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Poncia Vicêncio
“Pajem do sinhô-moço, escravo do sinhô-moço,
tudo do sinhô-moço, nada do sinhô-moço. Um
dia o coronelzinho, que já sabia ler, ficou
curioso para ver se negro aprendia os sinais, as
letras de branco e começou a ensinar o pai de
Ponciá. O menino respondeu logo ao
ensinamento do distraído mestre. Em pouco
tempo reconhecia todas as letras. Quando
sinhô-moço se certificou que o negro aprendia,
parou a brincadeira. Negro aprendia sim! Mas o
que o negro ia fazer com o saber de branco? O
pai de Ponciá Vicêncio, em matéria de livros e
letras, nunca foi além daquele saber.”
A Voz de Minha bisavó
A voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
[…].
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