28 de Julho
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A partir da metade do século XIX, diante da dura realidade do Sertão Nordestino, onde predominava a intensa miséria e injustiça social, criou-se uma manifestação caracterizada pelo banditismo: o Cangaço.
A organização já era conhecida desde 1834 e se referia a certos indivíduos que andavam armados, com chapéus de couro, carabinas e longos punhais entrançados que batiam na coxa. Levavam as carabinas passadas pelos ombros. Os cangaceiros surgiam em grupo, ao comando de um companheiro mais temível.
Em 04 de junho de 1898, nasceu Virgulino Ferreira da Silva, na fazenda Ingazeira, de propriedade de seus pais, no Vale do Pajeú, em Pernambuco. Terceiro filho de José Ferreira da Silva e D. Maria Lopes, Virgulino, que entraria para a história com o nome de Lampião, viria a tornar-se o mais notório cangaceiro.
Até entrar para o cangaço, Virgulino e seus irmãos eram pessoas comuns, pacíficos sertanejos que viviam do trabalho na fazenda e na feira aonde iam vender suas mercadorias. Virgulino Ferreira da Silva na certa teria a vida de um homem comum, se fatos acontecidos com ele e sua família não o tivessem praticamente obrigado a optar pelo cangaço como saída para realizar sua vingança.
Virgulino declarou que, tendo perdido seu pai por culpa da policia, e responsabilizando-a pela morte da sua mãe, iria lutar até a morte, e se pudesse tocaria fogo em Alagoas.
A morte de Lampião é assunto que gera controvérsias. Existem duas hipóteses para a sua morte e de dez dos seus cangaceiros.
1ª hipótese: Em 1938, Lampião faz uma incursão no agreste alagoano, escondendo-se depois no estado de Sergipe. A polícia de Alagoas ficou sabendo do esconderijo de Lampião e uma volante comandada pelo Tenente João Bezerra da Silva juntamente com o Sargento Ancieto Rodrigues e sua tropa alagoana, conduzindo inclusive metralhadoras portáteis, cerca o bando.
Na madrugada de 18 de julho de 1938 começou o ataque que durou aproximadamente 20 minutos e cerca de 40 cangaceiros conseguiram fugir.
Lampião e 10 cangaceiros foram mortos na gruta de Angico, suas cabeças foram cortadas e expostas em praça pública em diversas cidades. Angico era o esconderijo, a fortaleza de Lampião. É uma gruta de pedras redondas e pontiagudas que pertence ao estado de Sergipe. O esconderijo foi apontado para os policiais por um homem de confiança de Lampião, Pedro Cândido, que depois foi morto misteriosamente em 1940.
2ª hipótese: Admite-se que houve um plano de envenenamento. Como Pedro Cândido era homem da inteira confiança de Lampião, ele poderia ter levado garrafas de quinado ou conhaque envenenadas, sem que as tampas tenham sido violadas. Outros historiadores afirmam que Pedro Cândido teria levado para os cangaceiros pães envenenados e como era de total confiança, os alimentos não foram testados antes de serem comidos.
Tal argumento se baseia nos urubus mortos perto dos corpos após terem comido as vísceras dos cangaceiros e também porque quase não houve reação às balas da volante policial.
A tropa, que tomou parte no fuzilamento e na degola dos cangaceiros, se compunha de 48 homens. O tenente João Bezerra que chefiava o ataque disse que foi rápido. Cercaram os bandidos num semicírculo. Um soldado da polícia foi morto, alguns ficaram feridos e 11 cangaceiros tiveram suas cabeças cortadas.
Fonte: Brasil Folclore; Soleis
Dia da Morte de Lampião
28 de Julho
Virgulino foi o terceiro filho de José Ferreira da Silva e de Maria Selena da Purificação. Tinha como irmãos: Antônio, João, Levino, Ezequiel, Angélica, Virtuosa, Maria e Amália.
A organização já era conhecida desde 1834 média sertaneja: aprendeu a ler e a escrever, mas logo foi ajudar o pai, pastoreando seu gado. Trabalhou também com seu pai como almocreve – pessoa que transportava mercadorias a longa distância no lombo de burros. Quando adolescente, acompanhado por seus irmãos Levino e Antônio, envolveu-se em crimes por questões familiares. Na época de adolescentes, ele e seus dois irmãos, Levino e Antônio já tinham fama de valentões, andavam armados e gostavam de arrumar confusão nas feiras livres para impressionar as moças. Também tinham o costume de pedir dinheiro por onde passavam. No sertão de sua época, dizia-se, homem macho e de valor, tinha de ser brigão.
Seu pai era um homem tranquilo e pacifico. Após várias tentativas que procuravam finalizar a rixa (por questões de disputa de terras e demarcação de divisas entre propriedades rurais) existente contra a família do seu vizinho José Saturnino, acabou sendo morto pelo delegado de polícia Amarílio Batista e pelo Tenente José Lucena, quando o destacamento procurava por Virgulino, Levino e Antônio, seus filhos.
No ano de 1920, com o objetivo de vingar a morte do pai, Lampião alistou-se na tropa do cangaceiro Sebastião Pereira, também conhecido como Sinhô Pereira.
Em 1922, Sinhô Pereira decidiu deixar o cangaço e passou o comando para Virgulino (Lampião).
Sede de vingança, cobiça e concentração do poder que por Sinhô Pereira lhe fora outorgado, levaram Lampião a se tornar um dos bandidos mais procurados e temidos de todos os tempos, no Brasil. Nesse mesmo ano realiza o primeiro assalto, à casa da baronesa de Água Branca (AL), na qual seus homens saquearam vultosa quantia em dinheiro e jóias[2].
Em 1926, refugiou-se no Ceará e no de 4 de Março recebeu uma intimação do Padre Cícero em Juazeiro do Norte (CE). Compareceu a sua presença, recebeu um sermão por seus crimes e ainda a proposta de combater a Coluna Prestes que, naquela época, se encontrava pelo Nordeste.
Em troca, Lampião receberia anistia e a patente de capitão dos Batalhões Patrióticos, como se chamavam as tropas recrutadas para combater os revolucionários. O capitão Virgulino e seu bando partiram à caça de Prestes, mas ao chegar a Pernambuco, foi perseguido pela polícia e descobriu que nem a anistia nem a patente tinham valor oficial. Voltou, então, ao banditismo.
Em 13 de junho de 1927, após sequestrar o Coronel Antônio Gurgel, promoveu uma tentativa de invasão à cidade de Mossoró (RN), onde perdeu dois de seus famosos auxiliares: “Colchete”, fulminado por uma bala de fuzil logo no início dos combates com os defensores da cidade, e “Jararaca”, ferido no tórax e na perna, capturado no dia seguinte, depois de passar a noite escondido fora da cidade, e depois executado e sepultado no cemitério da cidade pela polícia local. Depois desta derrota, Lampião passaria a ser perseguido pela polícia de três estados: Paraíba, Pernambuco e Ceará. Em fuga, atravessou o rio São Francisco com apenas 5 cabras e reestruturou seu bando no Estado da Bahia. A partir daí, passou a agir principalmente nos estados de Sergipe, Bahia e Alagoas.
Maria Bonita
Em fins de 1930, escondido na fazenda de um coiteiro – nome dado a quem acolhia os cangaceiros – conheceu Maria Déia , a mulher do sapateiro Zé de nenem, que se apaixonou por Lampião e com ele fugiu, ingressando no bando. A mulher de Lampião ficou conhecida como Maria Bonita e, a partir daí, várias outras mulheres se integraram ao bando.
Pouco tempo depois, Maria Bonita engravida e sofre um aborto. Mas, em 1932, o casal de cangaceiros tem uma filha. Chamam-na de Expedita. Maria Bonita dá à luz no meio da caatinga, à sombra de um umbuzeiro, em Porto de Folha, no estado de Sergipe. Lampião foi o seu próprio parteiro .
Como se tratava de um período de intensas perseguições e confrontos, e a vida era bastante incerta, os pais não tinham condições de criá-la dentro do cangaço. Os fatos que ocorreram viraram um assunto polêmico porque uns diziam que Expedita tinha sido entregue ao tio João, irmão de Lampião que nunca fez parte do cangaço; e outros testemunharam que a criança foi deixada na casa do vaqueiro Manuel Severo, na Fazenda Jaçoba.
No ano de 1936, o comerciante Benjamin Abraão, com uma carta de recomendação do Padre Cícero, consegue chegar ao bando e documenta em filme Lampião e a vida no cangaço. Esta “aristocracia cangaceira”, como define Lampião, tem suas regras, sua cultura e sua moda. As roupas, inspiradas em heróis e guerreiros, como Napoleão Bonaparte, são desenhadas e confeccionadas pelo próprio Lampião. Os chapéus, as botas, as cartucheiras, os ornamentos em ouro e prata, mostram sua habilidade como artesão.
Maria Bonita sempre insistia muito para que Lampião cuidasse do olho vazado. Diante dessa insistência, ele se dirige a um hospital na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um fazendeiro pernambucano. Virgulino tem o olho extraído pelo Dr. Bragança – um conhecido oftalmologista de todo o sertão – e passa um mês internado para se recuperar. Após pagar todas as despesas da internação, ele sai do hospital, escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à carvão, na parede do quarto: “Doutor, o senhor não operou fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi o do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião”.
No dia 27 de julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Por volta das 5:15 do dia 28, os cangaceiros levantaram para rezar o oficio e se prepararem para tomar café, foi quando um cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais.
Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, segundo a opinião de Virgulino, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.
O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais apreenderam os bens e mutilaram os mortos. Apreenderam todo o dinheiro, o ouro, e as jóias.
A força volante, de maneira bastante desumana para os dias de hoje, mas seguindo o costume da época, decepa a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando sua cabeça foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (os dois tiveram suas cabeças arrancadas em vida), Luis Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete (2) e Macela. Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a. Este detalhe contribuiu para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto, e escapara da emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro.
Feito isso, salgaram as cabeças e as colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal. Os corpos mutilados e ensanguentados foram deixados a céu aberto para servirem de alimento aos urubus. Para evitar a disseminação de doenças, dias depois foi colocado creolina sobre os corpos. Como alguns urubus morreram intoxicados por creolina, este fato ajudou a difundir a crença de que eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo coiteiro traidor.
Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças – já em adiantado estado de decomposição – por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Piranhas, onde foram arrumadas cuidadosamente na escadaria da igreja, junto com armas e apetrechos dos cangaceiros, e fotografadas. Depois Maceió e depois, foram ao sul do Brasil.
No IML de Maceió, as cabeças foram medidas, pesadas, examinadas, pois os criminalistas achavam que um homem bom não viraria um cangaceiro: este deveria ter características sui generis. Ao contrário do que pensavam alguns, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais.
Do sul do País, apesar de se encontrarem em péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da UFBA da Bahia. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas.
Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno aos seus parentes. O economista Silvio Bulhões, em especial, filho de Corisco e Dadá, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de vez por todas, essa macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro do seu pai violaram a sepultura, exumaram o corpo e, em seguida, cortaram-lhe a cabeça e o braço esquerdo, colocando-os em exposição no Museu Nina Rodrigues.
O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do projeto de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois. Assim, a era CANGAÇO se encerrou, com a Morte de Virgulino.
Fonte: www.tribunadosertao.com.br
Dia da Morte de Lampião
28 de Julho
Ambição, Injustiça, Violência, Traição e Morte…
Nascido em 1898, no Sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, Pernambuco, Virgulino Ferreira da Silva viria a transformar-se no mais lendário fora-da-lei do Brasil. O cangaço nasceu no Nordeste em meados do século 18, através de José Gomes, conhecido como Cabeleira, mas só iria se tornar mais conhecido, como movimento marginal e até dando margem a amplos estudos sociais, após o surgimento, em 1920, do cangaçeiro Lampião, ou seja, o próprio Virgulino Ferreira da Silva. Ele entrou para o cangaço junto com três irmãos, após o assassinato do pai.
Com 1,79m de altura, cabelos longos, forte e muito inteligente, logo Virgulino começou a sobressair-se no mundo do cangaço, acabou formando seu próprio bando e tornou-se símbolo e lenda das histórias do cangaço. Tem muitas lendas a respeito do apelido Lampião, mas a mais divulgada é que alguns companheiros ao ver o cano do fuzil de Virgulino até vermelho, após tantos tiros trocados com a volante (polícia), disseram que parecia um lampião. E o apelido ficou e o jovem Virgulino transformou-se em Lampião, o Rei do Cangaço. Mas ele gostava mesmo era de ser chamado de Capitão Virgulino.
Lampião era praticamente cego do olho direito, que fôra atingido por um espinho, num breve descuido de Lampião, quando andava pelas caatingas, e ele também mancava, segundo um dos seus muitos historiadores, por conta de um tiro que levou no pé direito. Destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até cidades.
Dinheiro, prataria, animais, jóias e quaisquer objetos de valor eram levados pelo bando. “Eles ficavam com o suficiente para manter o grupo por alguns dias e dividiam o restante com as famílias pobres do lugar”, diz o historiador Anildomá Souza. Essa atitude, no entanto, não era puramente assistencialismo. Dessa forma, Lampião conquistava a simpatia e o apoio das comunidades e ainda conseguia aliados.
Os ataques do rei do cangaço às fazendas de cana-de-açúcar levaram produtores e governos estaduais a investir em grupos militares e paramilitares. A situação chegou a tal ponto que, em agosto de 1930, o Governo da Bahia espalhou um cartaz oferecendo uma recompensa de 50 contos de réis para quem entregasse, “de qualquer modo, o famigerado bandido”. “Seria algo como 200 mil reais hoje em dia”, estima o historiador Frederico Pernambucano de Mello. Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu bando fossem mortos. Mas as histórias e curiosidades sobre essa fascinante figura continuam vivas.
Uma delas faz referência ao respeito e zelo que Lampião tinha pelos mais velhos e pelos pobres. Conta-se que, certa noite, os cangaceiros nômades pararam para jantar e pernoitar num pequeno sítio – como geralmente faziam. Um dos homens do bando queria comer carne e a dona da casa, uma senhora de mais de 80 anos, tinha preparado um ensopado de galinha. O sujeito saiu e voltou com uma cabra morta nos braços. “Tá aqui. Matei essa cabra.
Agora, a senhora pode cozinhar pra mim”, disse. A velhinha, chorando, contou que só tinha aquela cabra e que era dela que tirava o leite dos três netos. Sem tirar os olhos do prato, Lampião ordenou ao sujeito: “Pague a cabra da mulher”. O outro, contrariado, jogou algumas moedas na mesa: “Isso pra mim é esmola”, disse. Ao que Lampião retrucou: “Agora pague a cabra, sujeito”. “Mas, Lampião, eu já paguei”. “Não. Aquilo, como você disse, era uma esmola. Agora, pague.”
Criado com mais sete irmãos – três mulheres e quatro homens -, Lampião sabia ler e escrever, tocava sanfona, fazia poesias, usava perfume francês, costurava e era habilidoso com o couro. “Era ele quem fazia os próprios chapéus e alpercatas”, conta Anildomá Souza. Enfeitar roupas, chapéus e até armas com espelhos, moedas de ouro, estrelas e medalhas foi invenção de Lampião. O uso de anéis, luvas e perneiras também. Armas, cantis e acessórios eram transpassados pelo pescoço. Daí o nome cangaço, que vem de canga, peça de madeira utilizada para prender o boi ao carro.
Em 1927, após uma malograda tentativa de invadir a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Lampião e seu bando fugiram para a região que fica entre os estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia. O objetivo era usar, a favor do grupo, a legislação da época, que proibia a polícia de um estado de agir além de suas fronteiras. Assim, Lampião circulava pelos quatro estados, de acordo com a aproximação das forças policiais.
Numa dessas fugas, foi para o Raso da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Em suas andanças, chegou ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita, que em algumas narrativas é chamada de Rainha do Sertão.
Da união dos dois, nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal. Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos. Durante os cinco anos e nove meses que viveu até a morte dos pais, só foi visitada por Lampião e Maria Bonita três vezes. “Eu tinha muito medo das roupas e das armas”, conta. “Mas meu pai era carinhoso e sempre me colocava sentada no colo pra conversar comigo”, lembra dona Expedita, hoje com 75 anos e vivendo em Aracaju, capital de Sergipe, Estado onde seus pais foram mortos.
Na madrugada de 28 de julho de 1938, o sol ainda não tinha nascido quando os estampidos ecoaram na Grota do Angico, na margem sergipana do Rio São Francisco. Depois de uma longa noite de tocaia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram contra um bando de 35 cangaceiros. Apanhados de surpresa – muitos ainda dormiam -, os bandidos não tiveram chance. Combateram por apenas 15 minutos. Entre os onze mortos, o mais temido personagem que já cruzou os sertões do Nordeste: Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião.
Fonte: www.gentedanossaterra.com.br
Dia da Morte de Lampião
28 de Julho
Em 28 de Julho de 1938 chegava ao fim a trajetória do líder cangaceiro mais polêmico e influente da história do cangaço. A tentativa de explicar a morte de Lampião levanta controvérsias e alimenta a imaginação, dando origem a várias hipóteses acerca do fim de seu “reinado” nos sertões nordestinos. Existe a versão oficial que sustenta a chacina de Angicos pelas forças volantes de Alagoas e existe também a versão do envenenamento de grande parte do grupo que se encontrava acampado em Angicos.
Ao fundo o lugar onde estavam acampados os cangaceiros, gruta de Angicos
A versão oficial explica que Lampião e a maior parte de seus grupos se encontravam acampados em Sergipe, na fazenda Angicos, no município de Poço Redondo, quando foram surpreendidos por volta das 5:30 da manhã; as forças volantes de Alagoas agiram guiadas pelo coiteiro Pedro de Cândido e os cangaceiros não tiveram tempo de esboçar qualquer reação. -Lampião é o primeiro a ser morto na emboscada.
Ao todo foram 11 cangaceiros mortos, entre eles Lampião e Maria Bonita; em seguida, depois da decapitação, deu-se a verdadeira caça ao tesouro dos cangaceiros, desde as jóias, dinheiro, perfumes importados e tudo mais que tinha valor foi alvo da rapinagem promovida pela polícia.
Depois de ter sido pressionado pelo ditador Getúlio Vargas, que sofria sérios ataques dos adversários por permitir a existência de Lampião, o interventor de Alagoas, Osman Loureiro, adotou providências para acabar com o cangaço; ele prometeu promover ao posto imediato da hierarquia o militar que trouxesse a cabeça de um cangaceiro.
Ao regressarem à cidade de Piranhas as autoridades alagoanas decidiram exibir na escadaria da Prefeitura, as cabeças dos 11 cangaceiros mortos em Angicos. A macabra exposição ainda seguiu para Santana do Ipanema e depois para Maceió, aonde os políticos puderam tirar proveito o quanto quiseram do evento mórbido – a morte de Lampião e o pseudo-fim do cangaço no Nordeste foram temas de muitas bravatas políticas.
LOCALIZAÇÃO
O acampamento onde estava Lampião e seu grupo ficava na margem direita do rio São Francisco, no Estado de Sergipe, município de Poço Redondo. A gruta de Angicos está situada a 1 km da margem do Velho Chico e estrategicamente favoreceu ao possível ataque da polícia alagoana. O local do acampamento é um riacho temporário que na época estava seco e a grande quantidade de areia depositada formava um piso excelente para armar o acampamento. Mas, por ser uma grota, desfavorecia aos cangaceiros que estavam acampados embaixo.
DE VIRGULINO A LAMPIÂO
Virgulino Ferreira da Silva nasceu no município de Serra Talhada, em Pernambuco, e se dedicou a várias atividades: vaqueiro, almocreve, poeta, músico, operário, coreógrafo, ator, estrategista militar e chegou a ser promovido ao posto de capitão das forças públicas do Brasil, na época do combate à Coluna Prestes, no governo de Getúlio Vargas.
Sua infância foi como a de qualquer outro menino nascido no sertão nordestino; pouco estudo e muito trabalho desde cedo. Ainda menino, Virgulino recebe de seu tio um livro da biografia de Napoleão Bonaparte o que vai permitir a introdução de várias novidades desde o formato do chapéu em meia lua, algo inexistente até a entrada de Lampião no cangaço, até a formação de grupos armados e passando por táticas de guerra.
O jovem Virgulino percorreu todo o Nordeste, do Moxotó ao Cariri, comercializando de tudo pelas cidades, povoados, vilas, sítios e fazendas da região – ele vendia bugigangas, tecidos, artigos em couro; trazia as mercadorias do litoral para abastecer o sertão. Na adolescência, por volta dos 19 anos, Virgulino trabalhou para Delmiro Gouveia transportando algodão e couro de bode para a fábrica da Pedra, hoje município homônimo do empresário que o fundou.
As estradas eram precárias e o automóvel algo raro para a realidade brasileira do início de século XX; o transporte utilizado por esses comerciantes para chegarem aos seus clientes era o lombo do burro. Foi daí que Virgulino passou a conhecer o Nordeste como poucos e esta fase de sua adolescência foi fundamental para a sua permanência, durante mais de vinte anos, no comando do cangaço.
E O QUE MUDOU?
O cangaço foi um fenômeno social bastante importante para a história das populações exploradas dos sertões brasileiros. Existem registros que datam do século XIX e que nos mostram a existência deste fenômeno por mais ou menos dois séculos. O cangaço só se tornou possível graças ao desinteresse do poder público e os desmandos cometidos pelos coronéis e pela polícia com a subserviência do Estado.
O sertão nordestino sempre foi tratado de forma desigual em relação à região litorânea, e o fenômeno da seca sempre foi utilizado para manutenção dos privilégios da elite regional. O fenômeno social do cangaço não deixa de ser uma reação a este modelo desumano de ocupação do território brasileiro, e à altíssima concentração de renda e de influência política.
O governo brasileiro nunca ofereceu os direitos básicos, fundamentais aos sertanejos; o Estado jamais ofereceu educação, saúde, moradia, emprego o que tornou a sobrevivência no sertão complicada; o único braço estatal conhecido na região é a polícia, que, como sabemos, age na defesa do status-quo, é prepotente e intimida.
O poder dos coronéis do sertão era o que prevalecia em detrimento dos direitos fundamentais da população. A economia sertaneja era basicamente a criação de gado para o suprimento do país, a carne do sertão abastecia os engenhos de açúcar e as cidades do Brasil. O sertão historicamente foi ocupado com a pecuária.
Passado 68 anos a realidade do sertão nordestino não mudou muito; o cangaço se foi e no lugar surgiram pistoleiros de aluguéis que moram no asfalto; e os coronéis de antigamente hoje estão espalhados e infiltrados nos três poderes, gozando de foro privilegiado. A seca ainda vitima milhões de sertanejos, que continua sendo tratada da mesma forma assistencialista do passado. Finalmente, a corrupção continua a mesma; mudaram os personagens e a moeda.
E, infelizmente, a impunidade que também é a mesma de muito antes do cangaço.
Fonte: www.overmundo.com.br
Dia da Morte de Lampião
28 de Julho
Lampião – Robin Hood da Caatinga ou Líder Sanguinário?
Lampião, nome de batismo, Virgulino Ferreira da Silva, foi o cangaceiro líder do bando mais temido e sanguinário do sertão brasileiro, que chegou a ser chamado ‘O Robin Hood da Caatinga’, que roubava aos ricos para dar aos pobres. Mulato de aproximadamente 1,70, cego de um olho e muito vaidoso, ostentava em seus dedos anéis e no pescoço um lenço.
O fenômeno do cangaço ocorreu no polígono das secas, região do semi-árido nordestino conhecida como caatinga. Cangaceiro era o nome dado aos foras-da-lei que viveram de forma organizada na região do nordeste brasileiro, no período de 1920 a 1940, levando morte, medo à população do sertão.
Era muito comum no sertão brasileiro, as rivalidades por causa de terras, e numa dessas rixas entre famílias do sertão, os pais de Lampião foram assassinados. Revoltados, Lampião e seu irmão juraram se vingar da morte de seus pais e por isso entram para o cangaço.
Em 1922, Lampião assume a liderança do bando de cangaceiros chefiado, até então, pelo cangaceiro Sinhó Pereira.
O bando de Lampião era composto por cinquenta pessoas entre homens e mulheres. Patrocinado por coronéis e grandes fazendeiros que forneciam abrigo e apoio material, o bando chefiado por Lampião tinha o hábito de invadir cidades e vilarejos em busca de comida, dinheiro e apoio, e quando bem recebidos, a população desfrutava de baíles animados com muita música, dança (xaxado) e distribuição de esmolas. Mas quando o bando não conseguia apoio na cidade, Lampião e seu bando eram impiedosos, arrancavam olhos, cortavam línguas e orelhas, castravam homens e estuprava mulheres e a marcavam com ferro quente. Mesmo sendo autor de tanta atrocidades, Lampião se dizia um homem religioso e carregava uma imagem de Nossa Senhora da Conceição e um Rosário.
Em 1926 foi chamado pelo Padre Cícero para uma conversa onde foi repreendido por seus crimes e recebeu a proposta de combater a Coluna Prestes, grupo revolucionário que se encontrava no nordeste. Em troca Lampião receberia anistia e a patente de capitão dos batalhões patrióticos. Animado com a proposta, Lampião e seu bando partiram à caça dos revolucionários, mas quando Lampião chega a Pernambuco a polícia cerca seu bando e ele descobre que a anistia e a patente prometida não existia. Mas uma vez Lampião e seu bando voltam ao banditismo.
No final de 1930, lampião conhece sua grande paixão, Maria Bonita, mulher de um sapateiro que se apaixonou por Lampião e com ele fugiu.
Figura lendária ao lado de Lampião, Maria Bonita, a primeira mulher a participar de um bando de cangaceiros, ficou conhecida como a ‘Rainha do Cangaço’. Maria Bonita, além de cuidar dos afazeres domésticos, também participava das atividades de combate, mas muitas vezes impediu alguns atos de crueldade de Lampião.
A história de Lampião e Maria Bonita durou aproximadamente 8 anos, quando no dia 28 de julho de 1938, o bando de Lampião foi cercado e morto em Angicos, Sergipe, os integrantes do bando foram degolados e as cabeças expostas como troféus na escadaria onde hoje funciona a Prefeitura de Piranhas (AL).
Muitos historiadores acreditam que o bando tenha sido envenenado antes da degola, uma traição que pôs fim aos crimes cometidos pelo bando de Lampião que sempre contou com o aval de coronéis, a incompetência das autoridades do sertão brasileiro e o descaso do governo federal.
Esse ano a morte de Lampião completa 70 anos e as lendas e mito sobre o cangaceiro e sua saga no sertão nordestino permanecem viva no imaginário popular. Sua herança está no cinema, na dança (xaxado), na cultura popular, na pintura, no artesanato, na literatura, principalmente na literatura de cordel.
Conheça as seis principais lendas sobre Lampião
Segundo o Historiador, João souza Lima, existem seis mitos e lendas a respeito das atrocidades cometidas por Lampião, que ainda persistem. São elas:
Testículo na gaveta
Segundo o historiador, um certo dia, um sujeito estava cometendo crime de incesto e foi flagado por Lampião, que ordenou ao criminoso colocar os testículos na gaveta e fechar com chave. Lampião deixou um punhal sobre o criado-mudo e disse: “Volto em dez minutos, se você ainda estiver aqui eu te mato”.
Crianças no punhal
Conta essa lenda, que a população, com medo da fama de violento de Lampião, acreditava em todas as histórias sobre o cangaço. uma delas foi criada com o objetivo de afungentar os sertanejos que ajudavam a esconder cangaceiros. Os policiais da época espalhavam pela cidade que Lampião jogava as crianças para o alto e as parava com um punhal.
Lampião macaco
Segundo essa lenda, Lampião só conseguia se esconder na mata durante as perseguições das volantes (polícia da época), porque subia nas árvores e fugia pelos galhos das copas. O historiador conta que isso foi publicado em um livro sobre cangaço como se fosse verdade, e muita gente ainda acredita nessa história. “Quem conhece a caatinga sabe que na região onde Lampião passou e lutou não havia árvores com copas.”
Você fuma?
Outra lenda diz que Lampião teria sentido vontade de fumar e sentido o cheiro da fumaça do cigarro. Ele caminha um pouco e encontra um sujeito fumando. O cangaceiro vai até o homem e pergunta se ele fuma. O indivíduo vira para olhar quem conversava com ele e, asustado por ver que era Lampião, responde com medo: “Fumo, mas se quiser eu paro agora mesmo!”.
História do sal
É muito comum ouvir no nordeste até hoje, que Lampião chegou à casa de uma senhora e pediu que ela fizesse comida para ele e para os cangaceiros. Ela cozinhou e, com medo de Lampião, acabou por esquecer de colocar o sal na comida. Um dos cangaceiros reclamou que a comida estava sem gosto. Lampião, teria pedido um pacote de sal para a mulher, e despejou na comida servida ao cangaceiro reclamante e o forçou a comer toda comida do prato. O cangaceiro teria morrido antes de terminar de comer.
Lampião Zagueiro
Segundo o historiador, na década de 1960, uma empresa pesquisadora de petróleo no Raso da Catarina, em Paulo Afonso (BA), abriu uma pista de pouso para trazer os funcionários de outras regiões que iriam executar trabalhos de pesquisa. Sem ter encontrado petróleo, apenas algumas reservas de gás, a empresa deu por fim as pesquisas.
Na década de 1970, um estudioso do cangaço teria encontrado o campo de pesquisa parcialmente encoberto pelo mato e escreveu, em livro, que aquele seria um campo de futebol construído por Lampião. “O pesquisador ainda teria reportado, de maneira totalmente infundada, que o rei do cangaço teria atuado no time como zagueiro”.
Fonte: www.sertao24horas.com.br
Dia da Morte de Lampião
28 de Julho
A morte de Lampião e Maria Bonita
Madrugada de 28 de julho de 1938. O sol ainda não tinha nascido quando os estampidos ecoaram na Grota do Angico, na margem sergipana do Rio São Francisco. Depois de uma longa noite de tocaia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram contra um bando de 35 cangaceiros. Apanhados de surpresa – muitos ainda dormiam -, os bandidos não tiveram chance. Combateram por apenas 15 minutos. Entre os onze mortos, o mais temido personagem que já cruzou os sertões do Nordeste: Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião.
Era o fim da incrível história de um menino que nasceu no sertão pernambucano e se transformou no mais forte símbolo do cangaço. Alto – 1,79 metros -, pele queimada pelo inclemente sol sertanejo, cabelos crespos na altura dos ombros e braços fortes, Lampião era praticamente cego do olho direito e andava manquejando, por conta de um tiro que levou no pé direito. Destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até cidades.
Dinheiro, prataria, animais, jóias e quaisquer objetos de valor eram levados pelo bando.
“Eles ficavam com o suficiente para manter o grupo por alguns dias e dividiam o restante com as famílias pobres do lugar”, diz o historiador Anildomá Souza. Essa atitude, no entanto, não era puramente assistencialismo. Dessa forma, Lampião conquistava a simpatia e o apoio das comunidades e ainda conseguia aliados.
Os ataques do rei do cangaço – como Lampião ficou conhecido – às fazendas de cana-de-açúcar levaram produtores e governos estaduais a investir em grupos militares e paramilitares.
A situação chegou a tal ponto que, em agosto de 1930, o Governo da Bahia espalhou um cartaz oferecendo uma recompensa de 50 contos de réis para quem entregasse, “de qualquer modo, o famigerado bandido”. “Seria algo como 200 mil reais hoje em dia”, estima o historiador Frederico Pernambucano de Mello. Foam necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu bando fossem mortos.
Mas as histórias e curiosidades sobre essa fascinante figura continuam vivas.
Uma delas faz referência ao respeito e zelo que Lampião tinha pelos mais velhos e pelos pobres. Conta-se que, certa noite, os cangaceiros nômades pararam para jantar e pernoitar num pequeno sítio – como geralmente faziam. Um dos homens do bando queria comer carne e a dona da casa, uma senhora de mais de 80 anos, tinha preparado um ensopado de galinha. O sujeito saiu e voltou com uma cabra morta nos braços.
“Tá aqui. Matei essa cabra. Agora, a senhora pode cozinhar pra mim”, disse. A velhinha, chorando, contou que só tinha aquela cabra e que era dela que tirava o leite dos três netos. Sem tirar os olhos do prato, Lampião ordenou um de seu bando: “Pague a cabra da mulher”. O outro, contrariado, jogou algumas moedas na mesa: “Isso pra mim é esmola”. Ao que Lampião retrucou: “Agora pague a cabra, sujeito”. “Mas, Lampião, eu já paguei”. “Não. Aquilo, como você disse, era uma esmola. Agora, pague.”
Criado com mais sete irmãos – três mulheres e quatro homens -, Lampião sabia ler e escrever, tocava sanfona, fazia poesias, usava perfume francês, costurava e era habilidoso com o couro. “Era ele quem fazia os próprios chapéus e alpercatas”, conta Anildomá Souza. Enfeitar roupas, chapéus e até armas com espelhos, moedas de ouro, estrelas e medalhas foi invenção de Lampião.
O uso de anéis, luvas e perneiras também. Armas, cantis e acessórios eram transpassados pelo pescoço. Daí o nome cangaço, que vem de canga, peça de madeira utilizada para prender o boi ao carro.
NASCE UM BANDIDO
Apesar de ser o maior ícone do Cangaço, Lampião não foi o criador do movimento. Os relatos mais antigos de cangaceiros remontam a meados do século 18, quando José Gomes, conhecido como Cabeleira, aterrorizava os povoados do sertão. Lampião só nasceria quase 130 anos mais tarde, em 1898, no sítio Passagem das Pedras, em Serra Talhada, Pernambuco. Após o assassinato do pai, em 1920, ele e mais dois irmãos resolveram entrar para o bando do cangaceiro Sinhô Pereira.
Duramente perseguido pela polícia, Pereira decidiu sair do Nordeste e deixou o jovem Virgulino Ferreira, então com 24 anos, no comando do grupo. Era o início do lendário Lampião.
Os dezoito anos no cangaço forjaram um homem de personalidade forte e temido entre todos, mas também trouxeram riqueza a Lampião. No momento da sua morte, levava consigo 5 quilos de ouro e uma quantia em dinheiro equivalente a 600 mil reais. “Apenas no chapéu, ele ostentava 70 peças de ouro puro”, ressalta Frederico de Mello. Foi também graças ao cangaço que conheceu seu grande amor: Maria Bonita.
Em 1927, após uma malograda tentativa de invadir a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Lampião e seu bando fugiram para a região que fica entre os estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia. O objetivo era usar, a favor do grupo, a legislação da época, que proibia a polícia de um estado de agir além de suas fronteiras. Assim, Lampião circulava pelos quatro estados, de acordo com a aproximação das forças policiais.
Numa dessas fugas, foi para o Ra-so da Catarina, na Bahia, região onde a caatinga é uma das mais secas e inóspitas do Brasil. Em suas andanças, chegou ao povoado de Santa Brígida, onde vivia Maria Bonita, a primeira mulher a fazer parte de um grupo de cangaceiros. A novidade abriu espaço para que outras mulheres fossem aceitas no bando e outros casais surgiram, como Corisco e Dadá e Zé Sereno e Sila. Mas nenhum tornou-se tão célebre quanto Lampião e Maria Bonita. Dessa união nasceu Expedita Ferreira, filha única do lendário casal.
Logo que nasceu, foi entregue pelo pai a um casal que já tinha onze filhos. Durante os cinco anos e nove meses que viveu até a morte dos pais, só foi visitada por Lampião e Maria Bonita três vezes. “Eu tinha muito medo das roupas e das armas”, conta. “Mas meu pai era carinhoso e sempre me colocava sentada no colo pra conversar comigo”, lembra dona Expedita, hoje com 70 anos e vivendo em Aracaju, capital de Sergipe, Estado onde seus pais foram mortos.
CABEÇAS NA ESCADA
Em julho de 1938, após meses perambulando pelo Raso da Catarina, fugindo da polícia, Lampião refugiou-se na Grota do Angico, perto da cidade de Poço Redondo. Ali, no meio da caatinga fechada, entre grandes rochas e cactos, o governador do sertão – como gostava de ser chamado – viveu as últimas horas dos seus 40 anos de vida. Na tentativa de intimidar outros bandos e humilhar o rei do cangaço, Lampião, Maria Bonita e os outros nove integrantes do grupo mortos naquela madrugada foram decapitados e tiveram as cabeças expostas na escadaria da Prefeitura de Piranhas, em Alagoas. Os que conseguiram escapar se renderam mais tarde ou se juntaram a Corisco, o Diabo Loiro, numa tentativa insana de vingança que durou mais dois anos, até a morte deste em Brotas de Macaúbas, na Bahia. Estava decretado o fim do cangaço.
Não são poucas as lendas que nasceram com a morte de Lampião. Uma fala de um tesouro que ele teria deixado enterrado no meio do sertão. Outra conta que Lampião não morreu e vive, com mais de 100 anos, no interior de Pernambuco. Mas a verdade é que, mesmo 65 anos depois da sua morte, Virgolino Ferreira da Silva, aquele menino do sertão nordestino que se transformou no temido Lampião, ainda não foi esquecido. E sua extraordinária história leva a crer que nunca o será.
Na sua forma mais conhecida, o Cangaço surgiu no Século XIX, e terminou em 1940. Segundo alguns relatos e documentos, houve duas formas de Cangaço:
A mais antiga refere-se a grupos de homens armados que eram sustentados por seus chefes, na sua maioria donos de terras ou políticos, como um grupo de defesa. Não eram bandos errantes, pois moravam nas propriedades onde trabalhavam subordinados aos chefes.
A outra refere-se a grupos de homens armados, liderados por um chefe. Mantinham-se errantes, em bandos, sem endereço fixo, vivendo de assaltos, saques, e não se ligando permanentemente a nenhum chefe político ou de família. Estes bandos independentes viviam em luta constante com a polícia, até serem presos e mortos.
Esta é a forma do Cangaço mais conhecida e da qual trata esta exposição, através de imagens que contam, principalmente, histórias do bando de Lampião.
São protagonistas desse tipo de Cangaço:
Cangaceiro – Normalmente agrupados em bandos procuravam manter boas relações com chefes políticos e fazendeiros. Nestas relações eram frequentes a troca de favores e proteção em busca da sobrevivência do grupo.
Coronel – chefe político local; dono de grandes extensões de terra; autoridade político- econômica; tinha poder de vida e morte sobre a sociedade local; suas relações com os cangaceiros eram circunstanciais; seu apoio dependia do interesse do momento.
Coiteiro – além dos coronéis, compunha o cenário do cangaço o coiteiro, indivíduo que fornecia proteção aos cangaceiros. Arrumava alimentos, fornecia abrigo e informações. O nome coiteiro vem de coito, que significa abrigo. Quanto menor o poder político e financeiro do coiteiro, mais ele era perseguido pelas forças policiais, pois era uma valiosa fonte que poderia revelar o paradeiro de grupos de cangaceiros. Existiram coiteiros influentes: religiosos, políticos e até interventores.
Volantes – forças policiais oficiais, embora houvesse também civis que eram contratados pelo governo para perseguir os cangaceiros.
Cachimbos – perseguiam cangaceiros por vingança e não tinham vínculo com o governo.
Almocreves – transportavam bagagens, bens materiais.
Tangerinos – tocavam boiada à pé.
Vaqueiro – condutor de gado, usava roupa toda feita de couro para proteger-se da vegetação típica da caatinga (espinhos, galhos secos e pontudos).
Fonte: uol.com.br
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