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Revolta dos Alfaiates – História do Brasil
Liberdade, fraternidade e igualdade foram ideais da Revolução Francesa espalhadas por todo o mundo atlântico.
No Brasil do final do século XVIII, os intelectuais liam os filósofos, pensadores iluministas cuja escrita inspirou a Era das Revoluções. Nos salões da moda, os letrados, ou intelectuais, reuniam-se para discutir filosofia e a torrente de acontecimentos fora do Brasil. Educados em Coimbra, Portugal, ao lado dos filhos dos plantadores de açúcar mais ricos do Brasil, os letrados entendiam as ideias da revolução em termos amplamente intelectuais. Sua posição de privilégio dentro da sociedade escravista brasileira limitava a extensão em que questionavam o pacto colonial.
A influência da Revolução Francesa, no entanto, se espalhou para além dos poucos proprietários com acesso à educação universitária. Como os escravos e mulatos do Haiti, os trabalhadores da cidade nordestina de Salvador da Bahia interpretaram as ideias de liberdade e igualdade em termos profundamente radicais. Em agosto de 1798, um grupo de mulatos livres, escravos negros e artesãos brancos participou de um movimento que buscava efetivar em solo brasileiro os objetivos da Revolução Francesa.
A Revolta dos Alfaiates, nomeada pela profissão de alguns de seus conspiradores, foi uma de uma série de tramas que sinalizaram a desintegração do sistema colonial que ligava o Brasil a Portugal.
Sob o grande administrador do império português, o Marquês de Pombal, e seu sucessor menos capaz, Martinho de Melo e Castro, a coroa portuguesa realizou um programa de reorganização imperial destinado a tornar mais eficiente a extração de riquezas de seus domínios ultramarinos, da qual o Brasil foi a joia da coroa.
Na capitania de mineração de ouro de Minas Gerais, as reformas geraram em fevereiro de 1789 um movimento de independência liderado por alguns dos homens mais proeminentes da região, irritados com os esforços incansáveis da coroa para recolher impostos atrasados em face da diminuição dos depósitos de ouro.
As autoridades coloniais conseguiram descobrir o complô antes que fosse executado e evitaram mais descontentamento ao afrouxar as exigências fiscais.
Os conspiradores mineiros buscavam o livre comércio e a independência de Portugal. Os proprietários centrais da trama ofereciam liberdade aos escravos nascidos no Brasil que se juntassem às forças insurrecionais, mas não propunham o fim do tráfico transatlântico ou da própria escravidão.
Após a eclosão das revoluções francesa e haitiana, os alfaiates baianos vislumbravam mudanças sociais muito mais profundas: a abolição da escravidão e o fim da discriminação racial, objetivos que ampliavam os ideais de liberdade e igualdade de maneiras que os ricos proprietários de escravos consideravam insustentáveis.
Em agosto de 1798, cartazes anunciando planos revolucionários apareceram afixados em igrejas e outros muros públicos por toda a cidade de Salvador. Os manifestos dos alfaiates chamavam o “povo republicano baiano” e em “nome do supremo tribunal da democracia baiana”. Eles exibiram publicamente seus planos para derrubar “o detestável jugo metropolitano de Portugal”.
Mais perigosamente, os rebeldes proclamaram que a república deles seria uma república na qual “todos os cidadãos, especialmente mulatos e negros” teriam proteção igual: “todos serão iguais, não haverá diferença”.
Os gritos dos conspiradores por “liberdade, igualdade e fraternidade” assumiram um significado especialmente subversivo em uma sociedade escravista.
Ao contrário dos homens ricos que planejaram a conspiração mineira, os rebeldes baianos imaginavam muito mais do que a independência política de Portugal.
Eles exigiam uma verdadeira mudança social: “todos os escravos pretos e pardos devem ser livres, para que não haja nenhum escravo”. Os alfaiates apelaram ainda mais para os pobres livres, prejudicados pelo aumento dos preços que acompanhou o ressurgimento econômico da economia açucareira após a Revolução Haitiana. Eles exigiam preços mais baixos dos alimentos, principalmente da mandioca e da carne. Eles também pediram o livre comércio e a abertura dos portos ao comércio com a França e outras potências estrangeiras.
As autoridades públicas rebateram rapidamente a exibição aberta de ideias revolucionárias dos alfaiates. Domingos de Silva Lisboa, um escriba profissional, foi rapidamente preso.
Quando os manifestos continuaram a aparecer em público, a atenção da polícia se concentrou em Luís Gonzaga das Virgens, um soldado do regimento de mulatos. Em 26 de agosto, as autoridades prenderam 47 supostos revolucionários, entre eles cinco mulheres, nove escravos, dez brancos e o restante mulatos, incluindo João de Deus do Nascimento, alfaiate de poucos recursos.
As investigações não conseguiram descobrir uma trama revolucionária. Embora vários detidos fossem membros de um regimento de mulatos, eles pareciam não ter formulado nenhum plano militar. Se, como as autoridades temiam, os alfaiates pretendiam montar uma revolução ao estilo francês, eles não progrediram além de manifestos pendurados por toda a cidade. No entanto, a mera disseminação de ideias revolucionárias foi suficiente para condenar os conspiradores. O governador Fernando José de Portugal denunciou as “abomináveis ideias jacobinas”, especialmente perigosas “num país com tantos escravos”.
Em 8 de novembro de 1799, quatro líderes foram enforcados publicamente no centro da cidade. Os mulatos livres Lucas Dantes, João de Deus e Manuel Faustino foram decapitados e esquartejados.
Revolta dos Alfaiates
As autoridades exibiram as partes do corpo decepadas por dois dias até que o superintendente de saúde solicitou que a carne podre fosse retirada devido a preocupações com a saúde pública.
Dois escravos e cinco homens livres de cor foram açoitados publicamente e obrigados a assistir às execuções. Juntamente com outros dezesseis arguidos, foram deportados para a costa africana e proibidos de voltar a pôr os pés em território português.
O fato de os conspiradores baianos imaginarem um mundo livre de escravidão e discriminação racial tornava sua trama muito mais ameaçadora do que outras conspirações pré-independência, por exemplo, em Minas Gerais e Pernambuco. O secretário de Estado português para o domínio ultramarino, Rodrigo de Sousa Coutinho, manifestou preocupação de que “os abomináveis princípios franceses” tenham “infectado” até “as principais gentes da cidade”. As autoridades, no entanto, rapidamente exoneraram os letrados brancos baianos encontrados com os mesmos escritos franceses que haviam custado a vida aos homens de cor.
O governador baiano assegurou à Coroa que apenas os “de ordem inferior” haviam sido culpados de traição. “Liberdade, fraternidade e igualdade” assumiu conotações subversivas quando expressas por escravos e homens de cor livres. Igualdade e escravidão não podiam coexistir.
Revolta dos Búzios, Revolta dos Alfaiates ou Revolta das Argolinhas
A Revolta dos Búzios, Revolta dos Alfaiates ou Revolta das Argolinhas, como ficou conhecido o movimento, recebeu estes nomes devido ao fato dos revoltosos usarem um búzio preso à pulseira para facilitar a identificação entre si, por usarem uma argola na orelha com o mesmo fim e também por que alguns dos conspiradores eram alfaiates.
Presume-se que os búzios seriam usados como moeda na nova república já que os búzios era moeda corrente em muitos lugares da África.
Foi formada por pessoas de várias etnias e classes sociais, desde escravos, negros livres, soldados, oficiais militares, sapateiros, carpinas, comerciantes, padres, etc., que aderiram ao Partido da Liberdade.
No dia 12 de agosto de 1798, em dez locais diferentes da cidade do Salvador amanheceram com um manifesto colado em suas paredes, que dizia:
“Está pra chegar o tempo feliz da nossa liberdade; o Tempo em que seremos irmãos: o tempo em que todos seremos iguais”.
“Homens, o tempo da liberdade para nossa ressurreição; sim para ressuscitareis do abismo da escravidão, para levantareis a sagrada Bandeira da Liberdade”.
“Ó vós povos que viveis flagelados com pleno poder do indigno coroado esse mesmo Rei que vós criastes; esse mesmo Rei tirano há que se firmar no trono para vos deixar, para vos roubar e para nos maltratar”. (trechos do manifesto dos revoltosos)
Denominada “Conjuração dos Alfaiates”, “Inconfidência Baiana”, “Conspiração dos Búzios”, Primeira Revolução Brasileira, Sedição de Mulatos, o movimento revolucionário de 1798 na cidade do Salvador foi uma das mais importantes manifestações anti – coloniais no Brasil nos finais do século XVII. Mas sua importância histórica não fica somente no anticolonialismo; e ainda mais singular nos seus aspectos sociais em sua avançada formulação política. Esse movimento se formou sob a influência da filosofia iluminista.
Sua concepção política era a República Moderna, regime no qual todos seriam iguais perante a lei e o poder teria sua origem no povo. Eram ideias colocadas em circulação na Europa ao longo do século XVIII, mas que alcançaram a Bahia, via Portugal, com o prestígio das revoluções de 1789 e 1792 na França.
Essas ideias ganharam cor e local na Bahia. Por isso mesmo a concepção de igualdade perante a lei tomou ênfase na igualdade de cor; uma repulsa as discriminações pela cor que então atingiam a Bahia e que não eram agressivas apenas para com os negros.
Era bastante mais extensa, por exemplo: com relação aos mulatos (uma categoria que envolvia os pardos e brancos da terra) essa discriminação proibia o acesso aos cargos da administração e a proporção a patente de oficial nas tropas de linha. E somente por causa da cor.
Ou porque os mulatos eram a classe de gente a mais orgulhosa e inquieta de todo país, como observou o marechal comandante das tropas pagas em 1803. A ideia de comércio em todos os mares e portos, o movimento de 1794/1798 deu formulação local ao exigir que o porto da cidade do Salvador exercesse o comércio livremente com todos os povos.
Em 2009, completam-se 211 anos da Revolta dos búzios. O Olodum acredita que o sonho continua valendo, sendo conduzido pelos descendentes diretos da Revolta dos Búzios, queremos um outro Brasil, sem fome, com moradia digna, com escola pública de boa qualidade, com salários justos, com direitos humanos respeitados, com terras para plantar. Junte-se aos filhos da liberdade, da Igualdade da Fraternidade.
Heróis e Heroínas da Revolta dos Búzios
João de Deus do Nascimento, homem pardo, livre, casado, 27 anos, natural da Vila de Cachoeira, cabo de esquadra do segundo regimento de milícia desta praça, alfaiate, preso em 25 de agosto de 1798.
Luís Gonzaga das Virgens, pardo, livre, solteiro, 36 anos, natural da Cidade de Salvador – BA, soldado granadeiro do primeiro regimento da linha desta praça, preso em 24 de agosto de 1798.
Luiza Francisca D’Araújo, parda, livre, casada com João de Deus, presa em 26 de agosto de 1798 e solta em 05 de setembro do mesmo ano.
Lucrécia Maria Quent, criada, forra, natural desta cidade, presa em 15 de setembro de 1798 e solta em 26 de setembro do mesmo ano.
Ana Romana Lopes, parda, forra, natural desta cidade, presa em 15 de setembro de 1798 e solta em 20 de setembro do mesmo ano.
Lucas Dantas de Amorim Torres, negro, liberto, solteiro, 24 anos natural desta cidade, soldado do regimento de artilharia e marceneiro.
Manoel Faustino dos Santos Lira, pardo, forro, solteiro, 18 anos, alfaiate e marceneiro, natural de Santos Amaro da Purificação.
Revolta dos Alfaiates – Conjuração Baiana ou Revolta dos Búzios
No dia 12 de agosto de 1798 tinha inicio um dos movimentos abolicionista e de independência, menos conhecidos do Brasil – A revolta dos Alfaiates ou dos Búzios.
Comparado a Inconfidência Mineira, a articulação na Bahia era mais arrojada, pois propunha a libertação das pessoas escravizadas – coisa que Tiradentes e companhia limitada não pensaram.
A revolta foi inspirada na Revolução Francesa, 1792 – nos ideais: Fraternidade, Liberdade e Igualdade.
As autoridades portuguesas até que tentaram evitar que as ideias francesas chegassem à colônia brasileira, mas a vinda em 1796 de um francês de nome Larcher acabou pondo por terra a estratégia.
Cientes da presença do partidário da revolução na França, o colocaram sob vigilância, mas os soldados encarregados terminaram apaixonados pelos fatos que aconteciam na Europa. Não era difícil isso acontecer, pois eles eram brasileiros e não concordavam com a situação que estava sendo submetido o Brasil.
Reunião dos Cavaleiros da Luz discutindo o fim
da opressão colonial
Outro influenciado pelas ideias do francês, foi o farmacêutico o João Ladislau Figueiredo e Mello, que cedia sua residência para reuniões, que participavam membros da elite baiana, mais ligados aos setores liberais.
Entre eles o padre Francisco Agostinho Gomes e até um senhor de engenho – Inácio Siqueira Bulcão. Inclusive livros de pensadores iluministas eram lidos e distribuídos, apesar da forte fiscalização portuguesa contra esse material.
Nesse período os senhores de engenhos estão beneficiados pelo aumento da produção da cana-de-açúcar, que substitui no mercado internacional o mesmo produto cultivado em São Domingos, palco da revolta dos escravos. Mas a recusa desses produtores em cultivar gêneros alimentícios aumentou a inflação sobre a comida, criando descontentamento na população pobre.
Também chamada de Inconfidência Baiana, a Revolta teve efetivo inicio com a divulgação de panfletos feitos por Luís Gonzaga das Virgens, com as seguintes ideias:
1º – Independência da Capitania;
2º – Governo Republicano;
3º – Liberdade de comercio e abertura de todos os portos;
4º – Cada soldado receberia soldo de duzentos réis por dia;
5º – Libertação das pessoas escravizadas. O material foi afixado e distribuídos nas ruas de Salvador. Delatado, Luís, foi preso no dia 24 de agosto de 1798.
No texto dos panfletos constava a seguinte frase: “Povo que viveis flagelados com o pleno poder do indigno coroado, esse mesmo rei que vós criastes; esse mesmo rei tirano é o que se firma no trono para vos veixar, para vos roubar e para vos maltratar.”
E outro se lia: “Animai-vos Povo Bahiense que está por chegar o tempo feliz da nossa liberdade: o tempo em que todos seremos iguais”.
Das Virgens era um soldado do 2º Regimento, ligado à ala mais radical e popular do movimento, formada por negros livres.
Faziam parte desse grupo o soldado Lucas Dantas de Amorim e os alfaiates João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino de Santos Lira. Estes ainda tentaram libertar Luís Gonzaga da cadeia, mas sem sucesso.
João de Deus foi motivado a participar da Revolta, por tomar conhecimento das noticias sobre a Revolução Francesa e a luta pela Independência do Haiti, liderada por Toussaint Breda. João tinha 37 anos, era alfaiate renomado e pai de cinco filhos. Foi imediatamente preso após a distribuição dos panfletos por sua fama de apaixonado pelos ideais revolucionários.
Enfim: era tido pelas Forças Repressoras da Coroa Portuguesa como subversivo.
Também participaram dessa ala Cosme Damião, pardo escravo; Felipe e Luís, escravos; José do Sacramento, pardo alfaiate; José Félix, pardo escravo; Joaquim Machado Peçanha, pardo livre; Luís Leal, pardo escravo; Inácio Pires, Manuel José e João Pires, pardos escravos; José de Freitas Sacoto, pardo livre; José Roberto de Santana, pardo livre; Vicente, escravo; Fortunato da Veiga Sampaio, pardo forro; Domingos Pedro Ribeiro, pardo; o preto Gege Vicente, escravo; Gonçalves Gonçalo de Oliveira, pardo forro; José Francisco de Paulo, pardo livre e Félix Martins dos Santos, pardo.
Não podemos deixar de destacar a participação feminina na elaboração da revolta, entre elas Ana Romana e Domingas Maria do Nascimento, que ajudaram na distribuição e divulgação dos ideais da revolta.
A ala mais abastada da Revolta era formada por integrantes da Loja Maçônica, que se denominavam – Cavaleiros da Luz. É importante citar que nos países colonizados na América, as Lojas Maçônicas foram responsáveis pelo incentivo à independência das nações europeias. Entre os integrantes desse grupo se destacavam quatro brancos, todos intelectuais, Cipriano Barata, Aguilar Pantoja; Oliveira Borges e Moniz Barreto. Este ultimo de primeiro nome Francisco, era professor e foi autor do Hino da Independência Baiana.
No julgamento dos acusados de insurreição ela foi recitada por eles em nome da própria defesa.
Mas todos os componentes dessa ala do movimento foram covardes, ao negarem a participação na preparação da revolta, sendo inclusive todos absolvidos.
Eles arrumaram testemunhas pagas que juraram inocência ou deram álibis falsos para os afastarem da condenação.
Cipriano Barata
Cipriano Barata, medico formado em Medicina na França, e apelidado de médico dos pobres veio a se destacar em outro movimento de emancipação brasileira, a Inconfidência Pernambucana em 1817.
Foi ainda deputado pela Bahia, pelas Cortes Constituintes de Lisboa. Declarado opositor da Monarquia foi preso por várias vezes, morrendo aos 70 anos em 1838, como um dos maiores críticos de Dom João VI e Dom Pedro I. Ele teria sido o responsável pela adesão de negros ao movimento por consultar a população de baixa renda e não cobrar, sendo próximo a Luiz Gonzaga das Virgens. Ao divulgar a ideia de uma republica sem discriminação racial e sem escravidão rapidamente conseguiu adeptos.
Assim como aconteceu na Inconfidência Mineira, em 1789, os intelectuais eram entusiasmados nos discursos das reuniões as portas fechadas, mas incapazes de organizar o movimento de forma objetiva, ficando em intermináveis planejamentos e analises. Os negros por fazem parte da camada mais sofrida durante a Monarquia, foram os mais ativos e acabaram tomando a coordenação da Revolta.
A possibilidade de abolição da escravidão trouxe muitos adeptos.
Os panfletos de Luiz Gonzaga chegaram até a mesa do governador da Bahia, que imediatamente ordenou que o chefe da policia prendesse os envolvidos. O primeiro detido foi o escrevente Domingos da Silva Lisboa, por ter sua letra reconhecida no material apreendido, mas era inocente. A suspeita recaiu depois sobre Luiz que tinha for fama afrontar as autoridades locais com os mesmos argumentos contidos nos panfletos.
No ato da detenção foi também feita uma busca e apreensão de material e foram encontrados livros de filósofos iluministas e boletins franceses favoráveis à revolução francesa.
Ele foi barbaramente torturado para divulgar outros envolvidos, mas não delatou ninguém.
Por ordem da rainha portuguesa Dona Maria I – 59 pessoas foram investigadas e até torturadas, sendo 34 processadas e apenas 4 negros sentenciados a morte pela forca.
Os pobres: Inácio da Silva Pimentel, Romão Pinheiro, José Félix, Inácio Pires, Manuel José e Luiz de França Pires, foram acusados de envolvimento “grave”, recebendo pena de prisão perpétua ou degredo na África.
João de Deus, um dos condenados, durante o processo, tentou-se passar por demente, mas uma junta médica acabou derrubando o argumento. Junto com ele foi condenado Manuel Faustino, Lucas Dantas e Luiz Gonzaga das Virgens. Isso apesar dos advogados de defesas argumentarem que os textos estavam acima de suas capacidades intelectuais, para tirar deles a qualificação de mentores da revolta.
Também foi condenado a morte Romão Pinheiro e seus parentes considerados infames, mas apelou e sua pena seria atenuada para degredo.
Os escravos Cosme Damião e Luís da França Pires também foram sentenciados. Damião foi enviado para a África e Pires, que conseguira fugir, foi condenado à morte a revelia.
No dia 8 de novembro de 1799, os quatro condenados foram levados num cortejo triste pelas vias publicas de Salvador, sendo assistidos pela população local, formada em 80% por negros, que fazia silenciosa reverencia aos seus heróis. Na execução Manuel Faustino e Lucas Dantas recusaram a extrema unção oferecida por um frei franciscano, que lhes oferecida desde que se arrependessem de seus pecados. Eles responderam que não tinha nenhum e ao contrario de seus acusadores e da rainha portuguesa.
Próximo ao dia da execução em seus últimos contatos com parentes, eles lamentavam a covardia da elite que não tomou parte da revolta e se miraram no exemplo dos negros haitianos que estavam fazendo sua revolução dirigida por eles mesmos e matando todos os colaboradores com os brancos.
Tinham se inspirados na Revolução da França, mas tarde descobriram que sua motivação e estratégia deveriam ter sido a mesma do Haiti.
Na seria difícil que uma revolução nos moldes do Haiti tivesse sucesso no Brasil. O exercito era composto em sua maioria absoluta de negros e apenas chefiado por oficiais brancos. Situação semelhante dos haitianos.
Mas a confiança nas lideranças não afro-brasileira se mostrou uma atitude errada, pois elas negociaram suas condenações, assim como aconteceu em Minas Gerais.
Os quatro acusados foram enforcados na Praça da Piedade e tiveram as suas cabeças cortadas e demais partes do corpo espalhadas pela cidade, penduradas em varas de pau.
Mas o exemplo deles foi assistido por futuros participantes de novas insurreições baianas. Inclusive aqueles que tiveram papel fundamental na Revolta dos Malês, em 1835.
Motins e rebeliões
O agravamento da situação social e econômica gerou inúmeros motins e rebeliões populares. Entre 1797 e 1798, presenciaram-se frequentes invasões de armazéns de alimentos por populares que os saqueavam.
Foi nesse contexto de revolta e descontentamento popular, que a Conjuração baiana, gradativamente, tomou forma como movimento organizado na luta por mudanças políticas e sociais.
Mas não se pode perder de vista, também, que os ideais de mudança política e social defendidos pelos conjurados baianos, foram influenciados por outros movimentos sociais que eclodiram no mundo nesse mesmo período.
A Europa, por exemplo, desde 1789, atravessava um momento de profundas transformações sociais e políticas geradas pela Revolução Francesa. O Haiti, colônia francesa situada nas Antilhas, foi palco de convulsões sociais devido às frequentes e violentas rebeliões e levantes de escravos negros. Em seu conjunto, as notícias desses acontecimentos tiveram ampla repercussão no Brasil e serviram para dar sustentação aos ideais de liberdade, igualdade e soberania popular propugnados pelos conjurados baianos.
Em seu estágio inicial, o movimento congregou membros da elite, ligados à grande propriedade agrícola e ao domínio escravista, que defendiam apenas a autonomia política do Brasil em relação a Portugal.
Eles se reuniram e fundaram a sociedade secreta Cavaleiros da Luz. Não obstante, alguns dos membros da sociedade secreta romperam com os limites de sua classe social de origem, aderindo a perspectivas revolucionárias mais amplas.
Fonte: www.geocities.com/www.encyclopedia.com/www.brasilcultura.com.br
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