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Um dos movimentos de contestação ocorridos nos primeiros anos da República brasileira mais conhecidos da nossa população foi a Guerra de Canudos (1896-1897). Muito do que se sabe sobre o conflito de Canudos é graças ao que está relatado no livro “Os Sertões” de Euclides da Cunha, obra resultado de uma série de artigos que Cunha escreveu como correspondente do jornal “O Estado de São Paulo”.
Mas, o que foi esse movimento?
Logo após a instauração da República no Brasil em 1889, havia um forte temor dos republicanos quanto a instabilidade desse novo regime de governo. Muito preocupado com os interesses das elites, em especial das oligarquias que vinham ganhando cada vez mais força, o regime Republicano brasileiro deixava à míngua a população, em especial nas regiões menos prósperas do país, como as regiões norte e nordeste.
Mapa com a localização de Canudos.
Foi neste contexto que surgiu Canudos, um movimento popular de forte caráter religioso no interior da Bahia. Havia uma grave crise econômica na região agravada pela forte concentração de terras nas mãos de alguns poderosos, muitas dessas improdutivas. Somando-se a estes fatores, os longos períodos de seca e religiosidade dessas populações, que buscavam respostas na fé para seus problemas de subsistência, vinham trazer o elemento solidificador do movimento Canudos.
A aguda exclusão social da região nordeste uniu esse grupo de miseráveis, que se deslocaram para uma região mais isolada do nordeste, tendo à frente de suas atividades o Antônio Conselheiro, líder carismático, cuja biografia pessoal gera controvérsias até hoje. Este possuía forte influência sob seus seguidores, que lhe atribuíam um caráter divino, elevando o movimento ao patamar de messiânico, assim como outro movimento brasileiro, o Contestado.
Além do descontentamento das elites do nordeste para com a existência desse movimento, uma vez que os populares deixavam cada vez mais as áreas de influência das oligarquias nordestinas, Canudos desagradou também a Igreja católica, que perdia sua influência na região justamente no momento em que se discutia no Brasil a separação entre Estado e Igreja. Por fim, havia ainda a Imprensa, que, ao olhar o movimento de longe, o interpretava erroneamente como um reduto de monarquistas. Em comum, esses três grupos viam com ressalvas o movimento porque enxergavam traços de um “ensaio de autonomia” popular em Canudos,o que ameaçava o prestígio e influência desses grupos de poder.
Comparação ente uma representação de Canudos e uma imagem real do local.
Começava-se, então, uma forte campanha de mobilização da opinião pública contra Canudos, justificando assim medidas governamentais de intervenção. Tropas do Exército foram acionadas a fim de debandar os “insurrectos”, tendo sido necessárias quatro violentas incursões contra Canudos para que ocorresse a destruição do local. As sucessivas derrotas das tropas nacionais somando-se à imagem de “monarquistas terríveis” que ameaçavam a unidade nacional e favoreciam as potências estrangeiras, assustava a população brasileira, em especial a capital, à época o Rio de Janeiro.
Houve o massacre de toda a população de Canudos, local onde as casas foram destruídas e queimadas. As tropas oficiais, formadas por 12 mil soldados, contabilizaram 5.200 casebres (casas muito pobres) em Canudos, que abrigavam, aproximadamente 25 mil pessoas, segundo estimativas.
Imagens de alguns populares que se encontravam em Canudos.
Canudos ficaria marcado para sempre na História nacional como um episódio dos mais tristes da nossa História, ainda hoje eternizado pela famosa passagem de Euclides da Cunha:
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.”
Vinicius Carlos da Silva
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