Graciliano Ramos
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Tinha oito anos!
A pobrezinha da criança sem pai nem mãe, que vagava pelas ruas da cidade pedindo esmola aos transeuntes caridosos, tinha oito anos.
Oh! Não ter um seio de mãe para afogar o pranto que existe no seu coração!
Pobre pequeno mendigo!
Quantas noites não passara dormindo pelas calçadas exposto ao frio e à chuva, sem o abrigo do teto!
Quantas vergonhas não passara quando, ao estender a pequenina mão, só recebia a indiferença e o motejo!
Oh! Encontram-se muitos corações brutos e insensíveis!
É domingo.
O pequeno está à porta da igreja, pedindo, com o coração amarguarado, que lhe dêem uma esmola pelo amor de Deus.
Diversos indivíduos demoram-se para depositar uma pequena moeda na mão que se lhes está estendida.
Terminada a missa, volta quase alegre, porque sabe que naquele dia não passará fome.
Depois vêem os dias, os meses, os anos, cresce e passa a vida, enfim, sem tragar outro pão a não ser o negro pão amassado com o fel da caridade fingida.
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