Cícero Dias – Vida
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1907-2003
Cícero Dias foi um artista nascido em 1907.
A obra de arte mais antigo já registrado desse artista é uma pintura vendida em 1998, em Sotheby, e a obra de arte mais recente é um desenho de aguarela vendida em 2015.
Especialmente: pintura, de impressão múltipla, desenho-aguarela.
Cícero Dias nasceu em Jundiá Engenho, município de Escada, a 50 quilômetros de Recife (PE) em 5 de março, 1907 e, em breve, ele se mudou para o Rio de Janeiro. Registrando na Escola Nacional de Belas Artes, apresentada no início com um temperamento inquieto e volátil.
Ele começou a estudar escultura, e em curto espaço de tempo, retirou essa opção, substituindo-a pela pintura, em cujo estudo também não permaneceu por muito tempo.
Seu grande interesse foi experimentar novas tendências, a idéia de colocar em choque grave para a orientação da Academia. Perguntar, portanto, o seu encerramento, a partir de 1928 começou a estudar por si mesmos.
Em 1929, ele retornou para sua terra, fazendo uma apresentação em Recife, onde causou escândalo registrado no Rio de Janeiro. Formado, em seguida, o conceito de que o problema era nos grandes centros, que cresceram preconceitos, e, portanto, tiveram dificuldade em aceitar ou pelo menos teste de novas propostas.
Para provar sua tese de que realizou mais três exposições, desta vez no interior de Pernambuco, onde sua pintura foi aceito com mais facilidade.
“As pessoas não são estranhas”, concluiu ele, “quem é o estranho mau educado, o burguês, mas não as pessoas.”
Libertado da formação acadêmica, sua arte ganhou mais liberdade de expressão, aparentemente sem o tratamento fino que os pintores ortodoxos em geral, prever suas mesas.
As pinturas de Cícero, nas palavras de um crítico, foram formados por “imagens soltas e mal construídas (…) por meio de uma linguagem como primitivo, ou as crianças.
Com o início da 2ª República (1930-1945), arquiteto Lúcio Costa (1.902-1.999) assumiu a direção da Escola Nacional de Belas Artes e iniciou um processo de renovação, não são aceites por outros professores, ele criou uma série de embaraçoso resultando em sua demissão pouco depois.
Mas, pelo menos, naquele ano de 1931, Lúcio Costa foi diretor e abriu as inscrições para a Feira anual, liberá-lo para todas as tendências da arte, e não apenas acadêmica.
Cícero Dias aproveitou a oportunidade e não deixou por menos. Preparou uma tela com mais de vinte metros de comprimento, assim como os grafiteiros hoje, pintado tudo o que você faria por imaginação de cenas comuns, crianças, mesmo cenas eróticas.
Escusado será dizer que o escândalo foi repetido, desta vez com danos materiais, porque o grande painel foi destruído em vários lugares, obrigando-o a fazer a restauração. Expurgado das cenas mais fortes, o painel ainda estava com 17 metros de comprimento.
Cícero Dias – Cronologia
Cícero Dias
1908 – Nasce em Pernambuco.
1925 – Ingressa na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro.
1927 – Expõe no Rio de Janeiro, filiado ao movimento de vanguarda.
1935 – Leciona pintura moderna.
1937 – Exposição em Nova York e viagem a Paris, onde se fixa definitivamente, passando a frequentar o atelier de Picasso. Conhece Paul Eluard. Junta-se aos surrealistas de Paris.
1938 – Primeiras exposições em Paris.
1942 – Expõe em Londres e Portugal.
1943 – Premiado no Salão de Arte Moderna de Lisboa.
1948 – Participa de várias exposições no Brasil, viajando ao norte e nordeste do país. Executa no Recife a primeira pintura abstrata, mural, na América do Sul. Começa a fase da pintura abstrata geométrica.
1950 – Expõe na Bienal de Veneza.
1958 – Expõe nos Museus de Arte Moderna de Paris e Nova York e no Museu de Arte Americana, de São Francisco.
1965 – Retrospectiva com sala especial na Bienal de São Paulo – 40 anos de pintura.
1967 a 1982 – Realiza várias individuais no Brasil – no Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.
1984 – Retorna ao Brasil – Recife e São Paulo – mostrando o vigor de sua arte em plena vida, saúde e criatividade.
Cícero Dias – Biografia
Nascimento: 5 de março de 1907, Escada, Pernambuco.
Falecimento: 28 de janeiro de 2003, Paris, França.
Cícero Dias
Cícero Dias, nascido em Escada (Pernambuco) 5 março de 1907 e morreu em Paris 28 de janeiro de 2003, é um pintor modernista brasileiro.
A partir de 1925, estudou pintura na Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Ele participou dos grupos de intelectuais e artistas da época e tornou-se amigos com os modernistas, como São Paulo Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Emiliano Di Cavalcanti.
Foi durante uma viagem de Blaise Cendrars no Brasil que Dias feito o seu conhecimento.
Em 1928 ele fez sua primeira exposição individual e em 1930 ele participou de uma grande exposição de artista brasileiro Nicholas Roerich Museum em Nova York.Plaque Memorial na casa de Paris Cícero Dias no No.123 Rue de Longchamp.
Em 1937 ele se mudou para Paris, onde ele se torna amigo de Pablo Picasso, Fernand Léger, Paul Eluard e membros do grupo surrealista.
Durante a ocupação, ele participou da troca de informações entre a Resistência Francesa e Londres.
Foi ele quem enviou o poema para Roland Penrose Liberdade de Paul Eluard, este poema é copiado para vários milhares de cópias a ser lançado pela Royal Air Force acima do solo francês.
Cícero Dias morreu em Paris em 2003.
Ele foi enterrado na praça 7 Cemitério de Montparnasse.
Cícero Dias – Obra
Cícero Dias
Escada é um pequeno município distante 53 quilômetros de Recife. O engenho Jundya, hoje inativo, como tantos outros espalhados pela zona da mata, desempenhou papel muito importante no desenvolvimento da economia regional pernambucana.
Nele nasceu Cícero dos Santos Dias em 05 de mArço de 1907, sétimo filho de Pedro dos Santos Dias e Maria Gentil de Barros Dias.
Seus pais tiveram mas dez filhos: Antônio, Manuel, José, Maria de Lourdes, Pedro, Feliciana, João, Maria, Mário e Rômulo.
Cícero é neto do barão de Contendas pelo lado materno. Em Usina (1936) o escritor José Lins do Rego descreve os hábitos e costumes da família de engenho.
O espelho para esse livro é a família Santos Dias.
Cícero Dias
A infância de Cícero foi semelhante a de qualquer menino de engenho, com banhos ruidosos, proibidos, as brincadeiras e traquinagens, a presença do cangaço, as visitas aos engenhos vizinhos, a enchente, a escola, a professora, as primeiras letras, as lições de sexo… Naquela época os senhores de engenho abandonavam em desleixo os filhos, não se importando com a infância. Depois recorriam ao colégio para corrigi-los. Cícero não fugiu a essa regra. Viveu seus primeiros anos pelos engenhos do interior de Pernambuco.
“Eu vivi… intensivamente tudo. Por exemplo: onde nós estamos aqui, onde é o Hotel Boa Viagem, eu tenho a impressão que foi a primeira vez que eu vi o mar, porque as famílias se transportavam dos engenhos para as praias. Primeiro fui para Gaibu e depois Boa Viagem. Eu tenho a impressão que a primeira vez que vi o mar, tenho certeza, foi aqui em Boa Viagem, porque tinha o trenzinho de burro que saía da estação de Boa Viagem e trazia os passageiros p’ra orla marítima.”
O mar e a lua são elementos constantes na pintura de Cícero, bem como as lembranças que guarda de tia Angelina e da velha avó, em seu sobrado grande e antigo onde ele passa a residir para terminar o curso primário, já que a escolinha do engenho só alfabetizava os seus alunos. Nessas recordações, ocupa um espaço grande a babá Maria Bernarda da Silva e seus quitutes. Ela, por sua vez, considerava o garoto como sossegado e bom. Vivia cortando papel, pintando coisas, sonhando…
Em 1920, aos 13 anos de idade, Cícero foi para o Rio de Janeiro, ficando interno no mosteiro de São Bento.
Nessa época, alimentado pela leitura precoce e intensiva, desenvolve-se o traço mais marcante de sua formação: a imaginação criativa.
Entre os anos de 1925 a 1927 Cícero conheceu os modernistas.
José Lins do Rego descreveu os velhos tempos no Rio, numa crônica entitulada “Cícero Dias em 29”, escrita em 1952: a casa de dona Nazareth Prado, o velho Graça Aranha, Jayme Ovale e Anibal Machado inéditos, Manuel Bandeira na rua Curvelo, Murilo Mendes ainda na fase satânica, Di Cavalcanti querendo salvar a humanidade e os restos do futurismo na poesia, as querelas da Semana de Arte dividindo a literatura, João Ribeiro aceitando os novos.
Foi então que apareceu Cícero Dias.
Era um menino de engenho com a loucura da arte. Seus trabalhos revelavam o mundo estranho dos canaviais, das paixões furiosas, dos sonhos que eram verdadeiros incêndios dos sentidos.
Cícero Dias
Em 1928 realizou sua primeira exposição no Rio de Janeiro. A mostra aconteceu paralela ao 1º Congresso de Psicanálise da América Latina.
Arte e sonhos falam do/e ao inconsciente. Graça Aranha ao afirmar o quanto os quadros do pintor combinavam com o congresso, provavelmente, não percebeu a dupla conotação de suas palavras. Por outro lado não é o inconsciente quem pinta, a intervenção da ação refletida é fundamental para a produção de qualquer forma de arte, e as imagens oníricas são consideradas como a melhor expressão possível dos fatos ainda inconscientes. Graça Aranha ressaltou ainda que se tratava da primeira manifestação do surrealismo no Brasil, concluindo que “o artista com suas extraordinárias qualidades pictóricas, exprime em seu trabalho a poesia deliciosa de seu estranho e maravilhoso inconsciente.”
Nem todos entenderam os trabalhos expostos. Um senhor que comprovadamente não gostou deles, tentou destruí-los com uma navalha.
A maior parte de sua obra, nesse período, é composta de desenhos e aquarelas, onde ele obtém uma leveza, uma delicadeza de efeito, que a pintura a óleo não consegue dar.
Inicialmente um simbolismo explícito e inequívoco sobrepõe-se à técnica de elaboração exata e minuciosa.
A visão da mulher como objeto sexual insinuada em alguns trabalhos reflete a plena expressão do pensamento da época. Esse tratamento é dado à Sonho de uma prostituta. O desenho de linha fluida e livre revela a sexualidade relaxada e provocativa de uma moça cuja disponibilidade tem um paralelo com a Olympia de Edouard Manet. Essa impressão não provém do título e sim da expressão pictórica. Dias e Manet usam na elaboração do espaço plástico o recurso da perspectiva cromática, cujas características são o espaço plano e a linha recorte, dando aos quadros uma grande tatilidade.
Nessa primeira fase o pintor mergulhou fundo em busca da realidade interior do homem transitando entre o real e o imaginário à procura de um estilo próprio, adotando certas preocupações comuns ao surrealismo.
Suas figuras flutuam no espaço, enquanto as casas e a linha do horizonte assumem inesperadas posições. Nesses desenhos as imagens fundem-se. Existe uma ruptura com o ponto de fuga e o espaço está fragmentado em segmentos visuais.
Sua produção desse período está composta de figuras com elementos díspares retiradas de lugares comuns e tradicionais. A alteração da aparência real dos objetos e do corpo humano é uma tentativa de arrancar o observador de sua complacente confiança na realidade.
As distorções por ele realizadas alcançam seu grau mais extremo. Cícero Dias ao transpor os limites da existência demarcados pelo hábito e frieza da razão, desloca-se em direção ao mundo do inconsciente e do sonho, deixando-se conduzir pelos olhos da imaginação. O artista exibe uma abundância de imagens e revela uma espécie de diário poético em que o individual e o coletivo estão entremeados. Existe, ainda, o colorido suave e harmonioso adaptado à sua índole pessoal, e, no qual, o verde encontra-se sempre presente.
A partir de 1932, Cícero voltou ao seu estado natal. Sua permanência em Recife transformou-se em um momento de íntima relação com a sua terra e seu povo. Com Gilberto Freyre relembrou o seu passado de menino criado em engenho. O sociólogo falou-me de suas andanças com o pintor pelos engenhos e senzalas de todo o estado por quase um ano, em busca de material para sua obra Casa Grande & Senzala , editada em 1933, com desenhos executados por Cícero Dias.
Em relação a temática, a nova inclinação liga-se à tradição pernambucana com a paisagem rural alternando-se à paisagem urbana de Recife e Olinda , identificada nos quadros da coleção do Museu do Estado de Pernambuco. Realiza perfeitamente seu sentido de cor nessas telas, destacando-se a preferência pela simetria e por formas geométricas estilizadas. A maioria das composições baseia-se na forma triangular tradicional, criando uma aparência de repouso concentrado, evidenciando o quanto a excessiva excitabilidade dos primeiros tempos está disciplinada e controlada. Em 1938, Cícero Dias realizou suas primeiras exposições em Paris. Os trabalhos apresentados são a síntese de uma fase definitivamente encerrada. Ele está na cidade à procura de novos rumos. Naquele momento entrou em contato direto com as obras dos artistas da Escola de Paris.
O encontro causou no jovem pintor brasileiro um impacto muito grande, o que não é difícil de perceber observando-se os quadros produzidos no princípio da década de 40, dentre eles: Mulher na Praia e Mulher sentada com espelho, bem como as fontes em que o artista se inspirou.O protótipo mais próximo dessas composições são as obras de Pablo Picasso.
No entanto, ainda mais importante, do ponto de vista para seu subseqüente desenvolvimento como artista, é o passo seguinte, levando-o à abstração absoluta no final dos anos 40.
Abstração preparada desde 1932, com uma série de aquarelas com desenhos abstratos e predomínio de amarelos e vermelhos: manchas de traços e cores jorram, literalmente, nesses trabalhos. No período compreendido entre 1938 e 1948, tendo como paradigmas Mulher na Janela e Composição sem título aconteceu um progressivo abandono, uma prudente caminhada em direção ao abstracionismo.
Na década de 30 há uma oposição clara entre surrealismo e abstracionismo conduzindo à dissociação aparente entre abstração e inconsciente. Ao longo de sua evolução, a arte abstrata compreende que o campo do inconsciente é ilimitado e avança em direção a uma pintura mais livre.
Em 1945, ao juntar-se ao grupo Espace, Cícero Dias tenta dominar o inconsciente — essa região tão pouco clara e poderosa — na qual se manifesta, além do material artístico, todas as atividades culturais do homem. Dessa maneira, procedeu a um retorno ao passado recente da pintura abstrata e a estética dos anos 30, adotando em primeiro lugar a forma geométrica. Essa concepção de pintura torna-se comum na França , após a segunda grande guerra, encontrando-se em plena expansão.
No ano seguinte, expôs os trabalhos produzidos naquele período na Exposition Internationale d’Art Moderne, no Museu de Arte Moderna de Paris. Graças ao seu talento de colorista, o pintor conseguiu ultrapassar a frieza da tendência geométrica. A parte luminosa de suas telas tem como cor fundamental o vermelho/laranja, enquanto a parte escura tem como cor dominante o azul. Essa unidade harmônica é dada pelo contraste do acorde azul-verde/vermelho-laranja, característica pessoal de Cícero Dias, e denota o possível contato do artista com a teoria de cores de Goethe e com os escritos de André Lhote. O rigor formal dessa abstração vai diluindo-se progressivamente na década de 50 e, aos poucos, abandonou as formas rigorosas e passou para o abstracionismo informal.
No início dos anos 60, Cícero pintou diversas telas com retratos de mulheres. Apesar da aparência pouco natural, o retrato guarda profunda identidade com o modelo. Tendo se familiarizado com um repertório de configurações abstratas, e sob a influência da arte tradicional, começou a construir suas imagens à base de formas e figuras que, vistas isoladamente, não teriam função ou significado preciso.
Da maneira como estão dispostas, no entanto, adquirem valor representativo: dois círculos podem ser vistos como dois seios. O pintor desligava-se da abstração, convicto de que seu caminho era, novamente, a figuração. E ao invés de sígnos da figura feminina, sua preocupação voltou-se para a própria imagem da mulher.
Desde o princípio a mulher aparece nas pinturas e desenhos de Cícero Dias, simultaneamente como foco de desejo, frustração, conflito, humor, ironia. Mulher em mutação e constantemente presente , assumindo formas significativas retomadas pelo pintor em todas as variações.
Atualmente as figuras são submetidas a uma simplificação geométrica que lembra o cubismo de Braque e Picasso, mas a construção da superfície é feita com a cor, uma das lições básicas de Cézanne. Permanece vinculado à disciplina geométrica, seja na busca do plano, seja na integração figura/fundo. Os contrastes são mínimos, o que deixa a composição quase nos estritos limites bidimensionais.
Essas composições são uma mistura de mar, céu, sol, lua, folhagens, praias, barcos, pescadores, mulheres, flores. Os quadros revelam a sensibilidade do criador a temas amplos e a problemas puramente artísticos. A exuberância de cores, o humor, a poesia que o pintor transmite, são reflexos da fase feliz que atravessa em sua vida particular.
Cícero Dias faz uso insistente de alguns tópicos tradicionais da pintura, como os braços estendidos para o alto com as mãos abertas. Há um sentimento recluso de intimidade, de duração lenta, de silêncio. Os problemas da forma e da composição constituem a preocupação essencial do artista. Essa última fase deixa de ser criação direta como em seus primeiros trabalhos. Mesmo assim, a pintura de Cícero Dias guarda sempre uma extraordinária modernidade. Vive de uma permuta entre o presente e o passado. Essa figuração que povoa suas telas recentes são imagens reais e anteriores, vistas agora através do poético cristal da memória. Imagens muitas vezes fusão de outras, já vividas e imaginadas e que ressurgem agora livremente pintadas. Sua produção artística possui a força, a surpresa e a amplitude emocional não encontradas na maioria dos pintores brasileiros contemporâneos, pois a arte do século XX sofreu uma retração de imaginação por pressões de fórmulas.
Cícero Dias – Pintor
Cícero Dias
Artista plástico, considerado um dos pioneiros do modernismo no Brasil, Cícero Dias nasceu a 05 de março de 1907, no Engenho Jundiá, município de Escada, Pernambuco, onde ainda menino teve os primeiros contatos com a pintura: “eu ficava olhando minha tia Angelina pintar belos quadros, ela era filha do barão de Penedo e tinha uma escola de pintura na década de 20”.
De sua cidade natal, veio para o Recife e, em 1925, foi para o Rio de Janeiro, estudar arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes.
Foi no Rio que Cícero Dias estreou profissionalmente, expondo seus trabalhos pela primeira vez. A exposição aconteceu em 1928 no saguão de uma clínica médica porque, à época, havia grande desconfiança em torno do tipo de pintura que ele fazia e quase nenhuma galeria carioca tinha interesse pela arte moderna.
Como predominava a arte acadêmica, a mostra não fez grande sucesso mas foi visitada por todos os modernistas, entre os quais Villa-Lobos, o poeta Murilo Mendes, o artista plástico Ismael Nery e outros.
Do período de “iniciante” até ser considerado, na década de 90, um dos maiores pintores brasileiros, Cícero Dias viveu muitas histórias. De arte e de política.
Simpatizante do Partido Comunista, ele foi perseguido em 1937 quando Getúlio Vargas instalou a ditadura do Estado Novo. Era chamado pelas autoridades pernambucanas como “o artista que pinta retratos de Lênin a pedido de estudantes esquerdistas” e, por várias vezes, seu atelier no Recife foi invadido por tropas policiais. Foi aí que ele decidiu viver em Paris.
Para Cícero Dias, morar em Paris não foi uma novidade: em 1937 sua família já tinha apartamento montado na cidade e ali ele construiu toda uma vida.
Prosseguiu o seu trabalho como pintor, conheceu vários dos maiores artistas e intelectuais do século e em 1943 casou com a francesa Raymonde, que conheceu numa roda de amigos num café parisiense e com quem tem uma filha brasileira chamada Sílvia.
Desde que deixou Pernambuco, vem anualmente ao Recife rever amigos e “preservar as raízes”. Mas, a vida de Cícero Dias fora do Brasil não foi só maravilhas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, depois que o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha nazista e a Itália fascista, ele foi preso num hotel da cidade alemã de Baden-Baden. No grupo, estava também o escritor Guimarães Rosa.
O motivo da prisão foi apenas o fato de ser brasileiro. Em seguida, numa ação diplomática, o grupo foi trocado por espiões nazistas que se encontravam presos no Brasil. Libertado, Dias seguiu para Portugal.
Em Lisboa, exilado mais uma vez, Cícero Dias continua sua luta pela liberdade humana. Num encontro com intelectuais europeus, recebe um recado do poeta francês Paul Éluard, que atuava na Resistência e queria que o pintor brasileiro desse um jeito de ir buscar e fazer chegar a Londres um poema dele chamado “Liberté”, para ser divulgado entre as tropas aliadas.
A missão era ousada, pois Paris estava ocupada pelos nazistas, mas Cícero Dias topou.
Tempos depois, ele contaria essa aventura: “Fui à França atravessando clandestinamente a fronteira. Com receio dos nazistas, risquei a palavra liberté do poema, porque a palavra liberdade poderia me custar a vida diante de um pelotão de fuzilamento.
De volta a Lisboa, procurei a embaixada britânica e pedi ajuda ao secretário do embaixador, mister Marshall.
O poeta inglês Rolland Penthouse traduziu o poema para o inglês e “Liberté”, já impresso em milhares de panfletos, foi jogado sobre as tropas aliadas no front”.
Por esse sua atitude, Cícero Dias acabou virando herói: no dia 27 de maio de 1998 foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito da França, maior honraria concedida pelo Estado francês.
Ao ser informado sobre a condecoração, ele comentou em entrevista à imprensa: “Para os intelectuais, foi importante a distribuição do poema por toda a Europa.
Ajudou na libertação da França e de outros países. Se Éluard fosse vivo, nós dois seríamos condecorados”.
Autor do primeiro mural abstrato da América Latina, feito em 1948 no prédio da Secretaria da Fazenda de Pernambuco, Cícero Dias fez grandes amigos na Europa. Um deles foi o pintor espanhol Pablo Picasso. Os dois se conheceram pouco antes do final da Guerra Civil Espanhola, quando Picasso encontrava-se exilado em Paris.
“Nós nos reuníamos num café com republicanos espanhóis contrários ao regime de Franco e a partir daí comecei uma forte amizade com Picasso, que acabou sendo padrinho da minha filha”.
Aliás, foi por conta dessa amizade do pintor pernambucano com o gênio catalão que o público brasileiro pôde apreciar o famoso mural “Guernica”.
Picasso era supersticioso e não queria que sua obra saísse dos Estados Unidos enquanto durasse a ditadura de Franco.
Cícero Dias usou muitos argumentos, entre os quais o de que o Brasil era um país pobre e merecia ter acesso às grandes obras de arte, dobrando o amigo: Picasso acabou emprestando “Guernica” que foi mostrado na Bienal de São Paulo.
Cícero Dias sempre manteve uma rígida rotina de trabalho, que mesmo depois dos seus 90 anos não acabava antes das três horas da madrugada, incluindo pintura e leitura. Colecionador de suas próprias obras, um conselho do amigo Picasso, guardou os trabalhos mais significativos.
Autor de uma obra universal, exposta em centenas de países, nunca negou suas origens: “Toda minha obra foi fundada em Pernambuco, no início dos anos 20. Em mim, as raízes são mais fortes do que tudo”.
Ao longo de toda sua vida, tanto no Brasil quanto no exterior o reconhecimento ao trabalho do pintor pernambucano foi unânime.
Picasso considerava Cícero Dias “um poeta que também é pintor”. Já Oswald de Andrade julgava-o o maior pintor brasileiro de todos os tempos.
E, para não deixar suspeitas sobre esse julgamento, afirmava: “E ninguém poderia imaginar que estou falando por camaradagem, uma vez que minhas relações com ele são geladas”.
Cícero Dias – Artísta
Cícero Dias
Cícero Dias nasceu no dia 5 de março de 1907, no Engenho Jundiá, no município de Escada, em Pernambuco.
Foi o sétimo, dos onze filhos de Pedro dos Santos Dias e Maria Gentil de Barros e, ainda, pelo lado materno, neto do Barão de Contendas.
Aos 13 anos de idade, foi para o Rio de Janeiro. Surpreendendo os seus familiares, decidiu tornar-se um pintor.
Em 1928, porém, na Cidade Maravilhosa, nenhuma galeria de arte se interessava por arte moderna.
Neste sentido, a primeira exposição de Cícero – o mural Eu vi o mundo, que possuía quinze metros de largura – teve lugar em um hospício: foi o único espaço disponível que se conseguiu. Três anos depois, entretanto, ele abriria uma exposição no Salão de Belas Artes, a convite do pintor Di Cavalcanti.
Rompendo com a escola clássica, as exposições e trabalhos do artista geravam debates e escândalos, já que poucos os entendiam. Inclusive, houve o caso de um homem que, com o auxílio de uma navalha, tentou destruir as suas obras.
Cícero Dias era amigo de Gilberto Freyre e, com o antropólogo, relembraria o seu passado de menino criado em engenho. Por ser simpatizante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o artista foi perseguido em 1937, quando o então Presidente Getúlio Vargas instalou a ditadura do Estado Novo. E, várias vezes, ele teve o ateliê invadido por tropas policiais. Por essa razão, desgostoso com a realidade, o artista decidiu se mudar para Paris. Nesta cidade, em 1943, ele se casaria com a francesa Raymonde e teria uma filha.
Durante a II Guerra Mundial, cabe registrar também que, por ser brasileiro, depois que o país rompeu relações diplomáticas com a Alemanha nazista e a Itália fascista, Cícero foi preso na cidade alemã de Baden-Baden, juntamente com o escritor João Guimarães Rosa, que fazia parte do mesmo grupo de detentos. Felizmente, entretanto, este grupo foi trocado por espiões nazistas que estavam encarcerados no Brasil.
Cícero Dias foi o autor do primeiro mural abstrato da América Latina. O mural, elaborado em 1948, foi pintado no prédio da Secretaria da Fazenda de Pernambuco. Apesar de viver tão longe do Recife, os seus canaviais, casas-grandes, sobrados, bem como o rio Capibaribe e o mar de Boa Viagem, sempre estavam presentes no imaginário do pintor. Na década de 1960, ele produziria várias telas com retratos de mulheres. Depois dessa fase, pintaria flores, paisagens e personagens diversos.
Em sua primeira fase artística, Cícero Dias privilegiou aquarelas e óleos, e produziu os seguintes quadros: Sonho de uma prostituta (1930-1932), Engenho Noruega (1933), Lavouras (1933), Porto (1933) e Ladeira de São Francisco (1933).
Durante a segunda fase (1936-1960), onde prevaleceram a figuração e a abstração,se destacaram as seguintes obras do artista plástico: Mulher na janela (1936), Mulher na praia (1944), Mulher sentada com espelho (1944), Composição sem título (1948), Exact (1958), Entropie (1959). Por fim, em sua terceira fase (1960-2000), onde a mulher era um símbolo constante, ele pintaria a Composição sem título, em 1986.
Considerado como um dos pioneiros do modernismo no Brasil, Cícero Dias foi amigo de vários artistas modernistas, tais como o compositor Heitor Villa-Lobos, o artista plástico Ismael Nery e o poeta Murilo Mendes. E, na França, fez amizade com várias personalidades ilustres, a exemplo dos poetas André Breton e Paul Eluard, e do pintor Pablo Picasso, que se encontrava asilado em Paris antes do fim da Guerra Civil Espanhola. Este último tornara-se padrinho de sua filha e, junto a ele, Cícero acompanharia a elaboração do quadro Guernica, o famoso épico sobre aquela guerra. Além disso, pode-se dizer que Picasso exerceu uma influência marcante nos trabalhos do artista pernambucano.
No ano 2000, o pintor esteve no Recife para uma justa homenagem: a inauguração de uma praça com o seu nome. Vale lembrar, contudo, que o logradouro público foi projetado pelo próprio artista.
E, em fevereiro de 2002, ele retornaria ao Recife para o lançamento do livro Cícero Dias:uma vida pela pintura, de autoria do jornalista Mário Hélio. Na ocasião, expôs algumas de suas obras na Galeria Portal, em São Paulo.
Neste mesmo ano, aos 93 anos de idade, inspirado em sua obra Eu vi o mundo ele começava no Recife, o artista criaria um trabalho relevante para o Recife: o piso da Praça do Marco Zero, uma bela e enorme rosa dos ventos plantada no centro da cidade.
O artista plástico conservou-se lúcido, saudável e produtivo até o fim de sua vida. No dia 28 de janeiro de 2003, aos 95 anos, ele faleceu em sua casa, na Rue Long Champ, em Paris, onde residia há quarenta anos. Junto ao pintor, estavam presentes a esposa, Raymonde, a única filha, Sylvia, e seus dois netos.
Cícero Dias foi sepultado no cemitério de Montparnasse, na capital francesa.
Fonte: www.galeriaerrolflynn.com.br/www.latinamericanart.com/www.artfinding.com/www.pe-az.com.br
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