Adoniran Barbosa

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João Rubinato (vulgo Adoniran Barbosa), cantor, humorista, ator, compositor. Y Valinhos, SP, 6/7/1912 ~ V (parada cardíaca), São Paulo, SP, 23/11/1982. Aos dez anos, sua certidão de nascimento foi falsificada para 6/7/1910, a fim de que pudesse trabalhar, pois só com doze anos era permitido.

Sétimo filho de Fernando e Elba Rubinato, imigrantes italianos da cidade de Veneza, começou a trabalhar, criança, na cidade de Jundiaí, ajudando o pai no serviço de cargas em vagões na E. F. São Paulo Railway (atual E. F. Santos – Jundiaí). Nesta cidade ainda trabalhou como entregador de marmitas e varredor em uma fábrica.

Em 1924, a família muda-se para Santo André, SP e ali foi tecelão, pintor de parede, mascate, encanador, serralheiro, garçom, ajustador mecânico e vendedor.

João Rubinato ou Adoniran Barbosa
João Rubinato ou Adoniran Barbosa

Aos 22 anos transfere-se para São Paulo e onde foi morar numa pensão.

Nesta época já arriscava a compor, escrevendo Minha vida se consome (com Pedrinho Romano e Verídico) e Socorro (com Pedrinho Romano).

Como cantor, foi tentar a sorte em vários programas radiofônicos até ser aprovado em 1933 no de Jorge Amaral cantando Filosofia, de Noel Rosa e André Filho.

Em 1935, colocando versos na marchinha Dona boa de J. Aimberê, além de vencer o concurso de músicas carnavalescas da prefeitura de São Paulo, teve a sua primeira música gravada (com Raul Torres, na Columbia).

Foi neste ano (1935) que passou a usar o pseudônimo Adoniran Barbosa. Adoniran veio de um amigo de boemia e Barbosa foi extraído do sambista Luiz Barbosa, que admirava muito.

Por esta ocasião casou com uma antiga namorada, Olga e com ela teve uma filha, Maria Helena. O casamento não chegou a durar um ano. Em 1949 Adoniran casou-se novamente. Matilde de Lutiis foi sua companheira por mais de 30 anos e chegou até ser sua parceira em algumas composições.

Por cinco anos, atuando como cantor, animador e rádioator, trabalhou nas rádios Cruzeiro do Sul e Record. Nesta última, a partir de 1940 no programa Casa da Sogra de Osvaldo Moles, criou e atuou com sucesso vários personagens: Zé Cunversa (o malandro), Moisés Rabinovic (judeu da prestação), Jean Rubinet (galã do cinema francês), Perna Fina (motorista italiano), Mr Morris (professor de inglês) entre outros. Esta miscelânea de personagens viriam a influenciar no linguajar de suas composições futuras.

Junto com o Conjunto Demônios da Garoa (fundado em 1943 e que viriam a ser o seu maior intérprete) formou uma bandinha que animava a torcida nos jogos de futebol promovidos por artistas de rádio no interior paulista.

Participou como ator em vários filmes: Pif-paf (1945); Caídos do céu (1946); A vida é uma gargalhada (1950); O cangaceiro (1953); Esquina da ilusão (1953); Candinho (1954); Mulher de verdade (1954); Os três garimpeiros (1954); Carnaval em lá maior (1955); A carrocinha (1955); Pensão da Dona Estela (1956); A estrada (1956); Bruma seca (1961); A superfêmea (1973); Elas são do baralho (1977).

Inspirado no samba Saudosa maloca (de Adoniran Barbosa), em 1955 Osvaldo Moles escreveu para o rádio o programa História das malocas (no ar até 1965 na Record), onde Adoniran interpretou com enorme sucesso o personagem Charutinho. O programa chegou a ser levado até para a televisão.

Por ironia do destino, através da interpretação dos Demônios da Garoa, sua música Trem das onze (paulistaníssima) venceu o concurso de músicas carnavalescas no quarto centenário da fundação do Rio de Janeiro, RJ.

Na televisão participou de novelas, como A pensão de D. Isaura na TV Tupi e programas humorísticos na Record de São Paulo, como Papai sabe nada e Ceará contra 007.

Seu primeiro disco individual (LP) só surgiu em 1973, onde interpretou músicas suas, inéditas e antigas. No total gravou três LPs. Passou os últimos anos de sua carreira em esporádicos shows, restritos à região de São Paulo, sempre acompanhado pelo Grupo Talismã.

Adoniran, o grande representante da música popular paulistana, ganhou um museu, localizado na Rua XV de Novembro, 347. No Ibirapuera, um albergue de desportistas levou seu nome. Há um busto seu na Praça Don Orione (bairro do Bexiga). Virou também escola, praça, bar e no bairro do Jaçanã, há uma rua chamada Trem das Onze.

Principais composições:

Abrigo de vagabundo, Adoniran Barbosa, 1959

Acende o candieiro, Adoniran Barbosa, 1972

Aguenta a mão, Hervê Cordovil e Adoniran Barbosa, 1965

Apaga o fogo Mané, Adoniran Barbosa, 1956

As mariposas, Adoniran Barbosa, 1955

Bom-dia tristeza, adoniran barbosa e Vinícius de Moraes, 1958

Despejo na favela, Adoniran Barbosa, 1969

Fica mais um pouco, amor, Adoniran Barbosa, 1975

Iracema, Adoniran Barbosa, 1956

Joga a chave, Osvaldo França e Adoniran Barbosa, 1952

Luz da light, Adoniran Barbosa, 1964

Malvina, Adoniran Barbosa, 1951

Mulher, patrão e cachaça, Osvaldo Moles e Adoniran Barbosa, 1968

No morro da Casa Verde, Adoniran Barbosa, 1959

O casamento do Moacir, Osvaldo Moles e Adoniran Barbosa, 1967

Pafunça, Osvaldo Moles e Adoniran Barbosa, 1965

Prova de carinho, Hervê Cordovil e Adoniran Barbosa, 1960

Samba do Arnesto, Alocin e Adoniran Barbosa, 1953

Samba italiano, Adoniran Barbosa, 1965

Saudosa maloca, Adoniran Barbosa, 1951

Tiro ao Álvaro, Osvaldo Moles e Adoniran Barbosa, 1960

Tocar na banda, Adoniran Barbosa, 1965

Trem das onze, Adoniran Barbosa, 1964

Viaduto Santa Efigênia, Nicola Caporrino e adoniran barbosa

Vila Esperança, Ari Madureira e Adoniran Barbosa, 1968

Fonte: www.geocities.com

Adoniran Barbosa

Adoniran Barbosa foi popularizado pelo grupo os Demônios da Garoa. Em suas composições retrata o cotidiano da população urbana de São Paulo e as mudanças causadas na cidade pelo progresso. Teve o reconhecimento da mídia nos anos setenta. A música o Trem das Onze foi eleita pelo paulistano a música a cara da cidade em uma campanha organizada pelo “SPTV” da TV Globo, como a música do século. Em 2001 Adoniran ganha cinebiogafia.

João Rubinato nasce na cidade de Valinhos e na infância muda-se para Jundiaí. Em 1924 mora em Santo André, na Grande São Paulo, e começa a trabalhar para ajudar a família. Aos 22 anos instala-se na capital, no bairro da Bela Vista, onde se emprega no comércio e participa de programas de calouros no rádio.

Nessa época adota o pseudônimo de Adoniran Barbosa, Adoniran, nome de seu melhor amigo, e Barbosa em homenagem ao cantor Luís Barbosa, seu ídolo. Conquista o primeiro lugar no concurso carnavalesco promovido pela prefeitura de São Paulo, em 1934, com a marcha Dona Boa, feita em parceria com J. Aimberê.

O sucesso o leva ao primeiro casamento com Olga, que durou menos de um ano, do qual teve sua única filha, Maria Helena. Em 1949 casa-se pela 2ª vez com Matilde de Lutiis, que será sua companheira e parceira de composição em músicas por mais de 30 anos. Em 1941 é convidado para atuar na Rádio Record, em que trabalha como ator e locutor.

Em 1955 estreou o personagem Charutinho, seu maior sucesso no rádio, compõe o primeiro sucesso, Saudosa Maloca, gravado pelo conjunto Demônios da Garoa. Em seguida lança outras músicas, como Samba do Arnesto e o famoso Trem das Onze.Uma de suas últimas composições é Tiro ao Álvaro, gravada por Elis Regina em 1980.

No bairro do Bexiga, local onde o sambista viveu a maior parte de sua vida, o nome adoniran barbosa é uma rua famosa e na praça Don Orione há um busto do compositor.

Fonte: www.sosamba.com.br

Adoniran Barbosa

Nome artístico – Adoniran Barbosa
Nome original – João Rubinato
Data do nascimento – 6-8-1910 – Valinhos (SP)
Operário – Ator – Compositor – Locutor – Intérprete
1º prêmio – 1934 – (concurso carnavalesco)
1º sucesso – 1951 (Saudosa Maloca)
Data da morte – 23-11-1982 (SP)
Destaques – Deixou cerca de 90 letras inéditas
Discos gravados – oito (8)

Adoniran Barbosa foi popularizado pelo grupo os Demônios da Garoa. Em suas composições retrata o cotidiano da população urbana de São Paulo e as mudanças causadas na cidade pelo progresso. Teve o reconhecimento da mídia nos anos setenta. A música o Trem das Onze foi eleita pelo paulistano a música “a cara da cidade” em uma campanha organizada pelo “SPTV” da TV Globo, como a música do século. Em 2001 Adoniran ganha cinebiogafia.

João Rubinato nasce na cidade de Valinhos e na infância muda-se para Jundiaí. Em 1924 mora em Santo André, na Grande São Paulo, e começa a trabalhar para ajudar a família. Aos 22 anos instala-se na capital, no bairro da Bela Vista, onde se emprega no comércio e participa de programas de calouros no rádio.

Adoniran Barbosa
Adoniran Barbosa

Nessa época adota o pseudônimo de Adoniran Barbosa, Adoniran, nome de seu melhor amigo, e Barbosa em homenagem ao cantor Luís Barbosa, seu ídolo. Conquista o primeiro lugar no concurso carnavalesco promovido pela prefeitura de São Paulo, em 1934, com a marcha Dona Boa, feita em parceria com J. Aimberê.

O sucesso o leva ao primeiro casamento com Olga, que durou menos de um ano, do qual teve sua única filha, Maria Helena. Em 1949 casa-se pela 2ª vez com Matilde de Lutiis, que será sua companheira e parceira de composição em músicas por mais de 30 anos. Em 1941 é convidado para atuar na Rádio Record, em que trabalha como ator e locutor.

Em 1955 estreou o personagem Charutinho, seu maior sucesso no rádio, compõe o primeiro sucesso, Saudosa Maloca, gravado pelo conjunto Demônios da Garoa. Em seguida lança outras músicas, como Samba do Arnesto e o famoso Trem das Onze.Uma de suas últimas composições é Tiro ao Álvaro, gravada por Elis Regina em 1980.

No bairro do Bexiga, local onde o sambista viveu a maior parte de sua vida, o nome Adoniran Barbosa é uma rua famosa e na praça Don Orione há um busto do compositor.

Discografia

Passoca Canta Inéditos de Adoniran (2000) – CD

Adoniran Barbosa – Seu Último Show Gravado ao Vivo (2000) – CD

Adoniran Barbosa – O Poeta do Bixiga (1990) – CD

Saudades de Adoniran (1984) – Vinil

Documento Inédito (1984) – CD/ Vinil

Adoniran Barbosa – 70 anos (1980) – CD/Vinil

Talismã Canta Adoniran Barbosa (1979) – Vinil

Adoniran Barbosa – (1975) – CD /Vinil

Adoniran Barbosa – (1974) – Vinil

Participações

Meus Momentos – Vol. 1 e 2 – Djavan (Djavan)

Elis Regina no Fino da Bossa – Ao Vivo (Elis Regina)

10 Anos (Clara Nunes)

Adoniran Barbosa – O Poeta do Bixiga (Adoniran Barbosa)

Fonte: www.sosamba.com.br

Adoniran Barbosa

Sambista: 1910 – 1982

1910

Em Valinhos, interior do Estado de São Paulo, Brasil, a 6 de Agosto nasce João Rubinato, filho de imigrantes italianos.

1924

Primeiro ofício

Entregador de marmitas.

1932

Depois de ter vivido em Jundiaí e Santo André, muda-se para a cidade de São Paulo; emprega-se como vendedor de tecidos e participa em programas de calouros, na rádio; adota o pseudônimo Adoniran Barbosa.

1934

Com a marcha Dona Boa ganha o primeiro lugar em concurso carnavalesco promovido pela Prefeitura de São Paulo.

1936

Casa com Olga

1937

Passa a viver com Matilde, amor para toda a vida.

1941

É convidado pela Rádio Record para trabalhar como ator cômico, locutor e discotecário.

1955

Grava Saudosa Maloca, samba de sucesso; a seguir compõe outro sucesso: o Samba do Arnesto.

1965

Os “Demônios da Garoa” gravam Trem das onze, samba de Adoniran, que alcança grande êxito.

1972

Adoniran aposenta-se mas como a pensão que recebe é pequena, passa a fazer shows nos circos e nos palcos.

1974

Adoniran grava o samba Vide verso meu endereço.

1982

Elis Regina canta e grava Tiro ao Álvaro, de Adoniran Barbosa; este morre a 23 de Novembro, parada cardíaca.

O ENTREGADOR DE MARMITAS

Desde Valinhos, onde nasce em 1910, como João Rubinato, até à São Paulo que canta em seus sambas, Adoniran Barbosa conhece as misérias da vida e a rejeição dos que têm de lutar até à última fibra dos ossos para ter seu talento reconhecido. Não foi fácil a vida para o sambista.

Abandona a escola cedo, pois não gosta de estudar; nascido de uma família de imigrantes italianos, que busca acertar-se na vida, necessita trabalhar, para ajudar a família numerosa – Adoniran tem sete irmãos. Procurando resolver seus problemas financeiros, os Rubinato vivem mudando de cidade. Moram primeiro em Valinhos, depois Jundiaí, Santo André e finalmente São Paulo.

Em Jundiaí, conhece seu primeiro ofício: entregador de marmitas. Aos quatorze anos, ainda criança, o encontramos rodando pelas ruas da cidade e, legitimamente, surrupiando alguns bolinhos pelo caminho. A matemática da vida lhe dá o que a escola deixou de ensinar: uma lógica irrefutável. Se havia fome e, na marmita, oito bolinhos, dois lhe saciariam a fome e seis a dos clientes; se quatro, um a três; se dois, um a um. O aprendizado se completa, nas diversas atividades exercidas por João. Foi pedreiro, garagista, mascate, encanador, garçom, metalúrgico…

Mais tarde faria Vide verso meu endereço, samba gravado em 1974, já no final da vida – Adoniran morre em 1982 – no qual fala de situação decerto observada em suas andanças pelas ruas das cidades em que viveu.

Em forma de carta, o samba diz:

Venho por meio dessas mal traçadas linhas
comunicar-lhe que fiz um samba pra você,
no qual quero expressar
toda minha gratidão
e agradecer de coração
tudo o que você me fez.

O dinheiro que você me deu
comprei uma cadeira lá
na Praça da Bandeira.
Ali vou me defendendo,
pegando firme dá pra tirar
mais de mil por mês.

Casei, comprei uma casinha linda
lá no Ermelindo.
Tenho três filhos lindos,
dois são meus, um de criação…

Não é necessariamente um samba de reconhecimento, mas de formação, passa-nos a experiência de quem viveu e aprendeu a observar o que, em torno de si, é a vida.

A GESTA DE ADONIRAN BARBOSA

O compositor e cantor tem um longo aprendizado, num arco que vai do marmiteiro às frustrações causadas pela rejeição de seu talento. Quer ser artista – escolhe a carreira de ator. Procura de várias maneiras fazer seu sonho acontecer. Tenta, antes do advento do rádio, o palco, mas é sempre rejeitado. Sem padrinhos e sem instrução adequada, o ingresso, nos teatros, como ator, lhe é para sempre abortada O samba, no início da carreira, tem para ele caráter acidental. Escolado pela vida, sabe que o estrelato e o bom sucesso econômico só são alcançados na veiculação de seu nome na caixa de ressonância popular que é o rádio.

O magistral período das rádios, também no Brasil, cria diversas modas, mexe com os costumes, inventa a participação popular – no mais das vezes, dirigida e didática. Têm elas um poder e extensão pouco comuns para um país rural como o nosso. Inventam a cidade, popularizam o emprego industrial e acendem os desejos de migração interna e de fama. Enfim, no país dos bacharéis, médicos e párocos de aldeia, a ascensão social busca outros caminhos e pode-se já sonhar com a meteórica carreira de sucesso que as rádios produzem. Três caminhos podem ser trilhados: o de ator, o de cantor ou o de locutor.

Adoniran, aprendiz das ruas, percebe as possibilidades que se abrem a seu talento. Quer ser ator, popularizar seu nome e ganhar algum dinheiro, mas a não aceitação anterior o leva para outros caminhos. Sua inclinação natural no mundo da música é a composição mas, neste momento, o compositor é um mero instrumento de trabalho para os cantores, que compram a parceria e, com ela, fazem nome e dinheiro. Daí sua escolha recair não sobre a composição, mas sobre a interpretação.

Entrega-se ao mundo da música. Busca conquistar seu espaço como cantor – tem boa voz, poderia tentar os diversos programas de calouro.

Já com o nome de Adoniran Barbosa – tomado emprestado a um companheiro de boêmia e de Luiz Barbosa, cantor de sambas, que admira – João Rubinato estréia cantando um samba brejeiro de Ismael Silva e Nilton Bastos, o Se você jurar.

É gongado, mas insiste e volta novamente ao mesmo programa; agora cantando o belo samba de Noel Rosa, Filosofia, que lhe abre as portas das rádios e ao mesmo tempo serve como mote para suas composições futuras:

O mundo me condena
e ninguém tem pena
falando sempre mal
do meu nome
deixando de saber
se eu vou morrer de sede
ou se eu vou morrer de fome.

Mas a filosofia
hoje me auxilia
a viver indiferente assim
nessa prontidão (1) sem fim.
Vou fingindo que sou rico
pra ninguém zombar
de mim.

Não me incomodo
que você me diga
que a sociedade é minha inimiga,
pois cantando nesse mundo
vivo escravo do meu samba
muito embora vagabundo.
Quanto a você da aristocracia
que tem dinheiro
mas não compra alegria
há de viver eternamente
sendo escrava dessa gente
que cultiva a hipocrisia.

DEUS DÁ O FRIO CONFORME O COBERTOR

Saudosa Maloca, primeiro sucesso de Adoniran. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

A vida profissional de Adoniran Barbosa se desenvolve a partir das interpretações de outros compositores. Embora a composição não o atraia muito, a primeira a ser gravada é Dona Boa, na voz de Raul Torres. Depois grava em disco Agora pode chorar, que não faz sucesso algum. Aos poucos se entrega ao papel de ator radiofônico; a criação de diversos tipos populares e a interpretação que deles faz, em programas escritos por Osvaldo Moles, fazem do sambista um homem de relativo sucesso. Embora impagáveis, esses programas não conseguem segurar por muito tempo ainda o compositor que teima em aparecer em Adoniran. Entretanto, é a partir desses programas que o grande sambista encontra a medida exata de seu talento, em que a soma das experiências vividas e da observação acurada dá ao país um dos seus maiores e mais sensíveis intérpretes.

O mergulho que o sambista fará na linguagem, suas construções linguísticas, pontuadas pela escolha exata do ritmo da fala paulistana, irão na contramão da própria história do samba. Os sambistas sempre procuraram dignificar sua arte com um tom sublime, o emprego da segunda pessoa, o tom elevado das letras, que sublimavam a origem miserável da maioria, e funcionavam como a busca da inserção social. Tudo era uma necessidade urgente, pois as oportunidades de ascensão social eram nenhumas e o conceito da malandragem vigia de modo coercitivo. Assim, movidos pelos mesmos desejos que tinha Adoniran de se tornar intérprete e não compositor, e a partir daí conhecido, os compositores de samba, entre uma parceria vendida aqui e outra ali, davam o testemunho da importância que a linguagem assumia como veículo social.

Mas a escolha de Adoniran é outra, seu mergulho também outro. Aproveitando-se da linguagem popular paulistana – de resto do próprio país – as músicas dele são o retrato exato desta linguagem e, como a linguagem determina o próprio discurso, os tipos humanos que surgem deste discurso representam um dos painéis mais importantes da cidadania brasileira. Os despejados das favelas, os engraxates, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, social e existencialmente solitário, estão intactos nas criações de Adoniran, no humor com que descreve as cenas do cotidiano. A tragédia da exclusão social dos sambistas se revela como a tragicômica cena de um país que subtrai de seus cidadãos a dignidade.

O sucesso de Saudosa Maloca (2), o primeiro do compositor, traz já inscritas suas marcas:

Se o sinhô não tá lembrado
dá licença de contá
que aqui onde agora está
esse edirfiço arto (3)
era uma casa véia (4)
um palacete assobradado.
Foi aqui seu moço,
que eu Mato Grosso e o Joca
construímos nossa maloca,
mas um dia nós nem pode se alembrar
veio os home co’as ferramenta
o dono mandou derrubá.
Peguemos todas nossas coisas
e fumos pro meio da rua
preciá (5) a demolição.
Que tristeza que nós sentia
cada táuba que caía
duía no coração…
Mato Grosso quis gritá,
mas em cima eu falei:
“os home tá co’a razão nós arranja outro lugá.”
Só se conformemos quando Joça falô:
“Deus dá o frio conforme o cubertô.”
E hoje nóis pega páia (6) nas gramas do jardim
e pra esquecê nóis cantemos anssim:

Saudosa maloca, maloca querida
donde nós passemos
os dias feliz de nossas vidas.

Adoniran Barbosa

IRACEMA, EU PERDI O SEU RETRATO

O seu primeiro sucesso como compositor vira canção obrigatória das rodas de samba, das casas de show; é bem possível que todo brasileiro conheça, senão a música inteira, ao menos o estribilho, que se torna intemporal. Adoniran alcança, então, o almejado sucesso que, entretanto, dura pouco e não lhe rende mais que uns minguados trocados de direitos autorais. A música, que já havia sido gravada pelo autor em 1951 e não fizera sucesso ainda, é regravada novamente pelos “Demônios da Garoa”, conjunto musical de São Paulo (esta cidade é conhecida como a terra da garoa, da neblina, daí o nome do grupo). Embora o conjunto seja paulista, a música acontece primeiramente no Rio de Janeiro. E aí sim, o sucesso é retumbante.

Como acontecera com os programas escritos por Osvaldo Moles, que deram a Adoniran a medida exata da estética a ser seguida, o samba inspira Osvaldo a criar um quadro para a rádio, que se chamava História das Malocas, com um personagem, que faz sucesso, o Charutinho. De novo ator, Adoniran, tendo provado o sucesso como compositor, não mais se afasta da composição.

Arguto observador das atividades humanas, sabe também que o público não se contenta apenas com o drama das pessoas desvalidas e solitárias; é necessário que se dê a este público uma dose de humor, mesmo que amargo.

Compõe para esse público um dos seus sambas mais notáveis, um dos primeiros em que trabalhou a nova estética do samba.

Iracema, eu nunca mais eu te vi.
Iracema, meu grande amor, foi embora…
Chorei, eu chorei de dor porque
Iracema, meu grande amô foi você.
Iracema, eu sempre dizia
cuidado ao atravessar essas rua…
Eu falava, mas você não me escuitava não
Iracema você travessô contramão.

E hoje ela vive lá no céu,
e ela vive bem juntinho de Nosso Sinhô…
De lembrança guardo somente suas meias
e seus sapatos…
Iracema, eu perdi o seu retrato…

Declamando) Iracema, fartava (7) vinte dias pro nosso casamento, que nóis ia se casá… Você travessô a rua São João, veio um carro te pega e te pincha no chão… Você foi pra assistença. O chofé não teve curpa, Iracema, paciença… paciença…

MATILDE

Adoniran Barbosa

Entre a tentativa de carreira nas rádios paulistas e o primeiro sucesso, Adoniran trabalha duro, casa-se duas vezes e frequenta, como boêmio, a noite. Nas idas e vindas de sua carreira tem de vencer várias dificuldades. O trabalho nas rádios brasileiras é pouco reconhecido e financeiramente instável, muitos passaram anos nos seus corredores e tiveram um fim de vida melancólico e miserável. O veículo que encanta multidões, que faz de várias pessoas ídolos é também cruel como a vida; passado o sucesso que, para muitos, é apenas nominal, o ostracismo e a ausência de amparo legal levam cantores, compositores e atores a uma situação de impensável penúria.

Adoniran sabe disto, mas mesmo assim seu desejo cala mais fundo. O primeiro casamento não dura um ano; o segundo, a vida toda: Matilde. De grande importância na vida do sambista, Matilde sabe com quem convive e não só prestigia sua carreira como o incentiva a ser quem é e como é, boêmio, incerto e em constante dificuldade. Trabalha também fora e ajuda o sambista nos momentos difíceis, que são constantes. Adoniran vive para o rádio, para a boêmia e para Matilde.

Numa de suas noitadas, de fogo, perde a chave de casa e não há outro jeito senão acordar Matilde, que se aborrece.

O dia seguinte foi repleto de discussão. Mas Adoniran é compositor e dando por encerrado o episódio, compõe:

Joga a chave meu bem
aqui fora tá ruim demais.
Cheguei tarde, perturbei teu sono
amanhã eu não perturbo mais…

Faça um furo na porta
amarre um cordão no trinco
pra abrir do lado de fora.
Não perturbo mais teu sono
chego a meia-noite e cinco
ou então a qualquer hora…

HISTÓRIA

Dono de um repertório variado de histórias, o sambista não perdia a vez de uma boa blague. Certa vez, quando trabalhava na rádio Record, onde ficou por mais de trinta anos, resolveu, após muito tempo ali, pedir um aumento. O responsável pela gravadora disse-lhe que iria estudar o aumento e que Adoniran voltasse em uma semana para saber dos resultados do estudo… quando voltou, obteve a resposta de que seu caso estava sendo estudado. As interpelações e respostas, sempre as mesmas, duraram algumas semanas… Adoniran começava se irritar e, na última entrevista, saiu-se com esta:

“Tá certo, o senhor continue estudando e quando chegar a época da sua formatura me avise..” 

FALAR ERRADO É UMA ARTE

Adoniran grava o Samba do Arnesto, sucesso absoluto. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.

O sucesso de Adoniran, a divulgação de suas músicas, se deve muito à atuação perfeita dos “Demônios da Garoa”. No mesmo ano em que gravaram Saudosa Maloca, também gravaram o Samba do Arnesto, cuja melodia e letra demonstram todo o cuidado das composições de Adoniran. A estética fundada pela música anterior se demonstra e plena, completa e acabada. O sambista descobre a si mesmo, sua melhor expressão e seus melhores interpretes. Aos quarenta e cinco anos é um artista perfeito… De sua boca ouvimos, em depoimentos tardios, algumas das definições mais precisas sobre o ofício de compor e reconhecemos nele a certeza e a convicção de que cria, com sua persistência, uma arte maior. Em um de seus depoimentos sai-se com esta pequena jóia, verdadeira arte poética: “Falar errado é uma arte, senão vira deboche” ou com esta: “Eu sempre gostei de samba. Sou um sambista nato. Gosto de samba e pouco me importa se custaram a me aceitar assim. Implicavam com as minhas letras, com os nóis fumo, nóis vamu, nóis semu etc. etc… O que eu escrevo está lá direitinho no Bexiga (8). Lá é engraçado… o crioulo e o italiano falam igualzinho… o crioulo fala cantando…”

Essa arte pode se reconhecida no Samba do Arnesto. Toda roda de samba, todo show ou cantoria em que o samba se acompanha do violão e seus instrumentos de percussão emendam a Saudosa maloca com o Samba do Arnesto…

O Arnesto nus convidô prum samba
ele mora no Brás (9),
nóis fumo não encontremos ninguém.
Nóis vortemos cuma bruta duma réiva (10) ,
da outra veis
nóis num vai mais!

No ortro dia
encontremo co Arnesto
que pediu descurpa, mas nós num aceitemos.
Isso num se faz Arnesto,
nóis num se importa,
mais você devia
ter ponhado (11) um recado na porta.

(Breque falado:) (12) Anssim: Oia turma, não deu pra esperá. Aduvido que isso num faz mar (13) , e num tem importança. De otra veis nóis te carça a cara! (14)

Adoniran Barbosa

TREM DAS ONZE

A vida em família transcorre tranquila. O sucesso espoca ora aqui ora ali. Mora Adoniran em São Paulo, perto do aeroporto – bairro afastado dos da burguesia paulista. Continua com sua vida no rádio, mas nada é permanente e ele reconhece isto com a própria vida. A voz a cada ano fica mais roufenha, produto dos cigarros e da bebida, para uns, e das imitações que faz como ator, para outros. A voz que fica na memória dos brasileiros é esta.

Aposenta-se em 1972, com 62 anos de idade e, como a pensão que recebe é pequena, procura engordar a renda familiar em shows que faz nos circos e nos palcos. Canta nos circos às quintas, sábados e domingos. Certa feita, quando se preparava para entrar no picadeiro, diz para seu sobrinho, Sérgio Rubinato, que o acompanha nos últimos anos: “Está me cheirando a um certo fedor de ausência de público…” Ganha pouco e para ele a necessidade da afluência do público é importante.

Nem seu último sucesso, gravado e regravado diversas vezes, o Trem das onze, traz-lhe a devida recompensa. Trem das onze é gravado originalmente pelos Demônios, em 1965. Lançado no meio do ano, se torna o maior sucesso no carnaval do Rio de Janeiro e depois é novamente repatriado para São Paulo. É curioso que este samba apareça num momento importante para a música popular brasileira.

A música brasileira, após o advento da bossa-nova e da tropicália, mesmo mantendo o samba como pano de fundo, se integra a um processo de troca cultural com o resto do mundo, principalmente a música americana, que é importante para a sua remodelação e para o questionamento do fazer cultural, mas que retira dos meios midiáticos a expressão de certa parcela da população, que fizera da música base para quebrar com o preconceito e a não aceitação das elites culturais e econômicas. O samba é banido das rádios, da televisão…

Alguns movimentos de resistência e de troca cultural, como o Zicartola, que recoloca o samba em discussão aparecem e são importantes. O foco de resistência é o Rio de Janeiro. O samba de maior penetração popular, o de Adoniran, sambista paulista.

Adoniran Barbosa

PARQUE DE DIVERSÕES

Nos últimos anos de vida, com o enfisema avançando, e a impossibilidade de sair de casa pela noite, o sambista dedica-se a recriar alguns dos espaços mágicos que percorreu na vida. Grava algumas músicas ainda, mas com dificuldade – a respiração e o cansaço não lhe permitem muita coisa mais – dá depoimentos importantes, reavaliando sua trajetória artística. Compõe pouco.

Mas inventa para si uma pequena arte, com pedaços velhos de lata, de madeira, movidos a eletricidade. São rodas-gigante, trens de ferro, carrosséis. Vários e pequenos objetos da ourivesaria popular – enfeites, cigarreiras, bibelôs… Fiel até o fim à sua escolha, às observações que colhe do cotidiano, cria um mundo mágico. Quando recebe alguma visita em casa, que se admira com os objetos criados pelo sambista, ouve dele que “alguns chamavam aquilo de higiene mental, mas que não passava de higiene de débil mental…” Como se vê, cultiva o humor como marca registrada. Marca aliás, que aliada à observação da linguagem e dos fatos trágicos do cotidiano, faz dele um sambista tradicional e inovador.

Adoniran Barbosa morre em 1982, aos 72 anos de idade.

Fonte: www.vidaslusofonas.pt

Adoniran Barbosa

João, sétimo filho de Fernando e Ema Rubinato, imigrantes italianos de Veneza, que se radicaram em Valinhos. A verdadeira data de nascimento de Adoniran foi 06/07/1912, que foi “maquiada”para que ele pudesse trabalhar ainda menino.

Muda-se para Jundiaí, SP, e começa a trabalhar nos vagões de carga da estrada de ferro, para ajudar a família, já que só conseguia ser convencido a frequentar a escola pela vara de marmelo empunhada por D. Ema. É entregador de marmitas, varredor etc. Em 1924, muda-se para Santo André, SP. Lá é tecelão, pintor, encanador, serralheiro, mascate e garçon. No Liceu de Artes e Ofícios aprende a profissão de ajustador mecânico. Aos 22 anos vai para São paulo, morar em uma pensão e tentar ganhar a vida. O rapaz João Rubinato já compõe algumas músicas. Participa do programa de calouros de Jorge Amaral, na Rádio Cruzeiro do Sul e após muitos gongos, consegue passar com o samba Filosofia, de Noel Rosa. O ano é 1933 e ele ganha um contrato passando a cantar em um programa semanal de 15 minutos, com acompanhamento de regional. Em 1933 passa a usar o nome artístico de Adoniran Barbosa. O prenome incomum era uma homenagem a um amigo de boemia e o Barbosa foi extraído do nome do sambista Luiz Barbosa, ídolo de João Rubinato.

Em 1934 compõe com J. Aimberê, a marchinha Dona Boa que venceu o concurso carnavalesco organizado pela Prefeitura de São Paulo, no ano seguinte. O sucesso dessa música levou-o a decidir casar-se com Olga, uma moça que namorava já há algum tempo. O casamento durou pouco menos de um ano, mas é dele que nasce a única filha de Adoniran: Maria Helena. Em 1941 foi para a Rádio Record, onde fez humorismo e rádio-teatro, e só sairia com a aposentadoria, em 1972. Foi lá que criou tipos inesquecíveis como Pernafina e Jean Rubinet, entre outros. Sua estréia no cinema se dá em 1945 no filme PIF-PAF. Em 1949 casa-se pela 2ª vez com Matilde de Lutiis, que será sua companheira por mais de 30 anos, inclusive parceira de composição em músicas como Pra que chorar? e A Garoa vem Descendo.

Seu melhor desempenho no cinema, acontece no filme O Cangaceiro, de Lima Barreto, na Vera Cruz. Compõe inúmeras músicas de sucesso, quase sempre gravadas pelos Demônios da Garoa. As músicas Malvina e Joga a Chave foram premiadas em concursos carnavalescos de São Paulo. Destacam-se Samba do Ernesto, Tem das Onze, Saudosa Maloca, etc.

Em 1955 estreou o personagem Charutinho, seu maior sucesso no rádio, no programa História das Malocas de Oswaldo Molles. Participou também, como ator, das primeiras telenovelas da TV Tupi, como A pensão de D. Isaura. O reconhecimento, porém, vem somente em 1973, quando grava seu primeiro disco e passa a ser respeitado como grande compositor. Vive com simplicidade e alegria. Nunca perde o bom humor e seu amor por São Paulo, em especial pelo bairro do Bixiga (Bela Vista), que ele, sem dúvida, consegue retratar e cantar em muitas músicas suas. Por isso, Adoniran é considerado o compositor daqueles que nunca tiveram voz na grande metrópole.

A lembrança de Adoniran Barbosa não reside apenas em suas composições: temos em São Paulo o Museu Adoniran Barbosa, localizado na Rua XV de Novembro, 347; há, no Ibirapuera, um albergue para desportistas que leva seu nome; em Itaquera existe a Escola Adoniran Barbosa; no bairro do Bexiga, Adoniran Barbosa é uma rua famosa e na praça Don Orione há um busto do compositor; Adoniran Barbosa é também um bar e uma praça; no Jaçanã existe uma rua chamada “Trem das Onze”…

Adoniran deixou cerca de 90 letras inéditas que, graças a Juvenal Fernandes (um estudioso da MPB e amigo do poeta), foram musicadas por compositores do quilate de Zé Keti, Luiz Vieira, Tom Zé, Paulinho Nogueira, Mário Albanese e outros. Está previsto para o dia 10 de agosto o paulista Passoca (Antonio Vilalba) lançar o CD Passoca Canta Inéditas de Adoniran Barbosa. As 14 inéditas de Adoniran foram zelosamente garimpadas entre as 40 já musicadas. Outra boa notícia é que entre os primeiros 25 CDs da série Ensaio (extraídos do programa de Fernando Faro da TV Cultura) está o de Adoniran em uma aparição de 1972.

A gravadora Kuarup nos brinda com um presente especial: um CD com a gravação de um show de Adoniran Barbosa realizado em março de 1979 no Ópera Cabaré (SP), três anos antes de sua morte. Além do valor histórico, o disco serve também para mostrar música menos conhecidas do compositor, como Uma Simples Margarida (Samba do Metrô), Já Fui uma Brasa e Rua dos Gusmões.

Fonte: www.sampa.art.br

Adoniran Barbosa

Sétimo filho de um casal de imigrantes de Treviso, Itália, João Rubinato entregou marmita, trabalhou como varredor em uma fábrica de tecidos, no carregamento de vagões de trens suburbanos, como tecelão, encanador, pintor, garçom, metalúrgico e vendedor de meias para depois adentrar o mundo humorístico do rádio e tornar-se um dos maiores sambistas do país.

Criador de um samba tipicamente paulistano, Adoniran Barbosa, como ficou conhecido, elaborava suas letras a partir das trágicas cenas de vida e da linguagem cheia de sotaques, gírias, inflexões e erros de habitantes de cortiços, malocas e bairros característicos da cidade, como Bexiga e Brás. “Pra escrevê uma boa letra de samba a gente tem que sê em primeiro lugá anarfabeto”, dizia. Compôs seus primeiros sambas, Minha Vida se Consome, em parceria com Pedrinho Romano, e Teu Orgulho Acabou, com Viriato dos Santos, em 1933. Dois anos depois, ganhou o primeiro lugar em concurso carnavalesco organizado pela Prefeitura de São Paulo, com Dona Boa.

Adoniran Barbosa

Após passar por emissoras como São Paulo, Difusora, Cosmos e Cruzeiro do Sul, recebendo pequenos cachês, notabilizou-se na década de 1940 como radialista cômico, interpretando uma série de personagens, baseados no linguajar coloquial, como o terrível e sábio aluno Barbosinha Mal-Educado da Silva, o negro Zé Cunversa, o motorista de táxi do Largo do Paissandu, Giuseppe Pernafina, o gostosão da Vila Matilde, Dr. Sinésio Trombone, o autor de cinema francês, Jean Rubinet, e o malandro malsucedido Charutinho. Com este último, um dos personagens do programa Histórias das Malocas, escrito por Oswaldo Moles, atingiu o clímax do humor e alcançou popularidade. “Trabaio é boca? Trabaio num é boca. É supurtura, é tumo”, falava Charutinho.

A união entre o humorista e o músico, nos anos de 1950, representou seus maiores sucessos musicais: Saudosa Maloca (1951), Malvina (1951), Joga a Chave (1953), Samba do Arnesto (1955), As Mariposas (1955), Iracema (1956) e Trem das Onze (1965).

Fonte: www.netsaber.com.br

Adoniran Barbosa

Ele achava que João Rubinato não era nome de cantor de samba. Resolveu mudar. De um amigo pegou emprestado Adoniran e, em homenagem ao sambista Luiz Barbosa, adotou seu sobrenome. Foi assim que Adoniran Barbosa tornou-se um dos maiores nomes do cancioneiro popular brasileiro e uma das mais importantes vozes da população ítalo-paulistana.

Adoniran nasceu na cidade de Valinhos, interior de São Paulo, a 6 de agosto de 1910. Filho de imigrantes italianos, abandonou os estudos ainda no primário para trabalhar. Foi tecelão, balconista, pintor de paredes e até garçom. No começo da década de 30, passou a frequentar os programas de calouros da rádio Cruzeiro do Sul de São Paulo.

Em 1933, depois de ser desclassificado inúmeras vezes devido à sua voz fanha, Adoniran conquistou o primeiro lugar no programa de Jorge Amaral cantando “Filosofia” de Noel Rosa. Em 1935, compôs, em parceria com o maestro e compositor J. Aimberê, sua primeira música “Dona Boa”, eleita a melhor marcha do Carnaval de São Paulo naquele ano. Na rádio Cruzeiro do Sul ficou até 1940, transferindo-se, em 1941, para a rádio Record, a convite de Otávio Gabus Mendes. Ali começou sua carreira de ator participando de uma série de radioteatro intitulada “Serões Domingueiros”.

Essa foi a oportunidade para Adoniran começar a criar sua galeria de personagens, sempre cômicos, como o malandro Zé Cunversa ou Jean Rubinet, um galã de cinema francês. O linguajar popular de seus personagens encontrava par em suas composições. A maneira de compor sem se preocupar com a grafia correta tornou-se sua maior característica e lhe rendeu críticas de gente como o poeta e compositor Vinícius de Moraes. Adoniran não deu importância às declarações de Vinícius, tanto que musicou uma poesia do escritor carioca transformando-a na valsa “Bom Dia, Tristeza”.

Às críticas que recebia Adoniran rebatia: “só faço samba pra povo. Por isso faço letras com erros de português, porquê é assim que o povo fala. Além disso, acho que o samba, assim, fica mais bonito de se cantar.”

Na Record, Adoniran conheceu o produtor Osvaldo Moles, responsável pela criação e pelo texto dos principais tipos interpretados por ele. Os dois trabalharam juntos durante 26 anos. No rádio, um dos maiores sucessos dessa parceria foi o programa “Histórias das Malocas”, onde Adoniran representava o personagem Charutinho. O programa ficou no ar pela rádio Record até 1965, chegando a ter uma versão para a televisão. Os dois também dividiram a criação de vários sambas.

Dessa união nasceram, entre outros clássicos, “Tiro ao Álvaro” e “Pafúncia”. Em 1945, Adoniran começou a atuar no cinema. Sua primeira participação foi no filme “Pif-Paf”, seguido de “Caídos do Céu”, em 1946, ambos dirigidos por Ademar Gonzaga. Em 1953, atuou em “O Cangaceiro”, de Lima Barreto.

O impulso na carreira de compositor veio em 1951, quando o conjunto Demônios da Garoa saiu premiado do Carnaval paulista com o samba “Malvina”, de sua autoria. No ano seguinte, eles repetiram o feito, agora, com a criação de Adoniran Barbosa e Osvaldo Moles, “Joga a Chave”. Começava ai mais uma parceria de anos na vida do compositor.

As pequenas crônicas da vida paulistana criadas por Adoniran com sotaque peculiar, resultado da fusão das várias raças que escolheram a capital paulista como morada, tornaram-se conhecidas em todo Brasil na interpretação dos Demônios da Garoa. “Saudosa Maloca”, que o próprio autor havia gravado sem sucesso em 1951, foi registrada por eles em 1955 e garavada por Elis Regina nos anos 70. Do mesmo ano é a gravação de “O Samba do Arnesto”. Mas foi “Trem das Onze”, de 1964, seu maior sucesso. Em 1965 a composição foi premiada no Carnaval do Rio de Janeiro. Além dos Demônios da Garoa, o samba recebeu uma versão da cantora baiana Gal Costa.

Em 2000, foi escolhida pela população de São Paulo, em um concurso organizado pela Rede Globo, como a música que mais representa a cidade. A partir de 1972, Adoniran começa a trabalhar em televisão. No início eram apenas bicos como “cobaia” para testes de câmera.

Em seguida, começou a atuar em programas humorísticos como “Ceará Contra 007” e “Papai Sabe Nada” da TV Record, além de ter participado das novelas “Mulheres de Areia” e “Os Inocentes”. Seu primeiro disco individual só foi gravado em 1974, seguido por outro em 1975, e o último em 1980, este com a participação de vários artistas: Djavan, Clara Nunes, Clementina de Jesus, Elis Regina, os grupos Talismã e MPB-4, entre outros, participaram do registro em homenagem aos seus 70 anos.

Os três discos levam apenas o nome Adoniran. Adoniran Barbosa morreu em 23 de novembro de 1982, aos 72 anos, pobre e quase esquecido. No momento de sua morte estavam presentes apenas sua mulher, Matilde Luttif, e uma irmã dela. Boêmio, com direito a mesa cativa no salão principal do Bar Brahma, um dos mais tradicionais de São Paulo, Adoniran passou os últimos anos de sua vida triste, sem entender o que tinha acontecido à sua cidade. “Até a década de 60, São Paulo ainda existia, depois procurei mas não achei São Paulo. O Brás, cadê o Brás? E o Bexiga, cadê? Mandaram-me procurar a Sé. Não achei. Só vejo carros e cimento armado.” .

Fonte: almanaque.folha.uol.com.br

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