Adonias Filho

Adonias Filho – Vida

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Adonias Aguiar Filho, jornalista ,crítico ,ensaísta e romancista nasceu na Fazenda São João, em Ilhéus, Bahia em 27 de novembro de 1915 e faleceu na mesma cidade em 2 de agosto de 1990.

Foi eleito em 14 de janeiro de 1965 para a cadeira no 21 da Academia Brasileira de Letras ,tendo sido recebido por Jorge Amado na casa de Machado de Assis.

Adonias Filho foi uma figura bastante requisitada pelos órgãos de cultura.

Foi ,entre outras coisas ,diretor da Biblioteca Nacional (1961-1971), Diretor da Agência Nacional do Ministério da Justiça, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (1972) e do Conselho Federal de Cultura (1977-1990). Já dando a perceber que se trata de um baiano de peso.

Adonias Filho faz parte da 3ª geração do modernismo:

O que existe são estágios de um mesmo e sinuoso movimento, denominado imprecisamente de Modernismo : movimento que não encerrou completamente o seu ciclo vital. No primeiro estágio, localista, o poeta como que descobre o seu país.

Os valores locais, a paisagem, o pitoresco brasileiro, comando a sua estética.

O segundo estágio é uma fase mais substantiva: o homem brasileiro é o núcleo de todas as preocupações do escritor.

Já a terceira fase, o terceiro estágio do modernismo, é a fase instrumentalista. (… ) O Localismo, o Substancialismo e o Instrumentalismo compõem o quadro geral desse período que consolidou em nós a plena autonomia.( PORTELLA : 1975:37)

Mas , enquanto os escritores da 3a geração ficaram comprometidos somente com a pesquisa formal e o conteúdo de certa sorte “esvaziado”,Adonias não deixou de lado o culto da forma , porém o conteúdo foi amplamente perseguido ,tendo como conseqüência um texto comprometido com a gente simples e batalhadora que fincou as bases para a construção daquilo que ele chamou de Nação Grapiúna , isto porque , surgiu em outras coordenadas que não as européias da colonização.

Em Sul da Bahia,Chão de Cacau ,Adonias Filho faz a seguinte afirmação: em todo esse tempo,nas funduras das grandes florestas, em tudo que foi uma guerra contra a natureza ,gerou-se uma violenta saga humana no ventre mesmo da selva tropical.(1981:20)

Assim ,a matéria pré-textual ,presa à memória , ganha em ficção ,uma vez que esta não fica restrita aos fatos tais quais como aconteceram ,antes amplia em simbolismo com a vivência dos desbravadores da terra em constante embate com a natureza e com os seres humanos entre si.

A professora Maria de Lourdes Netto Simões em seu livro: Caminho da Ficção afirma:

O acontecer ficcional ligado à memória ,seja do narrador ,seja do personagem ,flui alicerçado na ideologia vivenciada.A estrutura do poder revelador da ambição e da dominação (sustentados pela violência ,pelo medo ,pelo ódio) própria do território ,fundamenta a obra.

A violência , o medo e o ódio só são superados por valores como o amor , a promessa e a honra .Então , a “realidade” ficcional ,nesses momentos líricos ,se distancia da realidade das Terras do Cacau.(1996:81)

Para ganhar em ficção , na medida em que o texto de ficção não esta comprometido com a verdade histórica, ele acaba sendo mais história do que a História Oficial. Assim, na obra adoniana a violência , as intempéries da vida , não são capazes de excluir sentimentos como amor ,amizade ,fazendo pulsar a esperança de dias melhores.

Poderíamos incluir os romances de Adonias Filho entre os de “tensão interiorizada”(GOLDMANN: 1967), pois são romances psicológicos, feitos de sombra e indefinição , em que o memorialismo ,o intimismo e a auto-análise compõem um quadro investigativo do passado , preso à memória involuntária ,como a definiu Proust em sua obra Em busca do tempo perdido. Proust faz uma oposição entre a memória involuntária ( mémoire pure de Bergson ) e a voluntária.

Essa é a memória voluntária , a lembrança voluntária da qual se pode dizer que as informações que nos proporciona sobre o passado, não conservam nada dele. (BENJAMIN : 1975:39)

A zona cacaueira do Sul da Bahia ,assim serviu de base, via memória involuntária , para a incursão à alma do povo primitivo que habitou a região, em total sintonia com os próprios movimentos da terra.

O telúrico, o bárbaro, o primordial como determinantes prévios do destino são os conteúdos que transpõem a prosa elíptica de Os Servos da Morte (1946), Memórias de Lázaro(1952) e Corpo Vivo (1963).No mesmo espírito foi elaborado O Forte ,de ambientação urbana.(BOSI:1976:484)

Adonias Filho pertence à corrente de renovação da estrutura do romance, quando este funde personagem-ação-ambiente e ,em termos de solução estética apresenta recursos retóricos como o monólogo , o diálogo e a narração , sintonizados , a serviço da exposição subjetiva e , muitas vezes ,lírico-trágico da condição humana ;condicionada , se é possível afirmar ,a poderes além do psicológico ,como a Graça ou o Destino.

Relação das obras mais importantes publicadas por Adonias Filho:

1946: Servos da Morte
1952: Memórias de Lázaro
1962: Corpo Vivo
1965: O Forte
1965: A Nação Grapiúna
1968: Léguas da Promissão
1971: Luanda Beira Bahia
1976: Sul da Bahia Chão de Cacau
1983: A Noite sem Madrugada

Sendo Adonias Filho é continuador de uma produção ficcional que começou nos anos 30, sem ser porém neo-realista , em que predomina a formação religiosa dos escritores em seus romances de atmosfera .

Nesta linha, estão Lúcio Cardoso, Cornélio Pena e Jorge de Lima que exploram à exaustão o monólogo à Faulkner. E a presença do trágico em suas obras responde por nossa idiossincrasia, isto é, retoma à maneira nietzschiana , o trágico como princípio norteador de vida e de morte.

Em A filosofia na idade trágica dos gregos , o alemão defende a idéia de que Sócrates, ao inventar a metafísica, instaurou um modo de raciocínio que balizam a vida em nome de valores “superiores ” como o Divino, o Verdadeiro, o Belo e o Bem.

Desse modo , a instauração da filosofia ocidental , através do princípio da racionalidade separou, em nome da harmonia e da ordem o apolíneo do dionisíaco. Estes complementam-se, ainda segundo Nietzsche, mas foram separados pela Civilização.

Vê a vontade culpada de Schopenhauer como algo a ser questionado, antepondo a vontade alegre, sem o peso da culpa, ou do arrependimento.

Os valores são criados pelo homem, porém são vistos como algo transcendente e eterno, por isso a presença da culpa, da fragilização, da moral dos fracos como a ditar as normas comportamentais.

Outro dado a ser levado em conta na obra adoniana é a presença de tradições indígena e africana; promovendo para desfazer o olhar etnocêntrico que caracterizou a nossa colonização e conseqüentemente a produção intelectual dos escritores brasileiros.

Adonias Filho utiliza em suas narrativas muitas divindades negras como Ogum presente em várias etnias africanas como “Yorubá”,”nagô”,”angola”, “Gêge”(JÚNIOR:1995) .Este é o orixá da guerra e da agricultura ;um Deus capaz de descer de sua condição sagrada para defender os homens.

Quando Adonias Filho elege as tradições indígena e africana do complexo cultural brasileiro para seu universo representado ,configura-se uma opção de autoria anti-etnocêntrica.

Conscientemente ,ele capta vozes não-hegemônicas e ilumina-as no tecido romanesco , adotando com elas um pacto de cumplicidade narrativa e Cultural .

É o que ocorre quando ,do amplo acervo referencial popular , o autor escolhe a figura dos contadores orais e dos artistas contemporâneos para também comporem a voz brasileira do diálogo cultural.

Assim, Adonias Filho, ao dar voz aos seus personagens ,com suas culturas seja de origem indígena , seja de origem africana promoveu para a aceitação da formação híbrida da nação brasileira e conseqüentemente da Nação Grapiúna.

Adonias Filho – Biografia

O autor Adonias Filho (A. Aguiar Fo), jornalista, crítico, ensaísta e romancista, nasceu na Fazenda São João, em Ilhéus, BA, em 27 de novembro de 1915, e faleceu na mesma cidade, em 2 de agosto de 1990.

Eleito em 14 de janeiro de 1965 para a Cadeira n. 21, sucedendo a Álvaro Moreyra, foi recebido em 28 de abril de 1965 pelo acadêmico Jorge Amado.

Filho de Adonias Aguiar e de Rachel Bastos de Aguiar, fez o curso secundário no Ginásio Ipiranga, em Salvador, concluindo-o em 1934, quando começou a fazer jornalismo.

Transferiu-se, em 1936, para o Rio de Janeiro, onde retomou a carreira jornalística, colaborando no Correio da Manhã.

Foi crítico literário dos Cadernos da Hora Presente, de São Paulo (1937); crítico literário de A Manhã (1944-1945); do Jornal de Letras (1955-1960); e do Diário de Notícias (1958-1960). Colaborou também no Estado de S. Paulo e na Folha da Manhã, de São Paulo, e no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro.

Adonias Filho

Adonias Filho

Foi nomeado diretor da Editora A Noite (1946-1950); diretor do Serviço Nacional de Teatro (1954); diretor da Biblioteca Nacional (1961-1971); respondeu também pela direção da Agência Nacional, do Ministério da Justiça.

Foi eleito vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa (1966); membro do Conselho Federal de Cultura (1967, reconduzido em 1969, 1971 e 1973); presidente da Associação Brasileira de Imprensa (1972); e presidente do Conselho Federal de Cultura (1977-1990).

Adonias Filho faz parte do grupo de escritores que, a partir de 1945, a terceira fase do Modernismo, se inclinaram para um retorno a certas disciplinas formais, preocupados em realizar a sua obra, por um lado, mediante uma redução à pesquisa formal e de linguagem e, por outro, em ampliar sua significação do regional para o universal.

Originário da zona cacaueira próxima a Ilhéus, interior da Bahia, Adonias Filho retirou desse ambiente o material para a sua obra de ficção, a começar pelo seu romance de estréia, Os servos da morte, publicado em 1946.

Na obra romanesca, aquela realidade serviu-lhe apenas para recriar um mundo carregado de simbolismo, nos episódios e nos personagens, encarnando um sentido trágico da vida e do mundo.

Desenvolveu recursos altamente originais e requintados, adaptados à violência interior de seus personagens. É o criador de um mundo trágico e bárbaro, varrido pela violência e mistério e por um sopro de poesia.

Seus romances e novelas serão sempre a expressão de um dos escritores mais representativos e fascinantes da ficção brasileira contemporânea.

Conquistou os seguintes prêmios: Prêmio Paula Brito de crítica literária (Guanabara, 1968); com o livro Léguas da promissão, conquistou o Golfinho de Ouro de Literatura (1968), o Prêmio PEN Clube do Brasil, Prêmio da Fundação Educacional do Paraná (FUNDEPAR) e o Prêmio do Instituto Nacional do Livro (1968-1969).

Obteve o Prêmio Brasília de Literatura (1973), conferido pela Fundação Cultural do Distrito Federal.

Com o romance As velhas, obteve pela segunda vez o Prêmio Nacional de Literatura (1975), do Instituto Nacional do Livro, na categoria de obra publicada (1974-1975). Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia, em 1983.

Obras:

Renascimento do homem – ensaio (1937)
Tasso da Silveira e o tema da poesia eterna – ensaio (1940)
Os servos da morte – romance (1946)
Memórias de Lázaro – romance (1952)
Jornal de um escritor (1954)
Modernos ficcionistas brasileiros – ensaio (1958)
Cornélio Pena – crítica (1960)
Corpo vivo – romance (1962)
História da Bahia – ensaio (1963)
O bloqueio cultural – ensaio (1964)
O forte, romance (1965)
Léguas da promissão – novela (1968)
O romance brasileiro de crítica – crítica (1969)
Luanda Beira Bahia – romance (1971)
O romance brasileiro de 30 – crítica (1973)
Uma nota de cem – literatura infantil (1973)
Uma nota de mil – romance (1973)
As velhas – romance (1975)
Sul da Bahia: Chão de Cacau – Uma Civilização Regional – ensaio (1976)
Fora da pista – literatura infantil (1978)
O Largo da Palma – novela (1981)
Auto dos Ilhéus – teatro (1981)
Noite sem madrugada – romance (1983).
Um Coquinho de Dendê – literatura infantil (1985)
O Homem de Branco – romance (1987)
O Menino e o Cedro – literatura infantil (póstumo, 1993)

Obras de Adonias Filho foram traduzidas para o inglês, o alemão, o espanhol, o francês e o eslovaco.

Fonte: www.uesc.br/www.biblio.com.br

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