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A Apologia de Sócrates é uma obra de Platão (428-348 a.C.) em que o filósofo grego relata o julgamento que terminou na morte de seu mestre Sócrates por ingestão de cicuta (veneno). Nessa obra, tem-se a apresentação do discurso de Sócrates perante o júri ateniense que pretendia condenar o filósofo por impiedade.
Dentre as acusações, mote do julgamento, cumpre citar: o desrespeito às leis da cidade, aos deuses tradicionais e a suposta corrupção da juventude ateniense. É claro o viés político premeditado dessas acusações dirigidas ao filósofo afinal de contas Sócrates incomodou gente muito importante com a aplicação social de seu método conhecido como método socrático.
Na apologia (defesa), Sócrates se recusa a apresentar uma defesa tradicional, isto é, apelativa, emotiva, fortemente enviesada por retórica para simplesmente ser inocentado diante do júri ateniense sob a alegação de não perder a dignidade que lhe resta. E neste ponto, é importante frisar o momento da apologia quando Sócrates mostra que ele foi condenado não por faltar-lhe palavras para conseguir a absolvição, mas por faltar-lhe “cinismo e descaramento” que, somada à “falta de vontade de dizer-lhes as coisas que vocês mais gostariam de ouvir” resultaram na sua condenação e morte.
Neste sentido, mesmo consciente da dificuldade em convencê-los, o filósofo defende com astúcia a liberdade de consciência e de pensamento e o caráter crítico próprio do processo do filosofar que, relacionado à vida, dá-lhe a justificação. Daí a famosa frase: “a vida sem reflexão não vale a pena ser vivida” intimamente ligada não só ao seu percurso filosófico, mas também às suas posições inclusive diante da condenação quando prefere a morte a renegar à sua liberdade de pensamento e expressão.
E é nesse sentido que temos, na obra, a morte retratada como um ganho positivo a ponto de o filósofo afirmar: “É chegado, porém, o momento de partir. Vou morrer e vocês viverão, mas só Deus sabe a quem cabe o melhor quinhão”. O que, noutras palavras, nos impõe o questionamento sobre quem efetivamente teve destino melhor: o filósofo que partiu para uma outra dimensão e assim garantiu a integridade da sua dignidade intelectual e moral ou os seus discípulos que permaneceram, mas sob controle ideológico da sociedade ateniense. A resposta a essa simples pergunta é, sem dúvida, complexa de ser dada e envolve vários fatores internos e externos ao indivíduo, daí a atualidade sempre presente dessa da Apologia de Sócrates.
O leitor mais familiarizado com as obras platônicas, diante da leitura da Apologia de Sócrates, tende a se questionar se o relato que lemos na obra é, de fato, expressão fiel do julgamento e condenação ou uma simples interpretação, dada por Platão ao fato, repleta de insatisfações que contrariavam a sua predileção por seu mestre. Embora insolúvel a questão quanto à obra ter ou não impressões subjetivas de Platão, que excedam o fato do julgamento, um dado é inegável: a obra permanece atual e tem muito a nos ensinar ainda hoje no século XXI.
A tela que ilustra este texto é do pintor francês Jacques-Louis David que representa o momento que antecede ao auto sacrifício de Sócrates pela ingestão da cicuta logo após ser condenado pelo júri ateniense por impiedade. A obra pode ser contemplada presencialmente no Metropolitan Museum of Art em Nova York.
O Julgamento de Sócrates
Fábio Guimarães de Castro
Referências Bibliográficas
ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da Filosofia (vol. I). 8. ed. São Paulo: Paulus, 2007.
MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
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