24 de Agosto
PUBLICIDADE
Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja – RS, em 1882. Estudou na Escola Militar, mas foi afastado por ter participado de um motim.
Logo depois pediu baixa do Exército e ingressou na Faculdade de Direito de Porto Alegre, formando-se em 1907 e ocupando a segunda promotoria na mesma cidade.
A vida política de Getúlio Vargas começou com a eleição para deputado estadual pelo Partido Republicano Rio-Grandense em 1909, sendo reeleito em 1917 e 1921.
Em 1923, foi eleito deputado federal. Em 1926, Getúlio Vargas abandonou a Câmara dos Deputados para assumir o cargo de ministro da Fazenda do governo Washington Luís, ficando até o ano seguinte, quando concorreu e venceu a eleição para a presidência do Rio Grande do Sul.
Em 1930, como integrante da Aliança Liberal, concorreu à presidência da República e foi derrotado pela chapa situacionista apoiada por Washington Luís. Em outubro do mesmo ano deu um golpe de Estado impedindo a posse dos eleitos, Júlio Prestes e Vital Soares, que ficou conhecido como Revolução de 30.
Assumiu a chefia do governo provisório. Enfrentou, em 1932, a Revolução Constitucionalista de São Paulo. Em 1934, foi eleito indiretamente pelo Congresso Nacional.
Antes de terminar o seu mandato, deu um novo golpe, inaugurando o Estado Novo. Durante esse governo atuou aumentando a centralização do poder, instituiu uma política de intervenção estatal na economia e adotou medidas trabalhistas com a intenção de controlar as organizações operárias.
Em 1945, mesmo tentando permanecer no poder, foi deposto por um golpe militar. Com a redemocratização do país e a elaboração de uma nova constituição, Getúlio ajudou na criação do Partido Social Democrático (PSD) e Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), sendo eleito senador e deputado por vários estados.
A partir daí, iniciou uma campanha de ataques ao seu antigo aliado e presidente da República, Eurico Dutra.
Usando de um discurso nacionalista e populista concorreu à presidência em 1950 e foi eleito, assumindo a presidência no ano seguinte. Implantando sua política nacionalista, Getúlio criou o monopólio do petróleo e da eletricidade e chegou a dar 100% de aumento para o salário dos trabalhadores.
Sofrendo oposição das camadas conservadores da sociedade, Getúlio se viu pressionado a abandonar o cargo. Com o atentado ao jornalista Carlos Lacerda promovido pelo chefe de sua guarda pessoal, Getúlio ficou numa situação insustentável e suicidou-se com um tiro no peito na madrugada de 24 de agosto de 1954.
Fonte: Net História
Falecimento de Getúlio Vargas
24 de Agosto
“Sobre a Nação desce a sombra de uma tragédia. O gesto do Presidente Vargas pondo fim ao seu governo e aos seus dias, estendeu um crepe à consciência dos brasileiros, aos que o assistiram com compreensão, como aos que o combateram até o último momento.
É a primeira vez que a história republicana descreve páginas tão trágicas, pois o homem forte e acostumado às lutas políticas não pôde suportar a agressividade da circunstância e sucumbiu ao peso do desalento.
Todo o drama que o Presidente viveu nesta derradeira fase do governo quebrou sua tempera e, no silêncio de seu gabinete, recordando a fisionomia cheia de interrogações que ele considerava uma injustiça ao homem como ao chefe que encarnava a soberania nacional, o desespero se apoderou do seu coração. (…)
Depois de todas as reuniões realizadas em Palácio, na calada da noite, depois de mirar face a face os seus amigos e auxiliares, vendo neles transparecer o desalento e a desesperança, observando que ja não havia ouvidos que o escutassem, sentiu-se desamparado e sem defesa para afastar o fantasma da suspeita.
Sentindo todo o peso da incompreensão, o chefe do governo teve necessidade de ir buscar fora de léxico o argumento capaz de abrir os ouvidos e aclarar as consciências.
Selou com o sacrifício de sua própria vida o drama com que vinha lutando nos últimos dias, deixando, conforme acreditava, “o legado de sua morte”, para que se pudesse fazer ao morto uma parte da justiça que o povo reclamou. (…)
Todos clamavam por justiça, mas o clima propício à justiça cada vez se tornava mais conturbado. Tragedia atrai tragedia e, nesta hora melancólica que soa para o seu destino, o povo, sem forças para opinar, subjugado pela surpresa do último lance, desfila diante do Chefe morto e, sem se recuperar do espanto, curva-se frente à mágoa que o atingiu nos últimos dias e que fez estalar o seu coração no sacrifício supremo. (…)” Jornal do Brasil, 25 de agosto de 1954.
“De nenhum setor, civil ou militar, pode vir garantia ou segurança para o Governo – afirmou ontem o Vice Presidente Café Filho, dando conta ao Senado da demarche que realizou junto ao Sr. Getúlio Vargas para propor ao Presidente a renúncia de ambos para salvar a unidade nacional e impedir que o país se precipite no caos.
O Sr. Café Filho se decidiu a promover a renúncia do Presidente da República e a dele própria depois de uma segura sondagem junto aos líderes civis e militares, notadamente o líder da maioria na Câmara e os Ministros da Marinha e da Guerra.” – Diário Carioca, 24 de agosto de 1954.
“Com a cabeça voltada para o quadro que representa o juramento da Constituição de 1891 e os pés para o quadro “Pátria”, à cuja frente se acha um crucifixo, o corpo do presidente Getúlio Vargas recebe, desde às 17,30 horas de ontem, no salão do Gabinete da Casa Militar da Presidência da República, no Palácio do Catete, as despedidas de milhares de populares que lhe vão fazer a última visita.
O embarque do corpo do Sr. Getúlio Vargas para São Borja, onde será enterrado, está marcado para as 9 horas de hoje, por via aérea.
Tudo faz crer, entretanto, que será adiado, diante do grande número de populares que desfila ininterruptamente ante o caixão que contém os despojos de S. Exa.
Imediatamente após a comunicação do falecimento do presidente, populares acorreram às proximidades do Catete, no afã de saber de saber pormenores da trágica ocorrência.
Soldados do Exército e da Polícia Militar, no entanto, isolavam o Palácio, desde a Rua Pedro Américo até a Correia Dutra, permitindo o acesso apenas aos jornalistas e altas autoridades.
Antes das 13 horas, só estas podiam entrar no Palácio, ficando os representantes da imprensa defronte à entrada do Catete.
Enquanto isso, registravam-se alguns casos de exaltação no meio da multidão, sendo frequente o encontro de homens e mulheres em lágrimas.
Às 13 horas a entrada do Palácio foi franqueada à imprensa e, logo em seguida, ao público, que entrava lentamente e em fila.
O suicídio do presidente Getúlio Vargas, precisamente às 8,30 da manhã, foi precedido de momentos em que se mostrava ele absolutamente tranquilo.
Nada fazia crer fosse o Presidente se matar – disseram-nos o general Caiado de Castro e Jango Goulart, com os quais ele conversara minutos antes de se recolher.
O Sr. Getúlio Vargas se recolheu ao quarto, sem mais uma palavra. passados uns minutos – o tempo normal para a troca de roupa, ouvia-se um disparo.
Acudiu, incontinenti, o Sr. N. Sarmanho, que se encontrava na janela da sala contígua (a do elevador privativo do presidente). Já o Sr. Getúlio Vargas agonizava.
Da janela, o Sr. Sarmanho fez um sinal para um oficial, pedindo fosse o general Caiado avisado de que o sr. Getúlio Vargas se havia matado.
Logo em seguida, o general Caiado chegava ao quarto, onde, não resistindo ao impacto da tragédia, foi acometido de forte crise de nervos, sofrendo uma síncope.
A seguir, correndo escada acima, o Sr. Benjamin Vargas gritava:
Getúlio se matou!
O palácio ficou em pânico, a família do presidente acorreu, entre gritos e lágrimas. Também o Sr. Osvaldo Aranha logo chegou. Chegou junto à cama e, chorando, exclamou:
Abusaram demais da bondade desse homem!” Diário Carioca, 25 de agosto de 1954.
“Neste nefasto Dia de São Bartolomeu, precisamente às 8, 35 horas, praticou o suicídio o Presidente Getúlio Vargas, com um tiro de revólver no coração, quando se encontrava em seu quarto particular, no 3o andar do Palácio do Catete.
O general Caiado de Castro, Chefe do Gabinete Militar da Presidência da República, correu para os aposentos presidenciais, ao ouvir o disparo, e ainda encontrou o Presidente Vargas agonizante.
Chamou às pressas a assistência pública, que dentro de cinco minutos já se encontrava no Palácio do Catete. Mas o grande Presidente Vargas já estava morto.
Não pode ser descrito o ambiente no Palácio Presidencial. Tudo é consternação. Membros da família do Presidente, serviçais, militares que guarnecem o Palácio choram a morte do insine brasileiro.
O povo em massa acorre para o Palácio do Catete, estando repletas as ruas que dão acesso à casa em que se matou, vítima da ignomínia e das campanhas infamantes de adversários rasteiros, o maior estadista que o Brasil teve, neste século.
Cenas de profunda dor estão sendo assistidas na rua. Lê-se o pesar no rosto do povo.
O povo brasileiro chora a perda do seu Presidente, por ele escolhido, por ele eleito e que – na crise gerada por seus inimigos – só saiu do Catete morto.” Última Hora, 24 de agosto de 1954.
“Com a morte trágica de Getúlio Vargas perde o Brasil, sem dúvida nenhuma, um de seus maiores vultos políticos de todos os tempos. Nesta hora em que os acontecimentos se sucedem vertiginosamente, quando a situação caminhava para um desfecho constitucional previsto e que teria de afastar do poder o presidente, o seu desaparecimento pela forma por que se verificou enche de tristeza a Nação, suspensa os espíritos diante do irremediável.
Cobre-se de luto a alma brasileira diante do esquife que guarda o corpo de alguém que a história não esquecerá, sejam quais forem os ângulos em que se coloque o observador sereno da vida do país em quase meio século, tanto foi o período em que atuou com a sua presença o estadista de múltiplas facetas, empenhado, realmente, em realizar algo de útil e permanente para o bem da sua terra.
Inteligência formada na escola que deu ao Rio Grande uma personalidade da estatura de Julio de Castilhos no alvorecer da República, Getúlio Vargas pertence à geração nova que abriu os olhos para as atividades fecundas do regime depois dos primeiros embates que sucederam à queda do Império, e tomou a si as tarefas construtoras do sistema que deu ao Brasil o máximo de seu progresso.
Deputado Estadual em mil novecentos e nove, com projeção na Assembléia dos Representantes do Rio Grande durante vários anos, a sua carreira se assinalou brilhantemente até ao movimento de renovação de valores operado no Estado em mil novecentos e vinte e três, época em que o elegeram para a Câmara Federal, cujos Anais guardam páginas vigorosas de seu mandato, na liderança de uma bancada.
Nesse posto o encontrou o Governo de Washington Luis a que serviu na pasta da Fazenda, e daí ainda o chamaram os seus coestadoanos para a suprema magistratura estadual de onde ascendeu à Presidência da República em mil novecentos e trinta.
A sua projeção no cenário nacional, de então para cá, é tamanha e tão pontilhada de incidentes impressionantes, que não cabe senão em esboço nas linhas de um perfil traçado em momento dramático como o que atravessamos.
Mas a consideração que lhe devem os brasileiros impõe, mesmo que se recordem no tumulto dos fatos destes dias, aspectos inapagáveis de iniciativas que traziam em si as sementes das suas altas e nobres preocupações do bem público, principalmente no terreno econômico e no campo social, cujos problemas ele sentiu e compreendeu com sinceridade e com sinceridade procurou resolver.
A História não recusará a Getúlio Vargas o reconhecimento devido aos seus méritos indiscutíveis, que ele os teve em proporção acima acima da média dos nossos condutores.
Ele encheu com a sua situação enérgica e os seus propósitos de dar-se inteiro a determinadas empresas de finalidade patriótica, uma longa fase da existência do Brasil contemporâneo, e manda a Justiça, que adversários lhe devem, se não esconda de um registro rápido como este, em que a emoção produzida pelo epílogo de um drama, não é obstáculo a que a verdade ilumine a nossa imensa tristeza.
Esse que encerrou de forma inesperada o seu trânsito pelo mundo, era um autêntico estadista, dotado de espírito público invulgar, com a cultura política necessária ao exercício da sua missão.
A seu modo, e enfrentando embaraços que as circunstâncias opõem constantemente aos que nos países novos tentam forjar uma obra original que conduza os seus compatriotas a um destino menos atribulado e os liberte de preconceitos, Getúlio Vargas fez o máximo que as contingências permitiriam a um homem do seu temperamento e da sua formação.
Desaparecido subitamente, nem por isso, e nem por ter preferido a morte a uma luta funesta, o seu nome será esquecido. O futuro dirá melhor da sua obra. O presente lastima a sua perda. Reverenciemos o seu túmulo.” O Dia, 25 de agosto de 1954.
“Quando o rádio anunciou o suicídio do Sr. Getúlio Vargas, populares começaram a acorrer às imediações do Catete. Forças do Exército, em rigoroso policiamento, mantinham-se em cordão de isolamento, em torno da sede da Presidência da República, procurando conter o povo.
Muitas pessoas pretendiam penetrar no palácio, no que eram impedidos. Os grupos foram-se avolumando, com a chegada de gente de todos os lados.
Às primeiras horas da manhã, em diversos pontos do centro da cidade, formaram-se grupos de populares. Muitos empunhavam retratos de Vargas e realizavam manifestações de protesto contra os adversários políticos do presidente.
A carta deixada por vargas e redigida momentos antes de varar o coraçào com uma bala, denunciava, em termos bem claros, os responsáveis pelo golpe, os imperialistas norte-americanos e seus seguidores do entreguismo.
Pela manhã, grupos de populares atacaram bancas de jornais e destruiram exemplares de jornais propagandistas do golpe. As sedes do O Globo e da Rádio Globo foram atacadas.
Dois caminhões dessa empresa foram incendiados. Das 11 ao meio-dia foram feitas várias investidas populares contra a Tribuna da Imprensa, contidas por elementos da Polícia Especial, guardas-civis e investigadores. Vários jornais cúmplices da propaganda golpista foram mantidos sob guarda de policiais.” Imprensa Popular, 25 de agosto de 1954.
” (…) Às oito horas e quarenta minutos, o rádio anunciou o inesperado, o chocante, o brutal: o Sr. Getúlio Vargas suicidara-se com um tiro no coração. Nào se descreve o abalo causado por esse acontecimento.
A cidade inteira vivera no curso de uma noite uma tragédia Shakesperiana. Uma tragédia que transcorria com toda a intensidade do real, do pungente, sacudindo os nervos, minuto a minuto, em que mentalmente os espectadores viam os quadros, os personagens, o desenrolar dos diálogos e o explodir das crises, e que, finalmente, terminava exatamente como nas cenas últimas do dramaturgo inglês, com a morte da personalidade em torno da qual se entreteciam os acontecimentos e as palavras. (…)
O corpo do Sr. Getúlio Vargas foi transportado por via aérea para sua terra natal, São Borja. Seguiram-no quatro aviões, com pessoas de sua família e amigos mais íntimos. A família do Presidente dispensou as honras militares. (…)
A preocupação do Sr. Café Filho é restaurar a ordem nacional e realizar um Governo de concentração, solicitando o apoio de todos os Partidos nesta hora gravíssima do País.” – A Marcha, 27 de agosto de 1954.
“Pouco antes das 9 horas a reportagem de A Noite junto ao Palácio do Catete transmitia-nos uma informação extremamente dramática: o Sr. Getúlio Vargas acabava de suicidar-se. Com um tiro no coração, executara a decisào extrema. Foi chamada com urgência uma ambulância. Getúlio Vargas exalara já o último suspiro.
A primeira pessoa a informar sobre o suicídio de Getúlio Vargas foi o seu sobrinho, capitão Dorneles. Ouvira um tiro. Acorrera aos aposentos presidenciais. E de lá saía logo com a notícia impressionante: matara-se Getúlio Vargas.
A ambulância do Pronto Socorro que foi ao Palácio era chefiada pelo Dr. Rodolfo Perricê. Esse médico informou, ao regressar, que já encontrara o presidente morto, na cama, em seus aposentos particulares, cercado de membros da família. Vestia pijama e apresentava uma perfuração no coração. Estava com as vestes empapadas de sangue. (…)
Durante toda a noite se desenrolaram os episódios que viriam a culminar com o suicídio de Getúlio Vargas. Às três horas o Palácio do Catete era cenário de uma reunião que marcará um dos episódios mais dramáticos da história do Brasil atual. Convidado a renunciar, Getúlio Vargas recusou-se a atender ao apelo.
A crise se prolongou. e se acentuava. Veio finalmente a sugestão que foi redigida sem demora e com a qual parecia ter se conformado o ex-presidente: a licença, ao invés da renúncia. Mas a verdade é que Getúlio Vargas ia cumprir a promessa que fizera de só morto deixar o Catete. (…)
Após os primeiros instantes de estupefação, dentro do Palácio do Catete, o general Caiado de Castro conseguiu entrar no aposento em que se encontrava o Presidente Getúlio Vargas caído com uma marca de sangue à altura do coração. No mesmo momento, dona Darcy Vargas que seguia atras do general Caiado, atirava-se para frente e segurando as pernas do extinto, puxava-as exclamando:
Getúlio, por que fizeste isso??
Logo depois entrava no quarto o Sr. Lutero Vargas e sentava-se ao lado do corpo, em prantos.
Às 9 horas surgia a notícia emocionante. Estavam terminados os dias do ex-chefe da Nação.” A Noite, 24 de agosto de 1954.
“A nação inteira foi abalada na manhã de ontem com a notícia da morte do Sr. Getúlio Vargas, ocorrida em circunstâncias patéticas. Cerca de três horas após a histórica reunião da madrugada de ontem, encerrada com a decisão de licença, o presidente da República se suicida, com um tiro no coração.
Pouco depois das oito horas, o Sr. Getúlio Vargas encontrava-se no seu quarto de dormir, no terceiro andar do Palácio. De pijama, fisionomia tranquila, ali foi surpreendido pelo seu velho camareiro Barbosa, que entrava no aposento presidencial, conforme fazia todas as manhãs, para o serviço de arrumação. Disse-lhe, então, o Sr. Getúlio Vargas, em voz serene:
Sai Barbosa, eu quero descansar ainda um pouco.
Foram estas as suas últimas palavras. Instantes depois, deitando-se no leito, o Sr. Getúlio Vargas comprimia, com a mão direita uma pistola contra o peito, exatamente sobre o coração, e com a outra acionava o gatilho. desferido o tiro, não teve mais que uns poucos minutos de vida.
A cidade viveu ontem horas de profunda tensão nervosa, em consequência do suicídio do presidente Getúlio Vargas. Às 8,45 quando maior era o movimento de automóveis nos bairros para o centro da cidade foi a informação do falecimento divulgado pelo rádio.
Na praia do Flamengo carros particulares, táxis e coletivos paravam em plena Avenida e seus passageiros estupefatos dirigiam-se aos passageiros dos outros carros, procurando pormenores informações como se não quisessem dar crédito ao que ouviram nas rádios dos automóveis. (…) Uma verdadeira multidão acorreu ao Palácio do Catete, onde permaneceu de pé à espera do momento que lhe permitissem ver o corpo do sr. Getúlio Vargas. E muitos choravam.” Correio da Manhã, 24 de agosto de 1954.
AS MANCHETES
Vargas Ao Marechal Mascarenha De Moraes: Não Renunciarei!
– Fui Eleito Pelo Povo, Por Cinco Anos, E Cumprirei Meu Mandato Até O Fim. Não Me Deixarei Desmoralizar (A Noite)
Desfecho Tremendamente Dramático: Matou-se Vargas! Um Tiro No Coração!
A Resolução Extrema Executado Pelo Presidente Que Caia (A Noite)
O Inesperado Desfecho Da Crise Militar (A Marcha)
Protesta O Povo Nas Ruas Contra O Golpe E Pelas Liberdades
União De Todos Os Brasileiros Para A Defesa Da Constituição
Apoiado Pelos Ianques Café Sucede Vargas (Imprensa Popular)
Pus E Lama Escorrem Sobre A Nação Estarrecida Gregório Explorava A Contravenção, Arrancando Dinheiro Dos “Bicheiros” (O Dia)
Afasta-se Vargas Do Governo – Às 4 Horas E 55 Minutos O Momento Decisivo – O Sr. Vargas Ainda Tentou Resistir, Recusando-se A Aceitar as Razões Apresentadas Pelos Seus Ministros – A Reunião Ministerial Durou Cerca De Quatro Horas (O Dia)
Lamenta O País A Morte Do Presidente Vargas – Enorme Massa Popular, Numa Fila Interminável, Na Visitação Do Corpo Do Presidente Da República, Exposto, Em Câmara Ardente, No Palácio Do Catete (O Dia)
A Multidão Desfilou A Chorar Ante Vargas – O Presidente Morreu
Impressionantes Os Aspectos Do Velório No Catete (Diário Carioca)
Dramático Desfecho (Jornal do Brasil)
Vargas Não Cederá Nem À Violência, Nem Às Provocações, Nem Ao Golpe
“Só Morto Sairei Do Catete” (Última Hora)
Última Hora Havia adiantado, Ontem, O Trágico Propósito – Matou-se Vargas
O Presidente Cumpriu A Palavra! “Só Morto Sairei Do Catete!”
Fonte: www1.uol.com.br
Falecimento de Getúlio Vargas
24 de Agosto
O dia em que mataram o presidente
O atentado da rua Toneleros lançou muitas suspeitas sobre o presidente, especialmente a partir do momento em que ficou evidenciada a participação de um de seus principais assessores (Gregório Fortunato) no acontecimento que quase vitimou Carlos Lacerda, um dos principais opositores de Getúlio.
Entretanto seus problemas não haviam surgido com a suposta ordem que teria dado para Gregório Fortunato atacar Carlos Lacerda. Os posicionamentos políticos de Vargas, marcadamente nacionalistas encontravam forte resistência entre setores da burguesia nacional e internacional favoráveis a uma maior abertura aos investimentos do capital estrangeiro em nosso país, especialmente os originados dos Estados Unidos.
Essa resistência havia tornado o segundo mandato de Getúlio muito conturbado e difícil, com forte tendência oposicionista por parte do congresso nacional e de alguns governadores estaduais. Projetos de caráter nacionalista eram constantemente bloqueados no Senado ou na Câmara dos Deputados.
Saio da vida para entrar na história foi a resposta encontrada por Vargas para conseguir reverter todo o desgaste que havia sofrido ao longo de seu segundo período presidencial (Getúlio já havia governado o país entre 1930 e 1945, inicialmente como líder do governo revolucionário que desmontou a república oligárquica dos barões do café e, posteriormente prorrogando seu mandato com o golpe do Estado Novo em 1937 e estabelecendo um período de governo ditatorial).
Getúlio se despedia dos brasileiros deixando como legado uma herança política
de cunho populista e um modelo político nacionalista que serviriam de base
para a atuação de outros líderes nacionais como Brizola ou João Goulart.
Esse último e dramático ato da cena getulista tinha como intenção desestruturar a forte campanha anti-nacionalista desencadeada pela oposição liderada pela UDN (União Democrática Nacional) comandada por Lacerda e associada aos interesses do capital internacional.
O forte impacto do suicídio de Vargas reverteu o processo de difamação instado pela opinião pública favorável a Lacerda e a UDN. A morte do presidente foi um ato político calculado para consolidar o legado do nacionalismo populista de Vargas no cenário nacional.
O desgaste do Corvo (como passou a ser conhecido Lacerda depois da morte de Getúlio) e do internacionalismo na política brasileira só seriam revertidos na década de 1960 com o estabelecimento dos governos militares, francamente favoráveis à abertura econômica e aos empréstimos internacionais.
A herança de Vargas foi preciosa e continuou presente na história. As leis trabalhistas e a composição de um rico e consistente parque industrial com empresas como a Petrobrás, a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional permitiram ao Brasil superar a sua vocação de eterno produtor de gêneros agrícolas como o açúcar e o café.
Sua impressionante e variada gama de artifícios políticos contribuiu para o enriquecimento do folclore e também da cultura política brasileira com o estabelecimento do populismo e do nacionalismo.
Seus herdeiros políticos mais proeminentes foram João Goulart que se tornou presidente com a renúncia de Jânio Quadros em 1961 e acabou sendo tirado do poder com o golpe militar de Abril de 1964 e Leonel de Moura Brizola, que foi governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, tornando-se uma referência da oposição política nacional nos anos 1960 e depois de seu retorno do exílio, a partir de 1980 até seu falecimento em 2004.
Político contraditório, Vargas acabou se tornando a mais importante e representativa figura
do cenário político nacional ao longo do século XX. Suas contribuições (como as leis trabalhistas ou
a constituição do parque industrial brasileiro de base) alicerçaram o país e estão sendo desmontadas
pelos últimos governos do país, de caráter neoliberal.
As discussões sobre Vargas nos levam a pensar que seu espólio continuou muito vivo mesmo depois de sua morte e que o desmonte de seu acervo de opções tem sido a tônica dos governantes que sucederam os governos militares que comandaram o Brasil até 1984 e que referendaram o governo da transição para a democracia (Tancredo Neves e José Sarney) em 1984.
As eleições de 1989 que levaram Fernando Collor a presidência e a clara opção pelo neo-liberalismo por esse governante e por aqueles que o sucederam (Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva) sepultaram o projeto nacionalista e admitiram a entrada franca e cada vez mais influente de investimentos estrangeiros em terras brasileiras.
Pressionados pelo fenômeno da globalização, os presidentes eleitos pelo voto popular depois de 1989 tiveram que adaptar a economia nacional aos novos tempos e aceleraram os projetos de privatização. A Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia Vale do Rio Doce, símbolos da era Vargas foram leiloadas e suas vendas consolidaram a derrocada do projeto getulista.
É verdade que Getúlio foi um político controverso. Ao mesmo tempo em que se colocava como o pai dos pobres e implementava as leis trabalhistas ou o projeto de modernização da economia nacional nos anos 1930, Vargas articulou e executou a perseguição dura aos opositores de seu regime, especialmente aos comunistas liderados por Luís Carlos Prestes (o que acabou ocasionando a prisão de Prestes e sua esposa Olga Benário, que grávida foi enviada pelo governo getulista para os nazistas alemães, onde acabou sendo morta) e forjou o Plano Cohen com o intuito de se manter no poder durante o período que se estendeu de 1937 a 1945.
Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte.
Nada temo. Serenamente dou o primeiro passo no caminho
da eternidade e saio da vida para entrar na história
(trecho da carta testamento de Getúlio Vargas)
A aliança com os norte-americanos fez com que Vargas entrasse em contradição marcada pelo descompasso entre seu apoio as democracias ocidentais em sua luta contra o nazi-fascismo ítalo-germânico e a manutenção de um regime ditatorial no âmbito interno brasileiro. Porém sua habilidade como negociador trouxe tecnologia e mão de obra especializada para o estabelecimento do parque industrial de base em nosso país.
O seu retorno triunfal em 1951, eleito pelo povo, não tinha uma contrapartida eufórica ou tão simpática aos olhos do capital internacional e de seus aliados nacionais.
O seu enterro simbólico aos olhos da oposição já havia sido realizado muito tempo antes, quando de suas opções de caráter francamente nacionalistas. Seus opositores foram seus principais algozes. A arma por ele empunhada e disparada naquele 24 de agosto de 1954 estava sendo disparada pelos oposicionistas a seu governo.
Seu derradeiro ato, marcado pelo prematuro fechamento das cortinas foi aplaudido pelo povo, que se sentiu órfão e foi as ruas para chorar e atirar paus e pedras contra aquele que consideravam responsáveis pela morte do presidente (pai) dos pobres, como o corvo Carlos Lacerda.
Os desmaios e lágrimas daqueles que choravam pelas ruas ao saberem da morte do estadista eternizaram Vargas e lançaram suas contribuições a um período de vida maior e mais iluminado enquanto seus opositores sofriam com o fantasma do ex-presidente e amargavam um ostracismo político no limbo do qual jamais sairiam…
Fonte: www.planetaeducacao.com.br
Falecimento de Getúlio Vargas
24 de Agosto
Dados sobre o suicídio
Nota sobre o horário em que ocorreu o suicídio de Getúlio
(incluída posteriormente ao curso ministrado no IA-Unesp)
A minissérie Agosto, baseada na obra literária de Rubem Fonseca, exibida pela TV Globo em agosto de 1993, motivou vários artigos de jornal sobre o suicídio de Getúlio.
A Folha de S.Paulo (artigo de Armando Antenore), em 16 de agosto de 1993, publicou declarações do coronel da Aeronáutica Hernani Hilário Fittipaldi, que era o ajudante-de-ordens do presidente em 1954. São retirados desse importante artigo os seguintes trechos, sobre fatos que antecederam imediatamente a morte de Getúlio.
Na madrugada de terça-feira, dia 24 de agosto, logo após o término da reunião ministerial, Fittipaldi, então major, tomou o elevador com Vargas. Subiram até o terceiro andar.
Não havia ninguém por perto quando os dois entraram no quarto do presidente. A porta permaneceu aberta. Com as mãos nas costas, Getúlio andava de um lado para o outro, silencioso.
Sem saber como agir, o ajudante-de-ordens decidiu acompanhar os passos de Vargas. “Caminhei de um lado para outro, em sincronia com o presidente.” O major arriscava, às vezes, palavras de conforto.
Foi quando Benjamin, irmão de Vargas, entrou no quarto. Nervoso, informou: “Assim que deixou a reunião, o ministro da Guerra, Zenóbio da Costa, afirmou para generais descontentes que, depois da licença, você não reassumirá.” “Quer dizer, então que me depuseram”, concluiu Getúlio. Benjamin ficou sem jeito e saiu.
O major perguntou se o presidente não queria um uísque. “Acho que mereço”, respondeu. Vargas tomou apenas um gole da bebida, disse que desejava descansar e pediu para Fittipaldi chamar o camareiro Pedro Lourenço Barbosa.
“Saí do quarto com a certeza de que o presidente se mataria”, relembra o coronel. Cerca de meia hora depois, o ajudante-de-ordens esperava o elevador. Pretendia descer e dormir.
Vargas, de pijama, deixou o quarto, passou pelo major e entrou no gabinete de trabalho. Saiu com as mãos dentro dos bolsos, sorriu para Fittipaldi e fechou novamente a porta do quarto.
O elevador chegou. No térreo, o major ouviu um tiro. Voltou correndo. A mulher de Vargas, Darcy, que dormia em outro aposento, olhava o presidente. A perna esquerda de Getúlio pendia fora da cama.
Na mão direita, a arma – um Colt, calibre 32. A mão esquerda repousava sobre o peito. Dona Darcy pediu a Fittipaldi que ligasse para o ministro Zenóbio. Quando o major completou a chamada, ela disse: “Zenóbio, venha ver o que fizeste.” O ajudante-de-ordens depois ligou para o diretor da Rádio Nacional, Victor Silva.
Infelizmente, o coronel Fittipaldi não informou os horários em que esses fatos ocorreram, ou esses horários foram omitidos pelo jornal. O mesmo jornal, em 29 de agosto de 1993, página 1-18, diz:
24 de agosto – O ministro da Guerra passa a apoiar a renúncia, após se reunir com militares oposicionistas. Às 8h45, Getúlio se mata com um tiro no peito.
Antônio Callado, que era redator-chefe do Correio da Manhã em 1954, em dois artigos publicados na Folha de S.Paulo, o primeiro em 11 de abril de 1992 e o segundo em 23 de agosto desse mesmo ano, diz que Getúlio se matou às 8h30.
Outros horários divulgados pela Folha de S.Paulo, na edição de 21 de agosto de 1994.
No dia 22, Vargas está praticamente deposto. Daí até a madrugada do golpe, sucederiam-se manifestos de Café Filho e oficiais-generais da Aeronáutica, Marinha e Exército, pedindo a renúncia.
À meia-noite do dia 23 (0h do dia 24), Zenóbio e Mascarenhas levam ao Catete a informação de que o Exército já não apóia o governo. Vargas recusa tanto a hipótese de renúncia como a de licença e diz que vai reunir o ministério de madrugada. Chama João Goulart e lhe entrega a carta-testamento.
As 3h30 do dia 24, Vargas reúne-se com parentes e seus ministros, entre eles Tancredo Neves, Oswaldo Aranha e Zenóbio da Costa, ministro da Guerra, então leal ao governo.
Vargas pede uma fórmula para resolver a crise. Zenóbio sugere resistência, mas observa que isso “custaria sangue, muito sangue” e que o resultado seria incerto.
Vargas enfim decide se licenciar “desde que mantida a Constituição e a ordem”. Caso contrário, “os revoltosos encontrariam seu cadáver”.
As 4h45 sai o comunicado oficial do pedido de licença. No apartamento de Café Filho, Lacerda e outros políticos cumprimentam o novo presidente.
As 6h chega a notícia de que Benjamim Vargas, irmão do presidente, fora intimado para depor no Galeão. Logo depois, Alzira Vargas diz ao pai que está em contato com generais leais, que pretendiam prender os conspiradores Juarez Távora e Eduardo Gomes.
Vargas diz que agora a resistência é inútil. Nesse momento, Zenóbio, reunido com militares revoltosos, adere ao golpe. O presidente é informado às 7h do golpe e se mata depois das 8h.
Na mesma página (1-8) dessa edição, esse jornal diz:
24 de agosto – Às 6h, Benjamin Vargas, irmão do presidente, recebe um ultimato das Forças Armadas para depor na Base Aérea do Galeão. As 8h30 Vargas se suicida com um tiro no coração.
Na página seguinte (1-9), da mesma edição, com título Funcionários narram as últimas horas, a Folha publica:
7h45 – Vargas pede a Barbosa (camareiro ou barbeiro Pedro Lourenço Barbosa) que chame Benjamim. O barbeiro sai do quarto. Pouco depois vê Getúlio Vargas, de pijama, entrar em seu gabinete de trabalho.
Barbosa entra no quarto do presidente para pegar suas roupas. No corredor, o mordomo Zaratini observa o presidente voltar ao quarto. “O que você está fazendo aí?”, diz Vargas a Barbosa ao vê-lo em seu quarto. “Me deixe descansar mais um bocado”. Barbosa sai.
8h15 – Barbosa ouve um estampido. Corre até o quarto e vê o presidente “deitado na cama de braços abertos, com uma perna sobre a cama e outra um pouco fora, tendo um revólver na palma da mão direita e uma mancha de sangue no peito, do lado esquerdo”.
Paulo Francis em artigo publicado na Revista D, em 18 de novembro de 1990, escreve:
Eu estava dormindo, é o que fazia às 8 da manhã de 25 (sic) de agosto, quando meu pai, com a insolência que só meu pai ousaria comigo, me sacudiu o calcanhar, me acordando, para me anunciar a morte, o suicídio de Getúlio Vargas.
Concluindo
A reunião ministerial ocorreu na madrugada do dia 24. Getúlio, acompanhado de seu ajudante-de-ordens, deve ter ido para o terceiro andar do Catete quase às 5h da manhã, após ter assinado o pedido de licença.
Quando Benjamin foi comunicar ao irmão que Zenóbio havia aderido ao golpe militar, após ter saído do palácio e se reunido com outros militares, o major Fittipaldi ainda se encontrava com o presidente.
Após isso é que Getúlio tomou o gole de uísque e, mais tarde, pediu ao ajudante-de-ordens que chamasse o camareiro, pois desejava descansar um pouco.
Depois da chegada do camareiro – que possivelmente não morava no palácio, que deveria ter horário para iniciar seu trabalho (7h?) – o major ainda permaneceu por mais ou menos meia hora nesse pavimento, certamente em recinto que não era o corredor.
Nessa meia hora não presenciou a vinda de Alzira e a volta de Benjamin ao quarto de Getúlio, que lhe comunicou que havia recebido intimação para depor no Galeão.
Isso ocorreu em torno das 7h45, após o presidente ter mandado o camareiro chamar o irmão. Quando Fittipaldi esperava o elevador, viu o presidente entrar e sair do escritório.
Ao chegar ao quarto, Getúlio pediu para o camareiro sair. Quando o elevador chegou no pavimento térreo, o major ouviu o tiro fatídico. Ou seja, a morte deve ter ocorrido antes das 8h e não depois desse horário, como consta de artigos consultados.
Fonte: www.constelar.com.br
Redes Sociais