Raimundo Correia Dos revoltos lençóis sobre o deserto Despejava-se, em ondas silenciosas, O luar dessas noites vaporosas, De seu lânguido cálix todo aberto. Rangia a cama, e deslizavam, perto Alvas, femíneas formas ondulosas; E eu a idear, nas ânsias amorosas, Uns ombros nus, um colo descoberto. E a gemer: — …
Obras Literárias
abril, 2017
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26 abril
Plenilúnio – Raimundo Correia
Raimundo Correia Além nos ares, tremulamente, Que visão branca das nuvens sai! Luz entre as franças, fria e silente; Assim nos ares, tremulamente, Balão aceso subindo vai… Há tantos olhos nela arroubados, No magnetismo do seu fulgor! Lua dos tristes e enamorados, Golfão de cismas fascinador! Astro dos loucos, sol …
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26 abril
Plena Nudez – Raimundo Correia
Raimundo Correia Eu amo os gregos tipos de escultura; Pagãs nuas no mármore entalhadas; Não nessas produções que a estufa escura Das modas cria, tortas e enfezadas. Quero em pleno espendor, viço e frescura Os corpos nus; as linhas onduladas Livres: da carne exuberante e pura Todas as saliências e …
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26 abril
Ondas – Raimundo Correia
Raimundo Correia Ilha de atrozes degredos! Cinge um muro de rochedos Seus flancos. Grosso a espumar Contra a dura penedia, Bate, arrebenta, assobia, Retumba, estrondeia o mar. Em circuito, o Horror impera; No centro, abrindo a cratera Flagrante, arroja um volcão Ígnea blasfêmia às alturas… E, nas ínvias espessuras, Brame …
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26 abril
Ofélia – Raimundo Correia
Raimundo Correia Num recesso da selva ínvia e sombria, Estrelada de flores, vicejante, Onde um rio entre seixos, espumante, Cursando o vale, túrgido, fluía; A coma esparsa, lívido o semblante, Desvairados os olhos, como fria Aparição dos túmulos, um dia Surgiu de Hamlet a lacrimosa amante; Símplices flores o seu …
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26 abril
Ode Parnasiana – Raimundo Correia
Raimundo Correia De cípreo mosto cheia A taça ergui. Cogitabunda Musa, Fuge os pesares. Eia! Desta alma a flama viva afla, e enaltece-a! Insufla-me o estro; e, minha vista ilusa, As prístinas grandezas patenteia Da celebrada Grécia! Musa, a Grécia, como antes Do último heleno, dá que eu sonhe agora! …
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26 abril
O Monge – Raimundo Correia
Raimundo Correia —”O coração da infância”, eu lhe dizia, “É manso.” E ele me disse:—”Essas estradas, Quando, novo Eliseu, as percorria, As crianças lançavam-me pedradas…” Falei-lhe então na glória e na alegria; E ele—alvas barbas longas derramadas No burel negro—o olhar somente erguia Às cérulas regiões ilimitadas… Quando eu, porém, …
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26 abril
O Misantropo – Raimundo Correia
Raimundo Correia A boca, às vezes, o louvor escapa E o pranto aos olhos; mas louvor e pranto Mentem: tapa o louvor a inveja, enquanto O pranto a vesga hipocrisia tapa. Do louvor, com que espanto, sob a capa Vejo tanta dobrez, ludíbrio tanto! E o pranto em olhos vejo, …
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26 abril
Nuvem Branca – Raimundo Correia
Raimundo Correia Dizei-me: é ela a noiva casta e pura, Que no alvor dessa nuvem rutilante, Passa agora? Dizei-me, nesse instante, Turbilhões de translúcida brancura; Colar, broches de pérolas e opalas; Gaza que, em níveos flocos, por formosas, Rijas pomas de mármore, ondulosas Curvas e espáduas de marfim, resvalas… Dizei-me, …
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26 abril
Nua e Crua – Raimundo Correia
Raimundo Correia Doire a Poesia a escura realidade E a mim a encubra! Um visionário ardente Quis vê-la nua um dia; e, ousadamente, Do áureo manto despoja a divindade; O estema da perpétua mocidade Tira-lhe e as galas; e ei-la, de repente, Inteiramente nua e inteiramente Crua, como a Verdade! …
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