formalizando o rompimento com Carranza. De fato, este era o momento de maior atuação dos exércitos camponeses.
Após a realização de uma Convenção que contava com os principais grupos atuantes na revolução, Carranza se enfraquecera, enquanto Villa e Zapata o líder dos exércitos camponeses no Sul se fortaleceram.
Villa consegue até entrar na Cidade do México capital do país embora tivesse preferido retornar ao norte. Foi nesse momento que a não concretização de uma aliança maior entre os camponeses mexicanos, bem com a ausência de uma perspectiva nacional, de uma visão de Estado, deram tempo e espaço para que Carranza reunisse a força necessária para derrotar os camponeses e assegurar a ascensão ao poder.
Em dezembro de 1914, Carrranza reformulou o Programa de Guadalupe, incluindo algumas demandas sociais e, em janeiro de 1915, promulgou uma lei agrária. Esta lei nunca foi posta em prática, mas serviu para fazer frente à proposta agrarista dos villistas.
Em 1916 Carranza passou ao ataque às forças de Villa, conseguindo que seu exército derrotasse a Divisão do Norte. Esta se converteu em um agrupamento guerrilheiro com base nas montanhas, onde conseguiu resistir por mais quatro anos, apesar de não mais desempenhar um papel decisivo.
Apesar de se ter tornado presidente, Carranza não conseguiu conter as insatisfações de diversos grupos sociais saturados por vários anos de guerra. Já no ano de 1919, seu governo mostra-se insustentável, perdendo apoio de empresários, operários e até de seu próprio exército para o general Obregón, que, após o assassinato de Carranza, elege-se presidente. Villa, que já havia se rendido e desarticulado suas forças é assassinado em 1923, o que marca o fim definitivo à revolução.
No contexto desses conturbados acontecimentos, a figura de Villa destaca-se, provocando as mais diversas interpretações: um simples bandido ou mocinho, um simples camponês ou um revolucionário proeminente. Para E. Hobsbawn, Villa possuía uma mentalidade voltada para a restauração de um passado camponês, não possuindo um projeto político a longo prazo.
Já para o autor Marco Villa, Pancho e os camponeses foram capazes de construir um projeto político sólido, de acordo com as demandas próprias, específicas do norte. A administração de Chihuahua seria prova disto.
De certo, há diferentes explicações acerca de Villa e dos camponeses do norte. Inegável, contudo, é sua participação neste processo histórico, reivindicando direitos e mudanças políticas que fossem capazes de atender social e economicamente os interesses dos camponeses pobres.
Não sou homem educado. Mas sei muito bem que lutar é o último recurso a que deve apelar qualquer pessoa. Só quando as coisas chegam a um ponto de já não se aguentarem, não é? (…) Vimos roubar os nossos, ao pobre, simples povo, durante trinta e cinco anos. Vimos os rurales e os soldados de Porfírio Diaz matar nossos pais e irmãos, assim como negar-lhes justiça. Vimos com nos tiraram nossas pequenas terras e nos venderam a todos como escravos. Sonhávamos com lugares e escolas para instruir-nos e zombaram de nossas aspirações. Tudo o que ambicionávamos era que nos deixassem viver e trabalhar para fazer progredir o país, mas já estávamos cansados e fartos de ser enganados?. (Depoimento de Toríbio Ortega, um dos generais camponeses da Divisão do Norte, explicando os motivos de sua participação na revolução. In: VILLA, Marco Antonio. Francisco Pancho Villa: uma liderança da vertente camponesa na Revolução Mexicana. São Paulo: Ícone, 1992.)
Cronologia:
1910: É lançada a candidatura de Madero à presidência. Diaz manda prender Madero e se reelege presidente. Madero consegue sair da prisão e refugia-se nos Estados Unidos, onde redige o Programa de São Luis de Potosí.
1911: Início do movimento revolucionário: derrubada de Diaz e eleição de Madero.
1913: A Divisão do Norte investe em vários estados do norte. Villa torna-se governador de Chihuahua.
1914: Assassinato de Madero pelas forças aliadas ao general Huerta, que assume a presidência. Carranza se declara chefe maior do movimento revolucionário e lança o Programa de Guadalupe. Os villistas, por sua vez, lançam manifesto declarando o rompimento com Carranza. Em 6 de dezembro, Villa e Zapata entram na Cidade do México.
1915: O general Obregón derrota os villistas em Celaya. No mesmo ano, os EUA reconhecem oficialmente a liderança de Carranza.
1916: Fim da Divisão do Norte. Retorno de Villa à luta de guerrilha.
1917: Nova Constituição. Carranza torna-se presidente.
1920: Carranza é assassinado e deposto. Obregón assume a presidência. Ano também da rendição de Villa.
1923: Assassinato de Villa em uma emboscada.
Revolução Mexicana – História
Revolução Mexicana
A revolução iniciada em 1910 foi o palco de uma série de reivindicações que buscavam, acima de tudo, garantir direitos usurpados da população.
Tal afirmação torna-se clara na fala de um de seus principais e mais destacados líderes: Emiliano Zapata.
Zapata reivindicava o direito de posse dos indígenas e camponeses das terras que lhes foram expropriadas. O que estava em pauta era a necessidade de regenerar a condição humana através do retorno ao seu passado.
Nas palavras de Octavio Paz: A Revolução Mexicana é um movimento de reconquistar o nosso passado, assimilá-lo e torná-lo vivo no presente.
Desde a independência, em 1821, a questão da terra estava presente nos conflitos sociais no México. Na segunda metade do século XIX a maior parte dos indígenas já haviam sido expropriados de suas terras, além disso, estes não foram incorporados como cidadãos. Em 1876 com a derrubada do governo liberal de Sebastião Tejada, pelo levante militar de Porfírio Díaz, a grande propriedade agrária foi reforçada e os camponeses despojados de suas terras. A pequena propriedade foi praticamente eliminada.
A partir de 1900, contudo, críticas ao governo de Díaz tornam-se cada vez mais latentes, bem como, reivindicações acerca das terras comunais expropriadas os ejidos.
Díaz convoca eleições presidenciais em 1910 e prende o latifundiário liberal Francisco Madero, líder do movimento que se opunha à sua reeleição. Como candidato único Díaz é considerado eleito.
Madero foge da prisão e vai para os EUA. Do exílio, lança uma conclamação à rebelião com armas para derrubar Díaz, prometendo, em um novo governo, uma reforma eleitoral e terras para os camponeses.
Lá redige o Programa de São Luís de Potosí que anunciava a possibilidade de uma reforma agrária.
Recebe apoio popular e de líderes revolucionários do Sul, Emiliano Zapata, e do Norte, Pancho Villa e Pascual Orozco.
O crescimento da movimentação camponesa leva Díaz a renunciar e fugir, em maio de 1911.
Madero é eleito presidente e, no poder, mantém o aparelho de Estado, em particular o Exército, o que provoca revolta entre seus apoiadores. Além disso, resolve dissolver o exercito revolucionário.
Zapata recusa-se a desarmar seus homens e exige a reforma agrária, prometida no Programa de São Luis de Potosí e negada pelo novo presidente.
Nas palavras do próprio Zapata:
A fatal ruptura do Programa de São Luís de Potosí motivou e justificou nossa rebeldia contra aquele que invalidou todos os compromissos e defraudou todas as esperanças (…) combatemos Francisco Madero, combateremos outros cuja administração não tenha por base os princípios pelos quais temos lutado.
A reação do líder camponês é, portanto, a de proclamar-se em rebelião contra Madero.
Em novembro de 1911 anuncia o Programa de Ayala no qual propunha a derrubada do governo de Madero e um processo de reforma agrária sob o controle das comunidades camponesas. O plano defendia, ainda, a reorganização do ejido e a expropriação de um terço dos latifundiários mediante indenização e nacionalização dos bens dos inimigos da revolução. Para Zapata, neste plano estão contidas
(…) as mais justas aspirações do povo, plantadas as mais imperiosas necessidades sociais, e propostas as mais importantes reformas econômicas e políticas, sem cuja implantação o país passaria inevitavelmente ao abismo, deprimiria-se no caos da ignorância, da miséria e da escravidão.?
Zapata convocara o povo às armas e o avanço popular era contínuo, pois apesar das mudanças no governo, as estruturas sócio-econômicas permaneciam sem alterações.
Villa e Zapata lideraram um movimento com vistas a obter autonomia política local como forma de garantir o direito à terra.
Em fevereiro de 1913, enquanto a luta prossegue no Norte e no Sul, o general Victoriano Huerta assassina Madero. A morte do presidente leva a uma passageira frente da oposição, com participação de Zapata e Villa e chefiada pelo liberal Venustiano Carranza.
O governo de Huerta acabou por tornar-se, para a maior parte dos revolucionários, uma restauração do porfirismo. O Governador nortista Carranza, não reconheceu o novo governo e deu início à mobilização contra Huerta. O mesmo fez Villa no Norte e Zapata no Sul. Forma-se, então, um exército constitucional, sob a égide do chamado Pacto de Torreón.
Simultaneamente, o México sofre a ocupação do porto de Vera Cruz por forças dos EUA. Sem condições de resistir, Huerta renuncia em junho de 1914.
Carranza assume a presidência e o confronto anteriormente vivenciado por Zapata e Madero, com relação à reforma agrária, volta à vida, uma vez que Carranza hesita em aceitar as propostas camponesas.
Em fevereiro de 1917 é promulgada a Constituição reformada, com algumas transformações propostas pelo Programa de Ayala, como a nacionalização do solo e do subsolo e devolução das terras comunais aos indígenas os ejidos. A Igreja Católica é separada do Estado e tem seus poderes diminuídos.
Os trabalhadores passam a ter direitos reconhecidos, como jornada de trabalho de oito horas, proibição do trabalho infantil e indenização por tempo de serviço aos empregados dispensados.
As medidas previstas na Constituição, no entanto, são amplamente ignoradas pelo governo.
Em 1919 Zapata é assassinado a mando de Carranza e o país continua em guerra civil.
Carranza é deposto e assassinado em 1920 e o novo presidente passa a ser o general Álvaro Obregón, que consolida a revolução.
Villa abandona a luta em 1920 e é assassinado três anos depois. Ao mesmo tempo, vários revolucionários no governo procuram enriquecer, traindo a confiança que as amplas massas populares depositam em sua atuação.
Os partidários da nova Constituição, contudo, compreendem perfeitamente que não poderiam desconhecer a questão agrária que estava no fundo da luta revolucionária. Assim, os latifúndios foram limitados e a terra começou a ser entregue às comunidades camponesas.
Ao analisarmos este primeiro momento da Revolução Mexicana, algo nos salta aos olhos a todo o momento: a constante presença da reivindicação por uma reforma agrária e, como resposta, uma série de atitudes que se distanciavam da sua realização. Madero a propôs no Programa de São Luis de Potosí, mas não cumpriu. Zapata lutou o tempo todo por sua implantação, e isto é evidente em seus discursos e no Programa de Ayala, que também não alcançou o resultado esperado. A constituição de 1917 trata desta questão, mas, na prática, passou muito tempo até que resultasse em benefícios reais para a população camponesa.
Algo, porém, não pode deixar de ser considerado: grandes foram os esforços para que os camponeses pudessem recuperar as suas terras, bem como relevantes foram os acontecimentos e transformações nascidas do seio desta luta.
Observa-se, nesta revolução, o reconhecimento do mexicano não apenas como indivíduo, mas também, e primordialmente, enquanto povo. Buscava-se um ideal de pertencimento comum, buscava-se o retorno a seus direitos. Estava presente a luta por um ideal de igualdade.
Revolução Mexicana – Origem
A revolução começou em um contexto de ampla insatisfação com as políticas elitistas e oligárquicas de Porfirio Díaz que favoreciam ricos proprietários de terras e industriais. Quando Díaz, em 1908, disse que saudava a democratização da vida política mexicana e parecia ambivalente quanto a concorrer à sua sétima reeleição como presidente em 1910, Francisco Madero, um liberal idealista de uma família de classe alta, emergiu como o líder dos Antireeleccionistas e anunciou sua candidatura. Díaz o prendeu e se declarou vencedor após uma eleição simulada em junho, mas Madero, libertado da prisão, publicou seu Plano de San Luis Potosí de San Antonio, Texas, convocando uma revolta em 20 de novembro.
A revolta foi um fracasso, mas acendeu a esperança revolucionária em muitos setores. No norte, Pascual Orozco e Pancho Villa mobilizaram seus exércitos maltrapilhos e começaram a invadir guarnições do governo.
No sul, Emiliano Zapata empreendeu uma sangrenta campanha contra os caciques locais (chefes políticos rurais). Na primavera de 1911, as forças revolucionárias tomaram Ciudad Juárez, forçaram Díaz a renunciar e declararam Madero presidente.
Revolução Mexicana – Rebelião
Revolução Mexicana
1910
Independente desde 1821, o México só consegue consolidar-se como Estado nacional entre 1876 e 1910 com a ditadura de Porfirio Díaz, o primeiro a ter controle sobre o conjunto do território.
Exportador de produtos agrícolas e minerais, o país é dominado por uma aristocracia latifundiária. Os camponeses reivindicam terras e as classes médias urbanas, marginalizadas do poder, se opõem ao regime.
Em 1910 o liberal e também latifundiário Francisco Madero capitaliza o descontentamento popular e se lança candidato à sucessão de Díaz. As eleições são fraudadas e Díaz vence.
O episódio desencadeia uma guerra civil e o país entra num período de instabilidade política que permanece até 1934, quando Lázaro Cárdenas assume o poder.
Rebelião de 1910
A reeleição de Díaz provoca um levante popular no norte e no sul do país. No norte, os rebeldes liderados por Pancho Villa incorporam-se às tropas do general dissidente Victoriano Huerta. No sul, um exército de camponeses organiza-se sob o comando de Emiliano Zapata e exige uma reforma agrária no país. Díaz é deposto em 1911 e Madero assume o poder.
Enfrenta dissidências dentro da própria elite mexicana e também dos camponeses: Zapata recusa-se a depor as armas enquanto o governo não realizar a reforma agrária. Em 1913 Huerta depõe e assassina Madero e tenta reprimir os camponeses. Villa e Zapata retomam as armas apoiados por um movimento constitucionalista liderado por Venustiano Carranza. Huerta é deposto em 1914, Carranza assume o poder e dá início a um processo de reformas sociais, mas a reforma agrária é novamente adiada. Em 1915, Villa e Zapata retomam novamente as armas mas Carranza já domina o país. Em 1917 promulga uma Constituição e consolida sua liderança. Zapata é assassinado em 1919. Villa retira-se da luta em 1920 e é assassinado em 1923.
Pancho Villa (1877-1923)
Como fica conhecido o político revolucionário mexicano Doroteo Arango. Aos 16 anos teria matado um rico fazendeiro e logo depois se alistado no Exército para fugir às perseguições da Justiça. Em 1910, como chefe de guarnição, toma o partido de Francisco Madero no combate à ditadura da Porfirio Díaz. Em maio de 1911 é exilado. Madero assume o governo no mesmo ano. Em 1912 o general Victoriano Huerta, que mais tarde deporia e substituiria Madero, condena Villa à morte por insubordinação. Auxiliado por Madero, Villa consegue se refugiar nos Estados Unidos.
Depois da morte de Madero e da instauração da ditadura de Huerta, Villa volta ao México e integra as forças de Venustiano Carranza, que se opunha ao novo ditador. Contra Huerta combatiam, espalhados por todo país, Pancho Villa, Venustiano Carranza, Álvaro Obregón e Emiliano Zapata. Na guerra civil que se instala, a cavalaria, com mais de 40 mil homens, comandada por Villa tem papel fundamental.
Depois da queda de Huerta, Carranza assume o poder mas se desentende com Villa, que acaba voltando à luta e domina o norte do país. Em 1916 uma força expedicionária norte-americana é chamada pelo governo para capturar Villa, mas ele consegue escapar. Quando Carranza é deposto, Villa se instala no interior como fazendeiro.
Casa-se várias vezes e tem filhos com pelo menos oito mulheres diferentes. É assassinado numa emboscada.
Emiliano Zapata (1879-1919)
Revolucionário mexicano e um dois principais líderes da Revolução Mexicana. Filho de índios, logo cedo toma a liderança de camponeses índios pela reforma agrária no país.
Forma um exército e conquista todo sul do México, rebelando-se contra Porfirio Díaz e os grandes proprietários de terra. Une-se a Pancho Villa e posteriormente volta-se contra os presidentes Madero, Huerta e Carranza, os quais tomam o poder com a ajuda de Zapata, mas fracassam na execução da reforma agrária. É assassinado por um adepto de Carranza.
A Revolução Mexicana – México
Há diversas versões diferentes que tentam explicar o que ocorreu no México no início do século XX, que se desencadeou naquilo que ficou conhecido como Revolução Mexicana, em 1910.
Nesta breve síntese tentaremos mostrar duas visões de dois autores diferentes para este processo, que são Octavio Paz, mais especificamente sua obra ?O labirinto da solidão e post scriptum e Arnaldo Córdova, em seu livro ?La Revolución y el Estado en México.
Para analisar o caso específico do México, Octavio Paz faz primeiro uma análise do processo de independência da América Espanhola como um todo, considerando-a como um processo que ao mesmo tempo separa a América da Espanha e permite a criação de uma série de países nas terras recentemente independentes.
O que diferencia a situação mexicana neste momento é a incapacidade dos revolucionários de criar uma sociedade moderna, ao contrário do que aconteceu com os novos países latino-americanos, que, mesmo não promovendo alterações profundas na sociedade, fizeram um empreendimento de caráter modernizador.
A independência não levou o México a uma república liberal, mas sim a uma sociedade agrária dominada por uma nova casta latifundiária, e é este país que Porfírio Díaz vai governar por mais de trinta anos.
Este período, conhecido por Porfiriato e como Pax Porfiriana é marcado por perseguições políticas, mas também por um projeto industrial que não conseguiu alterar a face semicolonial do México, uma vez que, nas palavras do próprio Octávio Paz, o governo de Porfírio Díaz prolonga um feudalismo anacrônico e ímpio, que nada suaviza (as Leis das Índias continham preceitos que protegiam os índios).
Em suma, pode-se dizer que o governo porfiriano não trouxe para o México o progresso, mas sim a continuidade das estruturas coloniais, sendo mais uma volta ao passado que um passo adiante.
Para melhor entender a verdadeira face deste período, Paz vai se valer da análise de Leopoldo Zea, para quem a adoção do positivismo como filosofia oficiosa do Estado corresponde a certas necessidades intelectuais e morais da ditadura de Diaz. (pag. 118). Na verdade é uma forma de evitar o afloramento dos princípios explosivos que uma política liberal poderia trazer, como a anarquia. Com isso, o porfirismo pôde se sustentar no poder, escondendo sua própria nudez moral, sem oferecer grandes mudanças na sociedade, mas sem trazer soluções para a questão social. O resultado de todo este processo, em fins do século XIX, é uma realidade de poucas perspectivas, pois o que se vê neste momento é um México que rompeu seus laços com a Espanha, mas não foi capaz de criar outros laços que os substituíssem, já que não houve entendimentos com os Estados Unidos, nem com os outros países americanos de língua espanhola.
É neste quadro que se instalará a Revolução Mexicana, tida por Octávio Paz como uma revolução carente de percursores, sendo resultado da demanda de todo este processo histórico, preparada desde o século XVIII, mas no fundo, é um movimento sem um programa prévio. Os grandes líderes da Revolução não eram intelectuais, o que, para Paz, lhe dava uma certa singularidade.
?A ausência de percursores ideológicos e a escassez de vínculos com uma ideologia universal constituem traços característicos da Revolução e raiz de muitos conflitos e confusões posteriores. ( pag. 124)
Desta forma, a Revolução não foi mais que uma resposta à situação mexicana do início do século XX: crise política e social, inquietações na classe média e na nascente classe operária e crise nas relações internacionais. A união destes fatores mostra a fragilidade do governo de Porfírio Díaz, principalmente quando se começou a fazer críticas veladas à sua política positivista. Como se pode observar, a Revolução Mexicana é mais um movimento social que o resultado de uma série de discussões ideológicas.
Nosso movimento se distingue pela carência de um sistema ideológico prévio e pela fome de terras. Os camponeses mexicanos fazem a revolução não somente para obter melhores condições de vida, mas também para recuperar as terras que, no decorrer da Colônia e do século XIX, os colonos e os latifundiários lhes tinham arrebatado. (pag. 128)
Para Octavio Paz, a falta de uma corrente ideológica clara impossibilitou o atendimento às diferentes aspirações populares.
Isto acabou tendo um preço alto: a adoção de um programa liberal, pela simples falta de qualquer outra proposta compatível com a Revolução.
Em síntese, Octavio Paz vê a Revolução como um resgate de um passado que o México conheceu antes da Reforma e de Porfírio Diaz, um movimento espontâneo, quase natural, sem preparação prévia e sem planos futuros, como se pode observar na passagem abaixo:
A Revolução mal tem ideias. É um estouro de realidade: uma revolta e uma comunhão, um remexer de velhas substâncias adormecidas, um vir à tona de muitas ferocidades, muitas ternuras e muitas delicadezas ocultas pelo medo de ser. E com quem comunga o México nesta festa sangrenta? Consigo mesmo, e com seu próprio ser. O México se atreve a ser. A explosão revolucionária é uma festa portentosa em que o mexicano, bêbado de si mesmo, conhece o fim, no abraço mortal, com outro mexicano. (pag. 134)
É justamente esta ideia de uma Revolução espontânea, sem planos e objetivos concretos que Arnaldo Córdova vai criticar em sua obra La revolucion y el Estado en Mexico.
Outra ideia criticada por Córdova é a de que a Revolução Mexicana é fato isolado do mundo, não tendo inspiradores nem par em nenhuma outra revolução. Para este autor, Revolução Mexicana foi um grande debate ideológico em que se colocaram em discussão não só o nosso ser nacional, o sentido da nossa história, a organização e composição da nossa sociedade, a ideia do seu governo, as injustiças. na organização social, o tipo de desenvolvimento econômico, político e cultural a ser promovido, as classes sociais e os componentes étnicos da sociedade mexicana, o sistema nacional de relações de propriedade e de produção, os valores a que são devidos. aqueles que tiveram que se sobressair para completar nossa formação nacional. (pag. 56)
A linha ideológica da Revolução Mexicana começou a ser traçada com a crítica ao Estado criado por Porfírio Díaz, uma vez que, e nisso Córdova concorda com Octavio Paz, o México não teve sequer um dia de paz durante a Pax Porfiriana. Este movimento ideológico começou com os jornalistas, que cada vez mais passaram a criticar o regime porfiriano.
Este processo cresceu tanto que passou a assustar simpatizantes de Porfírio Díaz, pois o crescimento ideológico da oposição poderia enfraquecer a política dominadora de Díaz.
A Revolução Mexicana foi pontuada pelas ideias de grandes ideólogos como Molina Henriquéz, que pensou a relação do Estado com o desenvolvimento da economia camponesa, Ricardo Flores Magón, que defendia a liberdade, o fim do autoritarismo e a democracia, e Madero, que em sua obra La sucesión presidencial em 1910? fez uma série de observações sobre o governo porfiriano e obteve grande impacto na sociedade.
Foi uma obra de tamanha importância que para Córdova ela converte Madero no homem que faltava para que a Revolução se desencadeasse. Para Madero, o povo deveria tomar as rédeas de se destino, lutar pela divisão dos latifúndios, democratizar a posse da terra, não defendendo uma solução autoritária para a crise social, mesmo se tratando de um autoritarismo de esquerda.
Neste ponto ele discorda de Molina, que defendia uma ação violenta do Estado no sentido de destruir os grandes latifúndios e distribuir as propriedades.
Molina acreditava que um governo democrático se transformaria em um simples dispensador de justiça, sem, contudo, ser capaz de unir todas as tribos, povos e grupos que compõem o povo mexicano em torno do interesse central da revolução, que seria a distribuição justa das terras agrícolas mexicanas.
Como se pode perceber, o que Córdova deixa claro é que de modo algum podemos considerar a Revolução Mexicana como um movimento sem uma base ideológica que fosse capaz de sustentá-la.
Mesmo que seus líderes não fossem grandes intelectuais, como afirmou Octavio Paz, aquela foi uma época de tamanha efervescência de ideias que a Revolução criou não só uma, mas várias ideologias revolucionárias.
Teorias estas que chegaram a criar o que Córdova chamou de a luta ideológica da Revolução Mexicana, capitaneada por pensadores como Molina e Madero, diferentes em algumas ideias, mas seguramente dois sustentáculos daquilo que ficou conhecido como A Revolução Mexicana.
Fonte: www.pbs.org/www.britannica.com/www.historia.uff.br/br.share.geocities.com/www.tuicakademi.org
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