Segundo Império

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Segundo Império – História do Brasil

O reinado de fato de D. Pedro II começou com o chamado Golpe da Maioridade.

O primeiro ministério do monarca foi nomeado em 24 de julho de 1940 e era Liberal, em 1841, Pedro II o substituiu por um Conservador.

Eleições do Cacete  vitória liberal em 1840  revoltas em Minas e São Paulo em 1842.

Não há nada mais conservador do que um liberal no poder  mas eles não eram tão iguais assim, os liberais sempre tenderam ao federalismo e das suas fileiras formou-se em 1870 o partido republicano.

Parlamentarismo às Avessas  D. Pedro II abriu mão do poder Executivo, ficando somente com o Moderador  Conselho de Ministros foi criado em 1847  o Presidente do Conselho de Ministros era escolhido pelo Monarca segundo o resultado das eleições  só que o Imperador poderia demitir o gabinete e dissolver o Parlamento.

No Parlamentarismo Inglês  o Monarca não pode dissolver o Parlamento, só o próprio órgão D. Pedro aos 24 pode fazê-lo. anos.

A Revolução Praieira (1848-50) foi o último movimento federalista de grande porte do período monárquico  outra vez Pernambuco.

Os liberais radicais (Partido da Praia) se recusaram a aceitar o novo governo conservador de 1848 e pegaram em armas.

Na base da revolta estava o controle do comércio pelos portugueses e as altas taxas de desemprego.

Não falaram em república, como em 1817/1824, nem em abolição.

D. Pedro II criou laboratórios de fotografia, química e física, participou de academias de ciência da Europa, manteve correspondência com cientistas como Pasteur e Graham Bell, patrocinou estudantes (inclusive mulheres), criou em 1854 uma escola para cegos, que usaria o revolucionário método Braille, a partir de 1890 chamada de Instituto Benjamin Constant.

Lei de Terras (1850)  as terras devolutas só poderiam ser adquiridas por compra, não por posse  favoreceu o latifúndio.

Leis abolicionistas: Lei Feijó (1831)  proibição do tráfico.

Lei Eusébio de Queirós (1850) Segundo Impériofim do tráfico para cumprir a Bill Aberdeen (1845).

Lei do Ventre Livre (1871).

Lei dos Sexagenários ou Saraiva-Cotegipe (1885).

Lei Áurea (1888) Segundo Império abolição da escravatura no Brasil.

A abolição dependeu também da ação de negros e negras que ajudavam nas fugas, faziam cadernetas de poupança, usavam as irmandades, a maçonaria, os jornais, etc.

Luís Gama (1830-82), filho de mãe negra livre ativa na Revolta dos Malês e na Sabinada, vendido pelo pai Luís Gama, advogado, branco, advogou em favor escritor e jornalista, gravura de 1878. dos escravos.

No século XIX o café se tornou o principal produto de exportação brasileiro. Junto com a interiorização do café, as ferrovias começaram a 8 rasgar o país.

Os imigrantes começaram a chegar no Brasil no início do século XIX para formar colônias ou trabalhar em regime de parceria. Com o fim do tráfico, a entrada de imigrantes se intensificou. Teses racistas, no entanto, favoreciam os europeus.

Arte de Rugendas

Chineses foram trazidos para o Brasil na década de1810 para um projeto de plantio de chá. Foi um fracasso. Nas décadas de 1850-60, foram trazidos para trabalhar na lavoura (coolies).

Tratados como escravos, 10o Governo Chinês proibiu a imigração em 1881.

As tarifas Alves Branco favoreceram a indústria no Brasil.

Os impostos sobre importados que poderiam competir com o produto local foram estabelecidas entre 40-60%.

Produtos necessários à indústria, como o ferro, tinham tarifas de 20%.

Em 1860, as tarifas foram alteradas para satisfazer os O Barão agricultores. de Mauá.

A Questão Christie (1862) expôs a arbitrariedade da Inglaterra e foi arbitrada pelo rei da Bélgica Segundo Império o governo britânico rompeu relações com o Brasil (1963) e só restabeleceu com a Guerra do Paraguai (1865).

Questões Platinas: Guerra da Cisplatina – 1825-1828

Guerra contra Oribe e Rosas: 1851-1852

Opôs os interesses do Brasil, Uruguai e Argentina às pretensões expansionistas paraguaias.

A Inglaterra vendeu armas e deu apoio à Tríplice Aliança.

A Guerra possibilitou o amadurecimento do exército brasileiro.

O final do Império foi impulsionado por vários fatores.

Fundação do Partido Republicano em 1870.

Oposição entre Exército X Guarda Nacional.

Questão Religiosa (1872-1875).

Questão Militar (1884-1887).

Difusão do Positivismo (evolucionistas e revolucionistas)

Crescimento da causa abolicionista.

A estranheza do regime monárquico no continente americano.

A questão da sucessão ao trono.

D. Pedro II teve somente duas filhas que chegaram à idade adulta, Isabel e Leopoldina. A mais velha, Isabel, herdaria o trono, mas seu marido, o Conde DEu, era muito impopular e ela era ultramontana, isto é, submissa à vontade do papa.

Em 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República, na verdade, um golpe militar. Segundo fonte da época (Aristides Lobo), o povo assistiu, bestializado, à Proclamação da República.

Segundo Império – França

Segundo Império descreve estilos característicos da França bonapartista em 1852-1870 durante o reinado do imperador Napoleão III, ou estilos influenciados por eles.

Essencialmente eclético, o Segundo Império foi um período de renascimentos, especialmente os estilos Barroco, Império, François Ier, Louis Seize, Neo-Grec e renascentista. A École des Beaux-Arts (Escola de Belas Artes) incentivou o historicismo, como pode ser visto na Paris criada por Haussmann para Napoleão III, e especialmente nas extensões do Louvre, a partir de 1853. Telhados altos, lucarnes e ornamentos exuberantes deram à arquitetura francesa do período um sabor opulento que foi amplamente apreciado e copiado nos EUA.

O SEGUNDO IMPÉRIO D. PEDRO II – 1840 a 1889

Características do Governo de D. Pedro II

Em 23 de julho de 1840, perante as Câmaras reunidas, D. Pedro de Alcântara foi declarado maior, prestou juramento e foi investido do poder, começando a exercer suas funções constitucionais.

Estava terminado o Período Regencial e tinha início o Segundo Reinado.

Com a maioridade de D. Pedro, os liberais que tinham sido os articuladores do projeto assumiram o Primeiro Ministério de D. Pedro II. Liberais e Conservadores, ou como eram mais conhecidos: “luzias” e “saquaremas”, tinham uma origem comum, ambos eram originários da facção Liberal Moderada da época da Regência que se dividiu em progressistas e regressistas.

Nenhum dos dois aceitava a vontade popular para obter um governo representativo, predominando sempre uma política clientelista de reforço às estruturas do poder.

O espírito camaleônico dos membros dos dois partidos deu origem à expressão de Holanda Cavalcanti, político pernambucano: “Nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder”.

“Saquarema” era a denominação dos conservadores porque era o nome de um Município fluminense onde um dos seus líderes, o Visconde de Itaboraí, tinha uma fazenda onde o grupo se reunia.

Este grupo era favorável à centralização do poder. “Luzia” era a denominação dos liberais, em alusão a uma vila de Minas, Santa Luzia, onde ocorreu a sua maior derrota nas revoltas de 1842.

Este grupo defendia a Monarquia Federativa, opondo-se ao Poder Moderador e ao Senado vitalício, que era dominado pelos conservadores.

O Primeiro Ministério era frágil politicamente e apoiou-se no Monarca para fortalecer seus partidários, distribuindo títulos e nomeações e ainda encontrou dificuldades para acabar com a Revolta Farroupilha, no Rio Grande do Sul, que já era remanescente do Período Regencial, por isto teve pouca duração. Foi substituído por um Gabinete Conservador em 1841, que aproveitou a maioria que ainda tinha nas Câmaras e conseguiu aprovar a volta do Conselho de Estado e a reforma do Código de Processo Criminal que ainda era de 1832, para dar ao Ministro da Justiça a centralização dos poderes policiais das Províncias.

O Conselho de Estado era composto de representantes das principais tendências políticas e se constituía num grupo que refletia o pensamento da elite política imperial, de certa forma tutelando o jovem Imperador e também preservando sua imagem, deixando que se apresentasse como um moderador e fator de equilíbrio do Império.

Em maio de 1842, antes que tomasse posse a nova legislatura, recém eleita e de maioria progressista, D. Pedro II dissolveu-a seguindo instruções do Ministério e do Conselho de Estado e para atingir os farroupilhas proibiu o comércio de mulas e cavalos do Rio Grande prejudicando o interesse dos paulistas que comercializavam os animais.

Esta dissolução provocou as Revoltas Liberais de 1842.

Apesar de derrotados, os liberais vieram a formar um novo Ministério em 1844 e governaram até 1848 adotando medidas defendidas pelos conservadores. Mas foram os conservadores que mais governaram o Império, embora em 1853 tenha sido formado um Gabinete de Conciliação que incluía liberais e conservadores sob a liderança do Marquês do Paraná – Honório Hermeto Carneiro Leão.

Começaria então um período de paz interna e prosperidade econômica e cultural que Capistrano de Abreu denominou de “o apogeu do fulgor imperial”.

O período de radicalismo teve seu fim com a derrota dos Farroupilhas, depois que Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias foi nomeado, em 1842, para Comandante das Armas do Rio Grande do Sul. Em 1845 foi concedida anistia ampla aos combatentes e os militares sulinos foram incorporados ao Exército do Império. Teve também fim a Revolta Praieira, de Pernambuco, em 1848, nome derivado do fato de um jornal liberal ter sua sede na Rua da Praia, no Recife.

Após a anistia aos farrapos, o Imperador foi recebido com entusiasmo pelos gaúchos. As ações de Caxias, assimilavam a presença de um instrumento de força capaz de permitir o exercício da autoridade central, simbolizando a unidade como era entendida pela classe dominante.

Representava alterações que estavam sendo processadas como: a criação de um poder militar central; redução dos poderes regionais; eliminação dos mercenários e transferência para as forças terrestres de funções antes exercidas por forças navais.

A Revolta Praieira foi a última das rebeliões provinciais e marcou o fim do ciclo revolucionário em Pernambuco, com a integração da Província à ordem imperial.

A partir daí, com o poder centralizado no Rio de Janeiro, o jogo político passaria a ser disputado entre os dois partidos no Parlamento, como canais para os interesses das elites, tendo como árbitro o Imperador, através do Poder Moderador. Nas Províncias, as facções locais não desapareceram mas agruparam-se de acordo com as diretrizes da Corte, para que pudessem ser alvo dos favores clientelísticos do Ministério que ocupava o poder.

O Regime Parlamentarista implantado com o Segundo Reinado teve desta forma um papel fundamental na estabilidade política. Mas este Parlamentarismo era diferente de sua forma clássica, em que o Rei exerce um papel decorativo e quem governa é o Primeiro Ministro eleito pelo Parlamento, porque no Brasil, o Imperador podia nomear e demitir o Ministério e a máquina do governo era utilizada para garantir a eleição dos governistas favoráveis ao Gabinete no poder.

Como nas eleições o peso do Governo era muito grande, o Imperador conseguia eleger a Câmara que se harmonizava com o Gabinete por ele preferido.

A partir de 1847, o Parlamentarismo, com o Presidente do Conselho de Ministros sendo nomeado pelo Imperador se impôs. Durante o Segundo Reinado houve trinta e seis Gabinetes, permanecendo em média um ano e três meses para cada um governar. Isto poderia sugerir uma instabilidade política, mas isto não ocorria devido a um sistema flexível de rodízio que permitia que o partido de oposição assumisse o Governo sem traumas e rupturas, dando continuidade ao Governo anterior. No Brasil, o Rei reinava, governava e administrava, controlando o Estado em ordem de acordo com os interesses das elites.

Mantendo esta forma de governo, o Império teve sua melhor época entre 1850 e 1870, fase que teve como características: os debates serem circunscritos ao Parlamento; a lavoura cafeeira em expansão permitir o crescimento da economia e o trabalho escravo sustentar a estabilidade desejada pelas elites.

A partir de 1870, com as dificuldades financeiras provenientes da Guerra do Paraguai, travada entre 1864 e 1870 e com o problema da escravidão, que se tornou insustentável, os conservadores quiseram aumentar seu espaço e com isto dificultaram a Política de Conciliação, fazendo surgir o Partido Liberal Radical que depois deu origem ao Partido Republicano, que pôs fim às conciliações das elites imperiais e deu início à crise da Monarquia.

O Desenvolvimento Cultural do Segundo Império

O Desenvolvimento Literário

A explosão cultural do Segundo Reinado foi feita à imagem e semelhança do seu mecenas. Tranquilizado pela bonança política resultante da conciliação e entusiasmo com a boa situação econômica trazida pelo café, D. Pedro II decidiu investir na cultura. Por ser um processo incentivado pelo próprio Imperador, o movimento cultural se engajou numa “redescoberta” da Nação Brasileira idealizado pelo Monarca. Os historiadores, pintores e literatos cultuaram o monumentalismo do Brasil, seguindo o enfoque do Romantismo.

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado pelo Regente Araújo Lima, contou com o total apoio do Imperador, que chegou a presidir mais de 500 de suas sessões.

O Instituto se manifestava de acordo com o nacionalismo conservador que marcou o apogeu do Império escravagista.

Dois fatos foram marcantes para a história do IHGB: sua Revista, onde eram publicados importantes artigos sobre a História do país, contando com a participação dos mais importantes historiadores e diplomatas da época e que deixou um acervo importantíssimo de fontes para os futuros historiadores e a monumental obra de Francisco Adolfo de Varnhagen, que foi publicada em 1854, que foi a primeira obra da historiografia brasileira: História Geral do Brasil, que apesar dos preconceitos e de refletir a construção de um Brasil de civilização branca, ainda hoje é a mais completa crônica documental da colônia.

D. Pedro mandou para Portugal bolsistas para que estudassem e copiassem documentos da Torre do Tombo, em Lisboa, entre eles Varnhagen.

A produção literária brasileira, inspirada no Romantismo, em voga na Europa e que repudiava os modelos estéticos clássicos, teve no período entre 1837 e 1869 a sua fase áurea com a literatura romântica indianista.

O Romantismo surgiu no Brasil, em 1836, com o lançamento da Revista Niterói, fundada em Paris por Gonçalves de Magalhães e seus colegas.

O movimento ficou conhecido no Brasil como Indianismo e teve entre seus maiores expoentes: o poeta Gonçalves Dias, autor de I Juca Pirama, que via no massacre dos índios a metáfora de uma sociedade ainda sufocada pelos tentáculos da Metrópole e o romancista José de Alencar, com O Guarani e Iracema, que mitificava a nova sociedade brasileira, apresentava o índio como o bom selvagem, belo, forte, livre e plenamente subserviente ao branco.

Fagundes Varela foi o primeiro a tratar do tema do negro em Mauro, o Negro, em seguida Castro Alves ficou famoso com suas poesias a favor de causas sociais e políticas, destacando-se: o Navio Negreiro e ozes d’África.

A novidade da ficção foi o romance folhetinesco, que misturava digressões ao relato de acontecimentos, com humor e crítica social.

Nele tiveram destaque: Joaquim Manuel de Macedo com A Moreninha e Manuel Antonio de Almeida, em Memórias de um Sargento de Milícias, que deu ao romance um cunho social.

Ao final do século XIX o Realismo suplantou o Romantismo na Europa, com a ascensão da burguesia ao topo econômico e a denúncia das mazelas cotidianas substituindo o sentimentalismo.

No Brasil teve destaque o Naturalismo, uma manifestação mais radical do Realismo, com destaque para Aluísio Azevedo em suas obras: O Mulato e O Cortiço.

Na poesia, a oposição ao Romantismo se deu com o Parnasianismo, que pôs fim à espontaneidade da criação, com a utilização das “rimas ricas” e “fechos de ouro”, provocando o afastamento dos temas sociais. Suas figuras mais expressivas foram: Olavo Bilac e Alberto de Oliveira.

O maior escritor brasileiro, no entanto foi sem dúvida Machado de Assis, mulato, funcionário público, retratou com ironia e mordacidade a situação da época, o declínio dos valores, sem nunca deixar de usar a elegância.

Deixou uma imensa coleção de obras entre as quais podemos destacar: Dom Casmurro; Quincas Borba e Memórias Póstumas de Brás Cubas.

O Desenvolvimento Pictórico e Musical

A Academia Imperial de Belas Artes desempenhou o papel pictórico no projeto de monumentalizarão dos fatos históricos do Brasil. Criada em 1816, pela Missão Francesa, a academia sempre foi caracterizada por seguir o neoclassicismo, tendo se fechado às mudanças artísticas provenientes da Europa.

D. Pedro II adorava a pintura neoclássica, entre 1850 e 1880, muitos dos principais pintores ganharam bolsas para estudar em Paris e na Itália.

A condição para isto no entanto parecia ser ficar hostil às novas diretrizes da arte, afastando-se do realismo de Coubert, do romantismo de Dalacroix e do paisagismo de Corot.

O resultado foi que pintores como Pedro Américo e Vítor Meireles, especialistas em pinturas históricas e sacras, e outros expoentes de sua época produziram obras clássicas e laboriosas, mas de um alheamento gélido.

Pedro Américo e Vitor Meireles fizeram escola e definiram as novas feições da nação.

Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843-1905) começou a pintar desde pequeno, em 1859 já estava em Paris, estudou filosofia e literatura e doutorou-se em física, mas foi em Florença que fez fama, apresentando as telas: A Batalha do Avaí, em 1877 e O Grito do Ipiranga, em 1888, ambas feitas sob encomenda do Governo brasileiro.

Quando estava em Paris conheceu Vítor Meireles de Lima (1832-1903), que também era bolsista na França. Meireles pintou: A Primeira Missa no Brasil, em 1861, e depois: A Batalha Naval do Riachuelo e Passagem de Humaitá. Em 1875 foi acusado de plágio ao apresentar A Batalha dos Guararapes, considerada cópia de A Batalha do Avaí, que Pedro Américo pintara em 1872.

Duramente criticado deixou a pintura e dedicou-se à cátedra.

Lecionando, Vítor Meireles foi o mestre da geração que deu continuidade à representação visual da História do Brasil: Henrique Bernadelli autor de Proclamação da República; Antônio Parreiras autor de A Prisão de Tiradentes; José Maria de Medeiros autor de Iracema e Rodolfo de Amoedo autor de O Último Tamoio.

Os índios eram representados pelos pintores com a visão eurocêntrica do homem natural e índio bom era o índio morto, quanto aos negros permaneceram banidos das artes brasileiras até 1892, quando o pintor espanhol Modesto Brocos y Gómez pintou um negro no quadro: O Engenho.

Entre os discípulos de Meireles surgiram dois grandes inovadores da arte no Brasil: Elyseo Visconti (1866-1944), fundador do paisagismo autenticamente brasileiro, que pintou a cúpula do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e Almeida Júnior (1850-1899) que fez eclodir o homem do campo com: O Caipira Picando Fumo, que apresentava um lirismo original.

Estes foram os homens que através da pintura fizeram a memória visual da História do Brasil.

A música teve sua maior expressão em Antonio Carlos Gomes, que também foi bolsista do Imperador e estudou música na Europa.

Em 19 de março de 1870, no Teatro Scala de Milão, com um cenário monumental, estreava sua versão musical do romantismo indianista: a Ópera O Guarani, que embora sendo a mais famosa não é a sua melhor obra, que é A Fosca, escrita em 1873. Escreveu também O Escravo, ópera que é ambientalizada na cidade do Rio de Janeiro.

Em 1889, Carlos Gomes recusou-se a atender ao pedido do Marechal Deodoro da Fonseca para compor o Hino da República e por esta ousadia pagou caro, morreu no esquecimento, em 1896.

Cultura Popular no Rio de Janeiro

A população urbana que não pertencia à elite imperial também tinha prazer em escutar música e dançar. A diferença era que eles ouviam os “chorões”, conjuntos de cordas formados por funcionários públicos.

A dança predileta do povo era o maxixe, uma adaptação da polca e da mazurca, incorporando requebros mais ousados.

O Carnaval promovia, nas ruas, o encontro da elite e do povo. As famílias abastadas desfilavam em carros abertos e iam aos bailes de máscara, as camadas mais pobres realizavam o “entrudo”, que tinha origem portuguesa. A intelectualidade, como forma alegórica de propaganda política, fundou as grandes sociedades carnavalescas, que em corso transmitiam sua mensagem aos espectadores. Em 1850, foi formada a Sumidades Carnavalescas; em 1858 os Tenentes do Diabo e em 1867, os Fenianos e os Democráticos. D. Pedro II apreciava assistir ao desfile das grandes sociedades.

Outra forma de diversão popular ficava a cargo das festas religiosas como a da Igreja da Penha no Bairro da Penha e a de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, localizada na Rua Uruguaiana.

Sociedade do Rio de Janeiro no Segundo Império

No Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, houve um processo e dissolução do escravagismo que antecedeu à Abolição, porque ao mesmo tempo em que o crescimento da cidade gerou uma escala de abastecimento interna criou também o espaço para o trabalho livre.

Nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, nesta época, os escravos desempenhavam diversas funções, como: artífices de qualquer produto que não fosse importado; eram carregadores, transportadores de carga e vendedores e as escravas muitas vezes vendiam seus quitutes ou eram prostitutas. Na estiva e nos armazéns portuários trabalhavam libertos e imigrantes. Os escravos viviam como domésticos, alugados por seus senhores ou como escravos de ganho e concentravam-se nos chafarizes, nos “Cantos de Nações” e nos cortiços, que começaram a ser proibidos em 1876.

Muitos eram empregados nas manufaturas pioneiras. O trabalho manual era identificado com a escravidão e rejeitado pelos homens livres.

Com o crescimento urbano, era comum ver os cativos oferecendo seus serviços. Parte da renda obtida destinava-se ao seu sustento e o restante era entregue aos seus senhores no final do dia ou semanalmente.

Os proprietários não se preocupavam com a forma pela qual eles obtinham o dinheiro, por isto era comum ocorrerem roubos cometidos por escravos de ganho para poderem completar a quantia estipulada pelo seu senhor.

Diferente das áreas rurais, o escravo na cidade tinha uma certa autonomia, porque estava distante do controle do senhor. Nas cidades os escravos se confundiam com os libertos, devido a isto as atividades urbanas tinham papel significativo para eles. As cidades funcionavam como verdadeiro esconderijo, principalmente o Rio de Janeiro, porque a quantidade de escravos era muito grande.

Apesar de suas características, a escravidão urbana não deixava de conviver com a violência do senhor e com a resistência do escravo.

Na arqueologia da favela está o quilombo, que se articulava de alguma forma com o espaço urbano. Existiam quilombos nas fronteiras da cidade, como por exemplo o da Serrinha, que permitiam aos quilombados ganharem a vida, indistintamente dos libertos e dos escravos de ganho urbano.

O Rio de Janeiro não industrializado foi o espaço dos empalhadores, dos lustradores, dos reparadores de eletrodomésticos, dos tropeiros e de tudo aquilo que João do Rio denominou de “profissões ignoradas” da miséria, que tinham como oficinas as ruas.

A dissolução do escravagismo, no entanto, não constituiu um mercado de trabalho capitalista. Os prestadores de serviço ganhavam pouco e eram pressionados pela massa de homens livres e pobres da cidade.

O Rio de Janeiro foi o laboratório urbano do Brasil no século XIX, com sua elite incorporando, devido à sua superestrutura, padrões modernos de consumo. Em 1872, com a implantação do sistema métrico houve uma revolta que foi denominada de “Quebra quilos”, porque o povo suspeitava que se tratava apenas de mais uma forma de astúcia dos comerciantes para ampliar seus lucros.

Uma das diversões da cidade foi o teatro já existente desde 1813, com a criação do Real Teatro São João, rebatizado de São Pedro de Alcântara, em 1826, e arrendado, em 1838, por João Caetano. Em 1871, foi inaugurado o Teatro Imperial D. Pedro II, que teve em sua abertura um baile de máscaras, ele ficava na Rua da Guarda Velha, na região onde hoje fica a Rua 13 de Maio e nele eram apresentadas as óperas, muito ao gosto da Corte, por isto ficou conhecido como Teatro Lírico. Com a inauguração do Teatro Municipal, em 1909, ele ficou relegado ao segundo plano e acabou por ser demolido em 1934.

O gosto pelas variedades circenses foi paralelo ao teatro. Desde os meados do século a cidade já possuía o Café-concerto Alcazar que inspirou a abertura de outros semelhantes e também de casas de jogo, que deixavam a polícia preocupada pela multiplicação de casas clandestinas e pelas fraudes que nelas ocorriam habitualmente. Em meados do século existiam na cidade seis famosos salões de bailes.

No Teatro São Pedro, em 1854, podiam dançar 5.000 pessoas. Em 1868 existiam no Rio de Janeiro mais de quatorze sociedades recreativas.

No Hotel Pharoux funcionou o primeiro restaurante sofisticado do Rio de Janeiro que ganhou fama pela excelência de sua cozinha francesa, incluindo os bons vinhos franceses.

O costume de comer fora de casa evoluiu lentamente na cidade. As confeitarias prosperavam, sendo a Pascoal a referência no final do século.

A Casa Jacó, a partir de 1887, passou a produzir na Rua da Assembleia, o que viria a ser uma grande paixão do Rio: o primeiro Chope do Brasil.

Desde 1868 foi organizado o Jockey Club do Hipódromo Fluminense, pelo Major Suckow, onde hoje fica o Estádio do Maracanã. Antes já eram promovidas corridas na Praia de Botafogo.

O remo já era praticado no Rio de Janeiro desde o início do século, mas a paixão pelo esporte fez surgir, ao final do século diversos clubes como: Fluminense; São Cristóvão; Flamengo e Vasco da Gama, que eram agremiações de amadores mobilizados para as regatas. A partir de 1852 começaram a ser praticadas competições na Praia de Botafogo.

Próximo à Praça XV, em 1880, existiu um palácio flutuante, com tanques para banhos de mar como prescrição médica, com o objetivo de se ficar ao sol.

A aproximação das elites com as praias foi feita de forma lenta e tímida, mas ao final do século já existiam casas organizadas para banho de mar. Em 1892 com a abertura do Túnel Velho, ligando Botafogo a Copacabana, foi desenvolvido o hábito de se fazer piquenique em Copacabana, nascia modestamente a maior cidade balneária do mundo.

O SEGUNDO IMPÉRIO D. PEDRO II – 1840 a 1889

Política no Segundo Império (1840-1889): a calma dos cemitérios

O período do segundo reinado foi um dos mais calmos do Brasil do séc. XIX. Porém, nem tudo era tão harmonioso, e, para alcançar uma estabilidade relativa, o imperador teve de fazer malabarismos políticos.

A habilidade política de D. Pedro II era filha da necessidade. Ao assumir o governo, em 1840, D. Pedro II era muito jovem, um adolescente de quinze anos incompletos.

Não possuía dados ou experiência para definir se era melhor se rodear de liberais ou de conservadores para realizar as atividades de administração.

Decidiu-se pelos liberais porque este partido havia liderado a campanha pela antecipação de sua maioridade.

O ministério liberal, assim que tomou posse, decretou anistia a todos os que haviam feito revoltas no período regencial. O objetivo, parcialmente atingido, era o de evitar conflitos que pudessem colocar em risco nossa unidade territorial.

As preocupações do Partido Liberal com o bem estar nacional duraram, infelizmente, muito pouco. Logo a seguir, os liberais pediram que D. Pedro II convocasse eleições para renovar a câmara de deputados.

Argumentavam que um novo governante deveria ser assessorado por um legislativo igualmente renovado.

Mentira: os liberais aproveitaram-se do fato de estarem dirigindo o aparelho burocrático do governo para utilizá-lo numa forte manobra de intimidação e violência contra os eleitores.

Estas eleições passaram para a história com o sugestivo título de Eleições do Cacete, tal a violência utilizada durante sua realização.

As lideranças políticas liberais despreocuparam-se com as grandes questões nacionais para defender seus interesses particulares: acabaram brigando entre si.

E estas lutas foram tão mesquinhas que enojaram o jovem imperador. D. Pedro II decidiu dissolver o ministério liberal, em março de 1841, substituindo-o por um gabinete conservador.

Segundo Império
Dom Pedro II a proferir discurso de abertura em assembleia geral.
Ao fundo, a bandeira do Segundo Império, com 20 estrelas representando as províncias brasileiras à época

CONSERVADORES DA VIOLÊNCIA

Os conservadores, da mesma forma que os liberais, privilegiaram seus apetites políticos locais. Deixaram de lado as questões de unidade nacional, gerenciamento do Estado ou crescimento econômico, para gastar quase todo o tempo dedicado à política para escorraçar as lideranças regionais rivais. Assim que assumiu o poder, o Partido Conservador pediu que D. Pedro II anulasse as eleições do cacete, convocando nova votação. Desnecessário dizer que os conservadores utilizaram- se dos mesmos procedimentos violentos para obter a maioria da câmara de deputados.

Os liberais revoltaram-se por sofrer as mesmas coações que, um ano antes, haviam utilizado alegremente contra seus rivais. Assim ocorrem os levantes liberais de 1842, em São Paulo e Minas Gerais, prontamente reprimidos pelas tropas do futuro Duque de Caxias.

Estas disputas regionais ensinam ao jovem e inteligente imperador que os partidos políticos brasileiros, naquele momento, não brigavam porque tinham concepções diferentes: brigavam pelas benesses do poder. Por isso, se D. Pedro II promovesse um revezamento periódico entre os partidos, as revoltas da elite cessariam. Foi o que ele fez. Bastava, para ao setor da elite que estivesse na oposição um pouco de paciência para esperar um retorno ao poder.

É necessário observar que D. Pedro II não tinha o mesmo poder absolutista que seu pai.

Mas, ainda assim, sua força política era gigantesca: o Ato de Interpretação do Ato Adicional, assinado em maio de 1840, pouco antes do golpe da maioridade, reduzia as alterações liberais do Ato Adicional a quase nada; a reforma do código de processo criminal, aprovada junto com o Ato de Interpretação, tornou muito duras as penalidades contra a subversão política; restabeleceu-se a existência do Conselho de Estado; o imperador ganhou o direito de nomear os chefes de polícia, nas províncias.

Segundo Império
Félix Émile Taunay retratou Dom Pedro II ao assumir o governo, quando este era ainda um adolescente de 15 anos incompletos,
sem experiência para definir se deveria cercar-se de liberais ou de conservadores. O quadro reproduzido se encontra hoje no Museu Imperial, em Petrópolis (RJ)

TRANQÜILIDADE POLÍTICA E O CAFÉ

A partir de 1850, o Brasil ganha a fisionomia que seria a marca registrada do governo de D. Pedro II: paz, tranquilidade pública, progresso, economia em expansão, eleições periódicas, partidos políticos revezando- se ordeira e democraticamente no poder e – pairando acima de tudo e de todos – a figura serena de um senhor com jeitão de vovô bondoso e longas barbas brancas: o imperador.

Qual teria sido a receita utilizada, com tanto sucesso, por D. Pedro II? Como ele conseguiu esta tranquilidade toda?

Os ingredientes eram quatro:

1. Estabilidade econômica promovida pela cafeicultura nacional;
2. Revezamento dos partidos de elite no poder;
3. Parlamentarismo e conciliação;
4. Repressão violenta às manifestações de descontentamento popular.

O Brasil chegou ao século XIX dentro de uma enorme crise econômica. O ouro escasseava, o açúcar enfrentava concorrentes que conseguiam produzir mais barato. Além disso, as guerras napoleônicas reduziam o espaço comercial europeu para os aliados da Inglaterra, como era o nosso caso. As duas primeiras décadas de nossa vida independente foram igualmente difíceis porque, habituados à exportação, não tínhamos algum produto que pudesse atender aos interesses do mercado internacional.

Tudo isto mudou, com o desenvolvimento da cafeicultura. O café tornou-se a base da economia brasileira.

Isto nos leva a uma pergunta: como um país em crise, como o Brasil, conseguiu implantar um sistema produtivo que nos deu estabilidade econômica?

Segundo Império
Dom Pedro II com a esposa, Imperatriz Teresa Cristina

O maior exportador mundial de café era o Haiti. Mas no final do século XVIII, esta ilha inicia um prolongado conflito com a França, lutando pela independência. Como consequência, a produção haitiana desorganiza-se e o Brasil começa a surgir como alternativa para o mercado internacional.

Não seria necessário um grande volume de capital para ampliar a cafeicultura: bastava utilizar os recursos produtivos que estavam ficando ociosos por causa da decadência da mineração. O café expandia-se na região da Serra do Mar, nas fronteiras das províncias de São Paulo e Rio de Janeiro. Esta região podia beneficiar-se das estradas e caminhos, construídos para escoar a produção aurífera, do século anterior. O café seria transportado pelas mesmas tropas de mulas que antes faziam a movimentação de ouro, rumo aos portos do litoral. Os trabalhadores da lavoura serão os escravos que anteriormente escavavam as minas de ouro. As terras custavam pouco e não necessitavam de adubação, pois estavam sendo tomadas à floresta e possuíam, ainda, todo vigor natural. Graças a estas facilidades, a cafeicultura expandiu-se rapidamente. É o dinheiro do café que permitirá a D. Pedro II realizar uma razoável atividade administrativa.

O REVEZAMENTO NO PODER LEGISLATIVO

Os partidos políticos, no Segundo Império, não são ideologicamente diferenciados: são grupos de elite que disputam o poder político em busca da defesa de interesses localizados e, quase sempre, pessoais. Estas disputas levavam a conflitos regionais bastante violentos.

O imperador D. Pedro II decidiu esfriar o ânimo guerreiro dos grupos rivais com uma atitude “salomônica”: criando uma estrutura parlamentarista peculiar, revezava os partidos no comando ministerial.

Os conflitos militares desapareceram, dando lugar a um (algumas vezes muito bem-humorado) confronto verbal nas tribunas da Câmara de Deputados.

PARLAMENTARISMO IMPERIALISTA

O parlamentarismo foi adotado, no Brasil, com uma característica importante: existia, em nossa constituição, o Poder Moderador, de uso exclusivo do imperador, permitindo que nosso monarca interferisse no funcionamento dos demais poderes políticos. Isto significa que, na Inglaterra, o Primeiro Ministro precisava da confiança da Câmara; no Brasil era necessário obter, ao mesmo tempo, a confiança da Câmara e do imperador.

Caso o Primeiro-Ministro entrasse em conflito com a Câmara, era o imperador quem decidiria qual dos dois continuaria a exercer suas funções. Se o Imperador considerasse que a Câmara estava certa, demitia o Primeiro- Ministro, substituindo-o por outro; se achasse que o Primeiro-Ministro estava correto, dissolvia a Câmara, convocando novas eleições para escolher os deputados.

Assim, as principais decisões políticas do País estavam nas mãos de D. Pedro II, que possuía muito mais poder do que os Chefes de Estado parlamentaristas, em outros países. As mudanças do gabinete vinham “de cima”, do imperador; e não “de baixo”, da Câmara de Deputados. Por isso, o sistema brasileiro ficou conhecido como “parlamentarismo às avessas”.

Retirando-se do imperador as atribuições de Poder Executivo, evita-se o desgaste político do soberano, que passou a ser apresentado à opinião pública como uma espécie de pai de todos os brasileiros, um homem acima das lutas políticas e das pequenas brigas partidárias, preocupado apenas com o bem estar da pátria. A valorização da figura do imperador ajudava a fortalecer a monarquia, permitindo a consolidação do poderio político da aristocracia rural. Desse modo, o parlamentarismo contribui para a estabilidade política do Segundo Império.

DE RECIFE PARA O MUNDO

A Revolução Praieira produziu um “Manifesto ao Mundo”, redigido e publicado por Borges da Fonseca em 1º de janeiro de 1849.

Apresenta os “10 mandamentos” da revolta:

1º – Voto livre e universal
2º- Liberdade de imprensa
3º- Garantia de trabalho para todos os cidadãos
4º- Só brasileiros poderiam fazer comércio de varejo
5º- Harmonia e independência entre os poderes políticos
6º- Extinção do Poder Moderador
7º- Federalismo
8º- Garantia para os direitos individuais
9º- Extinção da cobrança de juros
10º- Extinção do recrutamento militar.

Há características socialistas?

Talvez. Mas há também uma incrível omissão: não se fala, em momento algum, da questão escravista. O “Manifesto ao Mundo” parece espelhar os interesses da pequena burguesia pernambucana.

DA CONCILIAÇÃO À REVOLTA

Após a implantação do sistema parlamentarista, alguns políticos sentiram a necessidade de realizar alterações constitucionais.

O problema é que, nos dois partidos, existiam radicais: entre os liberais, existiam republicanos; entre os conservadores, políticos extremamente reacionários.

A solução encontrada foi a criação de um “gabinete da conciliação”, onde os cargos ministeriais foram divididos entre os políticos não-radicais, de ambos os partidos. Os gabinetes de conciliação, entre os anos de 1853 e 1858, promoveram as reformas constitucionais estabilizadoras do processo político e econômico, no Brasil.

No final do ano de 1848, D. Pedro II derrubou um gabinete liberal, substituindo-o por outro, conservador.

Este foi o pretexto para uma das mais importantes revoltas brasileiras: a Praieira, em Pernambuco.

Logo após os conservadores organizarem seu gabinete, ocorreu uma eleição para o senado, em Pernambuco (naquela época, o cargo de senador era vitalício; quando um senador morria, ocorriam eleições, para a substituição; o imperador recebia uma lista com os três mais votados para o cargo, tendo o direito de escolher qualquer um desses três, para preenchê-lo). Nas eleições, venceu um liberal, que atendia pelo nome de Chichorro da Gama. Acontece que D. Pedro II escolheu, para o cargo, um candidato muito menos votado que o senhor Chichorro…

PERNAMBUCO LIBERAL

Os revolucionários queriam muito mais do que empossar Chichorro da Gama. Dirigidos por Nunes Machado e Borges da Fonseca (conhecido como “o repúblico”), propunham abolição da escravidão, nacionalização do comércio, república, liberdade de imprensa e várias transformações sócio-econômicas. Os rebeldes tomaram a capital da província. Tropas do governo central reconquistaram Recife após violentos combates travados nas ruas da cidade.

As lutas, por todo o ano de 1849, continuam a ocorrer no interior da província, com o apoio decidido de sertanejos pobres. A repressão governamental tornou-se ainda mais violenta e os “praieiros” ficaram isolados politicamente, uma vez que os liberais do resto do Brasil recusavam-se a apoiar os seus correligionários “excessivamente” liberais, de Pernambuco. Os chefes revoltosos (os que não foram mortos!) acabaram presos e condenados à prisão perpétua.

Ainda assim, no sertão pernambucano persiste a luta, sob a liderança do capitão Pedro Ivo Veloso da Silveira, até o ano de 1850. Os combates cessam quando Pedro Ivo, traído pelo próprio pai, tem seu esconderijo descoberto, sendo preso por tropas legalistas.

APARATO REPRESSIVO

Se a repressão contra uma revolta patrocinada por dissidentes da elite fundiária era tão violenta, imagine-se o que acontecia com as revoltas produzidas entre os setores mais humildes da população. Colonos alemães que se radicaram em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, por exemplo, ao tentar manter um padrão de vida comunitário, após a chegada da ferrovia à região, acabaram por ter suas casas incendiadas. Além disso, acusados de serem “fanáticos” (muckers) muitos colonos foram mutilados ou degolados, em meados do ano de 1874.

Como o governo imperial encontrou os meios para exercer repressão tão eficiente e brutal? A violência política tornou-se tão intensa que a população não tinha mais como protestar. O Brasil estava pacificado, tranquilo e silencioso. Como um cemitério.

ROMPE-SE O PACTO DE ELITES E O IMPÉRIO FRAQUEJA

O Brasil passou por transformações vigorosas, na segunda metade do século XIX. Graças à cafeicultura, voltamos a fazer parte das rotas internacionais de comércio. Multiplicou-se o trabalho assalariado, provocando o crescimento de nosso mercado interno. Cresceram as atividades comerciais, dinamizou-se a atividade industrial, ampliou-se a classe média.

Na agricultura, ocorreu a cisão entre alguns grandes fazendeiros que se desligaram do mercado externo (por produzirem artigos de comercialização decadente, como o açúcar e o algodão) e os cafeicultores, que são partidários da modernização econômica.

Os donos de engenho e os fazendeiros de algodão possuíam, ainda, enorme força política. Dominavam eleitoralmente as províncias nordestinas graças ao senado vitalício e ao voto mandioca, o que dava sustentação política ao imperador. A postura desses fazendeiros era extremamente conservadora, não admitindo a abolição da escravatura, nem alterações políticas relevantes.

Os cafeicultores não utilizam escravos, apoiavam o desenvolvimento das atividades comerciais e industriais e consideravam inadequadamente excessiva a participação dos fazendeiros nordestinos nas grandes decisões políticas do país.

O PARTIDO REPUBLICANO

Como o sistema político do Império Brasileiro mostrava-se incapaz de adaptação aos novos tempos, esvaiu-se a legitimidade entre os cafeicultores. A impossibilidade em participar do jogo político fez com que também a classe média virasse as costas ao Império e abraçasse a causa republicana.

Um trecho do manifesto de fundação do partido republicano, assinado em 1870, mostra a dimensão do abismo que se construiu entre o Império e os grupos economicamente mais dinâmicos da sociedade brasileira.

A proposta de autonomia para as províncias na verdade mostra a ansiedade em se destruir o sistema político que se tornou obsoleto:

“A centralização, tal qual existe, representa o despotismo, dá força ao poder pessoal que avassala, estraga e corrompe os caracteres, perverte e anarquiza os espíritos, comprime a liberdade, constrange o cidadão, subordina o direito de todos ao arbítrio de um só poder, nulifica de fato a soberania nacional, mata o estímulo do progresso local, suga a riqueza peculiar das províncias, constituindo-as satélites obrigados da Corte – centro absorvente que tudo corrompe e tudo concentra em si…”

O Partido Republicano não conseguiu tornar-se popular (talvez boa parte da população não tenha, sequer, ouvido falar dos republicanos), mas obteve o apoio da quase totalidade das camadas urbanas, 10% da população brasileira. Apesar de suas divisões internas, apresentava-se coeso nas suas lutas pela autonomia provincial, pelo fim do voto mandioca e do senado vitalício, contra o uso do Poder Moderador, pela abolição da escravidão.

No final das contas, o Partido Republicano não conseguiu romper a tranquilidade política do império. Mesmo fazendo manifestações e comícios, além de ocupar espaço na imprensa, as ideias republicanas não conseguiram romper o espiral de silêncio imposto pelas instituições monárquicas. Uma evidência desse fato é que, no momento da proclamação da República, o partido não teve qualquer importância, sendo completamente eclipsado pelo Exército Brasileiro na condução dos acontecimentos.

A VIOLÊNCIA NO COTIDIANO

A sociedade escravocrata brasileira era muito violenta. O homicídio era considerado trivial.

O cônsul britânico em Santos (SP), Richard Burton (que se notabilizou descobrindo a nascente do Rio Nilo), observou: “Via de regra, todos os homens andam armados: com revólveres e punhais, que são usados ocultamente nas cidades; no interior, ninguém anda a pé ou a cavalo sem uma garrucha, e todos trazem uma faca na cintura. O derramamento de sangue é encarado sem muito horror; praticamente não há aquela preocupação e aquele respeito pela vida humana que caracterizam os países europeus. O afetuoso diminutivo “facadinha” significa esfaqueamento; “mortezinha” é um assassinato traiçoeiro. A impossibilidade moral de se aplicar a pena de morte, a facilidade de fugir da cadeia e o pouco receio em relação aos trabalhos forçados – entre os escravos – são fatores que estimulam a vingança”.

PADRES E MILITARES ENTRAM EM CENA

A Igreja Católica sempre deu legitimidade aos governos monarquistas. Nos séculos XVI e XVII, período áureo do absolutismo, os teóricos diziam que o poder do monarca emanava do poder divino. Por isso não era difícil de compreender a sobrevivência de vínculos entre a Igreja e o Estado, no período imperial brasileiro.

O imperador escolhia, de comum acordo com o papa, os bispos que exerceriam funções sacerdotais no Brasil (a este direito, davase o nome de beneplácito); em troca, os padres recebiam salários do governo imperial, como se fossem funcionários públicos (este auxílio era chamado de padroado).

Evidentemente um bispo não deveria enfrentar o imperador nas questões políticas. Mas uma dessas questões políticas misturou-se a um tema religioso, provocando o conflito entre o Trono e a Cruz. Um padre pernambucano decidiu homenagear o cinquentenário de fundação de uma loja da maçonaria. O bispo D. Vital de Oliveira resolveu punir o padre, recebendo o apoio de outro bispo (D. Macedo Costa). D. Pedro II, que era maçom, permitiu que o Supremo Tribunal de Justiça os retaliasse, condenando os bispos sob a acusação de criar obstáculos à administração pública, com quatro anos de trabalhos forçados. A crise com a Igreja reduziu muito a base de sustentação política do Império.

A VEZ DO EXÉRCITO

O rompimento com a Igreja produziu um colapso na sustentação ideológica do Império, mas não significava um golpe mortal na instituição: afinal, os padres não possuem outra arma além de seus crucifixos… Mas um rompimento com os militares traria consequências muito mais sérias. Até porque os militares possuem ferramentas de trabalho altamente convincentes em quaisquer tipos de discussão.

O rompimento entre o Império e o Exército começou por uma questão econômica: o governo havia prometido um montepio (pensão militar) às famílias dos militares mutilados ou mortos durante a Guerra do Paraguai. Treze anos depois, como nada havia sido pago, os militares encarregaram o tenente-coronel Sena Madureira de defender os interesses do Exército.

É evidente que o imperador não podia maltratar Sena Madureira. Primeiro, porque ele estava defendendo um interesse justo; segundo, porque o tenente-coronel tinha o apoio decidido de todo o Exército. Para evitar maiores danos políticos, D. Pedro II assinou um decreto, proibindo que os militares se manifestassem pela imprensa. Para azar do imperador, logo depois que o decreto entrou em vigor, um militar íntegro, de nome Cunha Matos, manifestou-se pela imprensa na tentativa de evitar que ladrões de fardamento pudessem ficar impunes.

Não havia alternativa: Cunha Matos deveria ser punido, pois manifestara-se pela imprensa, o que era proibido. Desnecessário dizer que o Exército levantou-se em defesa de Cunha Matos, o que tornou mais fácil ainda a difusão das idéias republicanas entre os militares.

Silva Jardim, republicano radical, afirmou na época: “Estou convicto de que a monarquia não tem defensores, a não ser os membros da família real”.

SEM BASE DE SUSTENTAÇÃO SOCIAL, O IMPÉRIO CAI

O golpe de 15 de novembro de 1889 não foi mais do que o epílogo de um processo natural de desgaste econômico, político e social. Embora a tranquilidade política persista (o que significa dizer que os setores populares permanecem fora do cenário), os atores da nova cena econômica e social estão cada vez mais convencidos da necessidade de se substituir as instituições imperiais.

Onde estão os que apoiavam o Império? Qual é o ânimo dos senhores de terras nordestinos, empedernidos escravocratas? Esta parcela da aristocracia rural, apesar de ser beneficiada com a manutenção do “voto mandioca” e da vitaliciedade no Senado, sentiu-se traída pela abolição da escravatura.

Um de seus mais importantes representantes, João Maurício Wanderley (Barão de Cotegipe), ao cumprimentar protocolarmente a Princesa Isabel, quando esta acabou de assinar a Lei Áurea, foi provocado por ela:

-“ Então, meu caro Barão, ganhei ou não a parada? Consegui, como desejava, redimir uma raça”.
O Barão de Cotegipe limitou-se a dizer:
– “A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono”.

D. Pedro II perdera o apoio dos grandes fazendeiros conservadores, quando permitiu a abolição da escravidão; tornou-se inimigo das classes urbanas por ter sido extremamente lento em promover mudanças políticas que acomodassem os novos grupos econômicos emergentes, que viviam nas cidades; não deu aos cafeicultores uma maior autonomia provincial, o que os fez desacreditar na monarquia. O império não foi derrubado, caiu.

Os grupos de elite não precisaram romper a tranquilidade política, não sentiram a necessidade de trazer segmentos populares para as ruas, não precisaram do apoio dos humildes para proclamar a República. Após um baile tão luxuoso quanto melancólico, na Ilha Fiscal, uma quartelada que mais parecia um desfile militar encerrou o período imperial.

Um viajante francês, Max Leclerc, sintetizou os acontecimentos de maneira precisa:

“A revolução está terminada e ninguém parece discuti- la: mas acontece que os que fizeram a revolução não tinham de modo algum a intenção de fazê-la e há atualmente na América um presidente da república à força. Deodoro desejava apenas derrubar um ministério hostil. Era contra Ouro Preto e não contra a Monarquia. A Monarquia caíra. Colheram- na sem esforço, como um fruto maduro. O edifício imperial, mal construído, edificado para outros tempos e outros destinos, já não bastava às necessidades dos novos tempos.”

Parece exagero do francês, mas não era: o Império, que impôs o silêncio de cemitério ao país, morreu sem emitir qualquer gemido ou protesto. E praticamente ninguém lamentou o seu passamento.

Fonte: www.slideshare.net/www.marcillio.com/www.encyclopedia.com/psiquecienciaevida.uol.com.br(Ney vilela)

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