Obras Literárias

maio, 2017

  • 18 maio

    Estado da Guanabara

    Vinícius de Moraes Um repórter me telefona, eu ainda meio tonto de sono, para saber se eu achava melhor que o Distrito Federal fosse incorporado ao Estado do Rio, consideradas todas as razões óbvias, ou se preferia sua transformação no novo Estado da Guanabara. Sem hesitação optei pela segunda alternativa, …

  • 18 maio

    Elegia Quase uma Ode

    Vinícius de Moraes Meu sonho, eu te perdi; tornei-me em homem. O verso que mergulha o fundo de minha alma É simples e fatal, mas não traz carícia… Lembra-me de ti, poesia criança, de ti Que te suspendias para o poema como que para um seio no espaço. Levavas em …

  • 18 maio

    Elegia Desesperada

    Vinícius de Moraes Alguém que me falasse do mistério do Amor Na sombra – alguém; alguém que me mentisse Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto morriam As aves do céu! e mais que nunca No fundo da carne o sonho rompeu um claustro frio Onde as lúcidas irmãs na …

  • 17 maio

    A Legião dos Úrias

    Vinícius de Moraes Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo E estão me despertando de noite. Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena Eles são maduros e úmidos e inquietos E sabem tirar a volúpia …

  • 17 maio

    A Hora Íntima

    Vinícius de Moraes UM DIA, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era “a música em forma de mulher”. A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam um mot d’esprit. Pesa-me ponderar que ela não quer …

  • 16 maio

    Esposa

    Vinícius de Moraes Às vezes, nessas noites frias e enevoadas Onde o silêncio nasce dos ruídos monótonos e mansos Essa estranha visão de mulher calma Surgindo do vazio dos meus olhos parados Vem espiar minha imobilidade. E ela fica horas longas, horas silenciosas Somente movendo os olhos serenos no meu …

  • 16 maio

    Escravo

    Vinícius de Moraes J’ai plus de souvenirs que si j’avais mille ans. Baudelaire A grande Morte que cada um traz em si. Rilke Quando a tarde veio o vento veio e eu segui levado como uma folha E aos poucos fui desaparecendo na vegetação alta de antigos campos de batalha …

  • 16 maio

    Escândalo da Rosa

    Vinícius de Moraes Oh rosa que raivosa Assim carmesim Quem te fez zelosa O carme tão ruim? Que anjo ou que pássaro Roubou tua cor Que ventos passaram Sobre o teu pudor Coisa milagrosa De rosa de mate De bom para mim Rosa glamourosa? Oh rosa que escarlate: No mesmo …

  • 16 maio

    Epitáfio

    Vinícius de Moraes Aqui jaz o Sol Que criou a aurora E deu luz ao dia E apascentou a tarde O mágico pastor De mãos luminosas Que fecundou as rosas E as despetalou. Aqui jaz o Sol O andrógino meigo E violento, que Possuiu a forma De todas as mulheres …

  • 16 maio

    Elegia ao Primeiro Amigo

    Vinícius de Moraes Seguramente não sou eu Ou antes: não é o ser que eu sou, sem finalidade e sem história. É antes uma vontade indizível de te falar docemente De te lembrar tanta aventura vivida, tanto meandro de ternura Neste momento de solidão e desmesurado perigo em que me …