Dom João VI – História
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Nome: Dom João Maria José Francisco Xavier de Paula Luis Antonio Domingos Rafael de Bragança.
Local e data de nascimento: 13 de Maio de 1767, no Palácio Real da Ajuda, próximo a Lisboa – Portugal
Local e data da Morte: Palácio da Bemposta,- Lisboa – Portugal, a 10 de Março de 1826, estando sepultado no Mosteiro de São Vicente de Fora.
Dom João VI (O Clemente), 27º Rei de Portugal, era o segundo filho do Rei de Portugal, Dom Pedro III de Bragança (1717-1786) e a da Rainha, Dona Maria lzabel I de Bragança (1734 -1816 – a louca), que era sobrinha do próprio marido, (casaram em 1760), tendo por padrinho de batismo o rei da França, Luís XV.
Em 13 de maio de 1777 Dona Maria I sua mãe, com a morte do pai Dom José I, foi aclamada rainha.
Em 1779 ocupa o cargo de vice-rei no Brasil Dom Luís de Vasconcelos e Souza. No final de sua gestão foram feitas as denúncias sobre a Conjuração Mineira, e foi ele que tomou as primeiras providências de repressão ao movimento. Também em sua gestão o Rio de Janeiro recebeu a visita do poeta português Bocage que ficou lisonjeado com a atenção recebida pelo vice-rei.
Em função disto Bocage escreveu:
Eu, finalmente como respeito interno
Meus frouxos olhos nos teus olhos pondo,
Teu amável governo
Tua justiça, teus costumes sondo
eu digo então: – Senhor, só tu podias
Tornar brilhantes os meus turvos dias.
Em 9 Junho 1785, casou com Dona Carlota Joaquina de Espanha filha do Rei Carlos IV de Espanha e de Maria Luísa Teresa de Parma ele, com 18 anos e ela com 10 aninhos. (Os detalhes do casamento estão na biografia de Dona Carlota a partir da página inicial deste site.), Dona Carlota nasceu em 25 Abril de 1775 em Aranjuez – Madrid e morreu em 7 dezembro 1830 em Queluz – Portugal.
Em 25 de Maio de 1786 em Lisboa – Portugal, morre o seu pai Dom Pedro III (veja a biografia a partir da página inicial deste site).
Em 1788 morre seu irmão mais velho Dom José de Bragança o Príncipe da Beira, vítima de varíola, fato que fez com que Dom João se tornasse o primeiro na linha de sucessão.
Na verdade em 1788 Dona Maria I perde dois dos seus filhos: Dom José e Dona Maria Ana.
Em 1789 explodiu a Revolução Francesa, que espalhou pela Europa seu ideário liberal, e alguns anos mais tarde, o terror da ocupação pelos exércitos napoleônicos.
Por motivo do problema mental de sua mãe, passou a governar desde 1792, porém só se tornou Príncipe Regente a partir de 15 de julho de 1799. Dom João só foi coroado em 6 de fevereiro de 1818 dois anos após a morte da sua mãe. A partir da coroação, seu título ficou sendo Dom João VI, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. A cerimônia aconteceu no Rio de Janeiro. É bom lembrar que Dom João VI foi o único rei coroado nas Américas.
Pai de nove filhos, um deles Pedro que seria imperador do Brasil.
Olha, outro dia eu recebi uma crítica através de um e-mail, de que todo mundo fala nos filhos desses personagens históricos, mas ninguém dá “nome aos bois”, argumentando que parece que todos os pesquisadores lêem os mesmos livros; bom, eu ia argumentar que a leitura ficaria muito “pesada”, cansativa e enfadonha, mas o sujeito se antecipou e disse: “…Quem não quiser ler, pula essa parte…”, eu pensei melhor e resolvi acatar a crítica; portanto, aí vai o nome e detalhes dos filhos do casal Dom João e Dona Carlota, se você achar muito cansativo, aceite o conselho do cara que me criticou; pule essa parte.
Dona Maria Teresa Francisca de Assis Antonia Carlota Joana Josefa Xavier de Paula Micaela Rafaela Isabel Gonzaga de Bragança.
Nasceu a 29 Abril 1793 em Queluz – Portugal, se casou com seu primo Pedro Carlos Antonio de Bourbon e Bragança (que faleceu em 26 de Maio de 1812) a 13 Maio de 1810 no Rio de Janeiro, em segundas núpcias casou com com o seu cunhado e tio, o Infante Dom Carlos Maria Isidro, Duque de Madrid e Conde de Montemolin e Molina, que em 1834 enviuvara da Infanta Dona Maria Francisca de Assis. Dona Maria Teresa morreu a 17 Janeiro de 1874 em Trieste.
Dom Antonio de Bragança e Bourbon (Dom Antonio Pio). Foi Príncipe da Beira. Nasceu a 21 Março de 1795 em Queluz – Portugal e morreu a 11 Junho de 1801.
Dona Maria Isabel Francisca de Bragança, nasceu no Palácio de Queluz a 19 Maio de 1797 em Queluz – Portugal, Casou com o Rei Dom Fernando VII de Espanha seu tio, que já enviuvara de Dona Maria Antonia de Bourbon y Lorena, Princesa de Nápoles;a 29 Setembro de 1816 e morreu a 29 Dezembro de 1818 em Madrid – Espanha.
Dom Pedro I (IV de Portugal) de Bragança, nasceu a 12 Outubro de 1798 em Portugal, casou em 1817 com Maria Leopoldina von Habsburg-Lothringen e morreu a 24 Outubro de 1834 em Portugal. Teve um segundo casamento com Amélia de Beauharnais. Foi esse aí que proclamou a independência do Brasil e foi o seu primeiro imperador.
Dona Maria Francisca Assis de Bragança, nasceu no Palácio de Queluz em 22 de Abril de 1800, casou em 1816, com o seu tio, Dom Carlos Maria Isidro, Infante de Espanha, falecido em 1815 e morreu em Gosport – Inglaterra, a 4 de Setembro de 1834, estando sepultada na capela-mor da igreja católica da mesma cidade inglesa.
Dona Isabel Maria de Bragança, nasceu no Palácio de Queluz – Portugal, a 4 de Julho de 1801; faleceu em Benfica – Portugal, a 22 de Abril de 1876, estando sepultada no Panteão de São Vicente de Fora. Nunca casou, tendo sido regente do reino, de 6 de Março de 1826 a 26 de Fevereiro de 1828. Após a vitória da causa liberal manteve-se afastada da vida política.
Dom Miguel I de Bragança, nasceu a 26 Outubro de 1802 em Queluz – Portugal, casou em 1851 com Adelheid zu Löwenstein-Wertheim Rosenberg e morreu a 14 Novembro de 1866 em Carlsruhe, junto a Bronnbach – Viena. Foi esse cara aí que tentou depor o próprio pai.
Dona Maria da Assunção. Nasceu no Palácio de Queluz, a 25 de Junho de 1805; faleceu em Santarém – Portugal a 7 de Janeiro de 1834; sepultada na Igreja do Milagre, de Santarém, e depois no Panteão de São Vicente de Fora.
Dona Ana de Jesus Maria Luíza Gonzaga Joaquina Micaela Rafaela Sérvula Francisca Antônia Xavier de Paula Bragança e Bourbon, nasceu no Palácio de Mafra a 23 Outubro de 1806, casou em 5 Dezembro de 1827 com Nuno José Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto (2.º marquês de Loulé). e morreu a 22 Junho de 1857 em Roma – Itália.
Em virtude do conflito entre França e Inglaterra, seu governo teve um período de grande intranqüilidade. Afim de prejudicar a Inglaterra, Napoleão decretou o bloqueio continental. Quando Portugal foi invadida pelas tropas do Marechal francês Junot, a família real portuguesa com toda a corte embarcou para o Rio de Janeiro. Ao chegar ao Brasil, Dom João declarou livres as indústrias brasileiras e abriu os portos do Brasil ao comércio estrangeiro. Passou depois a residir no Rio de Janeiro. A Dom João VI deve-se a fundação da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, registrando-se também importantes movimentos militares que proporcionaram a ampliação de nossas fronteiras.
Recentemente (ano 2000), uma equipe de 2 arqueólogos e um médico-legista chefiada pelo cientista português Fernando Rodrigues Ferreira, descobriu que na realidade Dom João foi envenenado com arsênico e não morto por causa de problemas digestivos após um jantar em família como sempre se anunciou. Os rumores de assassinato sempre houveram, mas nunca passou disso. As análises das vísceras do monarca detectaram uma quantidade de veneno quase quatro vezes maior que a necessária para matá-lo.
Se você gosta de mistério, aí está um que nunca foi esclarecido: Quem matou Dom João VI? Eu não sei, mas sua mulher Dona Carlota Joaquina o desprezava e seu filho Dom Miguel tentou depô-lo, portanto não faltaram pessoas a sua volta com oportunidade para o intento.
Em 1790 assume no Rio de Janeiro o cargo de vice-rei do Brasil, Dom José Luís de Castro (2º conde de Resende), ele deu prosseguimento ao processo nos implicados na Conjuração Mineira, ameaçou com severas punições quem não acendesse luminárias na frente das casa, como sinal de apoio ao enforcamento e esquartejamento de Tiradentes.
Em 1792, Dona Maria foi declarada incapaz mentalmente.
Em 10 de fevereiro de 1792 seu filho Dom João assume oficiosamente o trono.
Em 16 de julho de 1799 Dom João VI assume oficialmente a regência.
Em 1801 a Espanha declara guerra a Portugal e chega a invadir seu território, ocupando Trás-os-Montes, Algarves e Alentejo. Foi uma “guerra de ocasião” deflagrada com o intuito de intimidar Portugal e forçar a quebra da aliança anglo-lusa; durou apenas algumas semanas; terminou com o Tratado de Badajoz assinado em 6 de junho de 1801, neste tratado constou uma cláusula que a partir desta data os portos lusitanos estariam fechados à Inglaterra.
Em 1802 França e Inglaterra celebram o tratado de Amiens, toda a Europa respira aliviada.
Em 1804 as relações entre França e Inglaterra volta a ficar tensa.
Em 19 de março de 1804 Portugal assina um tratado em Lisboa onde a França reconhece o seu estado de neutralidade nos conflitos entre Napoleão e a Inglaterra. Foi mais uma tentativa de suborno do que um tratado político-militar, pois Portugal pagou a enorme quantia de 16 milhões de francos para ver este acordo assinado.
Em 1806 assume o cargo de vice-rei do Brasil Dom Marcos de Noronha e Brito (8º conde dos Arcos), o último vice-rei do Brasil, ele é que se incumbiu de preparar a recepção da família real portuguesa.
Em julho de 1807 França e Rússia assinam o Tratado de Tilsit. Segundo algumas das cláusulas deste acordo ficava ajustado entre os dois paises que se a Inglaterra não devolvesse as conquistas marítimas realizadas em 1805, Rússia e França enviariam uma intimação a Portugal, Suécia e Dinamarca, ordenando que esses reinos fechassem seus portos a Grã-Bretanha, e, no caso de não cumprirem essa ordem esses paises seriam considerados inimigos. Nesta mesma época Napoleão através de um funcionário subalterno do Ministério dos Estrangeiros enviou uma mensagem ao governo português, mais tarde transmitida ao Ministro de Portugal em Paris, mensagem esta que exigia que Portugal declarasse guerra a Inglaterra no prazo máximo de 20 dias. O embaixador português em Madri, Conde da Ega, escreve para Lisboa alertando Dom João, das péssimas intenções de Napoleão.
Nesta carta, o Conde de Ega recomenda duas alternativas para Dom João: Fechar os portos portugueses a Inglaterra, correndo o risco de perder as suas colonias ultramarinas ou abandonar Portugal e tentar a sorte no Brasil.
Em 12 de agosto de 1807 o encarregado dos negócios franceses em Portugal entrega pela segunda vez um ultimato dando um prazo até o dia 1º de setembro para que Dom João declarasse guerra a Grã-Bretanha. Nesta altura os enviados portugueses a Londres para por a corte inglesa a par das pressões que Portugal vinha sofrendo, relatam que a coroa inglesa compreendia que a situação de Dom João era insustentável e começaram negociações entre Londres e Lisboa para facilitar a fuga da família real portuguesa para o Brasil. O Ministro do Exterior inglês Canning, que várias vezes havia aconselhado Dom João a transferir a corte para o Brasil declara finalmente que a Inglaterra estava pronta a escoltar a corte portuguesa para o Brasil.
Em 25 de setembro os embaixadores espanhol e francês insistem mais uma vez que Dom João declare guerra a Inglaterra. como não obtiveram nenhuma resposta concreta, deixam Portugal no dia 30.
Em 22 de outubro de 1807 Dom João e os ingleses finalizam um acordo para enganar Napoleão Bonaparte assinando o decreto que fecha os portos portugueses para a Inglaterra. No texto havia a seguinte alegação “… visto como o governo português havia por bem aceder à causa continental, unindo-se a Sua Majestade o Imperador dos Franceses e a Sua Majestade Católica, com o fim de contribuir para aceleração da paz marítima…” Londres fingiu tomar esse decreto como declaração de guerra e mandou retirar os seus ministros e embaixadores de Lisboa. Para completar a farsa, os ingleses atiraram contra algumas naus portuguesas e invadiu a Ilha da Madeira. Por esta época Napoleão manda o General Junot adentrar em 24 horas em território espanhol e aguardar a ordem de invadir Portugal.
Em 27 de outubro de 1807 secretamente é celebrado o Tratado de Fontainebleau, onde, França e Espanha fazem a partilha de Portugal: as Províncias de Entre-Douro e do Minho, com capital na Cidade do Porto, formariam a Lusitânia Setentrional, a ser doada à Rainha Maria Luísa em troca da Etrúria, que havia sido incorporado a França; as Províncias do Alentejo e do Algarves comporiam o Principado do Algarves, que passaria pertencer ao Príncipe Manuel de Godoy (o Príncipe da Paz); as Províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura (região central), se fundiriam na Lusitânia do Sul que ficaria diretamente ligada a Napoleão. Veja que por essa ocasião, tecnicamente Portugal tinha satisfeito todas as humilhantes exigências de Napoleão.
Em 4 de novembro de 1807 o exercito francês comandado pelo então General Junot penetra em território português, seus exércitos maltrapilhos, esfarrapados, descalços, com muito frio e famintos descansam e se recompõem na Cidade de Abrantes.
A invasão francesa a Portugal foi um inferno, não para os cidadãos portugueses, e sim para os soldados franceses. Eles deveriam se encontrar com tropas espanholas na Cidade de Alcântara porém neste caminho, chovia uma barbaridade, os rios estavam transbordando, o que tornava suas travessias quase impossíveis, as estradas ficaram péssimas, o exército espanhol que deveria levar alimento para os franceses não chegava; assim, em 4 de novembro os franceses entraram em território português, com fome, frio, descalços; para não morrerem de fome os soldados saquearam tudo que encontravam pelo caminho, inclusive igrejas e sepulturas; na realidade, eles pareciam mais um bando de bandidos que um exército. Na Cidade de Castelo Branco, encontraram alguns víveres, cada homem recebeu 60 gramas de pão, legumes secos, arroz e um pouco de vinho, pouco adiantava, as chuvas eram torrenciais, os soldados verdadeiramente se arrastavam na lama, quando chegaram na Cidade de Sobreira, a lama era tanta que tiveram que dormir em pé com lama até o meio do corpo, pois era impossível deitar ou sentar. Só quando chegaram a Cidade de Abrantes, eles conseguiram mantimentos em certa quantidade e requisitaram da população da cidade 10 mil pares de sapatos.
Em 8 de novembro de 1807, Dom João assina um decreto que manda prender todos os cidadãos britânicos que se encontravam em Portugal e o seqüestro de seus bens. (tudo de comum acordo com o governo de Londres).
Em 27 de novembro de 1807, Dom João é formalmente comunicado pelo Tenente-Coronel Lécor que o General Junot estava com seus exércitos na Cidade de Abrantes (a poucos quilômetros de Lisboa).
Em 26 de novembro de 1807 Dom João publica um decreto declarando: “Tenho procurado por todos os meios possíveis conservar a neutralidade de que até agora tem gozado os meus fiéis e amados vassalos e apesar de ter exaurido o meu Real Erário, e de todos os sacrifícios a que me tenho sujeitado, chegando ao excesso de fechar os portos dos meus reinos aos vassalos do meu antigo e leal aliado, o rei da Grã-Bretanha, expondo o comércio dos meus vassalos a total ruína, e a sofrer por este motivo grave prejuízo nos rendimentos de minha coroa. Vejo que pelo interior do meu reino marcham tropas do imperador dos franceses e rei da Itália, a quem eu me havia unido no continente, na persuasão de não ser mais inquietado(…) e querendo evitar as funestas conseqüências que se podem seguir de uma defesa, que seria mais nociva que proveitosa, servindo só de derramar sangue em prejuízo da humanidade, (…) tenho resolvido, em benefício dos mesmos meus vassalos, passar com a rainha minha senhora e mãe, e com toda a real família, para os estados da América, e estabelecer-me na Cidade do Rio de Janeiro até a paz geral.”
O Príncipe Dom João nomeou uma junta para administrar Portugal em sua ausência, foram eles: o Marques de Abrantes, o Tenente-General Dom Francisco de Noronha (presidente da Mesa da Consciência), e na falta de qualquer um destes deveria assumir o Conde de Castro Marim, todos prestaram juramento ao cardeal patriarca e o príncipe regente deu instruções em separado a cada um deles, para o caso de serem presos ou mortos quando as tropas de Napoleão tomassem Lisboa.
Na madrugada do dia 27 de novembro de 1807 os membros da Família Real saíram de Lisboa. chovia muito em todos os dias que antecederam o embarque da família real, porém no dia 27 não choveu como alguns autores afirmam, o dia amanheceu claro e com céu azul.
O primeiro a chegar ao cais foi o Príncipe Dom João e o infante da Espanha Dom Carlos, primo de Dona Carlota que já fazia algum tempo residia em Lisboa. Sem nenhum súdito para saudá-lo embarcou em uma galeota que o conduziria ao navio Príncipe Real onde viajariam com ele sua mãe Dona Maria e seu filho Dom Pedro. Dom João não chegou acompanhado de guardas, soldados ou criados, chegou sim, muito emocionado.
Dona Carlota Joaquina chegou depois que Dom João havia embarcado, veio acompanhada de suas filhas, e do Infante Dom Miguel, embarcaram em outro navio, o Dom Afonso d’Albuquerque.
O último a chegar foi Dom Pedro que foi saudado carinhosamente pela população, chegou acompanhado de seus servidores.
Dona Maria I (a louca) gritava dizendo que estava sendo roubada e querendo ficar e enfrentar seus inimigos.
A partida não foi rápida nem fácil, devido ao clima instável dos últimos dias (havia chovido torrencialmente em Portugal), o mar além da barra do Rio Tejo, estava muito agitado, além disso o General Junot havia mandado um destacamento tomar o Forte de São Julião e apontar os canhões para o a foz do Rio Tejo em virtude desses acontecimentos a partida das embarcações demorou 40 horas.
Às duas horas da madrugada do dia 29 de novembro um vento favorável permitiu que a esquadra zarpasse rumo ao Brasil, o almirante Sidney Smith e Lorde Strangford foram a bordo do navio Príncipe Real e ofereceram hospedagem ao Príncipe Regente na nau capitânia da frota da escolta inglesa, Dom João recusou.
Às 9 horas da manhã do dia 30 de novembro o General Junot entra em Lisboa liderando um exército de 26 mil homens, tendo a frente um destacamento de cavalaria portuguesa que se rendeu e se puseram às suas ordens.
Enquanto isso as esquadras portuguesa e inglesa, são surpreendidas por uma forte tempestade que dispersa os navios.
Em 5 de dezembro de 1807 os navios se reagruparam.
Em 8 de dezembro uma nova tempestade formada por ventos do sul dispersa novamente os navios.
Dia 10 de dezembro eles conseguem a muito custo se reagrupar novamente.
Em 11 de dezembro a frota avista a Ilha da Madeira.
No dia 18 de janeiro de 1808 chegam à costa da Bahia.
No dia 22 são avistados pelos habitantes de da Cidade de Salvador os primeiros navios da esquadra.
Às quatro horas da tarde do dia 22 de janeiro de 1808 todos finalmente todos os navios da esquadra estavam fundeados e o Conde da Ponte, governador da Bahia vão a bordo do navio Príncipe Real.
No dia 23 é a vez dos membros da da Câmara de irem a bordo do navio Príncipe Real.
Às cinco horas da tarde do dia 24 a comitiva real desembarcou, com imensa pompa e solenidade.
Em 1808 ele abriu os portos as nações amigas, aqui está uma transcrição da Carta Régia que celebra esse fato assinada uma semana após a chegada da Europa da família imperial:
Carta Régia de 28 de janeiro de 1808:
“Conde da Ponte, do meu Conselho, Governador e Capitão General da Capitania da Bahia.
Amigo: Eu, o Príncipe Regente vos envia muito saudar, como aquele que amo. Atendendo à representação, que fizestes subir à minha Real Presença, sobre se achar interrompido e suspenso o comércio desta Capitania, com grave prejuízo dos meus vassalos e da minha Real Fazenda, em razão das críticas e públicas circunstâncias da Europa; e querendo dar sobre este importante objeto alguma providência pronta e capaz de melhorar o progresso de tais danos: sou servido ordenar interina e provisoriamente, enquanto não consolido um sistema geral que efetivamente regule semelhantes matérias, o seguinte”:
Primo: Que sejam admissíveis nas Alfândegas do Brasil todos e quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transportadas, em navios estrangeiros das Potências, que se conservam em paz e harmonia com minha Real Coroa, ou em navios dos meus vassalos, pagando por entrada vinte e quatro por cento, a saber: vinte de direito grossos, e quatro do donativo já estabelecido, regulando-se a cobrança destes direitos pelas pautas, ou aforamento, porque até o presente se regulam cada uma das ditas Alfândegas, ficando os vinhos, águas ardentes e azeites doces, que se denominam molhados, pagando o dobro dos direitos, que até agora nelas satisfaziam.
Segundo: Que não só os meus vassalos, mas também os sobreditos estrangeiros possam exportar para os Portos, que bem lhes parecer a benefício do comércio e agricultura, que tanto desejo promover, todos e quaisquer gêneros e produções coloniais, a exceção do pau-brasil, ou outros notoriamente estancados, pagando por saída os mesmos direitos já estabelecidos nas respectivas Capitanias, ficando entretanto como suspenso e sem vigor todas as leis, cartas régias, ou outras ordens que até aqui proibiam neste Estado do Brasil o recíproco comércio e navegação entre meus vassalos e estrangeiros. O que tudo assim fareis executar com zelo e atividade que de vós espero”. Fonte: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo Vol. IX.
Para assinar esta carta régia, João baseou-se fundamentalmente em conselhos econômicos de brasileiros mormente do Visconde de Cairú, visto que ele estava sem contato com seus conselheiros da corte portuguesa; os navios se separaram e se perderam uns dos outros durante uma tempestade na travessia do Oceano Atlântico.
Basicamente a carta trata das entradas e saídas de mercadorias das capitanias do Brasil. Ou seja desta data em diante quaisquer produtos transportadas por embarcações em navios que estivessem em paz com Portugal, eram admitidas na alfândega brasileira desde que pagassem uma taxa de 24% sobre o valor das mercadorias. Súditos portugueses e comerciantes estrangeiros também poderiam exportar suas mercadorias para qualquer porto amigo de Portugal.
Ainda na Bahia, antes da família real vir para o Rio de Janeiro foi criada em 18 de fevereiro de 1808 a primeira Escola de Medicina (Escola de Cirurgia e Obstetrícia). Criou facilidades para a fundação de uma fábrica de vidros. Autorizou a criação da primeira companhia de seguros do Brasil.
Enquanto isso em Portugal, Napoleão trata os portugueses com pesadíssimos impostos, muitas humilhações, e uma enorme taxa foi exigida a título de “resgate”.
Em 26 de fevereiro de 1808, a esquadra zarpou para o Rio de Janeiro.
Os portugueses organizam uma resistência, para combater Napoleão; com o auxílio de tropas inglesas e espanholas conseguem em alguns meses expulsar as tropas napoleônicas do território português.
Em 7 de março de 1808 chegam ao Rio de Janeiro.
Chegada Dom João a Igreja do Rosário no Rio de Janeiro – Pintura de Armando Viana Museu da Cidade – RJ
Termina assim a época dos vice-reis do Brasil. Mais tarde Dom João VI eleva a colônia ao nível de Reino Unido a Portugal e Algarves os títulos de vice-reis eram para na prática dar mais autoridade ao cargo, antes essa posição tinha o nome de Governador Geral do Brasil.
Às quatro horas da tarde do dia 8 de março de 1808 a família real desembarcou. Dom João desceu do navio Príncipe Real e passou para um bergantim (uma embarcação de pequeno porte) e assim pode aportar ao cais. Ao mesmo tempo Dona Carlota e os filhos desceram do navio Afonso d´Albuquerque, apenas Dona Maria permaneceu a bordo.
Só no dia 10 de março Dom João volta ao navio Príncipe Real para acompanhar o desembarque da mãe; logo após seu desembarque a Rainha mãe Dona Maria I, ouviu um baque de uma portinhola e misturado com os ruídos de tiros de canhão e o alarido da população, ela se assustou e começou a gritar: Não me matem! Não me matem! Foi imediatamente recolhida ao Paço.
A família real portuguesa desembarcou no antigo cais do Largo do Paço na atual Praça XV no Rio de Janeiro, é bom lembrar, que o cais ficava onde hoje existe a construção em forma de pirâmide (Chafariz da Pirâmide), mais tarde toda essa parte foi aterrada levando o atual cais das barcas Rio-Niterói para mais longe.
Em tempo, a esquadra fundeou na Ilha das Cobras.
Após a chegada, Dom João e Dona Carlota se dirigiram para a Sé, onde foram recebidos pelos membros da Irmandade do Rosário; onde deram graças a Deus por haverem chegado em segurança ao Rio de Janeiro.
A Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março, tornou-se uma das mais importantes do Brasil, em função da proximidade com o Paço Real e por abrigar a Igreja do Carmo que se tornou a Capela Real – Rua direita – Pintura de Lauvergne – Museu Histórico Nacional – RJ
Logo na chegada o milionário português que vivia no Rio de Janeiro, Elias Antônio Lopes presenteou o regente com a Quinta da Boa Vista no Bairro de São Cristóvão, que passou a ser o Paço de São Cristóvão. A Quinta da Boa Vista passou a ser a residência oficial de Dom João, mais tarde de Dom Pedro I e depois de Dom Pedro II. Abaixo, a gravura mostra o aspecto da Quinta da Boa Vista em 1816, note que é uma vista lateral do Paço. Hoje a Quinta, como é carinhosamente chamada pelos cariocas é o Museu Nacional, e além do museu, em sua área está abrigado o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro e um parque espetacular.
Paço de São Cristóvão em 1816 J.B. Debret – Biblioteca Nacional RJ
Em 1º de abril de 1808 influenciado pelo Visconde de Cairú (José da Silva Lisboa, pai de Bento Lisboa), decreta a liberdade de comércio no Brasil e revoga a proibição da construção de fábricas.
Em 28 de abril de 1808 criou o ensino médico no Rio de Janeiro.
Em 10 de maio de 1808, através de um alvará, a Casa da Relação é elevada a categoria de Casa de Suplicação tendo as mesmas funções da de Lisboa, ou seja, a de tribunal superior, de última instância cabendo ao Desembargador do Paço a missão de legislar e interpretar leis.
Em 13 de maio de 1808 por decreto Inaugura o surgimento da imprensa brasileira com a fundação da Imprensa Régia. Mais tarde passa a chamar-se Imprensa Nacional. Atualmente é sediada em Brasília, vinculada ao Ministério da Justiça e possui uma gráfica responsável pela impressão de todos documentos oficiais do governo brasileiro.
Também em 1808 criou o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (no bairro de mesmo nome), que está lá até hoje firme e forte, contando no herbário, com 380.000 amostras de plantas, um acervo vivo de 8.200 espécies registradas, 6.100 amostras de frutos, 6.400 amostras de madeiras, 150 de plantas medicinais e uma biblioteca com mais de 66.000 volumes se firmando assim internacionalmente como centro científico.
Ainda em 1808 surge o primeiro jornal brasileiro, a Gazeta do Rio de Janeiro.
Em 4 de agosto de 1808 através de um alvará, cria o Banco Público com a finalidade de trocar barras de ouro ou ouro em pó, por moedas.
Em 15 de setembro de 1808 os administradores portugueses proclamam aos habitantes de Lisboa, que o país estava livre de Napoleão e que “a bandeira nacional flutua em toda a parte do reino” e pedem a todos darem vivas ao Príncipe Regente. Dom João, levou meses para receber essa notícia.
Dom João, envia tropas para invadir a Guiana Francesa, 700 homens vindos do Pará comandados pelo Tenente-Coronel Manuel Marques; pelo mar receberam o apoio da esquadra inglesa sob o comando de James Lucas Yeo a bordo da Corveta Confiance foi o chefe das forças navais.
Em 12 de outubro de 1808 cria o primeiro Banco do Brasil, com um capital inicial de 1,200 contos.
Em 1º de dezembro de 1808 as tropas navais desembarcam na costa da Guiana Francesa.
Em 15 de dezembro de 1808 as tropas lusitanas travam seu primeiro combate na Guiana às margens do Rio Aproak. ao mesmo tempo duas embarcações francesas são apreendidas.
Aproximadamente em 27 de dezembro de 1808 as tropas inglesas e portuguesas partem para conquistar as principais fortificações francesas no Rio Maroni.
Em 1809 Napoleão invade novamente Portugal, mais uma vez as tropas francesas foram expulsas.
Em 6 de janeiro de 1809 as tropas de ocupação conquistam o Forte Diamante na Guiana.
Em 7 de janeiro de 1809 as tropas conquistam o Forte Degrad-des-Cannes.
Em 8 de janeiro de 1809 conquistam o Forte Trió.
Em 12 de janeiro de 1809, o governador francês da Guiana, assina na Cidade de Bourda a rendição.
Em 14 de janeiro de 1809 tropas inglesas e portuguesas marcham pela capital Caiena.
Como mandava as boas maneiras da guerra na época o o ex-governador francês da Guiana foi conduzido pela embarcação Dom Pedro comandada pelo capitão-de-fragata Luís da Cunha Moreira.
A Guiana passa a ser administrada por João Severiano da Costa (mais tarde Marques de Queluz). Durante os 8 anos de sua administração mandou para o Brasil diversas especiarias e frutos, como a noz moscada, o cravo-da-índia, a fruta pão, mudas de nogueira, da camboeira, do abacateiro e da cana caiena, muito superior a cana cultivada na época no Brasil.
Assim como Dona Carlota, muitos consideram que Dom João VI foi uma pessoa muito vacilante, mas o que todos esquecem, é que quem foi educado para ser rei, foi o seu irmão mais velho Dom José que faleceu vítima de varíola, João havia sido relegado a segundo plano dentro da família, não sendo mais que uma figura decorativa, assim como em quase todos os clãs, é no filho mais velho em quem se deposita as esperanças e expectativas. É certo que ele era glutão e desajeitado,feio e ao que parece, com péssimos hábitos de higiene; mas não com o exagero que se mostra hoje em dia em filmes no cinema e programas na TV.
Isso foi fruto dos liberais portugueses no século 19, inspirados na Revolução Francesa que queria denegrir a imagem da realeza; e no Brasil dos republicanos que queriam desmoralizar tudo que viesse da família real. Entenda bem, que ele além da morte prematura do irmão mais velho, tinha uma mãe louca e uma esposa devassa e ardilosa, que inclusive tentou depô-lo do poder duas vezes. Somando-se ainda as guerras napoleônicas que devastaram a Europa do seu tempo.
A idéia também de que a família real saiu de Portugal fugindo as pressas cheia de medo, é bom ser reconsiderada; é certo que eles tinham que sair de Portugal, Napoleão não perdoaria a negativa de Dom João VI de parar com os negócios com a Inglaterra e certamente o deporia e/ou mataria, mas daí a sair as pressas de Lisboa já é outra coisa. Imagine alguém saindo as pressas com 12.000 pessoas numa esquadra, composta de 8 naus, 3 fragatas, 2 briques, uma escuna e uma charrua de mantimentos, além de 21 navios comerciais e levando consigo uma gigantesca biblioteca, como a que Dom João trouxe para o Rio de Janeiro e que hoje é a Biblioteca Nacional; não foi as pressas, foi planejada ainda que necessária e que algumas coisas na viajem acontecessem como naufrágios e tempestades que fizeram as naus perderem o rumo e serem desviadas para a Bahia onde chegaram a 23 de janeiro de 1808. A estada na Bahia, foi marcada pela assinatura, em 28 de janeiro, da carta régia que determinava a abertura dos portos brasileiros ao comércio exterior.
Ele é rotulado como sendo um monarca que “queria deixar tudo como sempre esteve”; mas o que dizer de um monarca que tem como seu intelectual favorito o Visconde de Cairú (José da Silva Lisboa), que traduziu o Livro/Compendio da Riqueza das Nações de Adam Smith do original em inglês? Esse livro quase 200 anos depois se tornou o livro de cabeceira de Ronald Reagan e Margareth Thacher, nas primeira discussões sobre a globalização da economia. Me parece uma coisa bem moderna para quem não quer mudanças. Ele poderia não ser brilhante ou bonito, mas também não era o palhaço medroso que todos gostam de enfatizar.
Em 1820 o inglês John Luccok parece confirmar essa “esperteza” do soberano: “O Príncipe Regente tem sido muitas vezes tachado de apático, a mim, me pareceu possuir ele muito mais sentimento e energia de caráter do que ordinariamente lhe atribuem amigos e inimigos. Viu-se colocado em circunstâncias singulares e de prova e submeteu-se com paciência, mas nos momentos críticos soube obrar com vigor e prontidão”.
Este foi o depoimento de um inglês; a Inglaterra era aliada dos portugueses na época.
Agora um depoimento de um francês, a França era inimiga de Portugal, e aliada da Espanha, pais de origem de Dona Carlota Joaquina, que no decorrer de seu casamento se demonstrou uma inimiga formidável de Dom João: “O Príncipe Regente há muito tempo sujeito às hemorróidas, é visto continuamente com vertigens e acessos de melancolia; em 1805 sua doença habitual se agravou tanto … a ponto de lhe obrigar a deixar de montar a cavalo… Ele deixou a temporada no Palácio de Queluz, fraco das idéias… O mistério em sua volta, que não deixa ninguém se aproximar dele, contribui a fazer acreditar nas fofocas sobre sua loucura… Olha-se então para a Princesa Carlota que há muito tempo perdeu a afeição de seu esposo e alguns pretendem colocá-la na cabeça do governo, na qualidade de regente”. (Historie de Jean VI, publicada em Paris, em 1827).
Agora uma carta de Carlota Joaquina para seu pai o Rei de Espanha bem antes de tentar derrubar o Rei seu marido: “Señor: Papa mio de mi corazon, mi vida y de mi alma. Voi a los pies de V.M en la maior consternacion, para decir a V.M que el Príncipe esta cada dia peor de cabeza, y por consecuencia esto va todo perdido… y es llegada la ocasion de V.M acudirme a mi y a sus nietos, como V. M. vera por la carta inclusa del Marquez de Ponte Lima, porque la priesa y el segreto no da lugar a mandar un papel firmado por toda, o quasi toda la corte…”.
Tradução: “Senhor: Papai meu, de meu coração, minha vida e de minha alma. Vou aos pés de Vossa majestade na maior consternação, para dizer a Vossa Majestade que o Príncipe está cada dia pior da cabeça e por conseqüência tudo está se perdendo… E, é chegada a ocasião de Vossa Majestade me acudir, a mim e a seus netos, como Vossa Majestade verá por carta inclusa do Marques de Ponte Lima, porque, a pressa e o sigilo não me permitem enviar um papel assinado por toda ou quase toda a coorte…”. Logo após a tentativa de golpe ela foi presa.
Na tal carta citada acima por Carlota Joaquina e entregue ao Rei de Espanha o Marques de Ponte Lima diz o seguinte: “O nosso homem está cada dia pior e pouco falta para se declarar completamente alienado… Todas as saídas que inventa é para ter motivos de estar mais tempo ausente. Nenhum negócio sério vai à presença do dito Senhor”.
É sabido que o rei falava pouco, mas gostava de ouvir. Quando ele estava ainda em Lisboa estabeleceu o costume diário do povo ir beijar-lhe a mão. Já no Rio de Janeiro, ele manteve também esse ritual cotidiano, que se realizava à noite, no Palácio de São Cristovão.
O Rei se demonstrava muito religioso e prestigiava demais os padres, principalmente os que pregavam. O púlpito das igrejas nessa época servia como local ideal para propaganda. Falava-se neles, não só de religião, mas, também de política e da vida social da corte. O equivalente daquele tempo, ao que hoje é o rádio ou a televisão, ou os jornais, enfim, funcionava como um dos meios de comunicação mais eficazes da época. Servia para “realçar o esplendor e a majestade do culto” e o rei como “hábil político…Sabia que só à religião era dado sustentar os impérios e fortificar as instituições”, como se dizia na época; mas quando uma de suas filhas adoeceu com um grave problema nos olhos, ele fez uma promessa de ir até a Igreja de Santa Luzia (no atual Bairro do Castelo – Rio de Janeiro) em agradecimento caso sua filha melhorasse; a filha melhorou; mas o Rei Dom João VI não foi lá na Igreja pagar a sua promessa; a carruagem dele não conseguia passar pelas estreitas vielas que o levariam do Paço Real (na atual Praça XV), a igreja que está lá até hoje, apesar das ruas hoje serem mais largas que naquela época. Pode ser até engraçado; mas parece atitude de um perturbado mental? Me parece uma atitude comum a qualquer político de hoje em dia com as suas promessas.
Igreja de Santa Luzia.
Foto do final do século XIX.
Igreja de Santa Luzia.
Foto do final do século XX.
Em 1810, mais uma tentativa de invasão a Portugal por parte de Napoleão, desta vez eles nem conseguem chegar a Lisboa, sendo perseguidos até a fronteira pelas tropas portuguesas e inglesas.
Em 1810 publica um alvará liberando, no Brasil, a venda de mercadorias pelas ruas e casas. Quer dizer, se você não gosta de camelôs e marreteiros…
No dia 4 de dezembro de 1810 através de uma Carta de Lei, cria a Academia Real Militar na Corte e Cidade do Rio de Janeiro, atual Academia Militar das Agulhas Negras.
Em 1811 surge o jornal a Idade d`Ouro do Brasil. (editada na Bahia).
Em 1812, surge a revista As Variedades ou Ensaio de Literatura. (editada na Bahia).
Criou o que hoje seria hoje a Policia Militar.
Em 1813 é inaugurado no Rio de Janeiro, o Teatro São João, (atual Teatro João Caetano), palco de grandes acontecimentos da época.
Em 1813 surge a primeira revista brasileira O Patriota.
Em 1814 foi fundada no Recife a Loja Maçonica Patriotismo; dentre os seus fundadores estava Domingos José Martins, que veio de Portugal com a missão de fundar lojas maçônicas no Maranhão, Ceará e Bahia.
Em 16 de dezembro de 1815 o Brasil é elevado ao status de Reino Unido a Portugal e Algarves.
Em 20 de março de 1816 morre aos 81 anos no Convento das Carmelitas – Rio de Janeiro sua mãe Dona Maria I (a louca). É enterrada no Convento da Ajuda no Rio de Janeiro, 5 anos mais tarde seus restos mortais seguem para Portugal transportadas pela fragata Princesa Real e estão na Basílica do Coração de Jesus, na Estrela, em Lisboa.
Em 29 de novembro de 1816 é assinado entre Dom João VI e o Imperador Francisco I da Áustria em Viena o acerto para o casamento de Dom Pedro (nesta época ele usava o título de príncipe real) com a Arquiduquesa da Áustria, Dona Maria Leopoldina Josefa Carolina. Não foi fácil para Dom João VI conseguir este casamento, os assim chamados dotes, contradotes e as garantias exigidas pelo Imperador da Áustria eram tão vultosas que o rei precisou hipotecar as rendas da Casa de Bragança.
Também em 1816 chega ao Brasil a Missão Artística Francesa trazendo entre outros artistas, Jean-Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay.
Ainda em 1816, permite que o Banco do Brasil abra filiais em várias províncias.
Em maio de 1816 as tropas luso-brasileiras embarcam para a conquista de Montevidéu no Uruguai.
Em 6 de março de 1817 liderado por Domingos José Martins, eclode o movimente republicano em Pernambuco.
A Revolução Pernambucana, fortemente apoiada pela maçonaria, só foi possível devido: primeiro a Pernambuco ser uma província riquíssima em função dos engenhos de cana de açúcar, e em segundo lugar ao sentimento nativista fortíssimo. Em Pernambuco, o sentimento nativista era tão forte, que os pernambucanos da época chegavam até a retirar da mesa, produtos europeus, substituindo a farinha de trigo por farinha de mandioca e trocando o vinho pela cachaça.
Ainda em março de 1817 o Governador de Pernambuco, Caetano Pinto Miranda Montenegro, recebia denúncias de sublevação em sua província contra a coroa portuguesa, inclusive com os nomes de alguns líderes.
Em 9 de março de 1817 os revoltosos tomam o poder em Pernambuco. (o episódio fica conhecido como a República de Pernambuco)
Em 2 de maio de 1817 os revolucionários pernambucanos sofrem sua primeira derrota no Engenho Utinga.
Em 13 de maio de 1817 ocorre por procuração na Áustria o casamento de Dom Pedro
Em 15 de maio 1817 os revolucionários pernambucanos sofrem mais um grande derrota em Pindobas.
Em 18 de maio de 1817 após a derrota no trapiche de Ipojuca os revolucionários da República de Pernambuco, deixam seus cargos e nomeiam ditador Domingos Teotônio Jorge, na tentativa de quando se entregassem as forças leais a coroa, conseguissem anistia.
Em 19 de maio de 1817 o “ditador” Domingos Jorge, abandona o recife indo refugiar-se no Engenho Paulista onde capitulou. Os revolucionários foram enviados a Bahia para serem julgados pelo crime de lesa-majestade.
Em 1817 ocorre em Portugal um conjuração com o objetivo de acabar com a regência de Dom João e a retirada do comando dos exércitos português o Marechal Beresford que era inglês. Os revoltosos foram presos e levados para a Fortaleza de São Julião onde foram julgados e enforcados.
Em 5 de novembro de 1817 chega ao Brasil a esposa de Dom Pedro, a Arquiduquesa da Áustria Dona Leopoldina. Dona Leopoldina chega ao Brasil, com grande pompa e sua comitiva era simplesmente suntuosa, com ela desembarcaram suas damas de honra, criados de todos os tipos e funções, artistas, médicos e naturalistas, entre eles o Dr. Mickan, (Professor de Botânica), Dr. Natterer (zoólogo), Dr. Pohl (mineralogista) e o bibliotecário Roque Schuch.
Em 21 de novembro de 1817, obedecendo aos acordos do Congresso de Viena, João Severiano Maciel da Costa, entrega o Governo de Caiena ao conde Carra de Saint-Cyr, general de Luís XVIII.
Em 24 de agosto de 1820 ocorre na Cidade do Porto a revolução que implanta o constitucionalismo em Portugal.
Em outubro de 1820 chega a notícia da Revolução do Porto a Dom João VI no Rio de Janeiro.
Em 1821 Dom João VI anistia os remanescentes da República de Pernambuco. (os principais líderes já haviam sendo executados)
Em 1º de janeiro de 1821 a Província do Grão Pará se pronuncia a favor da constituição portuguesa que retira muitos poderes de Dom João VI.
Em 10 de fevereiro de 1821 foi a vez da Bahia tomar conhecimento das novas regras adotadas em Portugal, o Governador Conde de Palma é convidado a aceitar os princípios da nova constituição portuguesa. Convidado a assumir a chefia de uma junta governativa, recusa-se e retira-se da cidade de Salvador.
Em 18 de fevereiro de 1821, Dom João tentando minimizar os acontecimentos, assina um decreto (que só foi visto a primeira vez no dia 23), resolvendo enviar Dom Pedro para Portugal.
Em 26 de fevereiro de 1821, os militares se reúnem no Largo do Rocio (próximo onde hoje é o Campo de Santana no Rio de Janeiro), exigindo de Dom João VI medidas mais fortes. Dom João não queria por essa ocasião ser visto em público e enviou seu filho Dom Pedro pra tomar pé da situação no local e se fosse necessário jurar em nome do rei seu pai a constituição que estava sendo elaborada em Portugal.
No dia 27 de fevereiro de 1821 Dom João “solta” um decreto que já estava pronto desde o dia 24 onde se compromete a jurar a constituição que ainda nem estava pronta em Portugal. Jurou esta constituição que ainda estava sendo elaborada em Lisboa, sendo seguido pelos outros membros da família real, menos Dona Carlota.
Em 20 de abril de 1821 convoca uma reunião para serem escolhidos brasileiros para a assembléia constituinte em Lisboa, porém a reunião que ocorreu no dia 21), foi muito conturbada, pois os presentes exigiram que ele jurasse a constituição espanhola de 1812 e secretamente deram ordens para os militares apontarem os canhões para a entrada da Baía de Guanabara, afim de impedir que qualquer membro da família real deixasse o Rio de Janeiro sem antes devolver os cofres que estavam em seu poder repletos de dinheiro brasileiro. Uma companhia de soldados fiéis a Dom João VI porém com Dom Pedro a frente (a Companhia de Caçadores, chefiada pelo Major Peixoto), acabou a base de muita violência com a reunião que estava acontecendo no prédio da Praça do Comércio; Dom João, aproveitando a confusão, anulou todos os decretos assinados nos últimos dias e assinou um outro nomeando Dom Pedro regente do Brasil.
Em 24 de abril de 1821, Dom João chama seu filho Dom Pedro ao seu quarto no Paço de São Cristóvão e comenta: “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses aventureiros”.
Em 26 de abril de 1821, partiu levando sua esposa, Carlota Joaquina, e sete dos oito filhos vivos. Só Dom Pedro, o mais velho, ficou no Brasil como príncipe regente. Sua comitiva foi composta de 14 navios, que levaram também 4.000 cortesãos e serviçais; e é claro os cofres lotados do dinheiro brasileiro. Em Portugal, Dom João foi obrigado a jurar a Constituição Liberal, ou jurava ou era deposto e possivelmente morto. Isto provocou a indignação de sua mulher e do filho Dom Miguel, ambos de olho no trono real pois a constituição liberal assinada por ele, retirava muitos de seus poderes absolutistas; Carlota Joaquina, que considerava o marido excessivamente tolerante, uniu-se a Dom Miguel e passou a conspirar contra o marido.
Em 31 de julho de 1821 após guerras sangrentas e batalhas diplomáticas intensas e demoradas, é assinado o tratado onde a “Banda Oriental do Uruguai” foi anexado ao Brasil com o nome de Província da Cisplatina.
Em 7 de setembro de 1822 Dom Pedro I proclama a independência do Brasil.
Em 1º de dezembro de 1822 Dom Pedro I é coroado Imperador do Brasil.
Dom João só reconhece a independência do Brasil 3 anos após proclamada depois de muitas concessões feitas por Dom Pedro I, já como Imperador do Brasil e o pagamento do equivalente a 500 mil libras esterlinas em ouro.
Em 1823 com o auxílio de seu filho o Infante Dom Miguel readquire seus poderes absolutista, mas no ano seguinte o próprio filho tenta depô-lo.
Em 1824, após uma tentativa fracassada de golpe para derrubar o rei, Carlota foi confinada no Paço de Queluz (Portugal), e Dom Miguel, foi exilado em Viena.
Dois anos depois o rei morreria misteriosamente. Será que a rainha está por trás do crime? Carlota devotava total desprezo ao marido, e as más línguas na corte diziam que ele não era o pai dos últimos filhos dela. Pena que na época não havia exame de DNA…
O corpo de Dom João VI foi embalsamado e levado para o Panteão dos Reis de Bragança, no mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. As vísceras e o coração foram postos em um pote de porcelana, foram depositados em uma caixa de madeira e enterrados no chão da Capela dos Meninos de Palhavã, no mesmo mosteiro. Em 1993, durante a restauração do mosteiro, o arqueólogo Fernando Rodrigues Ferreira encontrou dois potes similares aos que continham os restos mortais do rei; notando que o material daqueles potes estava em bom estado de conservação, teve a idéia de procurar pelos restos do rei com o propósito de desvendar o mistério sobre sua morte. As vísceras do monarca estavam quase reduzidas a cinzas, mas, segundo os pesquisadores, em condições de ser analisadas. O arsênico era muito utilizado como veneno, pois ele na maioria das vezes não tem cor nem cheiro; misturado a água, fica imperceptível.
Entre erros e defeitos, críticas e mal entendidos eu deixo aqui as palavras do Marquês de Caravelas que em 1826, discursando no Senado por ocasião da morte do Rei disse: “…Nós todos que, aqui estamos temos muitas razões para nos lembrarmos da memória de Dom João VI, todos lhe devemos ser gratos, pelos benefícios que nos fez: elevou o Brasil a reino, procurou por todos o seu bem, tratou-nos sempre com muito carinho e todos os brasileiros lhe são obrigados…”.
Dom João no Brasil
Dona Maria I (A Louca) e Dom Pedro III, os pais de Dom João VI
Dom José de Bragança, Príncipe da Beira, irmão de Dom João.
Luis XV, foi padrinho de batismo de Dom João VI
Dona Maria I (A Louca), sua mãe
Dona Carlota Joaquina, sua esposa
Dom João e Dona Carlota
Dona Maria Teresa, sua filha
Dona Isabel Maria, outra filha
Dom Pedro I do Brasil, Pedro IV de Portugal, talvez o filho mais famoso de Dom João VI
Com a morte de Dom João VI, em março de 1826, Dom Pedro I tornou-se herdeiro do trono português. Foi para Portugal e assumiu o trono como Dom Pedro IV. Mas, foi forçado a abdicar em favor de sua filha, Maria da Glória, então com 7 anos, deixou o irmão Miguel como regente.
Voltou ao Brasil, onde ficou até 1831.
Como sua imagem estava muito abalada aqui no Brasil, retornou à Europa, assumiu a liderança do trono contra o irmão e o restituiu a Maria da Glória.
Dom Pedro I morreu de tuberculose, aos 36 anos, em 1834. Foi enterrado como general e não como rei ou imperador.
Conde de Resende
Conde dos Arcos
Dom Miguel I de Bragança, o filho que tentou derrubar o pai
Nuno José Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto, 9.º Conde de Vale de Reis, 2.º Marquês de Loulé e 1.º Duque de Loulé.
Napoleão Bonaparte, o responsável pela vinda da Família Real para o Brasil
Marques de Pombal
Chafariz da Pirâmide, se encontra até hoje na atual Praça XV – Pintura de Menard – Museu Histórico Nacional – RJ
Dom João VI – Vida
Dom João VI
Dom João VI, batizado João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, cognominado O Clemente, foi Rei de Portugal entre 1816 e a sua morte.
Filho de D. Maria I de Portugal e de seu tio Pedro III, herdeiro da coroa como Príncipe do Brasil e 21º Duque de Bragança após a morte do irmão mais velho José, Duque de Bragança em 11 de setembro de 1788, vitimado pela varíola.
Triste ao saber que ia-se tornar o Rei de Portugal, costuma dizer-se que chegou a chorar.
Dom João IV foi sucessivamente Duque de Bragança, Príncipe do Brasil, Príncipe Regente de Portugal, Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, Rei de Portugal e Imperador Titular do Brasil.
Casamento
Em 1785, casou-se em Madrid por procuração em 27 de março e em Lisboa a 9 de junho em pessoa com a Infanta Carlota Joaquina de Bourbon, de 10 anos, filha de Carlos IV de Espanha e de Maria Luísa de Parma, embora não consumassem o casamento. Batizada Carlota Joaquina Teresa Cayetana de Borbon y Borbon, a infanta nascera em Aranjuez, em 25 de abril de 1775, e morreria no palácio de Queluz em 7 de janeiro de 1830, sepultada em São Vicente de Fora.
Era filha de Carlos IV, rei da Espanha e de sua esposa Doña Maria Luisa Teresa de Borbón y Borbón, segunda filha do Príncipe D. Filipe de Bourbon, Duque de Parma, Piacenza e Guastalla, Infante de Espanha.
D. Carlota Joaquina teve três filhos e seis filhas (ao que parece nem todas do marido).
Regência
Desde 10 de fevereiro de 1792, dada a doença mental da mãe, assumiu o poder, assegurando a direção dos negócios públicos, passando a despachar os decretos em seu nome; a partir de 15 de julho de 1799, e até à sua ascensão ao trono, João governou o país declaradamente como Príncipe Regente.
Em 16 de dezembro de 1815 foi Príncipe Regente do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves. Reviveu a Ordem da Torre e da Espada em 13 de maio de 1808, foi fundador da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa em fevereiro de 1818.
Seu reinado decorre em época de grandes mudanças mundiais e em Portugal: a Revolução Francesa e a consequente guerra europeia, o Bloqueio Continental, a campanha do Rossilhão, a guerra com a Espanha com a perda de Olivença, as invasões francesas, fuga da corte para o Brasil por 14 anos, revolução liberal e a independência do Brasil. Foi a derrocada de um mundo e o nascimento de outro, mudança que ele não quis ou não soube compreender.
Alianças com Espanha
Dom João VI com Carlota Joaquina
Dom João VI com Carlota Joaquina.Em 1793, aliou-se à Espanha no combate à Revolução Francesa, que ameaçava todas as monarquias europeias.
Em 1801, Napoleão, que reiniciara a luta contra a Inglaterra, e procurava aliados. Convenceu a Espanha a atacar Portugal e Dom João VI, não tendo condições de enfrentá-la, pediu a paz, prometendo fechar seus portos à Inglaterra. Contudo, a economia portuguesa estava profundamente ligada à Inglaterra e também corria o risco de ver seus portos bloqueados pela poderosa armada inglesa.
Ao mesmo tempo, Carlota Joaquina, fiel a suas origens espanholas, conspirava na corte portuguesa e tentou, inclusive, tomar a regência.
Dom João VI tentou ganhar tempo, mas em 1806 Napoleão I fez-lhe um ultimato: ou fechava os portos à Inglaterra ou a França invadiria Portugal.
Fuga para o Brasil e permanência da corte
Fugindo da invasão de Junot, o monarca terá querido manter o Brasil em poder de Portugal. Isto o fez ainda mais dependente em relação à Inglaterra, com a imposição da abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional e o tratado Luso-Britânico de 1810, desastroso para a economia portuguesa.
Em 1807, Dom João decide pela fuga da família real portuguesa para o Brasil, para escapar à invasão napoleónica. Em 22 de Janeiro de 1808, Dom João chegava com sua corte em Salvador.Ante as disputas entre a Inglaterra e a França, Dom João VI chegou a oferecer o casamento de seu filho D. Pedro que contava com apenas nove anos, com a sobrinha do monarca francês, um projeto que fracassou.
Na Bahia em 28 de Janeiro de 1808 decretou a abertura dos portos brasileiros às nações amigas – entre as quais, evidentemente, a Inglaterra. Aconselhado por Silva Lisboa, que mais tarde fará visconde de Cairu, decretou a abertura dos portos brasileiros, pondo fim ao Pacto Colonial. Na verdade, foi a Inglaterra a maior beneficiada pois em 1810 foi assinado o tratado de comércio e navegação com a Inglaterra que fixava em 15% a taxa alfandegária sobre produtos ingleses vendidos para o Brasil. Grande privilégio, pois os demais países pagavam uma taxa de 24% e o próprio Portugal 16%! Somente em 1816 igualaram-se as taxas inglesa e portuguesa.
Em março, Dom João tranferiu-se para o Rio de Janeiro, onde formou o seu Ministério. Aboliu a proibição da criação de indústrias, atacou e ocupou a Guiana Francesa, fundou escolas, bibliotecas, etc. Na Europa, Napoleão depusera o rei de Espanha e em seu lugar pôs José Bonaparte, seu irmão.
Em 1815, após a queda de Napoleão, em 16 de Dezembro de 1815 o Príncipe Regente Dom João elevou o Brasil à reino; em 1816, morta D. Maria I, assumiu a coroa como Dom João VI.
No Brasil, o governo de Dom João VI tomou as seguintes excelentes medidas (que se impunham, para manter a colônia): liberação da atividade industrial em 1808; autonomia administrativa em 1815; permissão de ter imprensa; fundação da academia militar, da marinha e de um hospital militar, criação de uma fábrica de pólvora no Rio de Janeiro; criação do ensino superior (duas escolas de medicina), pois até então Portugal nunca permitira uma universidade, ao contrário da Espanha em seus domínios da América espanhola; criação do Jardim Botânico e da biblioteca real, criação da academia das Belas Artes, criação do Banco do Brasil.
A presença da corte no Brasil impulsionou a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve que, rejeitado posteriormente pela metrópole na tentativa das Cortes de fazer retornar o poderoso território à condição de colônia, gerou o descontentamento que provocou a 7 de setembro de 1822 a proclamação da independência pelo herdeiro da coroa portuguesa, D. Pedro I no Brasil e D. Pedro IV em Portugal.
Sobre o Reino Unido, diz o historiador Octávio Tarquínio de Sousa em «História dos Fundadores do Império do Brasil», volume IX: «A carta de lei de 16 de dezembro de 1816, elevando o Brasil à categoria de reino unido aos de Portugal e Algarves, concedeu-nos pacificamente todas ou quase todas as características de um país soberano. Por outro lado, a presença de Dom João no Brasil concorreu de maneira decisiva para fortalecer a unidade nacional, posta à prova no momento da revolução do Porto de 1820». Mesmo antes da independência, os portugueses da metrópole, prejudicados com a perda dos mercados brasileiros, voltaram-se contra o rei; em 1820 eclodiu uma revolta no Porto, exigindo, o fim da monarquia absoluta, a convocação de uma assembléia constitucional e a volta de Dom João. Este, com sua tática de protelar soluções, não respondeu às exigências. No Brasil existia receio, pois era opinião geral que a volta do rei poderia significar a retirada do país da autonomia conquistada.
De início o movimento constitucionalista de Portugal repercutiu favoravelmente no Brasil. A ilusão durou todo o ano de 1821. O regime de reino unido era solução que em geral satisfazia, salvo um pequeno grupo antilusitano ou mais teoricamente convencido da superioridade da forma republicana de governo. As grandes figuras adotaram tal posição, prova disso foi a aceitação do mandato de deputados por parte de numerosos brasileiros.
Governo próprio
Morta a mãe, D. Maria I, em 20 de março de 1816 sucedeu como Dom João VI.
Nomeou Regente seu filho primogênito em 22 de abril de 1821 e retornou a Portugal.
Regresso a Portugal
Finalmente, em fevereiro de 1821, tropas portuguesas dos quartéis do Rio de Janeiro amotinaram-se, exigindo que Dom João VIretornasse a Portugal. Houve conflitos e mortes e só o rei poderia evitar uma guerra civil. Assim, em 26 de abril de 1821, embarcou para Lisboa, e ao chegar jurou a Constituição. O seu herdeiro, Pedro de Bragança, no entanto, recusava-se a regressar exclamando eu fico!. A 7 de Setembro de 1822, Pedro declara a independência do Brasil e proclama-se Imperador. O resto do reinado de João VI é passado em tentativas de reversão desta medida e de pacificação entre os filhos Pedro e Miguel.
Em 1825, João VI nomeou Pedro I seu sucessor, apesar da rebeldia demonstrada, na tentativa de reunir Portugal e Brasil sob a mesma coroa.
É também neste ano, em 29 de agosto, que Dom João VI se viu obrigado a reconhecer a independência do Brasil e o filho como Imperador do Brasil: houve mediação inglesa e o Brasil se encarregou de bela compensação financeira.
Dom João VI ainda assumiria o título de Imperador do Brasil para si próprio em 29 de agosto de 1825 nas cláusulas do tratado de reconhecimento da independência do Brasil, firmado por mediação inglesa entre o Brasil e Portugal, pelo qual o Brasil assumiu dívidas de Portugal no valor de mais de 2 milhões e meio de libras esterlinas – contribuindo para desgastar a imagem de seu imperador aos olhos dos brasileiros…
Governo em Portugal
Em 1821 o rei é forçado a regressar a Portugal, devido ao triunfo da revolução de 1820 e, em 1822, jura a constituição, que vigoraria apenas durante alguns meses. Seguem-se a Vila-Francada em 1823 e a Abrilada em 1824, movimentos absolutistas encabeçados por D. Miguel.
Vencido e expatriado D. Miguel, Dom João VI consagra os últimos anos do seu reinado a tentar resolver o problema brasileiro e, por altura da sua morte, em 1826, sonhava ainda com a reunião dos dois países na pessoa de um só soberano.
Faleceu em Março de 1826 após adoecer por alguns dias, e cuja causa mortis suspeitava-se ter sido por envenenamento. Recentemente uma equipa de pesquisadores exumou o pote de cerâmica chinesa que continha as suas visceras e que encontrava-se enterrado sob as lages da capela dos Meninos da Palhavã no mosteiro de São Vicente de Fora, pedaços do seu coração foram reidratados e submetidos a análises, o que veio a comprovar a suspeita de envenenamento por arsénico. Contam as lendas que o rei fora envenenado com laranjas colhidas no palácio de Belém, a mando da rainha Carlota Joaquina, o que não se pode provar, mas sabe-se que de fato o rei comeu as laranjas, pois isso consta dos relatórios médicos da época, e só depois das tais laranjas é que Dom João adoeceu.
Foi sepultado no Panteão dos Braganças, onde viria também repousar a sua polémica esposa a seu lado.
Posteridade
Sua mulher Carlota Joaquina de Bourbon, princesa de Espanha 1775-1830 teve:
1 – Infanta Maria Teresa Francisca d’Assis Antónia Carlota Joanna Josefa Xavier de Paula Michaela Raphaela Izabel Gonzaga de Bragança e Bourbon que casou com D. Pedro Carlos de Bourbon, príncipe de Espanha e depois com Carlos de Bourbon, conde de Molina. Nasceu em Queluz, 29 de abril de 1793 sendo intitulada Princesa da Beira até 21 de março de 1795. Morreu em Triste em 17 de janeiro de 1874 estando sepultada na catedral dessa cidade. Casamento no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1810 com seu primo materno, o Almirante General Príncipe Don Pedro Carlos Antonio Rafael José Javier Francisco Juan Nepomuceno Tomas de Villanueva Marcos Marcelino Vicente Ferrer Raymundo Nonato Pedro de Alcántara Fernando de Borbón y Braganza, Infante de Espanha, nascido em Aranjuez em 25 de abril de 1775 e morto no Rio de Janeiro, 4 de julho de 1812. Foi almirante General de Portugal em 13 de maio de 1810, quando do casamento. Era filho do Príncipe Don Gabriel Antonio Francisco Javier Juan Nepomuceno José Serafin Pascual Salvador de Borbón y Sassonia, Infante de Espanha, e de sua esposa a Princesa D. Mariana Victoria Josefa Francisca Javier de Paula Antonieta Juana Dominga de Braganza y de Braganza, filha de D. Maria I Rainha de Portugal. Foram pais de apenas um filho, D. Sebastião. Casou por segunda vez em Salzburgo, na Austria, em 2 de fevereiro por procuração e em Azcoitia, 20 de outubro de 1838 (em pessoa), como sua segunda esposa, com seu tio materno o Príncipe Don Carlos Maria Isidro Benito de Borbón y Borbón, Conde de Molina (nascido em Aranjuez, 29 de março de 1788 e morto em Trieste, em 10 de março de 1855), chefe do Partido Carlista e por seus partidários chamado Carlos V rei de Espanha. Era cunhado seu, viúvo de sua irmã mais nova; sexto filho de Carlos IV, Rei da Espanha, e de sua esposa a Rainha D. Maria Luisa Teresa de Borbón y Borbón, segunda filha do Príncipe D. Filipe de Bourbon, Duque de Parma, Piacenza e Guastalla, Infante de Espanha.
2 – Infante Antônio Francisco de Assis de Bragança e Bourbon, príncipe da Beira nascido em Queluz, 21 de março de 1795 e morto em Lisboa, 11 de junho de 1801.
3 – Maria Isabel de Bragança (1797-1818), casou com Fernando VII de Espanha
4 – Pedro IV de Portugal e I do Brasil, Rei de Portugal e Imperador do Brasil (1798-1834). Batizado Infante Dom Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.
5 – Maria Francisca de Bragança (1800-1834), casou com Carlos de Bourbon, conde de Molina – 6 – Isabel Maria de Bragança (1801-1876)
7 – Infante Dom Miguel Maria do Patrocínio João Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro deAlcántara António Rafael Gabriel Joaquim José Gonzaga de Bragança e Bourbon que assumiu o trono como Miguel I, rei de Portugal (1802-1866) e que jamais foi reconhecido por todo o país nem coroado, sendo considerado por muitos como filho do 6º Marquês de Marialva;
8 – Maria da Assunção de Bragança batizada Infanta Maria da Assumpcão Ana Joana Josefa Luisa Gonzaga Francisca de Assis Xavier de Paula Joaquina Antónia de Santiago de Bragança e Bourbon, nasceu em Queluz em 25 de junho de 1805, quando o Príncipe Regente já não suportava mais estar casado com D. Carlota Joaquina. Morreu solteira em Santarem, 7 de janeiro de 1834 (sepultada em São Vicente de Fora).
9 – Ana de Jesus Maria de Bragança (1806-1857), casou com Nuno José de Moura Barreto, 1.º Duque de Loulé
Fonte: www.bairrodocatete.com.br/www.colegiosaofrancisco.com.br
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