História da Cachaça

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A cana-de-açúcar, elemento básico para a obtenção, através da fermentação, de vários tipos de álcool, entre eles o etílico. É uma planta pertencente à família das gramíneas (Saccharum officinarum) originária da Ásia, onde teve registrado seu cultivo desde os tempos mais remotos da História.

História da Cachaça

Os primeiros relatos sobre a fermentação vem dos egípcios antigos. Curam várias moléstias, inalando vapor de líquidos aromatizados e fermentados, absorvido diretamente do bico de uma chaleira, num ambiente fechado.

Os gregos registram o processo de obtenção da ácqua ardens. A Água que pega fogo – água ardente (Al Kuhu).

A água ardente vai para as mãos dos Alquimistas que atribuem a ela propriedades místico-medicinais. Se transforma em água da vida. A Eau de Vie é receitada como elixir da longevidade.

A aguardente então vai para da Europa para o Oriente Médio, pela força da expansão do Império Romano. São os árabes que descobrem os equipamentos para a destilação, semelhantes aos que conhecemos hoje.

Êles não usam a palavra Al kuhu e sim Al raga, originando o nome da mais popular aguardente da Península Sul da Ásia: Arak.

Uma aguardente misturada com licores de anis e degustada com água.

A tecnologia de produção espalha-se pelo velho e novo mundo. Na Itália, o destilado de uva fica conhecido como Grappa. Em terras Germânicas, se destila a partir da cereja, o kirsch. Na Escócia fica popular o Whisky, destilado da cevada sacarificada.

No extremo Oriente, a aguardente serve para esquentar o frio das populações que não fabricam o Vinho de Uva. Na Rússia a Vodka, de centeio. Na China e Japão, o Sakê, de arroz.

Portugal também absorve a tecnologia dos árabes e destila a partir do bagaço de uva, a Bagaceira

Os portugueses, motivados pelas conquistas espanholas no Novo Mundo, lançam-se ao mar. Na vontade da exploração e na tentativa de tomar posse das terras descobertas no lado oeste do Tratado de Tordesilhas, Portugal traz ao Brasil a Cana de Açúcar, vindas do sul da Ásia. Assim surgem na nova colônia portuguesa, os primeiros núcleos de povoamento e agricultura.

Os primeiros colonizadores que vieram para o Brasil, apreciavam a Bagaceira Portuguesa e o Vinho d’Oporto. Assim como a alimentação, toda a bebida era trazida da Corte. Num engenho da Capitania de São Vicente, entre 1532 e 1548, descobrem o vinho de cana de açúcar – Garapa Azeda, que fica ao relento em cochos de madeiras para os animais, vinda dos tachos de rapadura.

É uma bebida limpa, em comparação com o Cauim – vinho produzido pelos índios, no qual todos cospem num enorme caldeirão de barro para ajudar na fermentação do milho, acredita-se. Os Senhores de Engenho passam a servir o tal caldo, denominado Cagaça, para os escravos. Daí é um pulo para destilar a Cagaça, nascendo aí a Cachaça.

Dos meados do Século XVI até metade do Século XVII as “casas de cozer méis”, como está registrado, se multiplicam nos engenhos. A Cachaça torna-se moeda corrente para compra de escravos na África. Alguns engenhos passam a dividir a atenção entre o açúcar e a Cachaça.

A descoberta de ouro nas Minas Gerais, traz uma grande população, vinda de todos os cantos do país, que constrói cidades sobre as montanhas frias da Serra do Espinhaço. A Cachaça ameniza a temperatura.

Incomodada com a queda do comércio da Bagaceira e do vinho portugueses na colônia e alegando que a bebida brasileira prejudica a retirada do ouro das minas, a Corte proíbe várias vezes a produção, comercialização e até o consumo da Cachaça.

Sem resultados, a Metrópole portuguesa resolve taxar o destilado. Em 1756 a Aguardente de Cana de Açúcar foi um dos gêneros que mais contribuíram com impostos voltados para a reconstrução de Lisboa, abatida por um grande terremoto em 1755.

Para a Cachaça são criados vários impostos conhecidos como subsídios, como o literário, para manter as faculdades da Corte.

Como símbolo dos Ideais de Liberdade, a Cachaça percorre as bocas dos Inconfidentes e da população que apoia a Conjuração Mineira. A Aguardente da Terra se transforma no símbolo de resistência à dominação portuguesa.

Com o passar dos tempos melhoram-se as técnicas de produção. A Cachaça é apreciada por todos. É consumida em banquetes palacianos e misturada ao gengibre e outros ingredientes, nas festas religiosas portuguesas – o famoso Quentão.

No século passado instala-se, com a economia cafeeira, a abolição da escravatura e o início da república, um grande e largo preconceito a tudo que fosse relativo ao Brasil. A moda é européia e a cachaça é deixada um pouco de lado

Em 1922, a Semana da Arte Moderna, vem resgatar a brasilidade. No decorrer do nosso século, o samba é resgatado. Vira o carnaval. Nestas últimas décadas a feijoada é valorizada como comida brasileira especial e a Cachaça ainda tenta desfazer preconceitos e continuar no caminho da apuração de sua qualidade.

Hoje, várias marcas de alta qualidade figuram no comércio nacional e internacional e estão presentes nos melhores restaurantes e adegas residenciais pelo Brasil e pelo mundo

Fonte: www.museudacachaca.com.br

História da Cachaça

A palavra cachaça é de origem polêmica.

Algumas versões dadas por pesquisadores:

– Do castelhano CACHAZA, vinho que era feito de borra de uva;

– Da aguardente, que era usada para amaciar a carne de porco (CACHAÇO);

– Da grapa azeda, tomada pelos escravos e chamada por eles de cagaça;

A cachaça é genuinamente nacional. Sua história remonta ao tempo da escravidão quando os escravos trabalhavam na produção do açúcar da cana de açúcar. O método já era conhecido e consistia em se moer a cana, ferver o caldo obtido e, em seguida deixá-lo esfriar em fôrmas, obtendo a rapadura, com a qual adoçavam as bebidas.

Ocorre que, por vezes, o caldo desandava e fermentava, dando origem a um produto que se denominava cagaça e era jogado fora, pois não prestava para adoçar. Alguns escravos tomavam esta beberagem e, com isso, trabalhavam mais entusiasmados.

Os senhores de engenho por vezes estimulavam aos seus escravos, mas a corte portuguesa, vendo nisto uma forma de rebelião, proibia que a referida bebida fosse dada aos negros, temendo um levante.

Com o tempo esta bebida foi aperfeiçoada, passando a ser filtrada e depois destilada, sendo muito apreciada em épocas de frio. O processo de fermentação com fubá de milho remonta aos primórdios do nascimento da cachaça e permanece até hoje com a maior parte dos produtores artesanais.

Existem atualmente pesquisas de fermentação com diversos produtos denominados enzimas que, aos poucos, estão substituindo o processo antigo.

A cachaça sempre viveu na clandestinidade, sendo consumida principalmente por pessoas de baixa renda e, por isto, sua imagem ficou associada a produto de má qualidade. Mas atualmente ela ascendeu a níveis nunca antes sonhados e hoje é uma bebida respeitada e apreciada mundialmente, já tendo conquistado a preferência de pessoas de alta classe e sendo servida em encontros políticos internacionais e eventos de toda espécie pelo mundo afora.

Cronologia

Primórdios do XVI

O caldo era apenas consumido pelos escravos, para que ficassem mais dóceis ou para curá-los da depressão causada pela saudade de sua terra (banzo).

Como a carne de porco era dura, usava-se a aguardente para amolecê-la. Daí o nome “Cachaça”, já que os porcos criados soltos eram chamados de “cachaços”.

O apelido “Pinga” veio porque o líquido “pingava” do alambique.

2ª metade do Século XVI

Passou a ser produzida em alambiques de barro, depois de cobre, como aguardente.

Século XVII

Com o aprimoramento da produção, passou a atrair consumidores. Começou a ter importância econômica e valor de moeda corrente.

Ano de 1635

Contrariado com a desvalorização de sua bebida típica, a Bagaceira, produzida do bagaço da uva, Portugal proibiu a fabricação da Cachaça e seu consumo na colônia brasileira.

Menos da metade do Século XVII

A retaliação à Cachaça provou o nacionalismo brasileiro, levando o povo a boicotar o vinho Português.

Final do Século

Portugal recuou quanto à decisão de proibir o consumo da Cachaça brasileira e decidiu apenas taxar o destilado.

Ano de 1756

A aguardente da cana-de-açúcar era um dos gêneros que mais contribuía para a reconstrução de Lisboa, abalada por terremoto em 1755.

Ano de 1789

A Cachaça virou símbolo da resistência ao domínio português. O último pedido de Tiradentes: “Molhem a minha goela com cachaça da terra”.

Inicio do Século XIX

Com as técnicas de produção aprimoradas, a Cachaça passou a ser muito apreciada. Era consumida em banquetes palacianos e misturada a outros ingredientes, como gengibre, o famoso Quentão.

Depois da metade do Século XIX

Com a economia cafeeira, abolição da escravatura e início da República, um largo preconceito se criou frente a tudo que fosse brasileiro, prevalecendo à moda da Europa. A Cachaça estava em baixa.

Ano de 1922

A Semana da Arte Moderna resgatou a nacionalidade brasileira. A Cachaça ainda tentava se desfazer dos preconceitos e continuava a apurar sua qualidade.

Depois da metade do Século XX

A Cachaça teve influência na vida artística nacional, com a “cultura de botequim” e a boemia. Passou a ser servida como bebida brasileira oficial nas embaixadas, eventos comerciais e vôos internacionais. A França tentou registrar a marca Cachaça, assim como o Japão tentou a marca Assai.

Século XXI

A Cachaça está consagrada como brasileiríssima, é apreciada em diversos cantos do mundo e representa nossa cultura, como a feijoada e o futebol.

Em alguns países da Europa, principalmente a Alemanha, a Caipirinha de Cachaça é muito mais consumida que o tradicional Scott.

A produção brasileira de Cachaça já ultrapassa os 1,3 bilhões de litros e apenas 0,40% são exportados.

A industrialização da Cachaça emprega atualmente no Brasil mais de 450 mil pessoas. O Decreto 4.702 assinado em 2002 pelo presidente FHC, declara ser a Cachaça um destilado de origem nacional.

A Cachaça é original do Brasil!

Cachaça, Aguardente e Pinga

Etimologia da Palavra Cachaça

A origem do nome cachaça, provavelmente, deve ser espanhola. Mas a palavra nunca pegou na Península Ibérica. Ela foi escrita algumas vezes como sinônimo da milenar bagaceira, feita das borras da uva, mas nunca na nossa acepção e com a nossa sede. O termo cachaça chega até nós pelos portugueses, junto com os alambiques, as primeiras destilações.

A primeira referência literária, livresca, que Câmara Cascudo (1991) encontrou (portanto, de que se tem notícia), está na Carta-II de Sá de Miranda (1481-1558) ao seu “amigo e comensal, Antônio Pereira, o Marramaque, senhor de Basto”, quando o primeiro provou dacachaça na Quinta da Tapada, em Celorico de Basto, no Minho, de propriedade do segundo.

Cantavam os versos:

Ali não mordia a graça
Eram iguais os juízes;

Não vinha nada da praça,

Ali, da vossa cachaça!

Ali, das vossas perdizes!

Certamente, não era a aguardente da cana-de-açúcar, mas a bagaceira. Porém, Nicolau Lanckman, em 1451, viu a cana-de-açúcar “ao redor de Coimbra”. Depois, em 1525, Gil Vicente registrou “vales para açafrão e canas açucaradas” em sítios da Beira. Na verdade, na Península, não se empregava o termo cachaça, visto como uma palavra quase vulgar e rara para designar a bagaceira.

Segundo Câmara Cascudo (1991): “A bebida nasceu aqui, é brasileira, com matéria-prima e braços nacionais, ainda que com alambiques lusos” (p. 3). A palavra somente se generalizou aqui. Cachaça originária “do mel de açúcar sacarino”, obtida do caldo ou melaço, borras ou escumas da cana-de-açúcar, é bebida gerada no Brasil.

O primeiro registro escrito, culto, da palavra cachaça deve-se ao naturalista alemão Jorge Maregrave, quando descreve a fabricação do açúcar em Pernambuco, sob o império do Conde Nassau: a primeira caldeira é chamada pelos portugueses “caldeira de mear descumos”, na qual o caldo é sujeito à ação de um fogo lento, sempre movido e purgado por uma grande colher de cobre chamada “escumadeira”, até que fique bem escumado e purificado. A escuma é recebida numa canoa, posta em baixo, chamada “tanque”, e assim também a cachaça, a qual serve de bebida para os burros.

Antes do termo cachaça firmar-se, no Brasil, definitivamente como a aguardente derivada da fermentação e destilação do caldo ou do melaço da cana-de-açúcar,

Convém registrar um nome que prevalesceu pelos séculos XVI e XVII. Era também muito popular jeribita e suas variações: jiribita, jurubita, geribita, giribita, geriba, piripita. Ainda hoje, em alguns locais do Brasil, fala-se uma dessas formas. Os dicionários da época registram todas elas como sinônimo de cachaça e de aguardente.

Porém, Câmara Cascudo (1991) alerta que muitas vezes a fala popular e os documentos literários e estatais (legais e de fisco) indicam que são líquidos diferentes. Ao mesmo tempo, documentos comerciais gravam eufemismos como aguardente da terra, vinho da terra e vinho de mel que, na verdade, são cachaça, para diferenciar de geribita de fora, aguardente (solitariamente para designar bagaceira), agardente do reino ou ainda bagaceira.

A caxaxa azeda ou garapa azeda, registrada no final do século XVII, é o caldo fermentado, sem destilação, que também, em excesso, embriaga. É como a garapa doida, que encontramos no início deste século no Acre, onde não havia alambiques, somente engenhocas para moer a cana.

O nome pinga só veio depois, no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, segundo Câmara Cascudo (1991), no final do século XIX. Era a destilação, depois da fervura e evaporação do caldo fermentado, que “pingava” na bica do alambique.

Fonte: www.alambiquedacachaca.com.br

História da Cachaça

Origem da Cachaça

A história da CACHAÇA remonta ao século XVI.

O grande português Sá de Miranda já a ela se referia, como na carta versificada ao seu amigo Antônio Pereira:

“Ali não mordia a graça/

eram iguais os juízes;/

não vinha nada da praça,/

ali, da vossa cachaça!/

ali, das vossas perdizes!”

Sua produção, no Brasil, vem assinalada pelos fins desse mesmo século, pois Gabriel Soares dizia que, na altura de 1584, existiam oito casas de “cozer méis”, na Bahia. Em 1648, Margrave e Piso, na História Naturalis Brasiliense (História Natural do Brasil), descreviam o método de fabricação de açúcar em nossos engenhos e mencionavam o fato de a CACHAÇA também ser destinada à alimentação dos animais domésticos.

É como se refere o De “Indae ultriusque re et medica” (sobre coisa natural e médica das duas Índias). Deste sumo, a coagular-se num primeiro tacho, com pouco fogo, de onde se tira uma espuma um tanto feculenta e abundante, chamada de CAGASSA, que serve de comida e bebida somente para o gado.

Já no livro de contas do engenho de Serijipe do Conde, engenho esse dos jesuítas e localizado no recôncavo da Bahia, consta, no período de 1622–1653, a água ardente servida aos escravos, durante o trabalho.

De prazer dionisíaco reservado inicialmente a escravos, a CACHAÇA com o aprimoramento da produção, atraiu outros consumidores e passou a ter importância econômica no Brasil Colônia.

Tal fato traduziu ameaça aos interesses dos portugueses que fabricavam a aguardente metropolitana BAGACEIRA. Já em 1635, era proibida a venda de CACHAÇA na Bahia.

Em 1639, deu-se a primeira tentativa de impedir até o fabrico do produto, mas a partir de então, iniciou-se a reação dos interesses locais, formada por senhores de engenho, comerciantes, destiladores, e, assim, enquanto a disputa sofria flutuações, aumentava o fazer e o consumir das “bebidas de vinho de mel, a CACHAÇA“.

A metrópole sendo derrotada na luta contra a CACHAÇA BRASILEIRA, mudou então de política e, em 1756, o produto já figurava entre os gêneros que, pela tributação, concorriam para a reconstrução de Lisboa, após sua destruição pelo terremoto.

No século XIX, o consumo da CACHAÇA já era alto. Há referências aos sérios problemas de produtividade insuficiente dos engenhos, em decorrência do crescimento de seu consumo, principalmente de negros e irlandeses.

E, no mesmo período, já era também pretexto para exaltação patriótica contra o domínio português. Na região do nordeste, surge o movimento da Confederação do Equador, de aspiração republicana, onde o então coronel JOSÉ FÉLIX DE AZEVEDO E SÁ então vice-presidente da Província do Ceará fazia seus brindes com CACHAÇA ao movimento em referência ao nacionalismo.

Após a derrota do movimento pelas forças mercenárias inglesa em sua maioria e as leais ao Imperador D. Pedro I, o coronel JOSÉ FÉLIX com seu espírito humanitário, liderança e astúcia, veio ser o interlocutor das duas partes, sendo nomeado por D. Pedro I para Presidente da Província do Ceará por vários mandatos.

Entre os aspectos folclóricos do seu uso, começaram a propagar-se os de natureza medicinal, havendo receitas caseiras muitas elaboradas de remédios à base da CACHAÇA. Também no terreno de superstição, consignam-se procedimentos, tal como o dever de deixar um pouco da bebida no copo, a fim de ser jogada fora, por cima do ombro direito, com vistas a um “ofertório” às almas em geral, em particular às dos bêbados.

A produção de CACHAÇA não é mais realizada nos antigos engenhos, nas atuais usinas de fabrico de açúcar, mas sim nos alambiques em pequenas propriedades.

Fonte: www.cambeba.com.br

História da Cachaça

Conhecimento da Cachaça

Água que passarinho não bebe

História da Cachaça

Aqueles que se ligam à cachaça de uma forma ou de outra, por fabricá-la, por vendê-la ou por bebê-la, já devem ter ouvido esta história :

“Nosso Senhor Jesus Cristo, quando caminhava por uma estrada, morrendo de sede, debaixo de um sol causticante, avistou um canavial. Protegendo-se do sol entre sua folhagem, refrescou-se do calor. Depois de descascar uma cana, chupou alguns gomos, saciando sua sede. Ao ir embora, para seguir viagem, estendeu suas mãos por sobre o canavial, abençoando-o desejando que das canas o homem haveria de tê-las sempre boas e doces.

Em um outro dia, o diabo, passando pela mesma estrada, foi dar no mesmo canavial. Ali parando, resolveu refrescar-se. Cortou um pedaço da cana e começou a chupar um gomo, mas seu caldo estava azedo, e quando por ele foi engolido, desceu garganta abaixo queimando-lhe as ventas. Irritado, o diabo prometeu que da cana o homem tiraria uma bebida tão forte e ardente quanto as caldeiras do inferno”.

“Daí surge o açúcar abençoado por Nosso Senhor e a cachaça amaldiçoada pelo diabo”.

Origens da Cachaça

A cana-de-açúcar, elemento básico para a obtenção, através da fermentação, de vários tipos de álcool, entre eles o etílico, é uma planta pertencente à família das gramíneas (Saccharum officinarum) originária da Ásia, onde teve registrado seu cultivo desde os tempos mais remotos da História.

Os primeiros relatos sobre a fermentação vem dos egípcios antigos. Curavam várias moléstias, inalando vapor de líquidos aromatizados e fermentados, absorvido diretamente do bico de uma chaleira, num ambiente fechado.

Os gregos registram o processo de obtenção da ácqua ardens, a água que pega fogo – água ardente (Al Kuhu).

A água ardente vai para as mãos dos Alquimistas que atribuem a ela propriedades místico-medicinais. Se transforma em água da vida. A Eau de Vie é receitada como elixir da longevidade. A aguardente então da Europa vai para o Oriente Médio, pela força da expansão do Império Romano. São os árabes que descobrem os equipamentos para a destilação, semelhantes aos que conhecemos hoje.

Eles não usam a palavra Al kuhu e sim Al raga, originando o nome da mais popular aguardente da Península Sul da Ásia: Arak.

Uma aguardente misturada com licores de anis e degustada com água.

A tecnologia de produção espalha-se pelo Velho e Novo Mundo. Na Itália, o destilado de uva fica conhecido como Grappa. Em terras Germânicas, se destila a partir da cereja, o kirsch. Na Escócia fica popular o Whisky, destilado da cevada sacarificada.

No Extremo Oriente, a aguardente serve para esquentar o frio das populações que não fabricam o Vinho de Uva. Na Rússia a Vodka, de centeio. Na China e Japão, o Sakê, de arroz.

Portugal também absorve a tecnologia dos árabes e destila a partir do bagaço de uva, a Bagaceira.Os portugueses, motivados pelas conquistas espanholas no Novo Mundo, lançam-se ao mar. Na vontade de exploração e na tentativa de tomar posse das terras descobertas no lado oeste do Tratado de Tordesilhas, Portugal traz ao Brasil a Cana de Açúcar, vinda do sul da Ásia. Assim surgem na nova colônia portuguesa, os primeiros núcleos de povoamento e agricultura.

Os primeiros colonizadores que vieram para o Brasil, apreciavam a Bagaceira Portuguesa e o Vinho do Porto. Assim como a alimentação, toda a bebida era trazida da Corte. Num engenho da Capitania de São Vicente, entre 1532 e 1548, descobrem o vinho de cana-de-açúcar – Garapa Azeda, que fica ao relento em cochos de madeiras para os animais, vinda dos tachos de rapadura.

É uma bebida limpa, em comparação com o Cauim – vinho produzido pelos índios, no qual todos cospem num enorme caldeirão de barro para ajudar na fermentação do milho, acredita-se. Os senhores de engenho passam a servir o tal caldo, denominado Cagaça, para os escravos. Daí é um pulo para destilar a Cagaça, nascendo aí a Cachaça.

Dos meados do século XVI até metade do século XVII as “casas de cozer méis”, como está registrado, se multiplicam nos engenhos.

A Cachaça torna-se moeda corrente para compra de escravos na África. Alguns engenhos passam a dividir a atenção entre o açúcar e a Cachaça. A descoberta de ouro nas Minas Gerais, traz uma grande população, vinda de todos os cantos do país, que constrói cidades sobre as montanhas frias da Serra do Espinhaço.

A Cachaça ameniza a temperatura.

Incomodada com a queda do comércio da Bagaceira e do vinho portugueses na colônia e alegando que a bebida brasileira prejudica a retirada do ouro das minas, a Corte proíbe várias vezes a produção, comercialização e até o consumo da Cachaça.

Sem resultados, a Metrópole portuguesa resolve taxar o destilado. Em 1756, a aguardente de cana-de-açúcar foi um dos gêneros que mais contribuíram com impostos voltados para a reconstrução de Lisboa, abatida por um grande terremoto em 1755. Para a Cachaçasão criados vários impostos conhecidos como subsídios, como o literário, para manter as faculdades da Corte.

Como símbolo dos ideais de Liberdade, a Cachaça percorre as bocas dos Inconfidentes e da população que apoia a Conjuração Mineira. A Aguardente da Terra se transforma no símbolo de resistência à dominação portuguesa.

Com o passar dos tempos melhoram-se as técnicas de produção. A Cachaça é apreciada por todos. É consumida em banquetes palacianos e misturada ao gengibre e outros ingredientes, nas festas religiosas portuguesas – o famoso Quentão.

No século passado instala-se, com a economia cafeeira, a abolição da escravatura e o início da República, um grande e largo preconceito a tudo que fosse relativo ao Brasil. A moda é européia e a cachaça é deixada um pouco de lado.

Em 1922, a semana da Arte Moderna, vem resgatar a Brasilidade. No decorrer do nosso século, o samba é resgatado. Vira o carnaval. Nestas últimas décadas a feijoada é valorizada como comida brasileira especial e a Cachaça ainda tenta desfazer preconceitos e continuar no caminho da apuração de sua qualidade.

Hoje, várias marcas de alta qualidade figuram no comércio nacional e internacional e estão presentes nos melhores restaurantes e adegas residenciais do Brasil e do mundo.

Curiosidades

Existem colecionadores que se dedicam a colecionar rótulos de cachaça (Mário Souto Maior, autor do livro “Cachaça” e um seu amigo, são possuidores de belíssimas coleções, assim como o advogado Eurico Viveiro de Castro, morador na cidade do Rio de Janeiro.

A Faculdade de Agronomia Luiz Queiroz, na cidade de Piracicaba, tem exposto em um de seus prédios, para quem quiser ver, uma “pingoteca”, com uma fabulosa coleção de garrafas de cachaça. Seu acervo é para mais de 2.000 exemplares, e as marcas ali expostas têm no mínimo 20 anos.

Existe também, no Museu do Homem Nordestino, em Recife, uma grande coleção de rótulos que pertenceram ao grande músico, crítico e folclorista “Almirante”.

Estima-se que existam mais de 5 mil marcas de cachaça e 30 mil produtores em todo país, gerando aproximadamente 400 mil empregos diretos e indiretos.

Cachaça Artesanal e Industrial, você sabe as diferenças?

Muito se fala sobre as diferenças entre as cachaças brancas industrializadas, produzidas em colunas e as de alambique, por muitos chamada de cachaça de qualidade. Mas quais são realmente as diferenças?

Cachaça agora é marca nacional

O decreto publicado no D.O traz as especificidades da bebida e define o que é caipirinha

Branquinhas

Fabricadas em Minas Gerais ou em outros Estados, branquinhas, amareladas, envelhecidas em tonéis de carvalho ou alumínio.

A cachaça, nos nossos sertões, é mezinha para males físicos e mesmo morais: há contrariedade? toma-se um gole e tudo desaparecerá; reina alegria? saúda-se esta alegria com uma bicada; dói o dente? bochecha-se cachaça e a dor some; há falta de apetite? tome-se um aperitivo de cachaça e a fome volta voraz; falta coragem para resolver um negócio sério? uma lambada forte de cachaça, torna-se corajoso; falta-lhe disposição de falar em público? uma chamada boa de cachaça torna-o orador; faz frio? toma-se uma talagada de cachaça e esquenta-se; faz calor? toma-se um golinho de cachaça e refresca-se…

Por causa da opularidade da cachaça os seus apelidos são numerosos e pitorescos:

branquinha, mata-bicho, tira-teima, malfadada, desgraçada, para-ti, abrideira, água bruta, água-de-briga, água-que-gato-não-bebe, água-que-passarinho-não-bebe, bagaceira, baronesa, bicha, bico, branca, brasa, brasileira, cândida, caiana, cana, caninha, canjica, catuta, caxaramba, caxiri, cobreiro, corta-bainha, camulaia, dindinha, dengosa, desmancha-samba, dona branca, elixir, engasga-gato, espírito, esquenta-por-dentro, filha-de-senhor-de-engenho, fruta, gás, girgolina, gororoba, gramática, homeopatia, imaculada, já-começa, jerebita, jinjibirra, jura, legume, malunga, mamãe-de-luanda, mamãe-de-aruanda, mamãe-sacode, marafa, maria-branca, meu-consolo, moça-branca, patrícia, perigosa, pinga, prego, purinha, rama, remédio, restilo, samba, sete-virtudes, sinhazinha, sumo-de-cana, suor-de-alambique, tafiá, teimosa, tiquira, tome-juízo etc. etc. Note-se que estes apelidos da cachaça são regionais, pois em cada região do Brasil tem o seu pitoresco em ser apelidada pelos seus bebedores.

Dicas para degustar uma cachaça

Degustar cachaça é uma arte que nem todos sabem e que precisa ser exercitada. Mesmo não sendo perito, é fácil saber se uma cachaça é boa ou ruim. Há algumas dicas para isso. Mesmo que não se goste de beber, pelo menos não se erra na hora de presentear os amigos. Sempre, antes de tomar o destilado, é preciso examiná-lo.

A cachaça pode ser branca ou dourada, o que indica que a bebida foi envelhecida em um barril de madeira. Há ainda as que têm um tom amarelo mais escuro, provavelmente pelo uso de melado ou caramelo para a alteração do sabor.

A presença de ciscos – substâncias decantadas no fundo da garrafa ou insetos – é mau sinal. A higiene em todo o processo é determinante na qualidade final do produto.

A formação de espuma na parte de cima, quando sacudida vigorosamente, é também um bom método para avaliar a cachaça ainda dentro da garrafa. Essa espuma deverá se desfazer com uma certa rapidez, dando lugar a um “rosário” de contas graúdas, que desaparece em pouco mais de 10 segundos. No restante da bebida também formar-se-ão pequenas bolhas, em grande quantidade, desaparecendo nesse mesmo tempo, indicando boa graduação alcoólica e boa destilação.

Recomenda-se, para degustação, um cálice branco, liso e de boca larga. Uma porção da bebida deve ficar agarrada nas paredes do cálice, escorrendo mais devagar, indicando a oleosidade do líquido. Isso é sinal de cachaça bem encorpada.

Ainda antes de beber, é preciso sentir o buquê da pinga, cheirando profundamente e sentindo um aroma agradável. A exalação não pode arder nos olhos.

A cachaça deve ficar por alguns segundos na boca. Uma boa cachaça apresenta quatro sabores – adocicado, ácido, amargo e salgado – mais ou menos acentuados, dependendo da marca.

E muito importante: a cachaça não pode queimar profundamente mas sim de uma forma agradável.

Dor de cabeça e vômitos também não fazem parte dos efeitos do dia seguinte. Claro, por se tratar de uma bebida forte, o excesso pode causar mal estar, mas nada de ressacas terríveis.

Quem prova, aprova o sabor da cachaça

Caipirinha populariza a cachaça e se transforma em culto nos países da Europa, Ásia e Estados Unidos.

Além do sabor e aroma, a cachaça possui uma enorme versatilidade. Pode ser degustada pura, on the rocks ou em drinks com as mais variadas frutas. Entre os principais coquetéis destaca-se a famosa caipirinha.

Presença obrigatória em toda festa brasileira, o drink impressiona pela simplicidade da fórmula: um limão cortado em rodelas, pressionado por um socador de madeira dentro de um copo com duas doses de cachaça, duas colheres de açúcar e gelo picado.

Tão singela quanto deliciosa, a bebida já conquistou adeptos em todo o mundo. Um fenômeno de simplicidade e requinte, a caipirinha virou sinônimo de alegria e espontaneidade do povo brasileiro. Provar a bebida é como sentir o gosto do Brasil.

Diferente dos outros destilados, a suavidade e refrescância da mistura agradam inclusive ao público feminino. O drink é considerado fashion, requintado e é aprovado pela maioria das mulheres que freqüentam bares e restaurantes pelo mundo inteiro.

Também entre especialistas a caipirinha conquista admiradores. Em 1998, a Associação Internacional de Barmen a incluiu entre as sete maravilhas da coquetelaria mundial.

No último ano do milênio, a revista americana In Style a elegeu a “bebida mais quente do século”.

A caipirinha é um sucesso inegável, mas não se pode esquecer que reações positivas ocorrem também quando os estrangeiros experimentam as batidas de frutas tropicais ou, é claro, a cachaça pura, que pode ser também envelhecida.

Prova de que o arsenal à disposição dos fabricantes para conquistar o mercado externo é diversificado.

Fonte: www.arara.fr

História da Cachaça

Os gregos registram o processo de obtenção da ácqua ardens. A água que pega fogo – água ardente – aparece nos registros do Tratado da Ciência escrito por Plínio, o velho, que viveu entre os anos 23 e 79 d. C. A água ardente vai para as mãos dos alquimistas que lhe atribuem propriedades místico-medicinais. Transforma-se em água da vida. São os árabes que descobrem os equipamentos para a destilação, semelhantes ao que conhecemos hoje.

Na Itália, o destilado de uva fica conhecido como Grappa. Em terras germânicas, destila-se a partir da cereja, o Kirsch. Na Escócia, fica popular o Whisky, destilado da cevada sacrificada. No Extremo Oriente, a aguardente serve para esquentar o frio das populações que não fabricam o Vinho de Uva. Na Rússia, a Vodka, de centeio. Na China e Japão, o Sakê, de arroz.

Minas Gerais produz cerca de 200 milhões de litros por safra, o que representa cerca de 50% da produção de cachaça de alambique. São 8.500 alambiques, mas apenas 500 são registrados no Ministério da Agriculura. No Brasil contam-se 30.000 alambiques.

De acordo com Cristiano Lamego, Superintendente Executivo do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais – SINDBEBIDAS, “o mercado interno tem se mostrado estável ao longo dos anos. Não existe evolução de produção e de consumo em relação a volume de produção.

O fato mais relevante é ampliação do mercado consumidor. Cada vez mais a cachaça se torna uma bebida nobre com aceitação cada vez maior do público classe A. Outro fato relevante é a aceitação cada vez maior da cachaça pelo público feminino”.

Quanto ao mercado externo, de acordo com Cristiano Lamego, será necessário um esforço de marketing para fazer com que reconheçam a diferença entre uma cachaça de alambique de uma cachaça de coluna ou industrial, já que lá fora a cachaça é vista somente como base para a caipirinha.

A grande dificuldade dos fabricantes continua sendo a questão tributária. “Altos impostos fazendo com que os produtores continuem informais, trazendo graves problemas sociais para os mesmos. As cachaças de alambique de Minas tiveram seus valores de IPI reajustados em até 700%. Para exemplificar, o IPI de uma garrafa de alambique chega a R$ 2,23, enquanto uma cachaça de coluna ou industrial recolhe em média 0,38 por garrafa.

É uma diferença brutal que vem impactando diretamente na alta informalidade do setor. Além disto, os produtores de cachaça de alambique foram recentemente impedidos de se enquadrarem ao SIMPLES. (Programa Federal de Impostos),agravando ainda mais a situação”. Explica Cristiano.

Receitas, livros, produtos feitos à base de cachaça. A bebida se tornou, muitas vezes, ingrediente principal na cozinha de grandes chefs e de restaurantes. De acordo com Cristiano, “a novidade é a constatação da grande flexibilidade que a cachaça de alambique possui para o preparo de drinques e coquetéis.

Se pegarmos, por exemplo, os dez drinques mais conhecidos do mundo e substituirmos a bebida alcoólica, seja vodka, tequila ou outras, por cachaça, o resultado será fantástico. Também é cada vez maior o uso da cachaça na culinária. Os produtores têm investido em melhoria de embalagens e rótulos e lançando produtos à base de cachaça, como Ice e caipirinhas prontas para atingir o público mais jovem”.

No Parque Ecológico da Cachaçaria Vale Verde são fabricadas as tradicionais cachaças Vale Verde e a envelhecida Minha Deusa, produtos que são o resultado de uma combinação de sofisticadas técnicas de fermentação e destilação, trazidas da Europa em meados dos anos 80.

Além das novas técnicas, o solo calcário da Fazenda contribuiu para enriquecer o sabor e a textura da cana dando um agradável paladar ao produto final.

Embora passem pelo mesmo processo de fabricação, as duas marcas possuem características distintas: a Vale Verde, com sua cor dourada e sabor suave, é envelhecida por três anos em barris de carvalho europeus; já a Minha Deusa é engarrafada e sai pronta para comercialização.

O Vale Verde Alambique Parque Ecológico é aberto ao público. Além do alambique, há uma enorme área verde com inúmeras espécies de aves silvestres, algumas, ameaçadas de extinção e orquídeas em exposição. O restaurante oferece pratos à base de cachaça e várias opções de saladas, pratos quentes, drinques e sobremesa.

Fonte: www.chefonline.com.br

História da Cachaça

A cana-de-açúcar, elemento básico para a obtenção, através da fermentação, de vários tipos de álcool, entre eles o etílico, é uma planta pertencente à família das gramíneas (Saccharum officinarum) originária da Ásia, onde teve registrado seu cultivo desde os tempos mais remotos da História.

Os primeiros relatos sobre a fermentação vêm dos egípcios antigos. Curavam várias moléstias, inalando vapor de líquidos aromatizados e fermentados, absorvido diretamente do bico de uma chaleira, num ambiente fechado.

Os gregos registram o processo de obtenção da ácqua ardens, a água que pega fogo – água ardente (Al Kuhu).

A água ardente vai para as mãos dos Alquimistas que atribuem a ela propriedades místico-medicinais. Se transforma em água da vida. A Eau de Vie é receitada como elixir da longevidade. A aguardente então da Europa vai para o Oriente Médio, pela força da expansão do Império Romano. São os árabes que descobrem os equipamentos para a destilação, semelhantes aos que conhecemos hoje.

Eles não usam a palavra Al kuhu e sim Al raga, originando o nome da mais popular aguardente da Península Sul da Ásia: Arak.

Uma aguardente misturada com licores de anis e degustada com água.

A tecnologia de produção espalha-se pelo Velho e Novo Mundo. Na Itália, o destilado de uva fica conhecido como Grappa. Em terras Germânicas, se destila a partir da cereja, o kirsch. Na Escócia fica popular o Whisky, destilado da cevada sacarificada.No Extremo Oriente, a aguardente serve para esquentar o frio das populações que não fabricam o Vinho de Uva. Na Rússia a Vodka, de centeio. Na China e Japão, o Sakê, de arroz.Portugal também absorve a tecnologia dos árabes e destila a partir do bagaço de uva, a Bagaceira.

Os portugueses, motivados pelas conquistas espanholas no Novo Mundo, lançam-se ao mar. Na vontade de exploração e na tentativa de tomar posse das terras descobertas no lado oeste do Tratado de Tordesilhas, Portugal traz ao Brasil a Cana de Açúcar, vinda do sul da Ásia. Assim surgem na nova colônia portuguesa, os primeiros núcleos de povoamento e agricultura.

Os primeiros colonizadores que vieram para o Brasil, apreciavam a Bagaceira Portuguesa e o Vinho do Porto. Assim como a alimentação, toda a bebida era trazida da Corte. Num engenho entre o recôncavo baiano e a capitania de São Vicente, entre 1532 e 1548, descobrem o vinho de cana-de-açúcar – Garapa Azeda, que fica ao relento em cochos de madeiras para os animais, vinda dos tachos de rapadura.

É uma bebida limpa, em comparação com o Cauim – vinho produzido pelos índios, no qual todos cospem num enorme caldeirão de barro para ajudar na fermentação do milho, acredita-se.

Os senhores de engenho passam a servir o tal caldo, denominado Cagaça, para os escravos. Daí é um pulo para destilar a Cagaça, nascendo aí a Cachaça.

Dos meados do Século XVI até metade do Século XVII as “casas de cozer méis”, como está registrado, se multiplicam nos engenhos.

A Cachaça torna-se moeda corrente para compra de escravos na África. Alguns engenhos passam a dividir a atenção entre o açúcar e a Cachaça. A descoberta de ouro nas Minas Gerais, traz uma grande população, vinda de todos os cantos do país, que constrói cidades sobre as montanhas frias da Serra do Espinhaço. A Cachaça ameniza a temperatura.

Incomodada com a queda do comércio da Bagaceira e do vinho portugueses na colônia e alegando que a bebida brasileira prejudica a retirada do ouro das minas, a Corte proíbe várias vezes a produção, comercialização e até o consumo da Cachaça.

Sem resultados, a Metrópole portuguesa resolve taxar o destilado. Em 1756, a aguardente de cana-de-açúcar foi um dos gêneros que mais contribuíram com impostos voltados para a reconstrução de Lisboa, abatida por um grande terremoto em 1755.

Para a Cachaça são criados vários impostos conhecidos como subsídios, como o literário, para manter as faculdades da Corte.

Como símbolo dos ideais de Liberdade, a Cachaça percorre as bocas dos Inconfidentes e da população que apoia a Conjuração Mineira. A Aguardente da Terra se transforma no símbolo de resistência à dominação portuguesa.

Com o passar dos tempos melhoram-se as técnicas de produção. A Cachaça é apreciada por todos. É consumida em banquetes palacianos e misturada ao gengibre e outros ingredientes, nas festas religiosas portuguesas – o famoso Quentão.

No século passado instala-se, com a economia cafeeira, a abolição da escravatura e o início da República, um grande e largo preconceito a tudo que fosse relativo ao Brasil. A moda é européia e a cachaça é deixada um pouco de lado.

Em 1922, a Semana da Arte Moderna, vem resgatar a Brasilidade. No decorrer do nosso século, o samba é resgatado. Vira o carnaval. Nestas últimas décadas a feijoada é valorizada como comida brasileira especial e a Cachaça ainda tenta desfazer preconceitos e continuar no caminho da apuração de sua qualidade.

Hoje, várias marcas de alta qualidade figuram no comércio nacional e internacional e estão presentes nos melhores restaurantes e adegas residenciais do Brasil e do mundo.

Fonte: www.ampaq.com.br

História da Cachaça

A nossa aguardente, a Cachaça, é produzida a partir da cana-de-açúcar através da destilação da garapa fermentada. O Teor alcoólico deve ficar entre 38 e 54 graus.

As primeiras aguardentes

As primeiras notícias sobre fermentação vieram do Egito Antigo.

Os egípcios inalavam vapores de líquidos fermentados diretamente do bico da chaleira, com o intuito de curar moléstias.

No entanto, os gregos chegaram primeiro ao processo de obtenção da “ácqua ardens”, a água que pegava fogo ou água ardente. Daí, a receita foi parar com os alquimistas que viram, na bebida, propriedades medicinais e místicas. Chegou a ser chamada de “Água da Vida”. A “Eau de Vie” ou seja, o Elixir da Longevidade. A novidade foi primeiramente para a Europa e Oriente Médio. Foram os árabes que inventaram o processo de destilação semelhante ao atual.

A tecnologia então se espalhou pelo mundo. Utilizando porém, cada país, uma matéria prima diferente. Na Itália, a uva para fazer o Grappa; na Alemanha, a cereja para o Kirsch; na Escócia a cevada (ou o milho) para o Uísque; na Rússia o centeio para a Vodka; no Japão e na China, o arroz para o Sakê; em Portugal, a uva para a Bagaceira.

Cachaça – a aguardente à moda brasileira

Foram os portugueses que trouxeram para o Brasil a nossa matéria prima, a cana-de-açúcar, quando aqui estabeleceram os primeiros núcleos de povoamento e implantaram a agricultura. Os lusitanos já tomavam e gostavam da Bagaceira. Tudo começou entre 1532 e 1548, na Capitania de São Vicente, quando foi descoberto, por acaso, o “vinho” da cana-de-açúcar.

Melhor dizendo, a garapa azeda da cana. Essa garapa, vinha dos engenhos de rapadura e ficava ao relento, em cochos de madeira, servindo apenas de alimento para os animais. Assim, fermentava com facilidade. Alguém provou e notou que era melhor do que o cauim, dos índios, uma bebida produzida com o emprego de cuspe para facilitar a fermentação do milho (ou mandioca).

O Caldo azedo, com o nome Cagaça, passou então a ser fornecido aos escravos para que pudessem suportar melhor a pesada carga de trabalho nos canaviais. Logo, porém, tiveram a idéia de destilar a cagaça e nasceu assim, a cachaça.

As primeiras destilarias de cachaça (do século XVI ao XVII) eram denominadas de “casas de cozer méis” e logo se multiplicaram, pela facilidade de já existirem engenhos para produção de açúcar e rapadura. A novidade foi tão apreciada que se tornou moeda corrente entre os escravos. A Corte tentou, várias vezes, proibir o consumo (em 1635) e até a fabricação (em 1639) da cachaça, mas não conseguiu.

O motivo, logicamente era a concorrência com a Bagaceira. A bebida já era muito apreciada e servia também para abrandar o frio, sobretudo nas baixas temperaturas como as da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, onde uma grande população se aglomerou em busca de ouro. Em 1756, não tendo tido êxito, na proibição da fabricação e muito menos do consumo, o Rei de Portugal resolveu taxar a nova bebida.

A aguardente de cana-de-açúcar foi, nessa época, um dos produtos brasileiros que mais contribuíram com impostos. Esses recursos foram fundamentais para a reconstrução de Lisboa, abalada por um violento terremoto no ano anterior. A Aguardente brasileira foi assim, um símbolo de resistência à dominação portuguesa e esteve presente na mesa dos Inconfidentes.

Logo melhoram as técnicas de produção. A Cachaça era exaltada por todos como uma ótima bebida e consumida até em banquetes palacianos. Misturada ao gengibre e outros ingredientes, era apreciada também nas festas religiosas portuguesas com o nome de Quentão.

Quando se iniciou a economia cafeeira, a implantação da república e a abolição da escravatura, a nossa cachaça passou a ser vítima de um preconceito irracional.

Em 1922 no entanto, com a Semana da Arte Moderna, a cachaça ganhou novamente o reconhecimento que merecia. Outras invenções genuinamente brasileiras, como o samba e a feijoada fizeram parte do resgate do brasileirismo.

Bebida internacional

A cachaça ainda hoje enfrenta algum preconceito, mas hoje bem menos do que antes. Atualmente, várias destilarias, em todo o país, produzem cachaças de excelente qualidade. São centenas, talvez milhares de marcas. Minas, Ceará e Pernambuco, possuem juntos mais de mil marcas.

Muitas com controle de qualidade e embalagens dignas do melhor uísque. Tal empenho dos fabricantes, conquistou o público feminino, abriu o comércio internacional e a nossa cachaça ganhou o mundo.

Fonte: www.cumbuca.com.br

História da Cachaça

Bebidas fermentadas como o vinho e a cerveja, remontam aos primórdios da humanidade. No código de Hamurabi na antiga Babilônia, em 1750 a.c. já se mencionavam proibições para sacerdotisas frequentarem tavernas.

Durante séculos a humanidade saboreou suas bebidas fermentadas, os babilônios com sua cerveja, os gregos com o vinho e os índios brasileiros com o caiçuma, uma bebida fermentada a partir do milho. Os Salmos de Davi 103:15 diz “fazes brotar plantas úteis ao homem, para que da terra ele tire o pão e o vinho que alegra o coração do homem”.

Os gregos registram o processo de obtenção da ácqua ardens. A Água que pega fogo – água ardente, aparece nos registros do Tratado da Ciência escrito por Plínio, o velho, que viveu entre os anos 23 e 79 depois de Cristo.

Ele conta que apanha o vapor da resina de cedro, do bico de uma chaleira, com um pedaço de lã. Torcendo o tecido obtem-se o Al kuhu. Foi no século X que Avicena – médico, astrônomo e filósofo árabe – descobriu o processo de destilação do material fermentado. A destilação produz um líquido composto em sua maior parte por álcool etílico. A palavra álcool tem origem árabe “Al Kuhul” que curiosamente significa fina poeira referindo-se ao sulfeto de antimônio, cosmético muito usado pelos egípcios. Posteriormente este termo passou a designar qualquer essência como o álcool.

Entre o século X e XII, os alquimistas europeus classificaram o produto da destilação como “aqua ardens” literalmente água que pegava fogo. A água que ardia posteriormente foi obtida com um maior teor alcoólico e foi chamada de aqua vitae, eau de vie em francês e uisqe beatha em irlandês. Esta água da vida ou quintessência era usada pelos médicos como remédio.

Com o avanço da ciência os químicos classificaram os álcoois e sua grande família, o álcool etílico é o composto que nos embriaga. A famosa reação de fermentação onde a glicose vira álcool é chamada de reação de Gay Lussac, famoso químico francês. Ele deixou sua marca em cada garrafa pois ao lermos o teor alcoólico usamos a escala que tem seu nome.

Avancemos um pouco no tempo, estamos no século XVI, período da introdução da cana de açúcar no Brasil. Nos engenhos de cana, o que restava da produção de açúcar era dado aos escravos e aos animais. Este resíduo era a borra do melaço fermentada, conhecido como “vinho de cana”. Esta borra é chamada até hoje pelos espanhóis de “cachaza” ou cagassa em português. Os jesuítas registraram que a “áugoa ardente” era dada aos escravos.

Bebidas alcoólicas não eram muito comuns no continente africano, em função do islamismo (“Ó vós que credes, o vinho, os jogos de azar, os ídolos e as flechas da adivinhação são obras repugnantes do demônio. Evitai-os. E possais prosperar!” Sura 5:90). Os únicos aguardentes existentes eram os de mel de abelha e sorgo.

A água ardente vai para as mãos dos Alquimistas que atribuem a ela propriedades místico-medicinais. Se transforma em água da vida. A Eau de Vie é receitada como elixir da longevidade. A aguardente então vai para da Europa para o Oriente Médio, pela força da expansão do Império Romano. São os árabes que descobrem os equipamentos para a destilação, semelhantes aos que conhecemos hoje.

Eles não usam a palavra Al kuhu e sim Al raga, originando o nome da mais popular aguardente da Península Sul da Ásia: Arak. Uma aguardente misturada com licores de anis e degustada com água. A tecnologia de produção espalha-se pelo velho e novo mundo. Na Itália, o destilado de uva fica conhecido como Grappa. Em terras Germânicas, se destila a partir da cereja, o kirsch. Na Escócia fica popular o Whisky, destilado da cevada sacarificada.

No extremo Oriente, a aguardente serve para esquentar o frio das populações que não fabricam o Vinho de Uva. Na Rússia a Vodka, de centeio. Na China e Japão, o Sakê, de arroz. Portugal também absorve a tecnologia dos árabes e destila a partir do bagaço de uva, a Bagaceira.

Alguém teve então a idéia de usar a técnica de Avicena, nesta época já espalhada pela Europa, e destilar este resíduo obtendo um destilado com alto teor alcoólico. Surgia assim a cachaça. No início, a pinga era usada para amaciar a carne do cachaço (porco). A origem deste nome é controversa.

Morais Silva, autor do primeiro grande dicionário de portguues em 1813 e dono de engenho, relata que quando se fervia a mistura aparecia um pescoço ou cachaço no tacho. Nas palavras dele a palavra cachaça vem da “primeira fervura da cana, que se alteia e toma a forma de um cachaço. Mas existe a palavra espanhola “cachaza” e fica-se na dúvida se foi o cachaço português que influenciou o espanhol ou vice-versa. A palavra teria origem espanhola, segundo o folclorista Câmara Cascudo.

No século XVI em Portugal já se falava em cachaça, o poeta Sá de Miranda, escrevia para um amigo em forma de versos: Ri não mordia a graça/eram iguais os juízes/Não vinha nada da praça/Ali da vossa cachaça/Ali das vossas perdizes. Segundo o jesuíta André João Antonil (1649-1716) em seu “Cultura e Opulência no Brasil por suas Drogas e Minas”, cachaça era a “…espuma grossa que se tira das caldeiras na primeira fervura do caldo de cana durante o processo de evaporação.”

O fato é que a palavra praticamente não foi usada em Portugal, existindo somente no Brasil para nomear a bebida destilada obtida do caldo ou melaço da cana-de-açúcar moída.

História da Cachaça

Datam de 1516 as primeiras iniciativas oficiais para o estabelecimento da indústria do açúcar no Brasil, na forma de “engenhos reais” por ordem de D. Manuel (1469-1521). No entanto, somente em 1532, aparecem as primeiras notícias de engenhos estabelecidos solidamente em terras brasileiras, sendo o mais famoso deles na Capitania de São Vicente, próximo a Santos, no litoral paulista.

Num engenho da Capitania de São Vicente, entre 1532 e 1548, descobrem o vinho de cana de açúcar – Garapa Azeda, que fica ao relento em cochos de madeiras para os animais, vinda dos tachos de rapadura. É uma bebida limpa, em comparação com o Cauim – vinho produzido pelos índios, no qual todos cospem num enorme caldeirão de barro para ajudar na fermentação do milho, acredita-se.

Os Senhores de Engenho passam a servir o tal caldo, denominado Cagaça, para os escravos. Daí é um pulo para destilar a Cagaça, nascendo aí a Cachaça.

Os livros de história são unânimes em afirmar que o primeiro lugar a produzir aguardente foi a Capitania de São Vicente, onde hoje fica o estado de São Paulo, já que lá é onde estava instalado o primeiro engenho real de cana.Em 1584, Gabriel Soares faz o relato de que já existiam 8 casas de “cozer mel” como eram chamados os engenhos que produziam a cachaça, bem antes dos ingleses iniciarem a produção de rum no Caribe em um processo assemelhado.

No alambique quando a temperatura chega a 78 graus o álcool etílico ferve e se separa da água. O objetivo é se livrar das partes tóxicas como o metanol e obter álcool aromatizado. O segredo de uma destilação perfeita consiste em descartar-se o início e o fim da destilação chamada respectivamente de cachaça de cabeça e cachaça de rabo, obtendo o meio que é a cachaça do coração.

Esta, com seus diversos compostos como óleos fúseis é que é a cachaça de boa qualidade, transparente, ideal para fazer caipirinha, com um teor de álcool alcoólico acima de 40%.

A cachaça era fabricada quase em todo lugar onde houvesse um engenho de açúcar, virou moeda de troca, usada para comprar escravos na África. A produção nacional passou até a incomodar o governo português que viu sua venda de vinho e de seu destilado, a bagaceira, despencarem. Tentaram proibir a produção da cachaça, mas tal tarefa revelou-se quase impossível.

Nos dias úmidos e frios, o duro trabalho nos canaviais tornava essencial a ingestão de uma dose da “dengosa”. Era também excelente lenitivo para cativos adoentados. O trabalho nas Minas também nao se fazia sem a “branquinha”, que mantinha aquecidos os escravos que ficavam horas mergulhados nos rios, lidando com as batéias.

Dizia-se que podiam passar mal-vestidos e mal-alimentados, mas jamais sem um gole de aguardente. Sua situação de gênero e primeira necessidade era tão evidente que, em 1720, na vila de Pitangui, uma revolta quase eclodiu quando o governo tentou dificultar seu comércio.

Os primeiros engenhos possuíam quatro níveis para aproveitar a gravidade na transferência dos diferentes produtos. No primeiro nível, a cana de açúcar era recebida e moída em engenho movido com roda de água, para extração de seu caldo, o qual era transferido para um segundo nível, mais baixo, onde era cozido em tachos de cobre para fabricação de melado que, depois de fermentado em cochos de madeira, era transferido para o terceiro nível, mais baixo que o segundo, para ser destilado.

A cachaça destilada era transferida para o quarto nível, mais baixo que o terceiro, para ser armazenada em tonéis de madeira para envelhecimento. O aparelho de destilação, o alambique, compunha-se de duas peças: a inferior conhecida como curcúrbita ou caldeira e a superior denominada capitel.

A primeira era um vaso bojudo de cobre com capacidade de 40 medidas (104 litros), com uma boca de 70 centímetros de diâmetro. A segunda peça, o capitel ou capacete, era feito em barro. de forma esférica inteiriça. na proporção de um quarto da curcúrbita e ajustada na sua boca.

Na parte lateral do capitel era instalada a serpentina, grosso tubo de barro afinando para sua extremidade aberta. Sobre a serpentina e o capitel era lançada água para condensação da cachaça vaporizada.

As etapas para fabricação da pinga artesanal essencialmente são:

1) A cana-de-açúcar é moída em um equipamento similar àqueles de caldo de cana, vistos nas feiras livres (quanto mais doce a cana, melhor).

2) A garapa é levada ao cocho de fermentação, onde passa uma noite fermentando sem ajuda de produtos químicos.

3) Já fermentada, a garapa chega ao alambique propriamente dito, onde séra fervida por seis horas, vaporizando,

4) O vapor escoa pelo capelo (parte superior do alambique) até uma serpentina,

5) Na serpentina, o vapor volta à forma líquina, já pinga, saindo em uma bica direto para o barril, onde fica até alcançar o teor alcóolico de 20 graus.

6) Descartam-se os primeiros e ultimos 10% da destilação e a cachaça já esta prontar para ser servida e comercializada.

Se o tráfico com a África dependia primordialmente do escambo do tabaco, apoiava-se também na troca da aguardente brasileira. Tanto assim quem em 1649, quando proibida a fabricação do “vinho do mel de cana”, por atrapalhar o comércio do vinho português, houve grande reação de todos os que se beneficiavam do comércio de escravos.

Até 1661, quando o veto foi levantado, a produção permaneceu estável, contando inclusive com a conivência daqueles encarregados da admistração colonial. Debret em seu livro Viagem pitoresca e Histórica ao Brasil de 1830 ao relatar as doenças a que estavam sujeitos os escravos relata: “porém, o mais incurável desse flagelos que grassam entre os escravos masculinos, é o abuso da aguardente, cachaça.

Essa bebida, infelizmente de preço módico e com que se embebedam todos os dias, acaba por torná-los tuberculosos, ceifando grande parte deles” o que mostra que a bebida tenha sido motivo para baixa de produtividade dos escravos.

Rugendas, na mesma época, referindo-se aos moradores do Rio de Janeiro relata: “sua sobriedade é igualmente notável em relação à bebida alcoólica, embora isso se aplique menos as classes inferiores, para as quais na verdade, os vinhos generosos e a aguardente de cana são necessários até certo ponto, pois de outro modo, os alimentos pesados, que constituem sua alimentação principal, mandioca, milho, feijão e carne seca salgada lhes seriam nocivos.

Raramente se encontram bêbados, mesmo entre os brasileiros (brancos nascidos no Brasil) da mais baixa categoria, tais excessos são mais frequentes entre negros e índios”. Adiante Rugendas mostra os efeitos do álcool: “Em geral os divertimentos dos negros provocam desordens tanto mais graves quanto raramente eles tem o espírito livre dos efeitos do álcool, não somente porque bebem demasiado mas ainda porque suportam mal a bebida, bastando uma pequena dose de cachaça, espécie de rum de má qualidade, para embriagá-los completamente. Imediatamente puxam-se as facas e os ferimentos graves e assassíneos são mais do que comuns”

Augusto de Saint-Hilaire, de junho de 1816 a agosto de 1822, percorrendo o Brasil do sul, fixado em livros incomparáveis, informava em 1819 que Cachaça é a aguardente do país. Apesar do registro vulgarizador, o grande botânico não hesitou em afirmar: “Não se deva supor, todavia, que o gosto desses homens pela cachaça os conduza freqüentemente à embriaguez. Apresso-me a dizer, em louvor não só dos goianos, como ainda dos habitantes do Brasil em geral, que não me lembro de ter visto, no decurso das minhas longas viagens, um único homem embriagado” (Viagem às nascentes do rio São Francisco e pela província de Goiás, 2º, São Paulo, 1937).

Mais vivo é o depoimento de George Gardner, de julho de 1836 a junho de 1841 no Brasil, colecionando plantas para os museus da Inglaterra. Médico, Gardner ficou dois anos no Rio de Janeiro, passando à Bahia, Recife, Ceará, alcançando o Piauí, Goiás, Minas Gerais, visitando regiões inexploradas, motivando o inimitável Travels in the interior of Brazil, Londres, 1846. Declara: “Vindo do Brasil desembarquei num domingo de manhã em Liverpool, e vi nesse dia mais ébrios, no meio das ruas dessa cidade, do que vi, entre os brasileiros, brancos ou mestiços, durante toda a minha estada em seu país, que foi de cinco anos”.

A leitura de “História da alimentação no Brasil” de Câmara Cascudo e “Açúcar” de Gilberto Freyre sugere que a cachaça sempre foi o maior “mata-fome” do Brasil, fazendo a população mais pobre esquecer que o estômago ronca e seguir com o trabalho.

Rugendas aponta o uso da aguardente como instrumento para desarticulação da oposição dos negros à escravidão: “por toda a parte e com verdadeiro furor, os mercadores de escravos excitaram os chefes negros…com presentes…promessas de lucros fabulosos e finalmente empregaram a aguardente, veneno a que os negros não resistiam nunca”

O governo português resolveu cobrar taxas sobre a produção. Os impostos sobre a cachaça ajudaram a reconstruir Lisboa, abalada por um terremoto em 1756. Altos impostos cobrados pela coroa portuguesa foi uma das causas de revoltas no Brasil. Na Conjuração Mineira a cachaça passou a ser um dos símbolos.

Os inconfidentes valorizavam o produto nacional e incentivaram o consumo do que até hoje os portugueses chamam de aguardente da terra. A cachaça, sendo relativamente barata, tinha conquistado o país. Em quatro séculos de história ganhou diversos nomes.

O novo dicionário Houaiss registra mais de 500 sinônimos para a cachaça do “abre” à “zuninga”. Embora a elite brasileira tenha por vezes torcido o nariz para a cachaça ela tornou-se a bebida nacional, a cara do Brasil.

No século 19, sua produção e consumo já estavam tão disseminado e identificados com a terra que a cachaça tornou-se, então sinônimo de brasilidade. Na Revolução Pernambucana de 1817, bem como nas lutas de Independência, brindar com vinho ou outra bebida significava alinhar-se com o lado português.

A situação tornou-se tão extrema que, em certos lugares, não beber era considerado pouco patriótico. Nas guerras Cisplatina, do Paraguai e de Canudos, recomendava-se a ingestão de “januária”com pólvora, um santo remédio para a falta de coragem.

Observou o citado Câmara Cascudo, em todo o norte do Brasil, um interessante rito da cachaça, que assim nos descreve: Tendo na mão o copo, feita a vênia do estilo, o primeiro bebedor derrama um pouco do líquido no chão, antes do primeiro gole, nunca aliás bebido por quem oferece o trago e sim pelo homenageado, quando só há um copo para os dois amigos.

Perquirindo a origem do costume o ilustre rio-grandense-do-norte foi encontrá-la na libatio romana, cerimônia pagã que consistia em derramar no fogo ou no solo o vinho que sobrava das libações.

A “moça-branca” não ficaria de fora de um dos aspectos mais importantes da vida do brasileiro: a religião. No Candomblé sua presença e constante, especialmente nos despachos. O catolicismo não foi menos influenciado pela “pindaiba”.

O folclorista Melo Morais Filho registrou sua presença em um auto do ciclo de Natal, chamado “Baile da Aguardente”. São Benedito era catado nas trovas populares com o “santo preto, que bebe cachaça e ronca no peito”. Mas a cachaça era usada como remédio também. Quando a medicina sequer podia ser considerada uma ciência já existiam elixires que em sua grande parte eram alcoólicos.

Até hoje no interior do Brasil é comum tomar-se pinga com limão e mel. Um saudável remédio para gripes e resfriados. A aguardente tornava-se novamente a áqua da vida dos alquimistas. Hoje, séculos depois, a cachaça é a segunda bebida mais consumida no País, perdendo apenas para a cerveja, que no ano passado despejou mais de 9,7 bilhões de litros nos copos dos brasileiros, contra 1,3 bilhão de litros da aguardente.

Uma boa cachaça é definida no processo de fermentação, pois é nele que são formados todos os compostos. De nada adianta o cuidado nas outras etapas da produção, se houver descuido durante a fermentação.

Os produtores costumam adicionar fubá de milho, farelo de soja, querela de arroz, entre outros, ao caldo de cana na preparação de receitas próprias do fermento iniciador, também chamado de pé-de-cuba. Segundo o pesquisador Carlos Rosa da UFMG, a maioria dos produtores acredita que o segredo está na mistura, que fermenta de cinco a 20 dias. Mas, na realidade, pouco importa o que vai ser adicionado ao caldo de cana, pelo menos em relação ao desenvolvimento dos microorganismos presentes no ambiente. “Os grãos não são fonte de nutrientes para o levedo, possivelmente, apenas servem de suporte para a sua proliferação e ajudam na decantação”, explica Carlos Rosa.

Se o processo foi conduzido com higiene e o tempo de fermentação foi respeitado, o sucesso nessa etapa é certo. Ao final do período de preparação do pé-de-cuba, ocorre o predomínio da levedura Saccharomyces cerevisiae. Por ser um fungo altamente adaptado ao álcool, o S. cerevisiae quase sempre domina a fermentação de bebidas alcoólicas.

Entretanto, muitas linhagens diferentes dessa mesma levedura podem conduzir o processo. Isso significa que a cachaça apresenta variações de qualidade ao longo da safra, que, em Minas, vai de maio a novembro. Sem ter como avaliar, os produtores costumam misturar toda a cachaça produzida ao longo de cada safra, correndo o risco de misturar uma excelente pinga com uma de pior qualidade. O resultado final é uma cachaça mediana.

Infelizmente a originalidade de nossa cachaça é ameaçada pelo rum, primo da cachaça pois é também fabricado a partir da destilação da cana de açúcar. O rum branco, destilado do mosto de cana fermentado sai do alambique com mais de 80% de teor alcoólico tendo seu teor alcoólico diluído para cerca de 40%. A matéria prima é parecida mas o processo gera um produto diferente.

Esta semelhança faz com que diversos dicionários e artigos na imprensa mundo afora ignorem a cachaça por achá-la semelhante ao rum. Nós brasileiros temos parte da culpa pois por vezes chamamos fazemos caipirinha com vodka ou mesmo com o concorrente rum.

De acordo com o sistema de designação da Organização Mundial das Alfandegas (OMA) na categoria bebidas, a cachaça não tem uma classificação única, como o uísque, vodka, etc, sendo classificada no grupos “outros destilados alcoólicos”.

Os produtores brasileiros ainda precisam cumprir algumas etapas para definir a palavra cachaça como designação de um produto típico do Brasil e produzido exclusivamente em território nacional, para destacá-la no mercado internacional.

Em primeiro lugar, o INPI conseguiu junto ao INPI francês que se anulasse o registro de marca cachaça indevidamente concedido na França por terceiros. O presidente Fernado Henrique Cardoso assinou na primeira semana de 2002 o decreto 4072 que estabelece que “cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcóolica de 38% a 48% em volume a 20 graus Celsius e com características sensoriais peculiares” alterando assim o decreto 2314/97 da Lei de Bebidas 8918 de 14.07.94.

Com os recentes decretos presidenciais (incluindo o decreto 4062 de dezembro de 2001, que assegura o uso do termo cachaça apenas para a aguardente nacional) o quadro da identificação da cachaça como rum pode ser finalmente revertido, com o aval da OMPI: “a pinga é feita a partir do caldo da cana, enquanto o rum utiliza o melaço.

Existem diferenças culturais, químicas e sensoriais entre as bebidas” , argumenta a presidente do Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana (PBDAC), Maria das Vitórias Cavalcanti.

O próximo passo é obter junto ao INPI o registro de indicaçào geográfica, um atestado de procedência e qualidade e finalmente modificar a classificação da OMA. Pelo DECRETO Nº 4.851, DE 2 DE OUTUBRO DE 2003, Art. 92, do governo Lula, “Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos em sacarose.

§ 1º A cachaça que contiver açúcares em quantidade superior a seis e inferior a trinta gramas por litro será denominada cachaça adoçada.

§ 2º Será denominada de cachaça envelhecida, a bebida que contiver no mínimo cinqüenta por cento de aguardente de cana envelhecida, por um período não inferior a um ano, podendo ser adicionada de caramelo para a correção da cor.

§ 3º O coeficiente de congêneres da cachaça não poderá ser inferior a duzentos miligramas por cem mililitros de álcool anidro.”

Nos últimos sete anos, as exportações cresceram quase 100%, de 5,6 milhões de litros em 1995 para 11,1 milhões de litros em 2001. Em dólares, foi um salto de US$ 5,6 milhões para US$ 9 milhões. Em termos absolutos, estes não chegam a ser números expressivos.

Apenas para comparar, só de suco de laranja o Brasil exportou, no ano passado, US$ 812 milhões. Mas indicam a existência de um mercado externo não atendido. O principal mercado consumidor da cachaça brasileira é a Europa, que, em 2000, consumiu quase metade (49%) das exportações.

A Alemanha responde, sozinha, por 30% (US$ 2 milhões) do total exportado. Se na Alemanha a cachaça se vai consolidando, em outros mercados de grande potencial as vendas continuam engatinhando. Os Estados Unidos, que consomem anualmente 495 milhões de litros de destilados brancos – gim, vodka e tequila -, respondem por apenas 4% das exportações brasileiras de cachaça.

Parte desse baixo desempenho no mercado norte-americano se explica pelo fato de que, nos Estados Unidos, a cachaça passou a ser considerada rum. Primeiro, porque, classificada como rum, a cachaça é tributada em US$ 0,19 por litro exportado.

Se integrasse a lista dos “outros destilados”, como ocorria antes de 2000, a cachaça seria isenta de tributação. O segundo motivo é que essa classificação dificulta sua disseminação no mercado norte-americano, porque impede campanhas de divulgação que dêem à cachaça uma imagem ligada ao Brasil

Fonte: inventabrasilnet.t5.com.br

História da Cachaça

“Quando o Brasil criar juízo e se tornar uma potência mundial, será a cachaça e não o whisky a bebida do planeta” – Sobral Pinto – Jurista

A cana de acúcar foi cultivada pelos egípcios, gregos e povos do Oriente Médio. Na América, a cana chegou por Cristóvão Colombo, que trouxe as primeiras mudas para São Domingos, República Dominicana, em 1493, em sua segunda viagem à America.

Há indícios de que a planta já era cultivada no Brasil antes da chegada de Cabral.

Oficialmente o ingresso das primeiras mudas no país, trazida da ilha da Madeira pelos portugueses, no ano de 1534, se deu por São Paulo, estendeu-se para a Bahia, Rio de Janeiro e se consolidou como lavoura comercal em Minas Gerais.

A cana-de-acúcar chegou ao Rio Grande do Sul através dos açorianos, que se instalaram no litoral norte (Santo Antônio da Patrulha, Osório, Torres) por volta de 1720, e trouxeram as mudas da planta em suas bagagens, junto veio a indústria caseira de seus derviados. A cultura da cana já era um dos principais produtos da economia brasileira no iníco do século XVII.

A Destilação

Os Egípcios antigos são quem descobriram o princípio da destilação.

Eles curavam várias moléstias inalando os vapores líquidos aromatizados e fermentados diretamente do bico de uma panela, tipo chaleira, em um quarto fechado.

Já os gregos descobriram o processo de destilação da “acqua ardns”. A água que pega fogo, a água ardente, conforme descrito por Plínio, O Velho, que viveu de 23 a 79 d.C, no Tratado da Ciência.

A águ ardente vai para a mão dos alquimistas, que levaram a fórmula para a França. Crediam-lhe propriedades místico-medicinais.

Surge daí a Água da Vida, ou “Eau de Vie”, receitada como elixir de longevidade: um cálice diário de “Eau de Vie” prolongaria a vida.

Ela era obtida das mais variadas frutas e grãos. Ao mesmo tempo, por força da expansão romana, os árabes, habitantes da Península Sul da Ásia, apossaram-se da fórmula. Forma eles que descobriram os equipamentos de destilação, semelhantes aos que conhecemos hoje, e destilavam o Arak.

Da França foi para a Itália, onde destlando a uva surgiria a “grappa”; entretanto na Alemanha, a partir da cerveja fez-se o Kirsh; da Escócia surgiu o wisky, destilando-se o mostro do grão da cevada; da Rússia, a vodca do centeio; da China e Japão, o saquê do arroz; e de Portugal, nasce a bagaceira, do bagaço da uva.

Cachaça

Na nova colônia de Portugal, os primeiros colonizadores apreciavam a bagaceira e o vinho português.

Um dia, num engenho (local onde se produzia açúcar), da Capitania de São Vicente (hoje, São Paulo), entre os anos de 1532 e 1548, descobrem o vinho de cana-de-açúcar, que nada mais era que o resto de garapa que fermentou, porque ficou em cocho de madeira ao relento, para ser servida aos animais. Por ser doce, e a temperatura ambiental quente, a mesma teve uma fermentação espontânea.

Ao fazer a rapadura, no tacho, era colhida com espumadeira a espuma por cima do caldo de cana que estava sendo cozido. Tal espuma e que fermentou, e se tornou álcool pobre, de baixa graduação alcoólica. Um escravo tomou tal caldo (vinho de cana) e alterou o seu comportamento no sentido de aguentar e suportar mais a dor.

Ao observar que o mesmo trabalhava mais e melhor, o Senhor do Engenho deduziu que se tratava de um líquido estimulante. Passou a servir então para todos os escravos, que sentiam muito “Banzo”, ou seja, saudades de sua terra natal, a África. Esse caldo fermentado era então o subproduto dos tachos da rapadura, a espuma que era denominada “Cagaça”.

Como os portugueses, que eram donos dos engenhos, conheciam o processo de produçãoda bagaceira, trouxeram de Portugal alambiques de barro que utilizavam na destilação de mesma e começaram a destilar a “Cagaça” fermentada, e foi daí que surgiu o nome Cachaça.

Portanto é um produto genuinamente BRASILEIRO.

A cachaça atravessou os séculos ganhando qualidade e incorporando as melhores técnicas de produção. A cachaça brasileira é feita com padrões comparáveis aos melhores destilados do mundo, tal seja o whisky, grappa, saquê, conhaque, etc…

Este século será o da genuína bebida brasileira – A CACHAÇA!

Hoje a produção brasileira é de 1,3 bilhões de litros por ano. É a primeira bebida mais consumida no país e terceira no mundo.

Tipos de Cachaça: Industrial e de Alambique

A cachaça é produzida através de dois processo bastante distintos:

Industrial

Produzida em grandes destilarias, localizada especilamente no Estado de São Paulo.

No processo industrial, como de siz o nome, a cachaça é produzida em volume industrial, ou seja, em grandes volumes, isto é, 300 a 400 mil litros/dia. A cana é colhida após a queima das folhas da planta no campo, transportada em grandes caminhões e levada a moenda enorme de onde é extraído o suco da cana, o qual é fermentado com adição de levedos.

Após a destilação se processa em Grandes Colunas de destilação, construídasem aço inox, e não há a separação da cabeça e cauda, mas a destilação continua, o que permite grande rendimento de produto, mas sem a qualidade de um destilado fino. O pocesso é o mesmo da destilação do álcool carburante.

Portanto a cachaça industrial obtém no mercado preços bem menores por ser um produto de qualidade inferior.

De Alambique

Produzida em engenhos ou pequenas Destilarias Artesanais, também chamadas Alambiques.

Neste processo, utiliza-se a cana-de-acúcar cortada à mão, selecionada, sem a queima das folhas, apenas se faz a desfolha manualmente. A produção neste sistema é sempre em pequenas quantidades, isto é, de até 5000 litros/dia , sedndo que a média fica pro volta de 1500 a 1800 litros/dia.

Os alambiques são sempre de cobre, similares aos usados para o conhaque, e utilizam o fogo direto ou vapor para o aquecimento . No processo de destilação é decisiva a intervenção do homem, que deve ser um profundo conhecedor do processo, e qual controla pessoalmente todo o ciclo.

No sistema de destilação artesanal, são separados os primeiros 10% que se chama “cabeça”, aproveitados pro volta de 80% que se “coração” ou a parte nobre do destilado e desprezado os 10% restantes que denominamos “cauda”. Assim obtemos um destilado nobre, refinado e de grande valor no mercado, que é denominada a “CACHAÇA DE ALAMBIQUE“.

Algumas cachaças desta categoria, mesmo no Brasil chegam a valer 100 dólares por garrafa.

Branca ou Envelhecida

A cachaça poderá ser consumida branca, isto é, jovem como saiu do alambique, ou envelhecida, após passar algum tempo ( no mínimo, um ano) em barris de madeira que poderá ser carvalho (importado) ou outras madeiras nobres, de origem brasileira.

Branca

Recomendada para fazer a caipirinha*, coquetéis de frutas ou servir super gelado, em copos de cristal (tipo vodca).

*Caipirinha: como diz o nome, começou como um drinque caipira, ou rural, vem daí o seu nome. Este encontro mágico da cachaça de qualidade, com o limão e o açúcar de cana, tão bem casados que estão fazendo o maior sucesso no mundo.

Envelhecida

Recomenda-se para ser consumida como aperitivo, pura me cálice próprio, acompanha petiscos, ou no happy hour, ou ainda na misturada com Coca-Cola, surgindo daí o famoso “Samba”, muito conhecido no Brasil (150ml de cola, 50ml de cachaça, gelo à vontade e uma rodela de limão), servido em copo long drink.

O envelhecimento da cachaça traz à mesma, mais qualidade, amadurece, arredonda e bonifica o paladar da mesma passando a ser um destilado envelhecido nobre e genuíno.

A madeira utilizada para o envelhecimento pode ir do carvalho, o mesmo que envelhece o whisky, o conhaque ou a grappa, até as madeiras de origem brasileira, como amburana, bálsamo, jequitibá, grapia, etc…

Cada tipode madeira tem uma característica própria e dá uma personalidade a cada uma das cachaças envelhecidas. O que agrada ao paladar de um pode não agradar a outro e assim sucessivamente.

Portanto, só provando, sempre moderadamente, é que podemos conhecer e escolher a cachaça que nos agrada mais.

Fonte: www.assbb.org.br

História da Cachaça

Caipirinha, ou seja, cachaça, limão e açúcar: Breve história de um relacionamento

Cachaça, limão e açúcar. Quando contamos a história da caipirinha, referimonos à história do relacionamento entre os três produtos, um relacionamento que é bemsucedido, duradouro e que tem uma legião de admiradores. E, para fazermos essa narração, vamos voltar no tempo e contar, sucintamente, a história da cachaça e do açúcar.

De onde eles vieram? A cana surgiu no Pacífico Sul, seguindo, então, um roteiro que a levaria até à Índia, onde, pela primeira vez, cinco séculos antes de Cristo, o açúcar dela seria extraído.

Da Índia, migrou para o Oriente Médio, região na qual foram criadas as primeiras rotas ligadas ao produto. Dali, a cana chegou ao Mediterrâneo, sendo cultivada, mais de mil anos depois, nas Ilhas Canárias, situadas no Atlântico.

Dessas ilhas, foi transportada para o Brasil, transformando o Nordeste em seu reino e transformando- se, já a partir do século XVI, no principal produto colonial de exportação.

A cachaça, por sua vez, foi concebida, ainda nas primeiras décadas da colonização, na Capitania de São Vicente, onde hoje é o estado de São Paulo. No final do século XVI, registrava- se a existência de oito engenhos dedicados à sua produção. Inicialmente, a bebida não possuía grande valor comercial e era feita pelos escravos às escondidas, pois seus senhores não gostavam de vê-los consumindo-a.

Foi assim até que ela caiu, de vez, no gosto popular – inclusive dos senhores – e virou, enfim, produto de exportação, entrando nas rotas comerciais que envolviam o tráfico negreiro, uma vez que encontrava enorme aceitação na África.

O termo “pinga” surgiu do vapor produzido pelo lento processo necessário para fermentar o líquido, na medida em que, ao subir, se condensava no teto e pingava.

E a pinga doía quando caía nos escravos, o que teria gerado outro vocábulo: aguardente. Hipótese controversa, porém, pois a bebida proveniente da destilação já era chamada pelos alquimistas europeus, no século XII, de aqua ardens.

Ainda no período colonial, surgiu uma diferenciação entre a bebida importada e a nacional.

Denominava-se bagaceira a bebida destilada importada de Portugal, enquanto se conhecia por cachaça a proveniente do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. O cachaceiro, que posteriormente seria a denominação dada ao alcoólatra, significava, na época, apenas o comerciante da bebida.

O termo cachaça, aliás, é especificamente brasileiro. Um profundo conhecedor do assunto, como Câmara Cascudo, não apenas asseverou a inexistência do vocábulo no Brasil, mas também afirmou nunca ter ouvido tal palavra em Portugal. Em espanhol, por sua vez, cachaça é uma espécie de vinho de borras.

A bebida caiu rapidamente no gosto popular e espalhou-se pelo Brasil à medida que o País ia sendo povoado. Em Minas Gerais, terra de ouro, de diamante, e de frio, a cachaça encontrou terreno fértil para produção e consumo. Os inconfidentes chegaram a elegê-la uma espécie de bebida nacional, símbolo dos brasileiros, a ser consumida de preferência ao vinho produzido pelos portugueses, considerado a bebida dos opressores.

Domingos Xavier, por exemplo, um dos líderes da Revolta, era dono de um alambique e saciava os participantes das reuniões com acachaça por ele mesmo produzida. E, adiantando um pouco mais no tempo, é bom lembrar que os revolucionários de 1817, em Pernambuco, almejaram, também, a transformação da cachaça em símbolo nacional, em resposta a mais uma tentativa de proibição por parte dos renitentes portugueses.

Nesse ritmo, a bebida chegou a batizar o porto de Parati, que virou sinônimo de pinga. Ou foi Parati que batizou a cachaça? A ordem dos fatores não é de grande importância, mas o fato é que alambiques construídos pelos portugueses surgiram em volta do porto ali construído.

O Caminho Novo, ligação entre Minas e o mar, facilitou a subida da cachaça para as montanhas, as quais já eram providas, contudo, de diversos alambiques e engenhocas que proliferavam, embora como símbolo de cachaças mais sofisticadas.

A produção logo espalhou-se pela província do Rio de Janeiro, chegando até Campos dos Goitacases, tradicional produtor açucareiro. E tão importante era a bebida, que a região terminou por protagonizar, em 1660, a Revolta da Cachaça, quando os insurretos tomaram e governaram a cidade do Rio de Janeiro durante cinco meses, contra as proibições de fabricação e venda de aguardente.

A cachaça era produzida, normalmente, em pequenos engenhos – as chamadas engenhocas –, e seu consumo estava predominantemente vinculado às camadas mais baixas da população colonial.

Em Minas Gerais, por exemplo, a grande produção de aguardente, no século XVIII, deveu- se ao mercado consumidor constituído pelas comunidades auríferas, mas teve como fator determinante, igualmente, a posição peculiar dos engenhos mineiros: sem acesso ao mercado externo, especializaram sua produção no comércio local e em pequena escala.

Depois da Independência, manteve-se um ciclo produtivo ininterrupto, logrando Minas manter-se, ainda hoje, como centro produtor por excelência. Assim, a existência de engenhocas no interior mineiro é atestada ao longo do século XIX por diversos viajantes que percorreram a região no período.

Richard Burton aludiu à presença de uma delas em Jaboticatubas, e o Conde de Castelnau, à de outra próxima a Juiz de Fora. Saint- Hilaire, por sua vez, definiu a cachaça como “a aguardente do País”.

Portanto, como o fumo, a cachaça tornou-se moeda de troca no tráfico de escravos, inserindo o produto em um circuito econômico que ultrapassou o âmbito doméstico e colocando muitos proprietários de engenhocas voltadas para a produção de aguardente em contato com o comércio externo.

Criou-se, contudo, uma dicotomia com os grandes engenhos, dedicando-se prioritariamente ao açúcar e tendo em vista o mercado externo, e as engenhocas – na maioria das vezes clandestinas e sem a aparelhagem necessária à produção de açúcar e muito menos o capital para adquirilo, dedicando-se, de modo exclusivo, à produção de rapadura e cachaça, produtos destinados, majoritariamente, ao mercado interno.

Convém ressaltar que nem só de cachaça e vinho compunham-se os hábitos etílicos no período colonial. Popularizou-se, por exemplo, o aluá, nome africano dado à bebida fermentada de milho, de origem indígena. E mesmo o consumo da cachaça ganhou variantes, como o cachimbo, ou meladinha, cachaça com mel de abelhas.

O consumo de bebidas alcóolicas era compreendido, também, do ponto de vista de remédio a ser utilizados em diferentes ocasiões. Poderia servir tanto como fortificante, tomado pela manhã ou em situações que exigiam grande esforço físico -, quanto como proteção ao organismo, em situações específicas.

Economicamente, a cachaça era considerada um produto menos nobre que o açúcar, pois destinava-se, predominantemente, ao consumo local e, quando exportada, seu destino era a África, não alcançando o cobiçado mercado europeu.

Embora pouco nobre, resistiu no mercado e tornou- se cada vez mais popular.

Quanto à relação entre a cachaça e o vinho, criou-se, no período colonial, outra dicotomia que ainda hoje se mantém nos hábitos etílicos do brasileiro. O vinho esteve presente em festas e tradições, como o coreto, reuniões festivas nas quais as saudações, acompanhadas pela bebida, eram cantadas. Permaneceu, assim, uma bebida tradicionalmente associada a ocasiões solenes e à elite, ao contrário da cachaça; vinho de missa tornou-se, nesse sentido, expressão proverbial.

A partir de então, a cachaça passou a ser uma concorrente incômoda para os vinhos portugueses, o que levou a Coroa a proibir sua fabricação.

A primeira medida proibitiva data de 1639, indício claro do sucesso já obtido pela bebida.

Todavia, nunca se conseguiu alcançar, nem de longe, tal objetivo. Percebendo que a proibição jamais seria bem-sucedida, a Coroa preferiu render-se ao inimigo e explorá-lo a partir de diversos impostos, como a taxa instituída para auxiliar na reconstrução de Lisboa, destruída por um terremoto em 1765, e o subsídio literário, instituído, em Minas, para financiar o pagamento de professores régios.

A bebida passou a ser vista, com o tempo, como fortificante e, mais do que isso, como alimento imprescindível para os escravos, o que foi reconhecido inclusive em relatórios escritos por funcionários da Coroa.

Aliás, a cachaça e suas variantes, como a pinga com limão e mel, foram vistas, desde cedo, como santo remédio para gripes e resfriados, seguindo costume arraigado no imaginário e na farmacopéia popular que, desde o início, atribui à bebida – consumida, é claro, em doses adequadas – funções terapêuticas.

Quanto à caipirinha, ela surgiu quando os escravos, esses grandes experimentadores e criadores da culinária brasileira, resolveram misturar à cachaça sucos de frutas que, como o limão, eram tradicionalmente ignorados pela elite branca.

A bebida teve como antecedente a batida-de limão, de origem também escrava, e tornou-se completa quando a ela foram adicionados açúcar e casca de limão. A origem do termo “caipirinha” permanece, todavia, obscura, uma vez que não há nenhuma ligação histórica entre seu consumo e a figura do caipira, habitante do interior brasileiro, tradicionalmente associado às regiões de Minas e São Paulo.

Tampouco se sabe como surgiu o hábito de fazer batidas com cachaça, sendo a caipirinha apenas uma entre tantas, ainda que a mais famosa e, certamente, a mais caracteristicamente brasileira.

O coco, o caju e o maracujá também são utilizados, além de outras variantes como o leitede- onça, feito à base de cachaça e creme de cacau.

Todas essas bebidas possuem antecedentes, como a jinjibirra, feita à base de garapa e frutas, apelidada de “cerveja dos pobres” e encontrada no Nordeste até início do século XIX. Em Minas Gerais, da mesma forma, tornou-se comum o consumo de um ponche feito com cachaça, laranja azeda e açúcar.

O que é, afinal, a caipirinha? Segundo a definição presente no Decreto n° 4.800, de 2003, é uma “bebida típica brasileira, com graduação alcoólica de quinze a trinta e seis por cento em volume, a vinte graus Celsius, batida exclusivamente com cachaça, acrescida de limão e açúcar”.

Nascida das mãos e da criatividade dos escravos, a caipirinha adquiriu, com o tempo, status internacional. Nos dias de hoje, ela já foi incluída pela Associação Internacional de Barmen entre os sete clássicos da coquetelaria mundial, transformando-se em bebida muito apreciada em países como a Alemanha e os Estados Unidos, com considerável potencial consumidor e tradição etílica.

Nesse mercado consumidor, o Brasil busca ocupar seu lugar, possuindo, hoje, cerca de 30 mil produtores de cachaça e cerca de cinco mil marcas.

A produção anual alcança 1,3 bilhão de litros, dos quais 900 mil são industrializados e 400 mil de alambique. As exportações chegam aos 70 milhões de litros, destinados a mais de 70 países.

A caipirinha, porém, permanece como uma bebida de fabricação essencialmente doméstica, embora já tenha sido consolidado um mercado de caipirinhas industrializadas.

Mas manda a tradição, ainda, que cada um fabrique a sua, para consumo próprio ou para os amigos, ou que, em bares e restaurantes, o barman prepare a dose de cada cliente. A bebida é, ademais, associada a ocasiões festivas, especiais, não sendo ligada ao consumo cotidiano, como é o caso da cachaça.

Preparar a caipirinha é, assim, um ritual festivo, embora não acessível a todos: cumpre saber prepará- la, e é sempre alguém tido como expert no assunto que é incumbido da tarefa.

Tradicionalmente, a bebida é vista como mais fraca e mais aceitável socialmente, o que gera uma situação curiosa: o apreciador de caipirinha nem sempre é um apreciador de cachaça, considerada muito forte. Caipirinhas e batidas, de forma geral, são, então, variantes mais festivas da cachaça; assim são vistas, assim são consumidas.

Ricardo Luiz de Souza

Fonte: www.dc.mre.gov.br

História da Cachaça

Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse.

Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmentepararam e o melado desandou !

O que fazer agora ?

A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor. No dia seguinte, encontraram o melado azedo (fermentado). Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo.

Resultado

O “azedo” do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e se formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente, era a cachaça já formada que pingava (por isso o nome PINGA).

Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de “ÁGUA-ARDENTE“.

Caindo em seus rostos e escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar. E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.

Hoje, como todos sabem, a AGUARDENTE é símbolo nacional !!!

Fonte: www.cachacaexport.com.br

História da Cachaça

A cachaça é genuinamente nacional. Sua história remonta ao tempo da escravidão quando os escravos trabalhavam na produção do açúcar da cana de açúcar.

O método já era conhecido e consistia em se moer a cana, ferver o caldo obtido e, em seguida deixá-lo esfriar em fôrmas, obtendo a rapadura, com a qual adoçavam as bebidas.

Ocorre que, por vezes, o caldo desandava e fermentava, dando origem a um produto que se denominava cagaça e era jogado fora, pois não prestava para adoçar. Alguns escravos tomavam esta beberagem e, com isso, trabalhavam mais entusiasmados.

Os senhores de engenho por vezes estimulavam aos seus escravos, mas a corte portuguesa, vendo nisto uma forma de rebelião, proibia que a referida bebida fosse dada aos negros, temendo um levante.

Com o tempo esta bebida foi aperfeiçoada, passando a ser filtrada e depois destilada, sendo muito apreciada em épocas de frio. O processo de fermentação com fubá de milho remonta aos primórdios do nascimento da cachaça e permanece até hoje com a maior parte dos produtores artesanais.

Existem atualmente pesquisas de fermentação com diversos produtos denominados enzimas que, aos poucos, estão substituindo o processo antigo.

A cachaça sempre viveu na clandestinidade, sendo consumida principalmente por pessoas de baixa renda e, por isto, sua imagem ficou associada a produto de má qualidade. Mas atualmente ela ascendeu a níveis nunca antes sonhados e hoje é uma bebida respeitada e apreciada mundialmente, já tendo conquistado a preferência de pessoas de alta classe e sendo servida em encontros políticos internacionais e eventos de toda espécie pelo mundo afora.

A Produção de Cachaça

A cachaça pertence à nobre família das aguardentes. Trata-se de um destilado feito à base de cana-de-açúcar, leveduras e água. Seu processo de fabricação inicia-se com a moagem ou prensagem da cana, que produz um caldo ao qual adiciona-se água, resultando no mosto.

Sob o efeito das leveduras, o mosto entra em processo de fermentação.

Depois da decantação, na qual separam-se as borras, processa-se a destilação num alambique tipo cebolão ou espiral.

O primeiro corte, ou “cachaça de cabeça“, contém muito álcool e, de todos, é o que apresenta o sabor mais forte. O corte do meio, ou “do coração”, é que será industrializado. A porção final, ou “rabo”, contém substâncias tóxicas. A cachaça de coração quase não apresenta gosto ou cheiro, que só irá adquirir com o envelhecimento em tonéis de carvalho, bálsamo ou vinhático.

Fonte: www.minimundodacachaca.com

História da Cachaça

A História da Cachaça – a nossa aguardente


A cachaça é genuinamente nacional. Sua história remonta ao tempo da escravidão quando os escravos trabalhavam na produção do açúcar da cana de açúcar.

O método já era conhecido e consistia em se moer a cana, ferver o caldo obtido e, em seguida deixá-lo esfriar em fôrmas, obtendo a rapadura, com a qual adoçavam as bebidas.

Ocorre que, por vezes, o caldo desandava e fermentava, dando origem a um produto que se denominava cagaça e era jogado fora, pois não prestava para adoçar. Alguns escravos tomavam esta beberagem e, com isso, trabalhavam mais entusiasmados.

Os senhores de engenho por vezes estimulavam aos seus escravos, mas a corte portuguesa, vendo nisto uma forma de rebelião, proibia que a referida bebida fosse dada aos negros, temendo um levante.

Com o tempo esta bebida foi aperfeiçoada, passando a ser filtrada e depois destilada, sendo muito apreciada em épocas de frio. O processo de fermentação com fubá de milho remonta aos primórdios do nascimento da cachaça e permanece até hoje com a maior parte dos produtores artesanais.

Existem atualmente pesquisas de fermentação com diversos produtos denominados enzimas que, aos poucos, estão substituindo o processo antigo.

A cachaça sempre viveu na clandestinidade, sendo consumida principalmente por pessoas de baixa renda e, por isto, sua imagem ficou associada a produto de má qualidade. Mas atualmente ela ascendeu a níveis nunca antes sonhados e hoje é uma bebida respeitada e apreciada mundialmente, já tendo conquistado a preferência de pessoas de alta classe e sendo servida em encontros políticos internacionais e eventos de toda espécie pelo mundo afora.

A nossa aguardente, a Cachaça, é produzida a partir da cana-de-açúcar através da destilação da garapa fermentada, obtendo-se daí variados tipos de álcoois, entre eles, o etílico, que é a aguardente. O Teor alcoólico deve ficar entre 38 e 54 graus.

As primeiras aguardentes

As primeiras notícias sobre fermentação vieram do Egito Antigo. Os egípcios inalavam vapores de líquidos fermentados diretamente do bico da chaleira, com o intuito de curar moléstias. No entanto, os gregos chegaram primeiro ao processo de obtenção da “ácqua ardens”, a água que pegava fogo ou água ardente. Daí, a receita foi parar com os alquimistas que viram, na bebida, propriedades medicinais e místicas. Chegou a ser chamada de “Água da Vida”. A “Eau de Vie” ou seja, o Elixir da Longevidade.

A novidade foi primeiramente para a Europa e Oriente Médio. Foram os árabes que inventaram o processo de destilação semelhante ao atual. A tecnologia então se espalhou pelo mundo. Utilizando porém, cada país, uma matéria prima diferente. Na Itália, a uva para fazer o Grappa; na Alemanha, a cereja para o kirsch; na Escócia a cevada (ou o milho) para o Uísque (Whisky); na Rússia o centeio para a Vodka; no Japão e na China, o arroz para o Sakê; em Portugal, a uva para a Bagaceira.

Nomes de Cachaça

Abençoada; abrideira; acaba-festa; adorada; alpista; aninha; apreciada; arrebenta-peito; branca, branquinha, brasa; braseira; brasileira; bichinha-boa; acorda-o-velho; afamada; afiada;água-benta;água-bruta; água-de-briga; água-de-cana; aguada; água-forte; água-que-passarinho-não-bebe; água-que-gato-não-bebe; alertadeira; alma-de-gato; amansa-sogra; amansa-corno; amargosa; antibiótico; apetitosa; arranja-briga; a-que-matou-o-guarda; arranca-bofe; atitude; azarenta; bichinha; bicho- bom; bigorna; birinaite; birusca; bribada; branquinha; briosa; cabo; catutca; caideira; calafrio; calorenta; cambirimba;cambraia; canavieira; canforada; canilina; capilé;catuta; catinguenta; chamegada; chamarisco;cipoada; cheirosinha; carinhosa; carraspana;caxaramba;caxiri;caxirim; chibatada; choraminga; chorumela; cobreira; corta-bainha; cotréia; cumbe; cumulaia; criminosa; curandeira; da boa; danadinha; desperta paixão;  distinta; depurativo; douradinha; encantada; enrola-chifre; ensina-estrada; garapa; girgolina; goró; gororoba; jeribita; jurubita; lapada; limpa; lindinha; lisa; mandureba, mamãe-sacode;  marafo; maria-branca; mata-bicho; mata-o-velho; mel; merol; meu-consolo; não-sei-quê; papôco; papudinha; precipício; piadeira; pifão;pinga; pisca-pisca; pura; purinha; queimante; quero-mais; reiada; saideira; sacudidela; salve-ela; samaritana; sapeca; sedutora; seleta; sopapo; sossega-leão; sputinik;     renitente; suadeira; sururu; tacada; talagada; tagarela; tiririca; tiúba;  tijolo-quente; tira-frio; tira-prosa; tira-reima; tiririca; tiúba; tentação; tenebrosa; treco; tremedeira; trombada; turbulenta;  uma…;  uma-da-boa; uma-daquelas;  valentona; veneno; venenosa; virgem-afamada; vexadinha; vuco-vuco; xaropada; xixi-de-anjo; zombeteira; zinabre, zuninga.

Origem do nome da cachaça

A cachaça, aguardente de cana ou pinga é uma bebida alcoólica tipicamente brasileira. Seu nome pode ter sido originado da velha língua ibérica – cachaza – significando vinho de borra, um vinho inferior bebido em Portugal e Espanha, ou ainda, de “cachaço”, o porco, e seu feminino “cachaça“, a porca. Isso porque a carne dos porcos selvagens, encontrados nas matas do Nordeste – os chamados catitus – era muito dura e a cachaça usada para amolecê-la.

A primeira é do Santo

Só existe uma explicação para este costume arraigado e natural no nosso povo. É a Libatio dos romanos e gregos, desaparecida há quase dois mil anos no uso religioso e mantida no costume inconsciente, pelos herdeiros da cultura que se dissolveu, no tempo, em Portugal e, decorrentemente, no Brasil colonial. E ficou resistindo até nossos dias.

O ato de Libaro era justamente derramar água, vinho ou óleo perfumado, no chão, no lume ou no altar, oferenda aos deuses.

Não se começava uma refeição grega ou romana sem a libação. Provava-se o líquido e despejava-se o restante no solo. Sem esta pequena cerimônia os deuses teriam inveja da alegria do banquete e vingar-se-iam.

Fonte: www.donabranca.com.br

História da Cachaça

A cana-de-açúcar, elemento básico para a obtenção, através da fermentação, de vários tipos de álcool, entre eles o etílico, é uma planta pertencente à família das gramíneas (Saccharum officinarum) originária da Ásia, onde teve registrado seu cultivo desde os tempos mais remotos da História.

Os primeiros relatos sobre a fermentação vem dos egípcios antigos. Curam várias moléstias, inalando vapor de líquidos aromatizados e fermentados, absorvido diretamente do bico de uma chaleira, num ambiente fechado.

Os gregos registram o processo de obtenção da ácqua ardens. A Água que pega fogo – água ardente (Al Kuhu).

A água ardente vai para as mãos dos Alquimistas que atribuem a ela propriedades místico-medicinais. Se transforma em água da vida. A Eau de Vie é receitada como elixir da longevidade.

A aguardente então vai para da Europa para o Oriente Médio, pela força da expansão do Império Romano. São os árabes que descobrem os equipamentos para a destilação, semelhantes aos que conhecemos hoje. Eles não usam a palavra Al kuhu e sim Al raga, originando o nome da mais popular aguardente da Península Sul da Ásia: Arak. Uma aguardente misturada com licores de anis e degustada com água.

A tecnologia de produção espalha-se pelo velho e novo mundo. Na Itália, o destilado de uva fica conhecido como Grappa. Em terras Germânicas, se destila a partir da cereja, o kirsch. Na Escócia fica popular o Whisky, destilado da cevada sacarificada.

No extremo Oriente, a aguardente serve para esquentar o frio das populações que não fabricam o Vinho de Uva. Na Rússia a Vodka, de centeio. Na China e Japão, o Sakê, de arroz.

Portugal também absorve a tecnologia dos árabes e destila a partir do bagaço de uva, a Bagaceira

Os portugueses, motivados pelas conquistas espanholas no Novo Mundo, lançam-se ao mar. Na vontade da exploração e na tentativa de tomar posse das terras descobertas no lado oeste do Tratado de Tordesilhas, Portugal traz ao Brasil a Cana de Açúcar, vindas do sul da Ásia. Assim surgem na nova colônia portuguesa, os primeiros núcleos de povoamento e agricultura.

Os primeiros colonizadores que vieram para o Brasil, apreciavam a Bagaceira Portuguesa e o Vinho d’Oporto. Assim como a alimentação, toda a bebida era trazida da Corte. Num engenho da Capitania de São Vicente, entre 1532 e 1548, descobrem o vinho de cana de açúcar – Garapa Azeda, que fica ao relento em cochos de madeiras para os animais, vinda dos tachos de rapadura.

É uma bebida limpa, em comparação com o Cauim – vinho produzido pelos índios, no qual todos cospem num enorme caldeirão de barro para ajudar na fermentação do milho, acredita-se. Os Senhores de Engenho passam a servir o tal caldo, denominado Cagaça, para os escravos. Daí é um pulo para destilar a Cagaça, nascendo aí a Cachaça.

Dos meados do Século XVI até metade do Século XVII as “casas de cozer méis”, como está registrado, se multiplicam nos engenhos.

A Cachaça torna-se moeda corrente para compra de escravos na África. Alguns engenhos passam a dividir a atenção entre o açúcar e a Cachaça.

A descoberta de ouro nas Minas Gerais, traz uma grande população, vinda de todos os cantos do país, que constrói cidades sobre as montanhas frias da Serra do Espinhaço. A Cachaça ameniza a temperatura.

Incomodada com a queda do comércio da Bagaceira e do vinho portugueses na colônia e alegando que a bebida brasileira prejudica a retirada do ouro das minas, a Corte proíbe várias vezes a produção, comercialização e até o consumo da Cachaça.

Sem resultados, a Metrópole portuguesa resolve taxar o destilado. Em 1756 a Aguardente de Cana de Açúcar foi um dos gêneros que mais contribuíram com impostos voltados para a reconstrução de Lisboa, abatida por um grande terremoto em 1755.

Para a Cachaça são criados vários impostos conhecidos como subsídios, como o literário, para manter as faculdades da Corte.

Como símbolo dos Ideais de Liberdade, a Cachaça percorre as bocas dos Inconfidentes e da população que apoia a Conjuração Mineira. A Aguardente da Terra se transforma no símbolo de resistência à dominação portuguesa.

Com o passar dos tempos melhoram-se as técnicas de produção.

A Cachaça é apreciada por todos. É consumida em banquetes palacianos e misturada ao gengibre e outros ingredientes, nas festas religiosas portuguesas – o famoso Quentão.

No século passado instala-se, com a economia cafeeira, a abolição da escravatura e o início da república, um grande e largo preconceito a tudo que fosse relativo ao Brasil. A moda é européia e a cachaça é deixada um pouco de lado

Em 1922, a Semana da Arte Moderna, vem resgatar a brasilidade. No decorrer do nosso século, o samba é resgatado. Vira o carnaval. Nestas últimas décadas a feijoada é valorizada como comida brasileira especial e a Cachaça ainda tenta desfazer preconceitos e continuar no caminho da apuração de sua qualidade.

Hoje, várias marcas de alta qualidade figuram no comércio nacional e internacional e estão presentes nos melhores restaurantes e adegas residenciais pelo Brasil e pelo mundo.

Fonte: www.grupoclaudia.com.br

História da Cachaça

Cachaça ou pinga ou aguardente ou canjebrina ou caninha ou…: em diferentes lugares, um símbolo nacional

A cachaça se origina ainda no Brasil colônia quando um somatório de condições favoráveis tais como, presença de engenhos e facilidade de armazenamento da bebida frente ao vinho fazem dela uma bebida tão popular que no ano de 1635 chega a ser proibida na colônia já que seu comércio concorria com os vinhos e a bagaceira (bebida típica portuguesa produzida através do bagaço da uva) da metrópole.

Esta proibição culminaria no episódio conhecido como Revolta da Cachaça que foi um dos primeiros levantes nacionais contra a domínio português. Apesar de a técnica de destilação já ser conhecida em Portugal, a cachaça vai surgir pela primeira vez na colônia, sendo registrada antes mesmo do início da produção do rum – que tem processo de produção semelhante ao da cachaça – no Caribe (CÂMARA, 2004).

Uma das vantagens da produção da cachaça era o fato de que a bebida podia ser produzida com preço bem baixo, já que era feita com “o resto da safra da cana, sem gastos adicionais, com o mesmo sistema produtivo do açúcar” (RODRIGUES E RODRIGUES, 2008).

A cachaça foi também um dos símbolos da conjuração mineira, quando passou a ser chamada “aguardente da terra”(MUSEU DA CACHAÇA). Podemos perceber que a história da cachaça é atrelada à própria história do Brasil e por isso percebemos como é grande sua importância até hoje, recentemente o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC) escolheu até um dia especial para a cachaça, dia 13 de setembro.

Segundo reportagem do próprio IBRAC, o dia da cachaça “tem como objetivo contemplar a bebida nacional, que traz a identidade do povo brasileiro, reconhecida pelo governo federal em 2001, por decreto, que reconheceu a Cachaça como indicação geográfica do Brasil.

Como já ocorre em outras nações, na Escócia com o uísque, França com o Champagne e México com a tequila” (IBRAC, 2009). Segundo dados do IBRAC existem hoje cerca de 40 mil produtores de cachaça, sendo que 99% deles são pequenos produtores.

A produção de cachaça no Brasil é responsável por cerca de 600 mil empregos e a bebida é exportada para 55 países. A relevância da cachaça para o Brasil é tão grande que sua produção é regulamentada pelo decreto federal nº 4.072-02 de 2002 que versa sobre a classificação, registro e fiscalização da cachaça.

O primeiro parágrafo do decreto diz que “Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil” e no quarto parágrafo temos que “Caipirinha é a bebida típica brasileira, exclusivamente elaborada com Cachaça, limão e açúcar”.

Assim, explicita-se oficialmente a cachaça como um produto típico do Brasil, que só pode ser considerado um bom produto se seguir à risca certos padrões, dando destaque à localização da produção, o que agrega valor à cachaça no mercado internacional.

Atualmente tramitam no Congresso dois projetos de lei que visam especificar a produção da bebida destilada, diferenciando a aguardente da cachaça, sendo a primeira de produção industrial e a segunda de produção artesanal (O ESTADO de S. PAULO, 2010).

Aproveitando-se da dinamização do comércio, surgem cursos como o de pós-graduação em tecnologia da Cachaça da Universidade Federal de Lavras que visa preparar profissionais para dar conta da crescente demanda de mercado.

Porém, a importância da cachaça brasileira não é puramente econômica. Para além de uma mercadoria exótica internacionalmente, a pinga está presente em vários aspectos da vida do brasileiro. Ela se insere na história, folclore, culinária, música e rituais religiosos. A pinga se faz presente na fabricação de remédios caseiros e em simpatias diversas. Está ligada ao mágico e é oferecida a santos e espíritos como forma de agradecimento ou como forma de pedir favores.

Das famílias produtoras aos escravos que trabalhavam nos engenhos, a pinga passou através dos tempos como produto de várias utilidades sendo considerada hoje uma marca nacional, ao lado de símbolos como o carnaval e o futebol (CASCUDO, 1986).

A forte presença dela no cotidiano de muitos alimentou também a criação de lendas e rituais de apreciação que são reproduzidos por tradição oral e também em importantes registros da cultura nacional na literatura, como na célebre passagem do livro de Mário de Andrade, quando Macunaíma vai ao terreiro de Tia Ciata para se vingar do gigante Piaimã levando “o garrafão de pinga obrigatório” sendo lá a primeira vez que provou “o cachiri temível cujo nome é cachaça. Provou estalando com a língua feliz e deu uma grande gargalhada” (ANDRADE, 1973, p.76).

As paisagens naturais e culturais representam uma fonte de inspiração para os escritores e poetas que as convertem em expressões verbais de acordo com seu próprio olhar, sua imaginação, sua cosmologia e seus sentimentos. Muitas obras literárias contêm alusões ao espaço geográfico e se tornam objetos de estudo para os geógrafos culturais que visam registrar e interpretar a geograficidade nos textos, isto é a relação dos seres humanos com a Terra como modo de sua existência e de seu destino. (SEEMANN, 2007, p.50).

A pinga enquanto símbolo pode expressar identidade nacional. Sendo o símbolo uma imagem que representa o abstrato, um “emblema ou alegoria” (HOUAISS e VILLAR, 2003, p.616) “uma parte que tem o poder de sugerir o todo” (TUAN, 1980, p.26) , a pinga enquanto símbolo representa muito mais que uma bebida destilada feita no Brasil.

As várias referências sobre a cachaça, da literatura às piadas, revelam a cachaça como parte de nossa paisagem cultural e reflete parte de nossas preferências, através do símbolo podemos vislumbrar o lugar de sua origem. Como a paisagem não é formada apenas de elementos naturais, pensar na parte humana das paisagens é pensar numa autobiografia inconsciente, refletindo nossos gostos, nossos valores, nossas aspirações e até nossos medos de uma maneira tangível, visível.

Raramente pensamos na paisagem desse modo, e assim sendo, o registro cultural que temos ‘escrito’ na paisagem tende a ser mais verdadeiro do que muitas autobiografias porque nós estamos menos auto-conscientes sobre como descrevemos a nós mesmos.

A leitura da paisagem, portanto, não é tão fácil como a leitura de um livro, porque no texto da paisagem há páginas que faltam, que estão rasgadas ou manchadas ou não são mais o original por se tratar de (re-) edições publicadas por pessoas com uma caligrafia ilegível (LEWIS APUD SEEMANN, 2007, p.55).

Tentaremos então fazer uma leitura da nossa paisagem cultural, destacando a pinga enquanto símbolo, que é nacional, mas que ganha traços bem delineados e específicos ao observarmos mais de perto alguns lugares.

A geograficidade, expressão de nossa vivência no mundo e da relação homem-terra (HOLZER, 2001), pode ser investigada através do significado que esta bebida ganha em diferentes contextos. Falar de cachaça   no Brasil é falar de algo comum, algo que está presente no cotidiano de muitos.

A imagem da cachaça pode nos remeter a diversos cenários, variando conforme a região e conforme o grupo social observado. Seu aroma, suas histórias podem nos conduzir a paisagens de interior nas quais seu consumo e produção são muito mais que simples relações mercadológicas, são práticas do cotidiano, ligadas ao modo de vida daqueles que habitam esses lugares. Nos fazeres do caipira encontramos algumas práticas que utilizam a pinga assim como se utilizariam de frutas ou temperos típicos. A cachaça ocupa lugar no imaginário do brasileiro, como podemos ver no filme “Estrada Real da Cachaça”.

O filme nos mostra a Estrada Real de Minas Gerais como paisagem de acontecimentos passados e atuais e reconstitui para nós, através da fala dos personagens, um cenário onde a cachaça tem presença marcante.

O documentário nos mostra personagens como o barqueiro que há 30 anos distribui cachaça, a cozinheira que faz pratos datados do século XVIII com a cachaça como ingrediente, o proprietário do mais antigo alambique do país ou o homem que ainda encomenda almas usando de rituais comcachaça.

Aspectos do cotidiano das cidades conectadas pela estrada real, mantendo tradições de longuíssima data que cada vez mais ganham caráter exótico, já que a cachaça também pode ser vista por um outro lado, como uma bebida para exportação, num movimento que expõe a cachaça como made in Brazil através de uma mescla de imagens tradicionais com novas imagens criadas apenas para facilitar sua veiculação no exterior. Assim a bebida ganha novos ares, respeita normas rígidas e ganha um padrão que é comum aos produtos para exportação.

Deste modo sua imagem se associa ao Brasil assim como associamos o whisky com a Escócia, a vodka com a Rússia ou a tequila com o México. A descaracterização em prol da venda como produto é salientada por Castells quando diz que há uma dissolução de identidades compartilhadas em meio ao conflito globalização versus identidade (CASTELLS, 2001). Neste caso, o enfraquecimento de identidades favorece essa exposição da cachaça como um produto exótico, pouco importando as histórias contadas já que o foco é somente a venda de um produto.

Porém, Castells também afirma que de modo contraditório há aqueles que recusam o individualismo radical da sociedade em rede, fazendo ressurgir grupos de identidade coletiva que desafiam a globalização justamente em função da sua singularidade cultural (CASTELLS, 2001).

Daí a necessidade de dar vozes ao tradicional investigando-o para que este não seja meramente manipulado em prol de uma imagem mercantilizada. Investigá-lo é perceber que o mundo não é homogêneo, nem explicado por uma única teoria (NOGUEIRA, 2009), é se permetir observar outras perspectivas e se aventurar por outros mundos.

Degustando lugares, experienciando a pinga

A geografia pode interpretar lugares partindo da experiência daqueles que o vivenciam, olhando o mundo através das lentes dos que o experienciam, o relato deste mundo é geografia também. Segundo Merleau-Ponty (apud NOGUEIRA, 2009), nossa existência é espacial e através dela nos envolvemos com o mundo e ordenamos nosso mundo, por isso nos reconhecemos nele.

Os lugares no mundo têm cor, cheiro, barulho e forma, cada experiência com ele mostra um pouco de como ele realmente é e está sendo. A montanha, o mar, o céu, a floresta, a água, as praças, os monumentos, os palácios, não se traduzem apenas pela sua forma material, mas também simbólica e imaginária.

Além de serem constituições físicas, são também culturais, têm múltiplas significações. O que é a montanha para um judeu? Para um cristão? Para um mulçumano? Para um chinês? Para um árabe? Para um ocidental? O que significa o céu? A floresta? A essas interrogações devemos responder levando em conta as múltiplas experiências que temos, experiências de quem vive os lugares, mas também dos que distantes deles, possuem uma relação simbólica com eles: não apenas os judeus amam Israel, mas todo cristão sonha com esta “terra prometida”, onde Cristo caminhou, se banhou e subiu aos céus (NOGUEIRA, 2009, p.3).

Da mesma forma não seriam diferentes os modos como: a estudante universitária enxerga a pinga no Brasil? Ou o dono do boteco? Ou olhar daquele que produz a pinga?

E daquele que tem o hobby de colecioná-la? Pensando nisso, visitamos no começo deste ano no interior de Minas Gerais uma cidade também cortada por trechos da Estrada Real, Presidente Bernades ou Calambau como era conhecida antigamente. O estado de Minas Gerais é conhecido por produzir as melhores cachaças do Brasil, em Minas existem muitos festivais da cachaça, o mais famoso é o festival mundial da cachaça de Salinas.

Assim como Salinas, Calambau também é conhecida como uma das cidades que mais produzem cachaça artesanal no estado, todos os anos realiza o mais antigo Festival da Cana no mês de julho, onde se pode experimentar as cachaças fabricadas na região.

Calambau é uma pequena cidade de 6 mil habitantes localizada na zona da mata mineira, fazendo parte do pólo turismo conhecido como Nascente do Rio Doce que inclui outras 7 cidades e segundo informações de Marcos, morador da região que nos guiou em nosso passeio, a cidade possui cerca de 15 alambiques e tem 20 marcas de cachaça.

A estrada de terra que nos leva até a região é belíssima, ao longo do percurso deslindam-se paisagens com morros, riachos e casas isoladas que parecem querer se esconder do mundo contemporâneo. A fazenda mais antiga da região, Fazenda Água Limpa da família Fernandes, produz cachaça desde 1888.

Tinha como foco as cidades de Ouro Preto e Mariana mas, segundo Dona Rosália, (esposa de Seo Toninho Fernandes, dono da fazenda) pessoas de várias regiões de Minas vão comprar a cachaça produzida na Fazenda.

Disse também que é muito comum que as encomendas sejam de larga escala e que é comum que as pessoas venham buscar a bebida na fazenda, por isso ela na época não possuía garrafas para envasar a bebida, nos vendendo a cachaça em garrafas pet de refrigerante. Dona Rosália e Marieta foram muito simpáticas conosco, fizeram questão de nos mostrar o processo de produção dacachaça Água Limpa.

O processo é interessante, primeiro a cana é moída, depois o caldo é fervido e estocado em tonéis para a fermentação, o caldo fermentado chama-se mosto.

É o mosto que segue para ser destilado, durante esse processo a cachaça evapora e pinga num recepiente metálico que a conduz para a estocagem nos tonéis (figura abaixo).

A cachaça é produzida nos fundos do casarão da família, o alambique é movido à roda d’água e o caldo da cana fermentado com fubá. O lugar possui um cheiro característico que tem algo de adocicado e, ao mesmo tempo, de matéria orgânica em decomposição, devido à fermentação.

Dona Rosália nos disse que seu avó já produzia a bebida sendo a técnica herdada como tradição. Produz-se cachaça branca, a preferida da maioria das pessoas segundo ela, a amarela que é envelhecida 4 anos em tonéis de carvalho e a cachaça com laranja, sendo que a fruta é adicionada ainda no processo de moagem da cana.

Processo de produção da cachaça

História da Cachaça

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Nos mostraram também o típico casarão antigo, com muitos quartos, uma enorme mesa de jantar e cozinha com fogão à lenha. Elas possuem mais parentes trabalhando com pinga na cidade, são tios e primos que possuem alambiques em Presidente Bernardes. Visitamos também o alambique de um primo de Dona Rosália, Seo Nilton Fernandes que possui um alambique movido a motor na fazenda Vista Alegre.

É produtor da Cachaça Calambau. Ao contrário de Dona Rosália, Seo Nilton não faz envase da bebida na fazenda, é o irmão que trabalha com o processo de engarrafamento. Seu irmão, Antônio, nos fala com muito entusiasmo sobre a cachaça Calambau e sobre o festival da cachaça do meio do ano.

Nos disse que o festival é um evento ótimo e nos mostrou sua coleção de canecas (cada uma delas representando os vários anos de participação no festival). Nos explicou como funciona a participação no evento.

Produtores de toda a região montam tendas para expor suas marcas de cachaça, quem quer participar compra uma caneca por 5 reais e pode experimentar todas as cachaças do evento e depois leva consigo a caneca de lembraça.

É a festividade mais esperada do ano. Antônio diz que a cachaça Calambau é muito apreciada e com grande contentamento nos conta sobre seu trabalho com acachaça.

Ainda nesta viagem, porém em outra cidade, em Cataguazes, também em Minas, visitamos Seo João, colecionador e apreciador de cachaças. Seo João nos conta sobre sua paixão pela cachaça, nos explica a diferença de sabores entre as madeiras, sobre os vários tonéis de envelhecimento, sobre os segredos para encontrar uma boa cachaça, sobre cachaças que são muito famosas em Minas apesar de serem baratas.

Disse que as boas cachaças são aquelas que ficam bastante tempo no tonel, sendo que a maior parte costuma ficar entre 3 e 5 anos. É por isso que algumas cachaças se tornam tão caras, pois quando o tonel chega ao fim, é preciso esperar outros 3, 5 ou mais anos para se ter uma cachaça de igual qualidade.

Ele possui um barril próprio de 1.250L, barril que é de carvalho e outros 3 pequenos de Umburana. Cada uma dessas madeiras dará gosto específico à cachaça. Eis aí uma das diferenças entre as cachaças envelhecidas. Para experimentar sua cachaça ele nos faz seguir um ritual.

Despeja um pouco de pinga em nossas mãos e pede que as esfreguemos para que o álcool evapore. Depois explica que assim apenas o cheiro da madeira permanece na mão, mostrando que de é fato uma pinga envelhecida. Logo após, nos convida para ir a um bar completar o ritual. Diz-se que é típico da região comer “torresmo de barriga” enquanto se degusta a pinga. Nos leva a um bar que segundo ele tem a melhor comida mineira da região.

No cardápio estavam disponíveis vaca atolada, canjiquinha e o torresmo de barriga. Seo João nos conta sobre um costume entre os cachaceiros que é de sempre levar um pouco de sua própria pinga para que as outras pessoas experimentem. Ele mesmo anda sempre com umas três garrafinhas no carro.

Diz conhecer o 5º maior colecionador de cachaça do Brasil, que mora na cidade ao lado, em Itamarati, que é uma cidade conhecida pela produção de açucar mascavo e pinga. Se diverte tentando se lembrar dos diversos nomes engraçados das cachaças que o amigo possui.

De fato algumas pingas e rótulos são de fazer rir. É possível encontrar nomes como “Tomba Carro”, “Marafo do Zé do Caixão”, “Cura Tombos”, “Duvido – duvido que ‘ocê’ num goste”, “Com essa que eu vou!”, “Sideral” – ao lado de uma imagem de foguete, “Leite da mulher amada”, “Mais Uma”, “Amansa Sogra”, “Meia Mijada”, etc.

Os desenhos mostram paisagens do interior, caipiras com chapéu de palha ou mulheres em poses sensuais, nos mostrando como a pinga é vinculada a imagens de um mundo dos botequeiros, um mundo que envolve conversas descontraídas que também fazem rir, petiscos salgados, histórias sobre aventuras amorosas e que eventualmente envolve também quedas, assim como o nome de algumas pingas já prediz.

Seo João ainda divaga sobre as possíveis origens de lendas como as de que pinga com ervas faz bem ou serve para curar alguma doença. Para ele isso não passa de obra de algum cachaceiro que arrumou a desculpa perfeita para tomar “uma pinguinha”. Pondera que é como dizer que o último pedaço mulher não pode comer porque se comer não casa.

Ele, que é casado, come o último pedaço de torresmo que estava no prato e explica que assim sempre pode tirar vantagens comendo os últimos pedaços das porções que acompanham a apreciação da pinga. A pinga faz parte da história de Dona Rosália, enche de orgulho Seo Antônio, é divertimento para Seo João mas pode ser só parte de uma festa ou uma conexão com a espiritualidade.

Independente da relação que se tenha com a pinga, ela é uma manifestação de nossa terra e sendo assim, descrevendo estas relações descrevemos também este lugar, um modo próprio de produção, um modo próprio de interação com a natureza, uma forma de cultura (CLAVAL, 2007).

A valorização de diferentes pontos de vista é atributo dos estudos geográficos justamente porque tentam representar o mundo, mais do que uma ligação instrumental temos uma ligação simbólica com o mundo (ALMEIDA, 2008). “No final, nossa sociedade será definida, não pelo que criamos, mas pelo que nos recusamos a destruir.” (SAWHILL apud MACHADO, 2006, p.153).

Pensar a cultura é pensar naquilo que nos recusamos a destruir, de modo que nem sempre nossas invenções se resumem a estratégias de sobrevivência. Herdamos cultura assim como também herdamos genes, a diferença é que os genes se limitam a ser de pai para filho e podem sumir em pouco tempo, a cultura é mais ampla e pode permanecer por muito mais tempo. (MACHADO, 2006).

A invenção da cachaça não está ligada à uitilidade, tal como acontece com receitas culinárias que se criam com o objetivo de conservar por mais tempo alimentos muito perecíveis (CLAVAL, 2007), mas a continuidade de sua produção junto à originalidade de sua produção no Brasil parece motivar a identidade brasileira com a pinga.

Certos cenários, nos quais vemos a inserção da cachaça, revelam significados construídos culturalmente. Ao descrevermos alguns destes cenários, nos permitirmos entrar em contato com esses mundos que não estão tão próximos, um primeiro passo na compreensão de outras perspectivas, tentar entendê-los é uma forma de preservar essas práticas que compõem uma determinada maneira de ser e estar no mundo, ressaltando assim nossa cultura.

O conhecimento e a reflexão sobre nossa própria cultura é também uma forma de resistência, já que nossas identidades são construídas a partir da cultura, através dela conferimos legitimidade ao nosso próprio modo de ser.

Bibliografia

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ANDRADE, Mário. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. São Paulo: Martins, 1973. CÂMARA, Marcelo. Cachaça: prazer brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2004. CASCUDO, Luis da Camara. Prelúdio da cachaça: etnologia, história e sociologia da aguardente no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986. CASTELLS, Manuel. O poder da identidade.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. CLAVAL, Paul. A Geografia Cultural. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2007. DOCUMENTÁRIO. Estrada Real da Cachaça. De Pedro Urano HOLZER, Wrther.

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Gabrielle Mesquita

Fonte: www.agb.org.br

História da Cachaça

A cachaça, bebida feita da fermentação e destilação do melaço proveniente da cana-de-açúcar foi descoberta pelos escravos dos engenhos de açúcar em meados do século XVI. Era considerada uma bebida de baixo status perante a sociedade, pois era consumida apenas por escravos e brancos pobres, enquanto a elite brasileira da época preferia vinhos e a bagaceira (aguardente de bagaço de uva), trazidos de Portugal.

Porém, mesmo assim os engenhos de cachaça foram se espalhando, tornando-se a bebida alcoólica mais consumida no Brasil Colônia. Com isso, a Corte Portuguesa proibiu sua produção, comercialização e consumo sob a justificativa de que seu consumo pelos escravos poderia ameaçar a segurança e a ordem da Colônia, e que prejudicava, também, o rendimento dos trabalhadores das minas de ouro e no comércio local.

Entretanto, o principal motivo, segundo alguns historiadores, é que a cachaça produzida no Brasil começou a ganhar espaço junto à classe média da época, levando à diminuição do consumo da bagaceira, importada de Portugal e, consequentemente, arrecadando menos impostos.

Como na prática nunca se conseguiu acabar com o consumo da bebida, em meados do século XVIII a Corte Portuguesa decidiu taxar a venda da cachaça, porém sem sucesso, pois a sonegação era muito elevada e a aguardente tornou-se um símbolo de resistência contra a dominação portuguesa.

Quando o produto nacional começou a ganhar força entre todas as classes sociais, alguns setores da elite e da classe média do século XIX e início do XX iniciaram um movimento de preconceito contra a cachaça, uma vez que eles buscavam uma identidade mais próxima da européia.

Somente durante a Semana de Arte de 1922, quando se buscou as raízes brasileiras, é que a cachaça voltou a ser considerada um símbolo da cultura nacional e contra a adoção da cultura européia. E, desde então, é considerada a mais brasileira das bebidas e famosa em todo o mundo.

Cachaça, caninha, pinga, cana e aguardente de cana

Para que o produto receba a denominação de cachaça, deve obedecer os parâmetros estabelecidos pelo Decreto n° 2314, de 4 de setembro de 1997, que regulamenta a padronização e classificação de bebidas.

Sendo a cachaça, caninha, cana ou aguardente de cana toda bebida que utilize a cana-de-açúcar como matéria-prima e com sua graduação alcoólica entre 38% e 54% em volume, a 20° C, podendo ainda ser acrescida de açúcar em até seis gramas por litro, sendo que quando a adição de açúcar for superior a seis e inferior a 30 gramas por litro deve receber a denominação de cachaçaadoçada, caninha adoçada ou aguardente de cana adoçada.

Cachaça de alambique e industrial

Embora a legislação não estabeleça distinção entre os produtos finais das destilarias industriais e dos alambiques artesanais, existem, na prática, muitas diferenças entre cachaça de alambique e cachaça industrial.

As cachaças industriais são controladas por empresas e a cana-de-açúcar é cultivada em grandes áreas, enquanto a pinga artesanal é produzida em pequena escala por pequenos produtores, em sua maioria utilizando mão-de-obra familiar. Estima-se que existam por volta de 40 mil produtores de cachaça artesanal no Brasil.

O processo de produção também é diferente, pois em larga escala utiliza-se, muitas vezes, colunas de destilação e tonéis de aço-inox, a adição de produtos químicos na fermentação e não se separa a parte nobre do destilado. No processo artesanal, a destilação é feita em alambiques de cobree a fermentação ocorre de forma natural.

A parte nobre da cachaça é separada das impurezas com o objetivo de dar mais qualidade ao produto artesanal e, por fim, vem o processo de envelhecimento em tonéis de madeira (carvalho, bálsamo, além de espécies nativas do País).

Fabricação da cachaça

A fabricação de cachaça ocorre seguindo basicamente os mesmos processos da fabricação do etanol combustível, como mostra a , com diferenças nas etapas a partir de destilação.

História da Cachaça
Fluxograma da produção de cachaça.

A cana colhida é levada para a moenda (Figura abaixo) para a extração do caldo, que é é filtrado e vai para a dorna de decantação com o objetivo de separar impurezas, como bagacilhos, terra e areia. A diluição do caldo é o processo em que se prepara o caldo de cana para atingir o teor de sacarose entre 14 e 16 graus Brix. Isto acontece com a adição de água de boa qualidade na dorna de diluição. Ainda nesta etapa, pode-se adicionar ácido sulfúrico para evitar a contaminação do caldo por bactérias que podem produzir outros compostos prejudiciais à qualidade final da cachaça.

História da Cachaça
Recepção e moagem da cana

Independente do fermento utilizado, esse processo deve ser concluído em aproximadamente 24 horas. O método usual para verificar o fim da fermentação é quando o caldo começa a soltar borbulhas de forma uniforme e com cheiro agradável, com leve aroma de frutas. O fermento depositado no fundo da dorna costuma ser reutilizado na próxima fermentação.

O vinho é retirado por gravidade das dornas de fermentação e levado diretamente para a destilação nos alambiques. Na etapa de destilação, não é aproveitado o álcool inicial (cabeça) e final (calda). Utiliza-se para a comercialização somente o álcool do meio da destilação (corpo ou coração), 80% do material destilado.

Após a retirada do álcool, este é padronizado para que o teor alcoólico fique entre 38 e 54%. A partir disso, a cachaça já pode ser engarrafada ou ir para tonéis de madeira para envelhecimento. A cachaça envelhecida tem sabor e aroma mais agradáveis do que acachaça recém destilada, o que lhe agrega maior valor.

Mercado

O preço do produto e a forma de comercialização também são diferentes. A cachaça industrial é vendida em torno R$0,70 o litro na destilaria e é comercializada em larga escala, tanto no mercado interno quanto no externo. A pinga artesanal consegue um valor de, no mínimo, R$1,30 por litro e, dependendo da forma como é comercializada, pode chegar, em média, a R$4,50 a R$6,00 por litro.

Em lojas especializadas, a cachaça artesanal é vendida a preços muito altos, dependendo da marca, podendo ultrapassar o valor de R$200,00 por uma garrafa de 700 mililitros. Ou seja, o valor agregado na produção artesanal é muito elevado, já que o consumidor adquire um produto praticamente exclusivo.

Outra forma de agregação de valor ao produto são os certificados de qualidade e os certificados socioambientais, como o orgânico e/ou o de indicação geográfica. A cachaça produzida em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, foi a primeira a conseguir o certificado de indicação geográfica como denominação de origem.

Para exportação, o preço varia entre US$1,00 e US$2,50 o litro, que é vendido no mercado internacional por US$ 20,00 a US$24,00 por litro. Segundo estimativas do PBDAC, espera-se que as exportações cheguem a 100 milhões de litros em dez anos, pois a qualidade da cachaça brasileira vem melhorando a cada safra e conquistando cada vez mais consumidores estrangeiros, sobretudo os europeus.

Referências

MARTINELLI, D. P.; SPERS, E. E.; COSTA, A. F. Ypióca – introduzindo uma bebida genuinamente brasileira no mercado global. In: CONGRESSO ANUAL DO PENSA (PROGRAMA DE ESTUDOS DOS NEGÓCIOS DE SISTEMA INDUSTRIAL), 10., 2000, São Paulo. Anais … [São Paulo, 2000].

RODRIGUES, L. R.; OLIVEIRA, E. A. A. Q. de. Expansão da exportação de cachaça brasileira: uma nova oportunidade de negócios internacionais. In: ENCONTRO LATINO AMERICANO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 11.; ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO, 7., 2006, São José dos Campos. [Anais…]. [São José dos Campos: Univap, 2007].

Fonte: www.agencia.cnptia.embrapa.br

História da Cachaça

Para conhecer a história da cachaça é necessário voltar ao início do século XV. Os portugueses tinham conhecido a cana de açúcar durante suas viagens à Ásia e não tardaram em levar algumas mudas para a ilha da Madeira, para, mais adiante, levar a cana para novas terras descobertas no Ocidente.

Rapidamente a cana de açúcar se tornou para os países europeus um dos negócios mais lucrativos em terras americanas, dada a crescente demanda por este produto no Velho Mundo para usos gastronômicos.

Mas o Rei Açúcar exigia cada vez mais terras e sacrifícios humanos. Milhares de hectares de matas foram destruídos e como a mão-de-obra indígena não era suficiente para assegurar a produção, milhares de africanos acabaram embarcados rumo à América para que servissem de mão-de-obra escrava nos canaviais.

Graças ao suor e ao sangue destes trabalhadores negros, a nobreza européia podia levar uma vida que, além de confortável, era cada vez mais doce.

Nos engenhos onde se obtinha o açúcar, o caldo da cana era depurado em uma enorme caldeira em fogo brando. A espuma formada pelos resíduos da planta era usada como alimento para os animais. Era a cachaça.

Só a partir do século XVI, a cachaça, da mesma forma que se fazia com os restos da fermentação do suco da uva, começou a ser destilada com a ajuda de um alambique. Seu primeiro nome foi aguardente de cana e ela era dada aos escravos junto com a primeira refeição do dia para que pudessem suportar melhor o trabalho nos canaviais.

Com o passar do tempo, o processo para a obtenção deste aguardente foi melhorando, assim como sua qualidade. Seu consumo cresceu de maneira tão rápida que a Coroa Portuguesa viu perigar a venda de seu aguardente nacional, a “bagaceira”, para as colônias.

Em 1635, a metrópole acabou proibindo a venda de cachaça no estado da Bahia e, quatro anos depois, tentou proibir sua fabricação. No entanto, a cachaça já tinha se tornada a bebida preferida da enorme colônia americana.

O motivo da proibição, logicamente era a concorrência com a Bagaceira. A bebida já era muito apreciada e servia também para abrandar o frio, sobretudo nas baixas temperaturas como as da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, onde uma grande população se aglomerou em busca de ouro.

Em 1756, não tendo tido êxito, na proibição da fabricação e muito menos do consumo, o Rei de Portugal resolveu taxar a nova bebida. A aguardente de cana-de-açúcar foi, nessa época, um dos produtos brasileiros que mais contribuíram com impostos.

Esses recursos foram fundamentais para a reconstrução de Lisboa, abalada por um violento terremoto no ano anterior. A Aguardente brasileira foi assim, um símbolo de resistência à dominação portuguesa e esteve presente na mesa dos Inconfidentes.

Logo melhoram as técnicas de produção. A Cachaça era exaltada por todos como uma ótima bebida e consumida até em banquetes palacianos. Misturada ao gengibre e outros ingredientes, era apreciada também nas festas religiosas portuguesas com o nome de Quentão.

Quando se iniciou a economia cafeeira, a implantação da república e a abolição da escravatura, a nossa cachaça passou a ser vítima de um preconceito irracional.

Em 1922 no entanto, com a Semana da Arte Moderna, a cachaça ganhou novamente o reconhecimento que merecia. Outras invenções genuinamente brasileiras, como o samba e a feijoada fizeram parte do resgate do brasileirismo.

A cachaça ainda hoje enfrenta algum preconceito, mas hoje bem menos do que antes. Atualmente, várias destilarias, em todo o país, produzem cachaças de excelente qualidade.

São centenas, talvez milhares de marcas. Minas, Ceará e Pernambuco, possuem juntos mais de mil marcas. Muitas com controle de qualidade e embalagens dignas do melhor uísque. Tal empenho dos fabricantes, conquistou o público feminino, abriu o comércio internacional e a nossa cachaça ganhou o mundo.

Fonte: www.cabanacaipira.com

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