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Hannah Arendt: A Banalidade do Mal
Quando pensara os regimes totalitários na Europa a filósofa judia, Hannah Arendt, detectar neles algo em comum: a presença do que ela chamou de “banalidade do mal”. Entender conceitualmente o mal banal, a sua aplicabilidade e atualização nos dias de hoje é a intenção deste texto.
Focando o nazismo na Alemanha, a filósofa judia corresponsabiliza os Conselhos Judaicos por terem fornecido aos nazistas listas com dados sigilosos dos judeus: o que teria facilitado o genocídio desse povo nos campos de concentração e extermínio.
Para exemplificar o mal banal, Arendt traz a público o relato do julgamento de Eichmann em Jerusalém, um burocrata nazista encarregado de assinar os documentos que autorizavam o envio de judeus aos campos de concentração e extermínio. Interrogado pelo tribunal sobre a sua culpa referente aos seus atos, Eichmann repetia à exaustão que “apenas cumpria ordens”, pois, em momento algum ele, de forma direta ligara uma câmara de gás ou deixara os condenados passar por situações degradantes de sua condição humana; ele apenas, de forma irrefletida, cumpria o seu papel enquanto funcionário nazista.
Diante dos depoimentos de Eichmann, Arendt percebera que o réu, na condição de burocrata não foi movido pelo “mal radical” kantiano (mal pelo mal), mas a sua atitude má decorrera da falta de pensamento e juízo: o que Hannah Arendt chamou de “banalidade do mal”.
Em outras palavras, o mal banal cometido por Eichmann nada tem a ver com distúrbio moral, intelectual, psicológico ou eugênico, haja vista Eichmann mostrar-se um homem comum, bom cidadão, mas que pela ausência do pensamento tornou-se mal. Nesse sentido, Arendt aponta que o mal banal pode estar muito mais próximo de nosso cotidiano do que podemos supor. Esse mal atinge todo tipo de pessoa e não apenas aos psicopatas ou indivíduos que possuam qualquer desordem mental, intelectual ou moral.
O mal banal se atualiza em todo contexto ou situação em que a burocracia impera sobre os direitos humanos. Onde, em nome do cumprimento de normas sejam elas estatais ou privadas negligenciamos a dignidade humana sob a justificativa de estar obedecendo à lei, tal qual Eichmann alegara durante todo o seu julgamento em Jerusalém. Desse modo, o burocrata nazista, a ver de Arendt, abdicara do pensamento e do julgamento para apenas raciocinar o que o levou a tornar-se mal mesmo sendo um homem bom.
Dica Cultural
O vídeo a seguir fora retirado do filme Hannah Arendt, sob direção de Margarethe Von Trotta, mostra de forma bastante clara aspectos do julgamento de Eichmann em Jerusalém e a interpretação da análise que a filósofa faz do caso e a banalidade do mal.
Referências Bibliográficas
SCHIO, Sônia Maria. Hannah Arendt: o mal banal e o julgar. Veritas, Porto Alegre, v.56, nº 1, p. 127-135, jan./abr. 2011.
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