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Saci-pererê – História
Com certeza uma das lendas mais famosas do Brasil, Saci-pererê é um negão perneta de boné vermelho e cachimbo, está sempre pregando peças e pode virar um redemoinho, mas pode-se pegá-lo com uma peneira e uma garrafa.
A lenda é uma importação portuguesa que se misturou com outra lenda dos índios Tupinambás, a de Matinta Perera, que era uma ave de vida misteriosa, e é difícil determinar de onde vem o apito.
Com o passar do tempo o pássaro virou um menino preto, e nasceu o Saci-pererê.
O Saci pode ter sido criado para explicar as formações de pequenos redemoinhos que nossos ancestrais não conseguiam compreender.
O Saci-pererê é um poderoso espírito trapaceiro que tem prazer em causar problemas para aqueles infelizes o suficiente para cruzar seu caminho.
A trapaça de que o Saci é capaz é entorpecer as agulhas das costureiras, lançar várias maldições a objetos e pessoas, perturbar a vida animal dentro da comunidade e fazer com que o leite azede e os ovos se tornem incapazes de quebrar.
O Saci-pererê é conhecido por ser um metamorfo, e diz-se que assume a forma de uma Matinta Pereira, uma raça de pássaro que diz cantar canções melancólicas.
Seu chapéu é um dispositivo mágico, permitindo que o Saci desapareça, reapareça e se torne invisível à vontade (embora, seu chapéu, mesmo invisível, pareça permanecer visível).
Diz-se também que carrega um odor desagradável, e aqueles que o tocarem ou o pegarão nunca serão capazes de remover o fedor de sua pessoa.
A desvantagem é que ele pode conceder um desejo para a pessoa ao pegar o chapéu.
Ele é um espírito muito fácil de detectar, devido à sua aparência. O Saci é descrito como um jovem de pele escura com um chapéu vermelho na cabeça, um cachimbo na boca, buracos nas palmas das mãos e um único e grande pé no qual ele pula.
Saci-pererê – Origem
Alguns afirmam que o mito do Saci se originou na Europa do século 13, mas é mais provável que seja do Yacy-yaterê da mitologia tupi-guarani, uma criança mágica de uma perna só com cabelos ruivos que enfeitiçou as pessoas e quebrou o silêncio da floresta com seus altos gritos e assobios. No século XVIII, escravos africanos eram trazidos em grande número para o Brasil, e contavam histórias do Saci para divertir e assustar as crianças. Ao longo de várias histórias contadas, muito provavelmente o cabelo ruivo dessa criatura se tornou um gorro vermelho, sua pele ficou preta e ele passou a estar sempre fumando seu cachimbo. Seu nome se transformou em várias formas, como Saci Taperê e Sá Pereira (um nome português comum), e eventualmente Saci-pererê.
O Saci-pererê também pode ter sido afetado pelo folclore cristão do diabo, pois dizia-se que ele fugia das cruzes, deixando para trás um cheiro sulfuroso.
Saci-pererê – Lenda
Saci-pererê
A lenda do Saci-pererê data do fim do século XVIII. Durante a escravidão, as amas-secas e os caboclos-velhos assustavam as crianças com os relatos das travessuras dele.
Seu nome no Brasil é de origem Tupi Guarani.
Em muitas regiões, o Saci é considerado um ser brincalhão enquanto que em outros lugares ele é visto como um ser maligno.
É uma criança, um negrinho de uma perna só que fuma um cachimbo e usa na cabeça uma carapuça vermelha que lhe dá poderes mágicos, como o de desaparecer e aparecer onde quiser.
Existem três tipos de Sacis: O Pererê, que é pretinho, O Trique, moreno e brincalhão e o Saçurá, que tem olhos vermelhos. Ele também se transforma numa ave chamada Matiaperê, cujo assobio melancólico dificilmente se sabe de onde vem.
Ele adora fazer pequenas travessuras, como esconder brinquedos, soltar animais dos currais, derramar sal nas cozinhas, fazer tranças nas crinas dos cavalos, etc.
Diz a crença popular que dentro de todo redemoinho de vento existe um Saci. Ele não atravessa córregos nem riachos. Alguém perseguido por ele deve jogar cordas com nós em seu caminho, porque ele vai parar para desatar os nós, deixando a pessoa fugir. Diz a lenda que, se alguém jogar dentro do redemoinho um rosário de mato bento ou uma peneira pode capturá-lo, e se conseguir sua carapuça, será recompensado com a realização de um desejo.
Origem: Século XVIII em Portugal, depois Minas e São Paulo.
Você sabia que existem três tipos de Sacis?
O Saci-pererê, que é pretinho, o Trique, moreno e brincalhão e o Saçurá, que tem olhos vermelhos. Ele adora fazer pequenas travessuras, como esconder brinquedos, soltar animais dos currais, derramar sal nas cozinhas, cuspir em panelas, fazer tranças nas crinas dos cavalos, etc. Assombra caçadores e viajantes dando-lhes assobios finos aos ouvidos.
Diz a crença popular que dentro de todo redemoinho de vento existe um Saci. Ele não atravessa córregos nem riachos. Alguém perseguido por ele deve jogar cordas com nós em seu caminho, porque ele vai parar para desatar os nós, deixando a pessoa fugir. Diz a lenda que, se alguém jogar dentro do redemoinho um rosário de mato bento ou uma peneira pode capturá-lo, e se conseguir sua carapuça, será recompensado com a realização de um desejo.
Saci-pererê – Folclore
Pretinho arteiro, de olhos carburantes e barrete de rubra cor à cabeça, traquinando e assobiando pelas estradas em horas-mortas, a pelear, maldosamente, com suas travessuras, os animais e a trançar-lhes as crinas.
Com efeito, o viajante que, no sertão, ao cair da tarde, cochilando o seu cansaço, as pernas lassas, caídas sobre as espendas da sela, busca o pouso para descansar os membros doridos da jornada, ao encilhar a montaria, na manhã seguinte, para seguir viagem, encontrará muitas vezes, a crina do animal emaranhadamente trançada.
Atribuirá por certo às artes do Saci, sem indagar de uma pequenina ave do sertão que revela o curioso característico de, em procurando no dorso dos animais a alimentação que lhe é cara, carrapatos e outros parasitas, nunca deixam sem antes trançá-las com o bico sedenho.
Os redemoinhos, fenômenos produzidos por desequilíbrio das atmosferas, verdadeiras trombas aéreas que se formam vertiginosamente em espiral, carregando folhas secas, gravetos e areia em suas passagens, esses fenômenos consoante à crença entre os caipiras, são produzidos pelo Saci, e se algum dotado de verdadeira fé, lançar sobre a tromba um rosário de capim, aprisioná-lo-á, por certo, e se conseguir o barrete, terá em prêmio a ventura que aspirar.
Saci-pererê
VARIANTE 1
“Esta entidade matreira, traquina e das mais conhecidas é também objeto de incontáveis e controvertidas interpretações, tendo atravessado uma sucessão de metamorfoses, sob a influência mística e supersticiosa de índios (o nome é de origem tupi-guarani), negros, brancos e mestiços.
Enredado em diversas lendas, em alguns rincões é uma assombração tenebrosa, um eufemismo do capeta, ou ainda um ser simpático e graciosamente assustador
– terrisível; em outros, tem uma imagem de benfeitor – o Negrinho do Pastoreio, que encontra objetos perdidos.
O Saci é apresentado até como filho do Curupira, numa fantástica concepção que, de alguma forma, pode até adquirir certa coerência se tomarmos as variantes em que o Curupira e o Caipora são seres distintos, sendo o segundo, numa delas, uma mulher unípede que anda aos saltos.
De acordo com a configuração mais popular, o Saci-Pererê é representado por um negrinho de uma perna só que usa carapuça vermelha cujo poder mágico lhe confere a prerrogativa de ficar invisível e de aparecer e desaparecer como fumaça.
Ele se faz anunciar por um assobio estridente e adora fumar, aliás essa é uma forte característica do Saci, visto que é difícil imaginá-lo sem seu cachimbo.
Ah!!, e o Saci também é daqueles fumantes que nunca trazem consigo fósforos ou isqueiros e, por isso, sempre aterroriza os viajantes pedindo-lhes fogo.”
VARIANTE 2
O Saci é uma entidade muito popular no folclore Brasileiro. No fim do século XVIII já se falava dele entre os negros, mestiços e Tupis-guarani, de onde se origina seu nome.
Em muitas regiões do Brasil, o Saci é considerado um ser muito brincalhão, que esconde objetos da casa, assusta animais, assovia no ouvido das pessoas, desarruma cozinhas; enquanto que em outros lugares ele é visto como uma figura maléfica.
É um negrinho de uma perna só que fuma um cachimbo e usa na cabeça uma carapuça vermelha que lhe dá poderes mágicos, entre eles, o de aparecer e desaparecer onde desejar.
Tem uma mão furada e gosta de jogar objetos pequenos para o alto e deixa-los atravessa-la para pegar com a outra.
Ele costuma assustar viajantes ou caçadores solitários que se aventuram por lugares ermos nos sertões ou matas, com um arrepiante assovio no ouvido, para em seguida aparecer numa nuvem de fumaça pedindo fogo para seu cachimbo.
Ele gosta de esconder brinquedos de crianças, soltar animais dos currais, derramar sal que encontra nas cozinhas, e em noites de lua, monta um cavalo e sai campo afora em desembalada carreira fazendo grande alvoroço.
Diz a crença popular que dentro dos redemoinhos de vento – fenômeno onde uma coluna de vento rodopia levantando areia e restos de vegetação e sai varrendo tudo que encontra a sua frente – existe um Saci.
Diz ainda a tradição que, se alguém jogar dentro do pequeno ciclone um rosário de mato abençoado, pode captura-lo, e se conseguir sua carapuça, será recompensado com a realização de qualquer desejo.
VARIANTE 3
Molequinho encapetado por arte do diabo, com apenas uma perna. Faz marmotas de toda maneira e diversidade.
Derrama cumbucas de sal, cospe em panelas, esconde brinquedos de crianças, solta animais de curral etc. e tal.
Nas horas altas da noite, monta em cavalo e se larga campo a fora em carreiras desabridas.
Assombra caçadores e viajantes, dando-lhes aqueles assovios finos aos ouvidos.
Sempre fumando em cachimbo e com um barrete vermelho na cabeça.
Tem uma mão furada e gosta de brincar correndo e jogando uma brasa ou qualquer objeto para cima e fazendo-o passar pelo buraco da mão e aparando com a outra.
VARIANTE 4
Moleque negro, de uma perna só, usa barrete vermelho e fuma um pito de barro. Segundo a crendice popular, a sua força está no barrete, quem conseguir apanhar e esconder a carapuça vermelha de um saci, fará dele seu escravo por toda vida.
Espírito brincalhão, pode aparecer em qualquer parte, diverte-se praticando pequenas e inofensivas artes. Não há peraltice que não apronte.
Tem as mãos furadas no centro e seu maior prazer é brincar com uma brasa acesa que faz passar de uma para outra mão pelos furinhos das palmas.
De acordo com a lenda não apenas um, mas vários são os Sacis que habitam as matas, escondem-se durante o dia e à noite reunem-se em bando, para melhor planejarem as artes que farão durante a noite.
Versão de Monteiro Lobato
Tio Barnabé era um negro de mais de oitenta anos que morava no rancho coberto de sapé lá junto da ponte. Pedrinho não disse nada a ninguém e foi vê-lo. Encontrou-o sentado, com o pé direito num toco de pau, à porta de sua casinha, aquentando o sol.
– Tio Barnabé, eu vivo querendo saber duma coisa e ninguém me conta direito. Sobre o saci. Será mesmo que existe saci?
O negro deu uma risada gostosa e, depois de encher de fumo picado o velho pito, começou a falar:
– Pois, seu Pedrinho, saci é uma coisa que eu juro que exéste. Gente da cidade não acredita – mas exéste. A primeira vez que vi saci eu tinha assim a sua idade. Isso foi no tempo da escravidão, na fazenda do Passo Fundo, do defunto major Teotônio, pai desse coronel Teodorico, compadre de sua avó dona Benta. Foi lá que vi o primeiro saci. Depois disso, quantos e quantos!…
– Conte, então, direitinho, o que é saci. Bem tia Nastácia me disse que o senhor sabia, que o senhor sabe tudo…
– Como não hei de saber tudo, menino, se já tenho mais de oitenta anos? Quem muito véve muito sabe…
– Então conte. Que é, afinal de contas, o tal saci? E o negro contou tudo direitinho.
– O saci – começou ele – é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte e atropelando quanta criatura existe. Traz sempre na boca um pitinho aceso, e na cabeça uma carapuça vermelha. A força dele está na carapuça, como a força de Sansão estava nos cabelos.
Quem consegue tomar e esconder a carapuça de um saci fica por toda a vida senhor de um pequeno escravo.
– Mas que reinações ele faz? – indagou o menino.
– Quantas pode – respondeu o negro.
– Azeda o leite, quebra a ponta das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos. Bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. Quando encontra um prego, vira ele de ponta pra riba para que espete o pé do primeiro que passa. Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça. Disse Tio Barnabé.
– E a gente consegue ver o saci?
– Como não? Eu, por exemplo, ja vi muitos. Ainda no mês passado andou por aqui um saci mexendo comigo – por sinal lhe dei uma lição de mestre…- Como foi? Conte…Tio Barnabé contou.
– Tinha anoitecido e eu estava sozinho em casa, rezando minhas rezas. Rezei, e depois me deu vontade de comer pipoca. Fui ali no fumeiro e escolhi uma espiga de milho bem seca. Debulhei o milho numa caçarola, pus a caçarola no fogo e vim para este canto pitar fumo pro pito. Nisto ouvi no terreiro um barulhinho que não me engana. “Vai ver que é saci!” – pensei comigo. E era mesmo.
Dali a pouco um saci preto que nem carvão, de carapuça vermelha e pitinho na boca, apareceu na janela. Eu imediatamente me encolhi no meu canto e fingi que estava dormindo.
Ele espiou de um lado e de outro e por fim pulou pra dentro. Veio vindo, chegou pertinho de mim, escutou os meus roncos e convenceu-se de que eu estava mesmo dormindo.
Então começou a reinar na casa. Remexeu tudo, que nem mulher velha, sempre farejando o ar com o seu narizinho muito aceso. Nisto o milho começou a chiar na caçarola e ele dirigiu-se para o fogão.
Ficou de cócoras no cabo da caçarola, fazendo micagens. Estava “rezando” o milho, como se diz. E adeus pipoca! Cada grão que o saci reza não rebenta mais, vira piruá.
– Dali saiu para bulir numa ninhada de ovos que a minha carijó calçuda estava chocando num balaio velho, naquele canto. A pobre galinha quase que morreu de susto. Fez cró, cró, cró… e voou do ninho feito uma louca, mais arrepiada que um ouriço-cacheiro.
Resultado: o saci rezou os ovos e todos goraram.
– Em seguida pôs-se a procurar o meu pito de barro. Achou o pito naquela mesa, pôs uma brasinha dentro e paque, paque, paque… tirou justamente sete fumaçadas. O saci gosta muito do número sete.
– Eu disse cá comigo: “Deixe estar, coisa-ruinzinho, que eu ainda apronto uma boa para você. Você há de voltar outro dia e eu te curo”.
– E assim aconteceu. Depois de muito virar e mexer, o sacizinho foi embora e eu fiquei armando o meu plano para assim que ele voltasse.
– E voltou? – inquiriu Pedrinho.
– Como não? Na sexta-feira seguinte apareceu aqui outra vez às mesmas horas. Espiou da janela, ouviu os meus roncos fingidos, pulou para dentro. Remexeu em tudo, como da primeira vez, e depois foi atrás do pito que eu tinha guardado no mesmo lugar. Pôs o pito na boca e foi ao fogão buscar uma brasinha, que trouxe dançando nas mãos.
– É verdade que ele tem as mãos furadas?
– É, sim. Tem as mãos furadinhas bem no centro da palma; quando carrega brasa, vem brincando com ela, fazendo ela passar de uma para o outra mão pelo furo. Trouxe a brasa, pôs a brasa no pito e sentou-se de pernas cruzadas para fumar com todo o seu sossego.
– Como? – exclamou Pedrinho arregalando os olhos.
– Como cruzou as pernas, se saci tem uma perna só?
– Ah, menino, mecê não imagina como saci é arteiro… Tem uma perna só, sim, mas quando quer cruza as pernas como se tivesse duas! São coisas que só ele entende e ninguém pode explicar. Cruzou as pernas e começou a tirar umas baforadas, uma atrás da outra, muito satisfeito da vida. Mas de repente, puf! aquele estouro e aquela fumaceira!… O saci deu tamanho pinote que foi parar lá longe, e saiu ventando pela janela fora.Pedrinho fez cara de quem não entende.
– Mas que puf foi esse? – perguntou.
– Não estou entendendo… É que eu tinha socado pólvora no fundo do pito – exclamou Tio Barnabé, dando uma risada gostosa.
– A pólvora explodiu justamente quando ele estava tirando a fumaçada número sete, e o saci, com a cara toda sapecada, raspou-se para nunca mais voltar.
– Que pena! – exclamou Pedrinho. – Tanta vontade que eu tinha de conhecer esse saci…
– Mas não há um só saci no mundo, menino. Esse lá se foi e nunca mais aparece por estas bandas, mas quantos outros não andam por aí? Ainda na semana passada apareceu um no pasto do seu Quincas Teixeira. E chupou o sangue daquela égua baia que tem uma estrela na testa.
– Como é que ele chupa o sangue dos animais?
– Muito bem. Faz um estribo na crina, isto é, dá uma laçada na crina do animal de modo que possa enfiar o pé e manter-se em posição de ferrar os dentes numa das veias do pescoço e chupar o sangue, como fazem os morcegos. O pobre animal assusta-se e sai pelos campos na disparada, correndo até não poder mais. O único meio de evitar isso é botar bentinho no pescoço dos animais.
– Bentinho é bom?
– É um porrete. Dando com cruz ou bentinho pela frente, saci fede enxofre e foge com botas-de-sete-léguas.
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Não impressionado ficou Pedrinho com esta conversa que dali por diante só pensava em saci, e até começou a enxergar saci por toda parte.
Dona Benta caçoou, dizendo:
– Cuidado! Já vi contar a história de um menino que de tanto pensar em saci acabou virando saci… Pedrinho não fez caso da história, e um dia, enchendo-se de coragem, resolveu pegar um. Foi de novo em procura do tio Barnabé.
– Estou resolvido a pegar um saci – disse ele – e quero que o senhor me ensine o melhor meio. Tio Barnabé riu-se daquela valentia.
– Gosto de ver um menino assim. Bem mostra que é neto do defunto sinhô velho, um homem que não tinha medo nem de mula-sem-cabeça. Há muitos jeitos de pegar saci, mas o melhor é o de peneira. Arranja-se uma peneira de cruzeta…
– Peneira de cruzeta? – interrompeu o menino – Que é isso?
– Nunca reparou que certas peneiras têm duas taquaras mais largas que se cruzam bem no meio e servem para reforço? Olhe aqui – e tio Barnabé mostrou ao menino uma das tais peneiras que estava ali num canto. – Pois bem, arranja-se uma peneira destas e fica-se esperando um dia de vento bem forte, em que haja rodamoinho de poeira e folhas secas. Chegada essa ocasião, vai-se com todo o cuidado para o rodamoinho e zás! – joga-se a peneira em cima. Em todos os rodamoinhos há saci dentro, porque fazer rodamoinhos é justamente a principal ocupação dos sacis neste mundo.
– E depois?
– Depois, se a peneira foi bem atirada e o saci ficou preso, é só dar um jeito de botar ele dentro de uma garrafa e arrolhar muito bem. Não esquecer de riscar uma cruzinha na rolha, porque o que prende o saci na garrafa não é a rolha e sim a cruzinha riscada nela. É preciso ainda tomar a carapucinha dele e a esconder bem escondida. Saci sem carapuça é como cachimbo sem fumo. Eu já tive um saci na garrafa, que me prestava muitos bons serviços. Mas veio aqui um dia aquela mulatinha sapeca que mora na casa do compadre Bastião e tanto lidou com a garrafa que a quebrou. Bateu logo um cheirinho de enxofre. O perneta pulou em cima da sua carapuça, que estava ali naquele prego, e “até logo, tio Barnabé!”
Depois de tudo ouvir com a maior atenção, Pedrinho voltou para casa decidido a pegar um saci, custasse o que custasse. Contou o seu projeto a Narizinho e longamente discutiu com ela sobre o que faria no caso de escravizar um daqueles terríveis capetinhas. Depois de arranjar uma boa peneira de cruzeta, ficou à espera do dia de São Bartolomeu, que é o mais ventoso do ano.
Custou a chegar esse dia, tal era a sua impaciência, mas afinal chegou, e desde muito cedo, Pedrinho foi postar-se no terreiro, de peneira em punho, à espera de rodamoinhos. Não esperou muito tempo. Um forte rodamoinho formou-se no pasto e veio caminhando para o terreiro.
– É hora! – disse Narizinho. – Aquele que vem vindo está com muito jeito de ter saci dentro.Pedrinho foi se aproximando pé ante pé e de repente, zás! – jogou a peneira em cima.
– Peguei! – gritou no auge da emoção, debruçando-se com todo o peso do corpo sobre a peneira emborcada.
– Peguei o saci!…A menina correu a ajudá-lo.
– Peguei o saci! – repetiu o menino vitoriosamente.
– Corra, Narizinho, e traga-me aquela garrafa escura que deixei na varanda. Depressa! A menina foi num pé e voltou noutro.
– Enfie a garrafa dentro da peneira – ordenou Pedrinho – enquanto eu cerco os lados. Assim! Isso!…
A menina fez como ele mandava e com muito jeito a garrafa foi introduzida dentro da peneira.
– Agora tire do meu bolso a rolha que tem uma cruz riscada em cima – continuou Pedrinho. – Essa mesma. Dê cá.
Pela informação do tio Barnabé, logo que a gente põe a garrafa dentro da peneira o saci por si mesmo entra dentro dela, porque, como todos os filhos das trevas, tem a tendência de procurar sempre o lado mais escuro.
De modo que Pedrinho o mais que tinha a fazer era arrolhar a garrafa e erguer a peneira. Assim fez, e foi com o ar de vitória de quem houvesse conquistado um império que levantou no ar a garrafa para examiná-la contra a luz.
Mas a garrafa estava tão vazia como antes. Nem sombra do saci dentro…A menina deu-lhe uma vaia e Pedrinho, muito desapontado, foi contar o caso ao tio Barnabé.
– É assim mesmo – explicou o negro velho. – Saci na garrafa é invisível. A gente só sabe que ele está lá dentro quando a gente cai na modorra. Num dia bem quente, quando os olhos da gente começam a piscar de sono, o saci pega a tomar forma, até que fica perfeitamente visível. É desse momento em diante que a gente faz dele o que quer. Guarde a garrafa bem fechada, que garanto que o saci está dentro dela. Pedrinho voltou para casa orgulhosíssimo com a sua façanha.
– O saci está aqui dentro, sim – disse ele a Narizinho. – Mas está invisível, como me explicou tio Barnabé. Para a gente ver o capetinha é preciso cair na modorra – e repetiu as palavras que o negro lhe dissera.Quem não gostou da brincadeira foi a pobre tia Nastácia. Como tinha um medo horrível de tudo quanto era mistério, nunca mais chegou nem na porta do quarto de Pedrinho.
– Deus me livre de entrar num quarto onde há garrafa de saci dentro! Credo! Nem sei como dona Benta consente semelhante coisa em sua casa. Não parece ato de cristão…
Versão de Regina Lacerda
Por aquele tempo o saci andava desesperado. Tinham-lhe surrupiado a cabaça de mandinga. O moleque, extremamente irritado, vagueava pelos fundões de Goiás.
Pai Zé, saindo um dia à cata dumas raízes de mandioca castela que Sinhá-dona lhe pedira, topou com ele nos grotões da roça.
O preto, abandonando a enxada e de queixo caído, olhava pasmado o negrinho que lhe fazia caretas e trejeitos, a saltar no seu único pé, e fungando terrivelmente.
– Vancê quer alguma coisa? – perguntou pai Zé admirado, vendo agora o moleque rodopiar como o pião de ioiô.
– Olha negro, – respondeu o saci,
– vancê gosta de sá Quirina, aquela mulata de sustância: pois eu lhe dou a mandinga com que ela há de ficar enrabichada, se vancê me arranjá uma cabaça que perdi.
Pai Zé, louco de contentamento, prometeu. A cabaça, ele sabia-o, fora amoitada pelo Benedito Galego, um caboclo sacudido que, cansado das malandrices do moleque, a tinha roubado das grimpas do jatobá grande, lá nas roças do ribeirão.
Pai Zé fora uns do que o tinham aconselhado, para obstar que o saci, como era de sue costume quando incomodado, tornasse a levantar as árvores da derrubada que o Benedito fizera nessas terras.
Arrastando as alpercatas de couro cru pelas terras de sô feitor, pai Zé capengava satisfeito e inchado com a promessa do Saci.
Desde Santo Antônio que ele rondava sá Quirina, procurando sempre ocasião de lhe mostrar que apesar dos seus sessenta e cinco anos e meio, um olho de menos e falta de dente na boca, não era negro para se desprezar assim por um canto, não, que sustância ainda ele ainda tinha no peito para agüentar com a mulata e mais a trouxa de sá Quitéria, sua mulher, se ele tinha!
Mas a cafuza era dura de gente convencer. Toda a eloqüência que ele penosamente engendrara em seu bestunto de africano e que lhe tinha despejado pela festa de São Pedro, não teve outro resultado senão a fuga da roxa quando o encontrava.
Mas agora, gaguejava o preto, eu lhe amostro, – que o saci é mesmo bicho bom pra deitar um feitiço.
Com a rica dádiva dum quartilho de cachaça e meia-mão do seu fumo pixuá, pai Zé alcançou do galego a cabaça desejada.
Sá Quitéria, porém, não via com bons olhos o afã de seu velho pela posse da milonga. E ela também deitar quebrando, se sabia!
– Perguntassem a bruxa de nhá Benta, que desde as vésperas de reis estava entrevada na trempe do jirau e não era zarolho e cambaio do seu homem que a enganasse.
Por isso a velha ciumenta estava de tocaia, desejosa por saber de seu intento. Lá ia pai Zé, arrastando novamente as alpercatas de couro cru pelas terras de sô feitor, à entrevista do saci. Atrás dele, sorrateira, lá ia também sá Quitéria.
O negro chegou aos grotões e chamou pelo saci, que de pronto apareceu.
-Toma lá a sua cabaça de mandinga, seu saci, e dá-me cá o feitiço pra sá Quirina.
O moleque desbarretou-se, tirou uma pitada grossa da cumbuca, fungou, e entregando o resto a pai Zé, disse: “Dá-lhe a cheirar esta pitada, que a crioula é sua escrava”.
E desapareceu, fungando, pulando no seu único pé, nos grotões e covoadas da roça.
“Ah, negro velho dos infernos, que conheci a tua tramóia”, gritou sá Quitéria furiosa, saindo do bambuzal e segurando-o pelo papo.
E, na luta do casal, lá se foi o feitiço que o pobre pai Zé adquirira com o sacrifício dum quartilho de cachaça, e a meia mão do seu bom fumo pixuá.
Desde então, nunca mais houve paz no casal, que se devorava às pancadas; e pai Zé arrenegava sem descanso o maldito que introduzira a discórdia no seu rancho.
Porque, o ioiô, concluiu o preto velho que me contava essa história, a todo aquele que viu e falou com o saci, acontece sempre uma desgraça.
Fonte: www.boredpanda.com/mythus-fandom-com/educaterra.terra.com.br/ifolclore.vilabol.uol.com.br
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