Claudio Tozzi

Claudio Tozzi – Artista

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O processo de trabalho de Cláudio Tozzi é configurado por fases que, muito embora pareçam ser bem distintas uma das outras, vêm de processos que despertam no desenvolvimento do próprio trabalho.

Nos primeiros trabalhos a linguagem era muito semelhante à pesquisa de imagens de um jornalista. Tratava-se de uma época de efervescência política em que a sua produção estava voltada para uma discussão com estruturas já organizadas, trabalhando com colagens, placas de trânsito, fotos de jornais etc. O trabalho já redundava, no entanto, em uma elaboração formal quase geométrica que se mantém ainda nos seus trabalhos recentes.

A seguir vem os parafusos como tema central, a partir da idéia de um parafuso apertando um cérebro. Deste ponto, o artista volta-se para uma pesquisa mais aprofundada, no que se refere a cromaticidade e a técnica. É nesta época que Cláudio Tozzi começa a trabalhar com superfícies reticuladas.

Em sua crítica Mario Schenberg ressalta que esta fase da obra do artista está por demais ligada à anterior, posto que baseada em imagens gráficas.

Segundo Schenberg: “o pontilhismo das obras de Tozzi é uma elaboração da retícula da sua gráfica, que por sua vez já se baseia em imagens fotográficas.”.

O próprio artista reitera esta continuidade, distanciando-se da influência do pontilhismo de Seurat: “ (…) a intenção não era trabalhar de forma realista ou de forma simbólica, mas construir esta imagem com pequenos pontos como se estivesse fazendo o projeto de um edifício.”

As temáticas das escadas de “Passagens” também é advindo de um processo de pesquisa com imagens, processo que se esgota e induz o artista a levantar outras questões.

Em “Expansões orgânicas”, formas se superpõem em uma estrutura de polietano. A distinção cromática entre elas provoca a desconstrução do fundo mediante a expansão disforme daquelas que se põem adiante. Assim, na execução deste trabalho o artista foi como que tomando detalhes para a partir deles destruir certas formas e construir outras, formas que parecem emergir organicamente de suas estruturas.

Metodologia

Ao visualizar um quadro, o artista percebe algumas formas que saltam em sua retina, recortadas da obra que lhe dera origem. Esta imagem é desenhada e reinserida em um encontro do bidimensional com o tridimensional, já que, para o artista, dado o processo que acompanhou o desenvolvimento destas formas, o resultado é uma obra que é meio pintura, meio escultura .

É como se a própria escada, as suas formas, o desenho mesmo, estivesse se movendo, e de uma situação imaginariamente construída o artista extraísse formas autônomas que dessem origem a esta série: “(…) o artista preocupa-se com a desconstrução da estrutura, através do gesto, que a superpõe e a deforma. A superposição cromática de cada forma desintegra a cor e a decompõe em tons, para ser novamente estruturada na retina do espectador.”

Especificidade Arte e Ciência

Há que se relevar aqui a indissociabilidade na produção do artista da intuição mais imediata com um projeto de pesquisa mais apurado, no sentido de construção de um projeto a partir de uma proposta mediada pela imaginação.

Segundo o artista “(…) a preocupação inicialmente é meio inconsciente, muito espontânea, depois com o próprio trabalho ela vai se tornando mais clara, mais precisa até como meta essencial mesmo do trabalho…”.

Na análise da produção de Cláudio Tozzi, Mario Schenberg já chamava atenção para a combinação de elementos conscientes e inconscientes no processo criativo deste artista, muito parecidos com o processo de produção na ciência moderna.

Aliado a isso existe o cuidado com um equilíbrio formal numa preocupação construtiva sempre constante na obra de Tozzi. Também o uso dos materiais e das cores é submetido a uma pesquisa prévia. Cada cor é estudada de forma a ter-se em mãos as várias tonalidades, as relações destas umas com as outras e principalmente as relações das cores com as linhas gerais já estruturadas da obra.

Cláudio Tozzi, ainda que comungando do espírito arrojado que caracteriza a pós-modernidade no experimentalismo material e formal, não abre mão de uma análise mais comedida, uma sistematicidade na aplicação experimental. O artista afirma mesmo ser incapaz de partir de uma tela branca para a execução de seu trabalho.

No caso da obra tomada aqui como objeto de estudo, não existe um plano inicial de produzir uma escultura, a espontaneidade inicial do desenvolvimento do processo vai sendo organizado em pequenas anotações, estudado detalhadamente, até surgir efetivamente um projeto para a realização da obra.

Contexto

Cláudio Tozzi inicia sua atividades como artista nos anos 60.

Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 68, naquela época sediada na rua Maranhão, o artista vivencia os debates políticos e culturais que se davam naquele momento.

Emergia nos Estados Unidos a Pop Art, e no Brasil Hélio Oiticica contextualiza a vanguarda brasileira nas propostas da nova objetividade em que novas ordens estruturais retransformam o conceito de pintura e escultura.

A preocupação com o coletivo é algo contundente na época e os primeiros trabalhos de Cláudio Tozzi não se alijam desta temática. “Guevara Vivo ou Morto” é um bom exemplo deste engajamento artístico, que se aliava também a um compromisso cultural. Assim, ainda que dentro do espírito inovador da Pop Art, o artista se apropria deste discurso impregnando-o de um tom muito mais crítico, quase panfletário, que a proposta original americana não trazia.

No final dos anos 60, com o acirramento da postura ditatorial no país, os trabalhos perdem o tom panfletário e demonstram uma preocupação maior com a elaboração visual. São desta época “Astronauta” e “Futebol”.

Os anos 70 marcam esta preocupação com novas possibilidades gráficas e metafóricas que um mesmo tema permite.

De qualquer forma, resiste ainda a objetividade profunda de sua linguagem. Não é difícil referir a série ”Parafusos” ao período de profunda retaliação política no qual o país está imerso e ao discurso tecnocrata que o acompanha.

Mesmo com o emprego da cor reticulada, intensa e vibrante, suas obras continuam a fugir de qualquer apelo emocional, a leitura que ela propõe é sempre de ordem intelectual. O tema já não é mais dominante na produção de suas obras o que lhe permite trabalhar com maior autonomia as questões da pintura em si.

Característica dos anos 80, o artista aparece cada vez mais envolvido com as questões da plasticidade, buscando outras possibilidades de perscrutação sensorial e visual.

A obra de Cláudio Tozzi se encaminha para os anos 90 buscando outras propostas que não depõem de forma alguma com o que o artista produziu até então, ainda que de forma extremamente distinta. Esta recente fase poderia ser entendida como uma “(…)tentativa de superposição de duas vertentes sem que elas briguem entre si”, de forma que, derivado de elementos figurativos, as formas abstratas resultantes se instalem em uma dialética cromaticamente construída.

Conclusão

A produção atual de Claudio Tozzicontempla um percurso de grande investigação e integridade formal. Artista de produção extremamente profícua, conseguiu consagrar um estilo absolutamente particular na utilização de retículo sobre superfície. O “cromatismo festivo” atual estimula a percepção, sem colocar em risco o construtivismo intelectual que sempre o caracterizou.

O artista se mostra interessado em manter um relacionamento amplo com o grande público, estabelecendo contatos mais pessoais que as obras expostas em locais abertos (como a do Metrô Sé em São Paulo, ou o painel exposto no programa “Metropolis” da TV Cultura) lhe permitem.

O histórico de suas atividades expõe que a respeitabilidade alcançada no meio foi construída a partir de um itinerário de pesquisa de valores plásticos sempre ascendente.

A opção atual por uma estética “atemática” não rivaliza em nada com a competência do período anterior, em que a aplicação de temas o colocava em dia com aquilo que lhe era contemporâneo tanto em termos culturais quanto artísticos. Não se trata apenas de uma questão de tendências, pelo que podemos visualizar na retrospeção geral de sua obra, mas de inovar a partir de referências estimulantes internas à própria obra.

Os trabalhos recentes contêm muito de reminiscências das fases anteriores. Tozzi é, nas palavras de Frederico Moraes, um “construtor de imagens” e, neste sentido, sua obra sempre em construção aponta para caminhos surpreendentes pela novidade de sua constante transformação/síntese.

Claudio Tozzi – Vida

Nascimento: 1944, São Paulo, São Paulo

Claudio Tozzi
Claudio Tozzi

Claudio José Tozzi (São Paulo SP 1944).

É mestre em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Inicia-se artisticamente influenciado pela pop art americana, com influência de Roy Litchtenstein.

Em 1967, seu painel Guevara Vivo ou Morto, exposto no Salão Nacional de Arte Contemporânea, é destruído a machadadas, posteriormente restaurado pelo artista. Em 1969, viaja a estudos para a Europa.

A primeira individual ocorre em 1971, na Galeria Ars Mobile, em São Paulo.

Em 1975, recebe o Prêmio Guarantã de Viagem ao Exterior, da Associação Brasileira dos Críticos de Arte.

Autor de vários painéis em espaços públicos em São Paulo, como Zebra, na lateral de um prédio da Praça da República, 1972, o da Estação Sé do Metrô, em 1979, o da Estação Barra Funda do Metrô, em 1989, e para o edifício da Cultura Inglesa, em 1995; e, no Rio de Janeiro, o painel na Estação Maracanã do Metrô Rio, em 1998. Participa da Jovem Arte Contemporânea, no MAC/USP, São Paulo, 1967, 1968 e 1970; Bienal Internacional de São Paulo, 1967, 1968, 1977 e 1991; Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP, São Paulo, 1971 e 1983; Expo-Projeção 73, no Espaço Grife, São Paulo, 1973; Bienal de Veneza, com sala especial no Pavilhão Brasileiro, Veneza, Itália, 1976; Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 1979, prêmio viagem ao exterior; Tradição e Ruptura: síntese da arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal, São Paulo, 1984; Século 20: arte do Brasil, na Fundação Calouste Gulbenkian – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Lisboa, Portugal, 2000; Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal, São Paulo, 2000; Arte Hoje, na Arvani Arte, São Paulo, 2001.

Claudio Tozzi – Biografia

Claudio Tozzi
Claudio Tozzi – Obra

Claudio Tozzi
Claudio Tozzi – Obra

Claudio Tozzi é de uma geração artística muito jovem, posterior ao concretismo e que está procurando emancipar-se das coisas geométricas. Você sofreu a influência da arte geométrica, mas agora está tentando transformar essa arte numa coisa mais vibrante, mais sensorial. Aliás, esse processo foi um pouco do que se deu internacionalmente.

Depois do abstracionismo geométrico os artistas passaram para o expressionismo abstrato, uma retomada de Monet, procurando a cor como energia. Você está buscando uma síntese do expressionismo abstrato e da construção geométrica, que pode ser uma tentativa de sintetizar grande parte da arte do século XX.

O processo de criatividade combina elementos de ação consciente e elementos de ação inconsciente. Isso deve ter sido sempre conhecido. Homero dizia que nada do que ele escrevia era da sua cabeça. Tudo era transmitido pela Musa. A musa era o inconsciente. No século XIX, o matemático e físico francês Poincaré sistematizou a descoberta matemética, que tinha processos conscientes e inconscientes, daí nasceu uma concepção geral da criatividade, uma combinação complexa de elementos conscientes e inconscientes. Quando o artista olha para o seu próprio quadro ele o faz condicionado pela sua personalidade. Outra pessoa olha o quadro e vê outra coisa, diferente. Há uma riqueza muito grande de situações, um quadro pode ser interpretado de muitas maneiras diferentes. Uma geração vê a arte de uma determinada maneira, a geração seguinte vê de outra. A arte, a partir de um determinado momento, se torna independente do artista, tem sua própria história.

Claudio Tozzi
Claudio Tozzi – Obra

É um pintor do nosso tempo que através de «Guevaras, histórias em quadrinhos e «parafusos metamorfoseando-se em degraus, degraus em torres ou faróis, em total desequilíbrio» nos conduz através de sua obra para o trinômio forma, linha e cor, e depois, forma e cor; percorrendo o caminho da figuração à abstração.

Foi a forma que escolheu para nos retratar a pós-modernidade; enquanto idéia, experiência cultural e até mesmo condição social.

A crença de que o período que caracterizou a busca de um mundo racionalizado – de 1789 a 1989 – deu origem à pós-modernidade, é contestada por aqueles que indicam que esta nasceu em 15.07.1972, quando se iniciou o desmantelamento do Conjunto Habitacional Popular de Pruitt-Ioge (St. Louis) concebido e construído seguindo as teorias das moradias populares enunciadas pelo arquiteto suíço Le Corbusier o qual seguia o «princípio das máquinas de habitar»… o apogeu da ciência transformada em tecnologia aplicada.

Claudio Tozzi
Claudio Tozzi – Obra

O próprio conceito da pós-modernidade que prenuncia «A perda de confiança no conhecimento moderno e no seu conseqüente progresso» resultando portanto numa busca de novas bases, valores ou novos conceitos de vida, no passado ou em outras culturas, pode ser uma das razões que o levaram a não se filiar a nenhuma corrente estética ou programática. Veio depois do concretismo, conseguiu ultrapassar a pura expressão geométrica para representar, em etapas posteriores, quanto o contato com o real tornava-se mais difuso. Representou «pesquisas ópticas» e «séries como a dos parafusos», gravuras e móbiles; em suma, objetos da era tecnológica. Diria que deu forma e cores a Jean Baudrillard e Jean-François Lyotard.

Claudio Tozzi – Arte

Claudio Tozzi
Claudio Tozzi

Claudio Tozzi entrou para a Universidade de Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) de São Paulo em 1964, mas nunca praticou a arquitetura, a trabalhar como artista gráfico em vez disso.

Enquanto estava na universidade ele conheceu luminar, crítico e físico Mário Schenberg, que rapidamente identificou seu trabalho com a nova figuração brasileira, uma alternativa contemporânea para as vanguardas concretas, ao lado de Wesley Duke Lee, Antonio Dias e Roberto Magalhães, entre outros.

O interesse de Tozzi na figuração desenvolvido a partir de uma necessidade de popularizar a arte em São Paulo, que ofereceu muito poucas plataformas para jovens artistas exporem, além de salões anuais. Ele respondeu à lacuna de espaços de exposições oficiais apropriando-se da linguagem inteligível da cultura comercial, através da estética da pop art. Em suas obras Tozzi abordadas questões políticas atuais relatados amplamente na mídia, incluindo a corrida espacial e da revolução cubana. Entre suas obras mais emblemáticas são representações de astronautas e Che Guevara.

O esforço de Claudio Tozzi para popularizar a arte o levou a desenhar imagens da mídia de massa, desafiando os valores sócio-culturais aceites, bem como satirizando a rede de informação brasileiro, que foi atormentado por censura durante a ditadura militar.

Em meados da década de 1960, multidões e ícones políticos estão entre temas recorrentes de Tozzi Multidão 1968 reflete um de seus motivos persistentes:. A multidão em protesto. Em 1968, o regime militar no Brasil tornou-se notoriamente mais opressivo, na medida em que muitos artistas e intelectuais foram forçados a fugir do país. Em São Paulo e Rio de Janeiro, protestos políticos tornou-se uma ocorrência diária, em paralelo com as revoltas estudantis de Maio de 1968 em Paris. Representação da multidão de Tozzi, através de detalhes ampliados justapostos com uma série de punhos erguidos, acentua seu esforço para destacar o poder do indivíduo dentro da multidão. Ao adotar linguagem acessível do pop, ele propôs a sensibilizar um público maior para o potencial mobilizador da arte.

Fonte: www.eca.usp.br/www.tate.org.uk

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