O que é existencialismo?
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Em O Existencialismo é um Humanismo, obra de 1946, temos um panorama do pensamento filosófico existencialista sartreano, não à toa a obra fora considerada por muitos estudiosos como uma espécie de “quase-manifesto” ao movimento existencialista, rendendo-lhe o título de “pai” da filosofia existencialista.
Dentre os principais representantes do existencialismo, cumpre citar: Soren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche, Gabriel Marcel, Martin Heidegger, Husserl, Karl Jaspers, Merleau-Ponty, Albert Camus, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, a expressão mais consagrada do movimento que, em linhas gerais, apregoa a indeterminação da existência humana tornada imprecisa, incerta, um eterno por fazer.
São temas constantes no Existencialismo, de acordo Reynolds: a liberdade, a morte, a finitude, a angústia, o tédio, a autenticidade e responsabilidade, certo pessimismo sobre as relações humanas (exceção para Gabriel Marcel que apresenta maior otimismo se comparado aos principais nomes do existencialismo), moderada crítica ao cientificismo e rejeição de qualquer determinismo moral, existencial.
Reynolds chama atenção para o fato de que o vocábulo “existencialista” embora seja largamente utilizado para referir-se a filósofos como Sartre e Heidegger o termo foi cunhado por Gabriel Marcel em referência aos filósofos citados, ainda que alguns deles como Heidegger chegou a recusar veementemente o rótulo de existencialista.
A existência precede a essência
Essa clássica frase de Sartre sintetiza brilhantemente o movimento filosófico e literário denominado existencialismo. Ao afirmar que “a existência precede a essência”, o filósofo francês sinaliza que a existência humana precede qualquer finalidade, objetivo ou essência. Reynolds, sintetiza nos seguintes termos: “Para Sartre, a existência humana precede a essência, ou seja, primeiro existimos e só então definimos nossa essência pelo modo como vivemos“.
Desse modo, ao construir sua essência e sua identidade, o homem constrói-se a si mesmo, ausente de uma natureza, alma, ou essência pré-existentes que norteiam os rumos de sua existência. No limite, isso inviabiliza qualquer concepção determinista de um futuro previamente traçado, arquitetado por um Deus ou qualquer condicionante externo ao indivíduo.
Embora o ateísmo não seja pré requisito para o Existencialismo (Kierkegaard, Jaspers e Gabriel Marcel são filósofos cristãos existencialistas), quando levado às últimas proporções o Existencialismo acaba por conduzir a um certo ateísmo negando a existência de um Deus ordenador, causador da harmonia cósmica, criador da natureza humana. Todavia, como bem pontua Reynolds, em razão de o existencialismo não ter pretensões metafísicas também não é sua pretensão provar ou refutar Deus.
Sob a perspectiva do existencialismo ateísta, sem um Deus a quem responsabilizar, o homem torna-se plenamente responsável por sua existência. Disso nasce a mais profunda angústia que de acordo com Heidegger é resultado do medo de assumir a própria existência em sua plenitude, bem como responsabilizar-se absolutamente por suas escolhas.
Existencialismo e Liberdade
Sartre atribui à existência humana, conforme pontua Reynolds, uma espécie de “liberdade ontológica” irredutível e absoluta. Nesse sentido, é clássica a sua afirmação de que a humanidade está condenada a ser livre. Num primeiro momento essa afirmação pode soar um tanto quanto contraditória, mas a intenção do filósofo é, antes, sinalizar seja qual for a circunstância à qual estivermos submetidos sempre estará diante de nós a possibilidade de se rebelar, questionar as ordens dadas, ainda que esse questionamento venha a custar a nossa vida e a de nossos entes queridos.
Nesse sentido, até mesmo homens obrigados a participar de uma guerra seriam plenamente responsáveis por todas as mortes que ele viesse a causar, pois, em última instância, houve poder de escolha. Esses homens poderiam escolher se rebelar contra o Estado, optar por morrer ao invés de cumprir com a exigência estatal.
Para Sartre a nossa liberdade é sempre irredutível e absoluta e constitutiva da existência humana tanto na afirmação quanto na negação de nossa facticidade (fatos e histórias pessoais). No limite, ao entender a liberdade como condenação, Sartre sinaliza que precisamos parar de usar a nossa constituição biológica, as condições sociais e políticas, ou qualquer outra razão para justificar os nossos comportamentos e assim fugir da responsabilidade que é só nossa. Dito de outra forma é um convite à ampla e irrestrita responsabilidade humana pelos seus próprios atos, escolhas.
Dicas de Obras Existenciais
- O Segundo Sexo – Simone de Beauvoir.
- A Náusea – Jean-Paul Sartre.
- O Estrangeiro – Albert Camus.
- Mito de Sísifo- Albert Camus.
Fábio Guimarães de Castro
Referências Bibliográficas
FLYNN, Thomas. Jean-Paul Sartre. Investigação Filosófica, v. 4, n. 2, 2013.
REYNOLDS, Jack. Existencialismo. Trad. Caesar Souza. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
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