Arte e Mitologia

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Se o que desejas fosse bom e sincero
Teus olhos não se envergonhariam
Mas expressariam francamente um simples desejo.
(Safo, séc. VII a. C.)

Eu não sei… Talvez algum dia
Poderei reviver
O esplendor dos grandes amores…
Que me seja ao menos então
Permitido viver,
Numa doce ilusão,

No tempo em que a nudez humana
— a mais perfeita forma que se possa conhecer
E até conceber,
Que acredito ser
A imagem de Deus —

Poderei descobrir-me nos braços da amada,
De uma cortesã sagrada;
O tempo em que o amor mais sensual,
Quase sempre casual,
O divino amor de onde vim,

Era sem mancha, sem pecado;
Seja-me permitido esquecer
Vinte séculos de dissimulações e hipocrisias,
Ressurgir do pântano à fonte cristalina,

Voltar à beleza original,
Tornar a construir o Grande Templo
Ao som das liras encantadas

E consagrar com entusiasmo
Aos santuários da verdadeira fé
Meu coração sempre arrebatado
Pela imortal Afrodite.

As Idades da Humanidade

Os primeiros homens criados pelos deuses formavam uma geração de ouro. Enquanto Crono (Saturno) reinava no céu, eles viviam sem preocupações. Eram muito parecidos com os deuses, sem os sofrimentos do trabalho e sem problemas.

A terra lhes oferecia todos os seus frutos em quantidade, nos férteis campos pastavam rebanhos esplêndidos, e as atividades do dia eram feitas com tranqüilidade. Também não conheciam os problemas causados pelo envelhecimento e, chegada a hora de morrer, simplesmente adormeciam num sono suave.

Quando, por determinação do destino, essa geração desapareceu, eles se transformaram em devotos deuses protetores que, ocultos em neblina espessa, vagavam pela terra. Eram eles os doadores de tudo o que há de bom, protetores da justiça e vingadores de todas as transgressões.

Em seguida, os imortais criaram uma segunda geração de homens, de prata, mas esta não se assemelhava à primeira nem quanto à forma do corpo, nem quanto à mentalidade.

Por cem anos as crianças cresciam, ainda imaturas, sobe os cuidados maternos, em casa dos pais, e quando chegavam à adolescência só lhes restava pouco tempo de vida. Atos irracionais precipitaram esta segunda humanidade na miséria, pois os homens não eram capazes de moderar as suas paixões e, arrogantes, cometiam crimes uns contra os outros.

Os altares dos deuses também já não eram honrados com agradáveis oferendas. Por isso Zeus retirou essa geração da terra, pois não lhe agradava a sua falta de respeito para com os imortais.

Ainda assim, esses seres humanos tinham tantas qualidades que, depois de terminada sua vida terrena, receberam a honra de poder vagar pela terra como dáimones (divindades) mortais.

E então Zeus pai criou uma terceira geração de homens, de bronze. Esta também não se assemelhava à geração de prata: eram cruéis, violentos, só conheciam a guerra e só pensavam em prejudicar os outros. Desprezavam os frutos da terra e alimentavam-se só da carne de animais.

Sua teimosia era intocável, seus corpos gigantescos. Suas armas eram de bronze, suas moradias eram de bronze, com o bronze cultivavam os campos, pois ainda não existia o ferro. Brigavam uns com os outros, mas, embora fossem grandes e terríveis nada podiam fazer contra a morte e, partindo da clara luz do sol, desciam para a terrível escuridão das profundezas.

Depois que essa geração também submergiu no seio da terra, criou Zeus uma quarta geração, que deveria habitar na terra fértil. Era mais nobre e mais justa do que a anterior, a geração dos heróis divinos, que o mundo conhecera também como semideuses.

Mas encontraram o seu fim no conflito e na guerra. Uns tombaram diante dos sete portões de Tebas, onde lutavam pelo reino do rei Édipo, outros nos campos que circundam Tróia, aonde chegaram em grande número por causa da bela Helena.

Quando terminaram, com lutas e sofrimentos, sua vida sobre a terra, Zeus pai designou-lhes como moradia as Ilhas dos Bem-aventurados, que se encontram no Oceano, às margens do Éter. Ali levam uma vida feliz, sem preocupações, e o solo fértil lhes fornece, três vezes por ano, frutas doces como mel.

“Ah”, suspira o antigo poeta Hesíodo, que narra o mito das idades da humanidade, “quisera eu não ser um membro da quinta geração de homens, que surgiu agora, quisera eu ter morrido antes ou nascido mais tarde! Pois esta geração é a do ferro! Totalmente arruinados estes homens não têm sossego de dia ou de noite, cheios de queixas e de problemas, e os deuses sempre lhes enviam novas e devoradoras preocupações.

Porém eles mesmos são a causa dos seus piores males. O pai é inimigo do filho, assim como o filho o é do pai. O hóspede odeia o amigo que o hospeda, o companheiro odeia o companheiro, e também entre os irmãos já não há, como antes um amor cordial.

Nem mesmo os cabelos grisalhos dos pais são respeitados, e freqüentemente eles são obrigados a suportar maus tratos. Homens cruéis! Não pensam nos juízos dos deuses quando recusam aos velhos pais a gratidão pelos cuidados que lhes prestaram? Em toda parte prevalece o direito da força, e os homens só pensam em como fazer para destruir as cidades de seus vizinhos.

O correto, o justo e o bom não são considerados, só o que engana é estimado. Justiça e moderação não valem mais nada, o mau pode ferir o nobre, dizer palavras enganosas e calúnias, jurar em falso. É por isto que esses homens são tão infelizes.

As deusas do pudor e do respeito, que até então ainda podiam ser vistas sobre a terra, agora cobrem entristecidas os belos corpos com roupas brancas e abandonam a humanidade, fugindo para reunir-se aos deuses eternos. Aos mortais só resta a miséria desesperada, e não há esperança de salvação.”

Arte Grega e Romana

A existência ou não de uma arte própria italiana ou romano-etrusca antes da invasão do helenismo é um assunto controvertido, mas o mérito das obras remanescentes que lhe podem ser atribuídas não é grande. Por outro lado a arte grega, cuja inspiração exauriu-se e cuja expressão tornou-se convencional, encontrou uma juventude renovada e temas novos em solo romano e na história romana.

A escultura romana atingiu a sua perfeição máxima nos séculos I-II d. C., e mostra o que tem de melhor em retratos e bustos, onde demonstrou grande força para expressar o caráter, e em baixos-relevos, cujos assuntos são predominantemente históricos.

Belos exemplos destes últimos podem ser vistos nas esculturas da Ara Pacis da época de Augusto e, em estágios posteriores de desenvolvimento, no arco de Tito e no friso e na coluna de Trajano; mas a amplitude e a grandeza da tratamento são às vezes prejudicadas pela superposição excessiva de figuras e pela atenção meticulosa aos detalhes.

Há também muitos exemplos de decoração de altares mediante o uso de convolutos e festões de folhagens e flores. Embora os artistas, pelo menos no primeiro período, possam ter sido principalmente gregos, a arte era nova.

Os romanos usavam a pintura principalmente para decorar as paredes internas das casas. Os temas desses afrescos, dos quais muitos exemplos foram achados em Herculano e Pompéia, eram principalmente cenas da mitologia grega, ou figuras isoladas como Orfeu ou um Centauro, e com menor freqüência paisagens, naturezas-mortas ou cenas contemporâneas. Muitas delas mostram grande beleza de colorido, traço e expressão.

A arquitetura romana era ainda mais diferenciada, sendo marcada principalmente pelo desenvolvimento do arco, da abóbada e da cúpula. Ela produziu os planos de grandes edifícios públicos, nos quais se basearam nossas concepções modernas; esses edifícios eram notáveis pela unidade de concepção, solidez de construção e grandiosidade de decoração, embora a última careça às vezes de gosto.

A alvenaria compunha-se de pedra aparelhada, ou de concreto, ou de tijolo. Vê-se a arquitetura no que ela tem de melhor em edifícios como o Panteon, mandado construir por Agripa em 27 a. C. (conservado com muitas alterações), o grandioso Coliseu, ou no plano dos Banhos de Caracala; além disso havia grandes aquedutos, pontes, teatros, etc., cujos remanescentes ainda podem ser vistos em todas as partes do antigo império romano.

Deve-se também mencionar a arte da gravação em gemas, que se popularizou em Roma no último século da república e se desenvolveu ainda mais na época imperial, tanto sob a forma de entalhe, onde ele é gravado em relevo.

Usavam-se gemas gravadas como anéis-sinetes, e os exemplos remanescentes incluem retratos de César, de Pompeu, de Cícero e de Tibério.

Há exemplos em dimensões maiores no esplêndido retrato de Augusto conservado atualmente no Museu Britânico, na Gemma Augustea em Viena representando Augusto, Tibério, Germânico e um grupo de divindades, com uma cena militar abaixo, e no grande camafeu em Paris representando Tibério, Lívia e Germânico juntamente com várias figuras simbólicas. Os gravadores de gemas eram provavelmente gregos ou artistas vindos do Oriente helenístico; o mais famoso deles chamava-se Dioscorides.

Arte e Mitologia

Mitologia Grega e Romana

De onde vieram as lendas da mitologia? Têm algum fundamento na verdade? Ou são apenas sonhos da imaginação?

Os filósofos apresentaram sobre o assunto várias teorias:

1. Teoria Bíblica

De acordo com esta teoria, todas as lendas mitológicas têm sua origem nas narrativas das Escrituras, embora os fatos tenham sido distorcidos e alterados.

Assim, Deucalião é apenas um outro nome de Noé, Hércules de Sansão, Árion de Jonas etc.

“Sir Walter Raleigh, em sua História do Mundo, diz: “Jubal, Tubal e Tubal Caim são Mercúrio, Vulcano e Apolo, inventores do Pastoreio, da Fundição e da música.

O Dragão que guarda os pomos de ouro era a serpente que enganou Eva. A torre de Nemrod foi a tentativa dos Gigantes contra o Céu.” Há, sem dúvida, muitas coincidências curiosas como estas, mas a teoria não pode ser exagerada até o ponto de explicar a maior parte das lendas, sem se cair no contra-senso.

2. Teoria Histórica

Por essa teoria, todas as personagens mencionadas na mitologia foram seres humanos reais e as lendas e tradições fabulosas a elas relativas são apenas acréscimos e embelezamentos, surgidos em épocas posteriores.

Assim, a história de Éolo, rei e deus dos ventos, teria surgido do fato de Éolo ser o governante de alguma ilha do Mar Tirreno, onde reinou com justiça e piedade e ensinou aos habitantes o uso da navegação a vela e como predizer, pelos sinais atmosféricos, as mudanças do tempo e dos ventos.

Cadmo, que, segundo a lenda, semeou a terra com dentes de dragão, dos quais nasceu uma safra de homens armados, foi, na realidade, um emigrante vindo da Fenícia, que levou à Grécia o conhecimento das letras do alfabeto, ensinando-o aos naturais daquele país.

Desses conhecimentos rudimentares, nasceu a civilização, que os poetas se mostraram sempre inclinados a apresentar como a decadência do estado primitivo do homem, a Idade do Ouro, em que imperavam a inocência e a simplicidade.

3. Teoria Alegórica

Segundo essa teoria, todos os mitos da Antigüidade eram alegóricos e simbólicos, contendo alguma verdade moral, religiosa ou filosófica, ou algum fato histórico, sob a forma de alegoria, mas que, com o decorrer do tempo, passaram a ser entendidos literalmente. Assim, Saturno, que devora os próprios filhos, é a mesma divindade que os gregos chamavam de Cronos (Tempo), que, pode-se dizer, na verdade destrói tudo que ele próprio cria. A história de Io é interpretada de maneira semelhante. Io é a lua e Argos, o céu estrelado, que se mantém desperto para velar por ela.

As fabulosas peregrinações de Io representam as contínuas revoluções da lua, que também sugeriram a Milton a mesma idéia:

Contemplas lá no alto a lua errante
Do apogeu, pouco a pouco aproximar-se,
Como alguém que tivesse se perdido
Nas vastidões do céu, sem rumo andando. (Il Penseroso)

4. Teoria Física

Para esta teoria. Os elementos ar, fogo e água foram, originalmente, objeto de adoração religiosa, e as principais divindades eram personificações das forças da natureza. Foi fácil a transição da personificação dos elementos para a idéia de seres sobrenaturais dirigindo e governando os diferentes objetos da natureza.

Os gregos, cuja imaginação era muito viva, povoaram toda a natureza de seres invisíveis, e supuseram que todos os objetos, desde o sol e o mar até a menor fonte ou riacho, estavam entregues aos cuidados de alguma divindade particular.

Todas as teorias acima mencionadas são verdadeiras até certo ponto. Seria, portanto, mais correto dizer-se que a mitologia de uma nação vem de todas aquelas fontes combinadas, e não de uma só em particular. Podemos acrescentar, também, que há muitos mitos originados pelo desejo de todos de explicar fenômenos naturais que não podem compreender e que não poucos surgiram do desejo semelhante de explicar a origem de nomes de lugares e pessoas.

Estátuas dos Deuses

Apresentar adequadamente aos olhos as idéias destinadas a serem levadas ao espírito sob o nome das diversas divindades era tarefa que exigia o exercício das mais elevadas potencialidades do gênio e da arte.

Das muitas tentativas, quatro se tornaram as mais célebres, sendo as duas primeiras conhecidas apenas pela descrição dos antigos e as outras ainda existindo e representando realmente obras-primas da escultura.

Estátua de Júpiter Olímpico

Arte e Mitologia
Estátua de Júpiter Olímpico

Obra de Fídias, era considerada como a mais perfeita realização da escultura grega. Tinha dimensões colossais e era o que os antigos chamavam “criselefantina”, isto é, composta de marfim e de ouro, sendo as partes representando a carne feitas de marfim montado sobre uma base de madeira ou pedra, ao passo que as vetes e outros ornamentos eram feitos de ouro.

A altura da estátua era de quarenta pés e ficava sobre um pedestal de doze pés de altura. O deus era representado sentado em seu trono. Estava coroado com um ramo de oliveira e tinha na mão direita um cetro e na esquerda uma estátua da Vitória. O trono era de cedro, adornado de ouro e pedras preciosas.

A idéia que o autor procurava apresentar era a da divindade suprema da nação helênica, entronizada como vencedora em um estado de perfeita majestade e repouso, e governando com um aceno de cabeça o mundo subjugado.

Fídias revelou que tomara a idéia de Homero, na seguinte passagem da Hinda, Ilíada, Livro I:

Calou-se, e inclina a majestosa fronte
Que sombreiam os cabelos anelados
E todo o Olimpo treme ante o seu gesto.

Minerva do Partenon

Arte e Mitologia
Minerva deusa romana

Era também obra de Fídias e ficava no Partenon o templo de Minerva em Atenas. A deusa era representada de pé, com a lança em uma das mãos e a imagem da Vitória na outra. Seu elmo, profusamente decorado, era encimado por uma esfinge.

A estátua tinha quarenta pés de altura e, como a de Júpiter, era feita de marfim e de ouro. Os olhos eram de mármore e, provavelmente, pintados, para representar a íris e a pupila. O Partenon, onde ficava essa estátua, também foi construído sob a orientação e direção de Fídias. Sua parte externa era ornada de esculturas, muitas delas de Fídias. Os mármores de Elgin, atualmente no Museu Britânico, fazem parte delas.

Tanto Júpiter como Minerva de Fídias estão perdidos, mas há bons motivos para acreditar que temos em diversos bustos e estátuas, ainda existentes, a concepção do artista sobre a fisionomia de ambos.

Ela se caracteriza pela beleza grave e digna, livre de qualquer expressão transitória, que, em linguagem artística, se chama repouso.

Vênus de Médici

Arte e Mitologia
Vênus de Médici

A Vênus de Médici é assim chamada por ter pertencido aos príncipes daquele nome, em Roma, quando despertou pela primeira vez a atenção, há cerca de duzentos anos. Uma inscrição em sua base revela que é obra de Cleômenes, escultor ateniense de 200 a. C., mas a autenticidade da inscrição é duvidosa.

Existe uma versão segundo a qual o artista foi encarregado de apresentar a perfeição da beleza feminina e para que pudesse executar a tarefa foram postas à sua disposição as mais belas mulheres da cidade.

Sobre isso Thomson aludes em seu “Summer”:

“Assim de pé a estátua que encanta o mundo;
Nos revela todo o seu esplendor,
Misturado às belezas da exuberante Grécia.”

Byron fala dessa estátua. Referido-se ao Museu de Florença, ele diz:

“Lá, também, a deusa ama, e preenche
O ar ao redor com beleza;” etc.

Apolo do Belvedere

Arte e Mitologia
Apolo do Belvedere

O mais apreciado de todos os remanescentes da antiga escultura grega é a estátua de Apolo, chamada do Belvedere, nome do apartamento do palácio do Papa em Roma, onde ela foi colocada. O artista é desconhecido. Supõe-se que se trata de uma obra-de-arte romana, aproximadamente do primeiro século de nossa era.

É uma figura de pé, em mármore, com mais de sete pés de altura, nua, com exceção de um manto preso em torno do pescoço e que cai sobre o braço esquerdo estendido. Supõe-se que representa o deus no momento em que acabara de lançar a seta para matar o monstro Píton.

A divindade vitoriosa está dando um passo para diante. O braço esquerdo, que parece ter sustentado o arco, está estendido e a cabeça voltada para a mesma direção. No que diz respeito à atitude e à proporção, é inexcedível a graciosa majestade da figura.

O efeito é completado pela fisionomia, onde a perfeição da beleza juvenil e divina reflete a consciência de um deus triunfante.

Diana à la Biche

Arte e Mitologia
Diana à la Biche

A Diana da Corça, no Museu do Louvre, pode ser considerada como a contraparte do Apolo do Belvedere. Sua atitude assemelha-se muito à de Apolo, os tamanhos se correspondem e também o estilo da execução. É uma obra do maior valor, embora de modo algum igual ao Apolo.

A atitude é a de um movimento rápido e decidido; a fisionomia, a de uma caçadora na excitação da caça. O braço esquerdo está estendido sobre a cabeça da corça, que caminha a seu lado, enquanto o braço direito se move para trás sobre o ombro, a fim de tirar uma seta da aljava.

Os Poetas da Mitologia

Homero

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Homero

Homero, autor da “Ilíada” e da “Odisséia” é um personagem quase tão mítico quanto os heróis que celebra. A versão tradicional é que ele era um menestrel errante, cego e velho, que viajava de um lugar para outro, cantando seus versos ao som da harpa, nas cortes dos príncipes ou nas cabanas dos camponeses, e vivendo do que lhe davam voluntariamente os ouvintes.

Lord Byron o chama de “o velho cego da rochosa ilha de Sio” e um bem conhecido epigrama alude à incerteza quanto à sua terra natal:

De ser berço de Homero a glória rara
Sete cidades disputaram em vão.
Cidades onde Homero mendigara
Um pedaço de pão.

Essas cidades eram Esmirna, Sio, Rodes, Colofon, Salamina, Argos e Atenas.

Eruditos modernos põem em dúvida o fato de os poemas de Homero serem obras da mesma pessoa, em vista da dificuldade de se acreditar que poemas tão grandes pudessem ser da época em que se supõe terem sido escritos, época essa anterior às mais antigas inscrições ou moedas existentes e quando os materiais capazes de conter tão longas produções ainda não existiam.

Por outro lado, indaga-se como poemas tão longos poderiam ter chegado até nós, vindos de uma época em que só poderiam ter sido conservados pela memória.

Esta última dúvida é explicada pelo fato de que havia, então, um corpo de profissionais, chamados rapsodos, que recitavam os poemas de outros e tinham por encargo decorar e declamar, a troco de pagamento, as lendas nacionais e patrióticas.

Atualmente, a opinião da maioria dos eruditos parece ser a de que o esboço e grande parte da estrutura dos poemas pertencem a Homero, mas que há muitos acréscimos feitos por outras mãos.

Segundo Heródoto, Homero viveu cerca de oito séculos e meio antes de Cristo.

Virgílio

Virgílio, também chamado pelo seu sobrenome de Marão, autor de “Eneida”, foi um dos grandes poetas que tornaram o reinado do imperador romano Augusto tão célebre. Virgílio nasceu em Mântua, no ano de 70 a. C.

Seu grande poema é considerado inferior apenas aos de Homero, no mais elevado gênero de composição poética, o épico. Virgílio é muito inferior a Homero em originalidade e invenção, mas superior em correção e elegância. Para os críticos de origem inglesa, somente Milton, entre os poetas modernos, parece digno de ser classificado entre aqueles ilustres antigos.

Seu poema Paraíso Perdido é igual sob muitos aspectos, e superior, em alguns a qualquer uma das grandes obras da Antigüidade.

Ovídio

Freqüentemente chamado pelo seu outro nome de Nasão. Ovídio nasceu em 43 a. C. Foi educado para a vida pública e exerceu alguns cargos importantes, mas a poesia era o que lhe interessava e resolveu a ela dedicar-se. Assim, procurou a companhia dos poetas contemporâneos, tendo travado conhecimento com Horácio e mesmo com Virgílio, embora este último tivesse morrido quando Ovídio ainda era demasiadamente jovem e obscuro para que houvesse amizade entre os dois.

Ovídio viveu em Roma gozando fartamente a vida, graças a uma renda razoável. Desfrutava a intimidade da família de Augusto e dos seus, e supõe-se que alguma ofensa grave cometida contra algum membro da família imperial foi a causa de um acontecimento que pôs fim à felicidade do poeta e amargurou a última parte de sua vida.

Quando contava cinqüenta anos de idade, Ovídio foi banido de Roma, recebendo ordem de ir viver em Tomi, à margem do Mar Negro.

Ali, entre um povo bárbaro e sujeito a um clima severo, o poeta, que estava acostumado aos prazeres de uma luxuosa capital e ao convívio dos mais ilustres de seus contemporâneos, passou os últimos dez anos de sua vida devorado pelo sofrimento e pela ansiedade.

Seu único consolo no exílio foi enviar cartas, escritas em forma de poesia, à esposa e aos amigos. Embora esses poemas (“Os Tristes” e as “Cartas do Ponto”) não falassem em outra coisa a não ser nas mágoas do poeta, seu bom gosto e a habilidosa invenção livraram-nos da pecha de tedioso e são lidos com prazer e mesmo com simpatia.

As duas grandes obras de Ovídio são as “Metamorfoses” e os “Fastos”. São ambos poemas mitológicos.

Um escritor moderno assim caracteriza esses poemas:

“A rica mitologia da Grécia ofereceu a Ovídio, como ainda pode oferecer ao poeta, ao pintor e ao escritor, os materiais para a sua arte.

Com raro bom gosto, simplicidade e emoção, ele narrou as fabulosas tradições das idades primitivas e deu lhes uma aparência de realidade que somente a mão de um mestre conseguiria. Suas descrições da natureza são vivas e verdadeiras; escolhe com cuidado o que é adequado; rejeita o superficial; e, quando completa sua obra essa não apresenta nem insuficiência nem redundância.

As “Metamorfoses” são lidas com prazer pelos jovens e relidas com maior prazer ainda pelos mais velhos. O poeta aventurou-se a prever que seu poema lhe sobreviveria e seria lido enquanto o nome de Roma fosse conhecido.”

A previsão a que acima se alude é contida nos últimos versos de “Metamorfoses”:

Assim eis terminada a minha obra
Que destruir não poderão jamais
A ira de Jove, o ferro, o fogo
E a passagem do tempo. Quando o dia
Em que pereça a minha vida incerta
Chegar, o que em mim há de melhor
Não há de perecer. Subindo aos astros
Meu nome por si mesmo viverá.
Em toda a parte onde o poder de Roma
Se estende sobre as terras submissas,
Os homens me lerão, e minha fama
Há de viver, por séculos e séculos,
Se valem dos poetas os presságios.

Os Deuses Gregos e Romanos

Os deuses celestes

Arte e Mitologia
Zeus (em latim, Jupiter) é o mais importante dentre os deuses gregos.

Em Homero, é chamado de “pai dos deuses e dos homens”, “o mais alto dos soberanos”, “melhor e mais alto dos deuses”. Ele é o antigo deus celeste do monoteísmo, ao qual foram sendo incorporados, ao longo do tempo, vários atributos. Assim, é o deus das intempéries, da chuva, da neve e das tempestades.

Como tal, possui, em Homero, o epíteto de “lança-trovãos”, “lança-raios”, “reunidor de nuvens”, “de escuras nuvens”. Ele é o guardião do direito e da fidelidade, e quem age contra a ordem do direito deve temer o seu ódio.

Casado com sua irmã Hera, não vive em paz e harmonia com ela. Deste seu casamento descendem Ares, Hefesto, Hebe e as ilítias (deusas do parto). Mas Zeus também desposou outras deusas, e destes seus outros casamentos há toda uma geração de divindades. A deusa Deméter gerou, dele, Perséfone; a filha dos titãs, Leto, gerou Apolo e Ártemis; do seu amor à deusa arcádia Maia nasceu Hermes; com Dione, filha dos titãs, teve uma filha, a deusa Afrodite.

Metamorfoseando-se de várias maneiras, Zeus também seduziu muitas mulheres mortais, fazendo delas as mães de famosos heróis e semideuses. Isso provocou os ciúmes de Hera, que fez com que estas mulheres sentissem o seu ódio, perseguindo-as em todas as oportunidades.

O mais antigo local de culto a Zeus era Dodona, na região de Epiro. Ali também se encontrava o mais importante oráculo grego, juntamente com o de Apolo, em Delfos. A partir do ruído de um carvalho sagrado, os sacerdotes faziam profecias aos homens que pediam os conselhos de Zeus em diversas oportunidades.

Também em Olímpia, na Élida, havia um famoso templo de Zeus. E lá eram realizados, a cada quatro anos, em honra a este deus, os Jogos Olímpicos, uma grande celebração esportiva. No templo de Zeus em Olímpia encontrava-se a mais famosa escultura representando este deus, feita de marfim e de ouro pelo escultor Fídias.

Esta obra retrata um momento descrito por Homero, quando Zeus promete realizar o pedido da mãe de Aquiles: “O filho de Crono falou, e fez um sinal com suas sobrancelhas escuras, e seus cachos ambrosiais oscilaram, caindo sobre a testa do soberano, e ele fez estremecer o grande Olimpo.”

O deus romano correspondente a Zeus é Júpiter. Seu templo mais importante situava-se em Roma, no Capitólio. Ali terminavam as famosas paradas triunfais dos marechais vitoriosos, que realizavam oferendas de gratidão pela vitória sobre os inimigos, dedicando a Júpiter o butim das guerras.

Hera (em latim, Juno), como esposa e irmã de Zeus, é a mais alta deusa celeste, e conselheira dele. É a protetora da fidelidade conjugal, dos costumes matrimoniais, e protetora das mulheres.

Os romanos a consideraram idêntica a Juno, que possui, como Juno Moneta, um templo ao lado do de Júpiter no Capitólio, em Roma. Moneta significa “a que adverte”. Ao lado do templo de Juno encontrava-se a oficina onde eram cunhadas as moedas do estado, que mais tarde receberam o nome de “moneta” por causa disto. Ainda hoje usamos essa palavra (moeda, monetário).

A ave sagrada de Juno é o ganso. Os gansos do templo de Juno no Capitólio advertiram os romanos, com o seu grasnar, de uma invasão dos gálios, motivo pelo qual Juno era honrada como “a que adverte”.

Atena (em latim, Minerva), chamada também de Palas Atena, é na verdade a virginal deusa da cidade de Atenas. Segundo a concepção de Homero, ela é a deusa da sabedoria, o que já fica patente na história de seu nascimento.

Da ligação de Zeus com Métis, a deusa da inteligência, estava destinado a nascer um filho que superaria as forças de seu pai. Para evitar que isto acontecesse, quando Métis engravidou pela primeira vez, Zeus a engoliu. Em conseqüência disso, ficou com uma dor de cabeça que se tornou tão insuportável que ele mandou Hefesto abrir o seu crânio com uma machadada.

Quando isto foi feito, Atena de lá saltou, trazendo na mão uma lança. Como um pensamento, ela saiu do lugar do pensamento do mais sábio entre os deuses.

A lança indica a guerra, mas Atena não é uma deusa da terrível fúria guerreira, e sim da bem pensada estratégia, que por isto protege homens inteligentes e corajosos. Seu predileto é Odisseu.

Enquanto deusa da sabedoria, ela é também a patrona de artes pacíficas, especialmente das habilidades manuais e artísticas femininas. Foi ela quem ensinou às mulheres a tecer. A ambiciosa Aracne, filha de um produtor de tecidos de púrpura, queria superar Atena em sua arte.

Tomando a forma de uma velha mulher, Atena aconselhou-a não cometer tamanha arrogância. Mas Aracne não lhe deu ouvidos. Atena então revelou-se e a desafiou para um concurso. Cada qual teceu um tapete, decorado artisticamente.

Evidentemente Atena venceu, por sua habilidade superior. Com isto Aracne ofendeu-se, e mesmo assim não concedeu a fama que a deusa merecia. Enfurecida com a própria derrota, ela se dependurou em uma corda. Como punição, Atena a transformou em aranha.

Atena é também a inventora da construção de navios. Foi sob sua orientação que o primeiro navio foi construído, e levou os argonautas a Cólquida, onde pretendiam apanhar o Velocino de Ouro.

Além disto. Ela também inventou a trombeta e a flauta, mas jogou-as fora ao perceber, num espelho d’água, com que cara ficava ao soprar aquele instrumento.

Como protetora das cidades e dos estados, Atena certa vez brigou com Posídon pela posse da região da Ática. Zeus então decidiu que a terra deveria pertencer àquele de desse o presente mais valioso a seus moradores. Posídon, então, presenteou-os com um cavalo, mas Atena deu-lhes a oliveira, e assim venceu.

O cultivo das oliveiras tornou a Ática uma das regiões mais ricas, pois o óleo tinha uma grande importância na Antigüidade, funcionando não só como alimento mas também sendo usado para a iluminação e para os cuidados corporais.

Os romanos consideravam Atena idêntica à sua deusa Minerva.

Apolo e Ártemis (em latim, Apollo e Diana). Quando Leto (em latim, Latona), a filha dos titãs, sentiu que estava para tornar-se mãe . ela tivera uma ligação amorosa com Zeus . , Hera a perseguiu, enciumada, e Leto foi obrigada a vagar, incessantemente, pela terra.

Ninguém queria receber a infeliz deusa. Posídon, então, apiedou-se dela, e indicou-lhe a ilha de Delos, que até então vagava pelos mares, flutuando, e que parou porque ele assim determinou, oferecendo-se como refúgio. Nesse local Leto deu à luz os gêmeos Apolo e Ártemis.

Originalmente, ambos eram divindades da morte. Por meio das setas disparadas de seu arco de prata, Apolo levava a morte aos homens, enquanto Ártemis matava as mulheres. Segundo se pensava à época de Homero, as setas poderiam matar de maneira suave ou cruel.

Era assim que se distinguia a morte natural, não provocada por doenças, da morte violenta, ou causada por alguma doença. Ártemis era representada como uma bela caçadora, que vagava pelos vales e montanhas acompanhada pelas ninfas. Foi assim que, com o tempo, Ártemis tornou-se deusa da caça e dos animais selvagens.

Apolo, também conhecido por Febo, era considerado o deus da sabedoria. Como tal, concedia, falando através de suas sacerdotisas, as pitonisas, oráculos a todos aqueles que viessem interrogá-lo em seu santuário em Delfos. Era dele que os videntes recebiam o dom da profecia, e era também ele quem concedia o Dom do canto e da música, uma arte na qual ele mesmo também era mestre.

Mais tarde passou a ser considerado como o líder das musas, e como deus do canto, da poesia e da dança. Também era considerado como o deus da saúde e da salvação, e seu filho Asclépio era o deus dos médicos e da medicina.

Além disto, Apolo era honrado como deus da agricultura e da pecuária. Assim como a sua irmã Ártemis, ele também era considerado um deus da caça. No período posterior a Homero, a partir do século V a.C., Apolo foi assimilado também ao antigo deus-sol Hélio.

Um antigo costume é derivado do amor de Apolo pela ninfa Dafne. Dafne rejeitou os avanços amorosos do deus, e fugiu dele. Quando, depois de longa perseguição, ele conseguiu alcançá-la, ela suplicou a seu pai, o deus-rio Peneu, que a transformasse num loureiro. Desde então, o louro é sagrado a Apolo, e uma coroa de louros era, na Antigüidade, o prêmio nas competições artísticas.

Juntamente com a fusão dos deuses Apolo e Hélio ocorreu a fusão de Ártemis com a antiga deusa-lua Selene. Ela era considerada também como uma deusa da magia e da castidade. Actéon, um belo e jovem caçador, avistou-a, certa vez, tomando banho com as ninfas, e por causa disto foi transformado num veado, e devorado pelos seus próprios cães.

A Ártemis de Éfeso, originalmente, nada tinha a ver com Ártemis. Era uma deusa da fertilidade, da Ásia Menor, que só mais tarde foi igualada a Ártemis. A rica benção das frutas, por ela concedida, foi expressa em estátuas em sua homenagem, onde a deusa aparece com vinte seios em vez de apenas dois.

Dentre os romanos, Ártemis foi igualada à antiga deusa dos bosques, Diana.

Ares (em latim, Mars) era considerada filho de Zeus e Hera e, ao contrário de Atena, era o deus das guerras sangrentas e destruidoras. Por isto ele era odiado por todos os deuses. Só Afrodite, deusa do amor, foi capaz de enfeitiçá-lo.

De sua ligação amorosa nasceu Eros (Cupido), o pequeno deus do Amor. Ares era honrado, sobretudo, pelos amantes da guerra e pelos povos bárbaros. De seu séquito fazem parte Deimos, o medo, Fobos, o pavor, e sua irmã Éris, a deusa das disputas.

Mas Ares também era considerado como o vingador dos assassinatos. Em Atenas, a sede do antigo tribunal onde eram julgados os crimes de sangue, o Areópago (a colina de Ares ou, segundo outra versão, o refúgio), era dedicado a ele.

Dentre os romanos, ele era o antigo deus Marte. Marte, originalmente, não era apenas um deus da guerra, mas também um deus das bênçãos. Em sua honra seus sacerdotes dançavam, adornados por armas, pelas ruas de Roma no início do mês de março, que era consagrado a ele. Marte era considerado como um dos principais protetores de Roma.

Hefesto (em latim, Vulcanus) era o filho de Zeus e de Hera. Veio ao mundo manco e feio, e por isto foi atirado por Hera do Olimpo ao mar. A nereida Tétis o abrigou, apiedada, e cuidou dele. Quando cresceu, logo deu mostras de grande habilidade.

Para sua mãe Hera ele construiu um trono de ouro, enviando-o a ela como presente. E quando ela sentou-se ali, não pôde mais levantar-se, pois engenhosas correntes a mantinham presa, e ninguém foi capaz de soltá-la. Hefesto então foi chamado, mas ele nem pensava em ir para lá.

Foi só Dioniso, o deus do vinho, quem conseguiu enganá-lo. Deu-lhe vinho para beber, e embriagado e encorajado pela bebida, Hefesto decidiu voltar ao Olimpo. Tornou-se o deus do fogo, e de todas artes e ofícios que fazem uso deste elemento, em particular dos fundidores de bronze.

Construiu o palácio dos deuses no Olimpo, fez a égide de Zeus, uma armadura artisticamente elaborada, que depois Atena usou, e o cetro, símbolo de seu poder soberano, além de muitas outras obras de arte. Ele criou também donzelas de ouro para servi-lo.

Por causa de seu trabalho, ele sempre tinha uma aparência robusta, e ainda que mancasse e fosse feio, conquistou como esposa a mais bela das deusas, Afrodite. Mas esta não lhe foi fiel. Inflamada de amor por Ares, uma vez ela foi surpreendida por Hefesto, que envolveu ambos com uma teia de ouro, sem que eles o percebessem, e então chamou todos os deuses para verem os dois amantes, provocando muita risada.

Sua oficina situava-se no Olimpo, segundo uma versão mais antiga do mito, sob o vulcão Etna, onde ele trabalhava juntamente com os seus companheiros, os ciclopes, e forjava os raios para Zeus.

Dentre os romanos, ele corresponde ao deus do fogo Vulcano, de quem uma das atribuições era proteger as casas e as cidades dos incêndios.

Arte e Mitologia
Afrodite (em latim, Venus) era considerada filha de Zeus e da filha de titãs, Dione.

Segundo uma outra versão, ela brotara da espuma do mar, fecundada pelo sangue de Urano quando este foi castrado.

Ela era honrada como deusa do amor e da beleza. Sua atratividade encontrava-se em seu cinturão, que uma vez a própria Hera pediu emprestado para com ele encantar o seu marido. Afrodite era também considerada deusa da primavera, dos jardins e das flores.

Certa vez ela se apaixonou por Adônis, o belo filho de um rei. Preocupando-se com a sua vida, ela lhe pediu para não mais caçar, mas Adônis não lhe deu ouvidos. Numa caçada, ele foi morto por um javali, que Ares, enciumado, incitara contra ele.

Quando procurava o seu corpo, Afrodite arranhou-se nos ramos espinhosos da floresta. Das gotas de seu sangue, que caíram por terra, brotaram as rosas. Do sangue de Adônis morto, ela fez com que brotassem anêmonas, e através de seus dolorosos lamentos ela conseguiu de Zeus que ele só passasse uma parte do ano nos Ínferos, podendo alegrar-se com o amor da deusa durante o tempo restante.

Adônis é originalmente um dos numerosos deuses orientais que morrem e voltam a nascer. Mais tarde, este mito passou a ser visto como um símbolo da morte e do renascimento da natureza.

Afrodite era também honrada como deusa dos mares e da navegação, e invocada para propiciar viagens marítimas seguras. Suas servas são as Cariátides, as deusas da graça. Dentre os romanos, a deusa Vênus era igualada a Afrodite. Ela era considerada como a mãe do clã ao qual pertenceu Júlio César.

Hermes (em latim, Mercurius) é o filho de Zeus e da divindade arcádica Maia. Era considerado mensageiro dos deuses, concedendo a riqueza aos homens, em especial enquanto multiplicador dos rebanhos. Mais tarde ele passou a ser honrado como deus dos caminhos, das ruas e das viagens, como protetor dos comerciantes, mas também dos ladrões e vigaristas.

Já em sua primeira infância ele deu provas de grande astúcia. Uma vez ele furtou de seu irmão Apolo, que pastoreava os rebanhos dos deuses, cinqüenta reses, e soube escondê-las com tanta habilidade que Apolo não foi mais capaz de encontrá-las.

Embrulhou os seus cascos com folhagens, de maneira que suas pegadas se tornaram indecifráveis, e escondeu-as numa caverna, levando-as de marcha-a-ré, para que as pegadas parecessem levar de dentro para fora. Conseguiu reconciliar-se com seu irmão, que as encontrou depois de muito procurar, dando-lhe de presente a lira, que acabara de inventar.

Encontrou uma tartaruga, cuja carapaça ele usou como caixa acústica, sobre ela colocando sete cordas, feitas das tripas de uma das vacas que ele roubara e abatera.

Hermes também era considerado como o deus que concede o sono. Com um bastão de ouro, ele fechava e abria os olhos dos seres humanos, e conduzia aos ínferos as almas dos finados.

Nas artes plásticas, era representado como um belo jovem com um chapéu de viagem, sandálias douradas e um bastão. Mais tarde, o chapéu, as sandálias e o bastão foram decorados com asas.

O romano Mercúrio, que corresponde ao grego Hermes, era honrado sobretudo como deus do comércio, o que já é indicado pelo seu próprio nome, derivado do latim merx (mercadoria).

Héstia (em latim, Vesta), a irmã de Zeus, era a deusa do fogo dos lares. O local onde era honrada era o fogão de cada casa. Assim como o fogão constituía o ponto central da família, havia também um fogão para a comunidade mais ampla de todos os cidadãos, um fogão do estado, que ficava na assembléia de Atenas, onde brilhava uma luz eterna.

Quando uma cidade grega fundava uma colônia, os colonos apanhavam o fogo do altar sagrado de Héstia, para o fogão da nova cidade a ser construída, e o levavam com eles.

Encontramos a mesma situação em Roma, onde a deusa do fogo sagrado se chamava Vesta. No templo de Vesta, em Roma, sacerdotisas chamadas vestais zelavam por um fogo eterno que jamais podia apagar-se.

Este posto apenas era acessível a moças nobres, já devotadas a este sacerdócio desde a infância, e que permaneciam por trinta anos a serviço da deusa, período durante o qual precisavam manter a virgindade. Se uma vestal perdesse a virgindade, era enterrada viva.

Se deixasse apagar-se o fogo eterno, era açoitada pelo sacerdote superior. O fogo novo era criado através do atrito de dois pedaços de madeira, ou através dos raios de sol concentrados por um espelho.

Os deuses da água

Arte e Mitologia
Posídon (em latim, Neptunus).

A Posídon, irmão de Zeus, coube, na divisão do mundo, a soberania sobre a água. Com seu imponente tridente, ele agita as ondas do mar e assim provoca as tempestades, a bordo de sua carruagem de ouro, puxada por cavalos com arreios de ouro.

Também é capaz de provocar tremores de terra ao agitá-la com o seu tridente. Em Homero, seu epíteto é “treme-terra”. Mas ele não só faz com que maremotos e naufrágios recaiam sobre os homens, como também envia-lhes bons ventos e boas viagens.

O cavalo, que ele dera de presente à Ática em sua disputa com Atena, era sagrado a ele. Ele também era considerado o domador dos cavalos de corrida, e por isto era freqüentemente honrado como deus-cavaleiro, Em sua honra eram celebrados, no estreito de Corinto, no istmo, os Jogos Ístmicos, cujo ponto alto era uma corrida de quadrigas. O deus marinho dos romanos era Netuno.

Demais divindades marinhas. Além de Anfitrite, a mulher de Posídon, seu filho Tritão, que sopra uma concha marinha, provocando e acalmando os movimentos do mar, e do antigo mar, Nereu, com suas cinqüenta filhas, as nereidas, os gregos conheciam outras divindades marinhas.

Na ilha de Faros, na costa egípcia, Proteu vigiava entre as focas de Anfitrite. Ele possuía o Dom da profecia, mas só fazia uso deste quando era obrigado, e buscava escapar desta obrigação metamorfoseando-se de todas as maneiras. Seu nome, até hoje, é usado para designar pessoas capazes de se transformarem.

Também o deus marinho Glauco, com o epíteto Pôntios, é uma divindade profética. Segundo o mito, ela era um pescador da Beócia, que enlouqueceu por causa de uma erva mágica, saltando no mar, onde foi transformado em divindade.

Dentre as divindades aquáticas estão também os deuses-rios e as ninfas aquáticas. Segundo as idéias dos antigos, cada rio era uma divindade masculina. As ninfas eram filhas de Zeus, que viviam não só nas fontes, córregos e rios, mas também em bosques, florestas e grutas.

Ainda assim, faz-se uma distinção entre náiades (ninfas da água e das fontes), dríades (ninfas das árvores), oréades (ninfas dos morros) etc. Elas eram imaginadas como atraentes donzelas, que possuíam vida muito longa, mas que não eram imortais.

Os deuses da terra

Deméter (em latim, Ceres) é a deusa da fertilidade, especialmente da agricultura. A Zeus ela deu uma filha, Perséfone (em latim, Proserpina). Hades, o deus dos Ínferos, a raptou quando ela brincava num prado, perto de Hena, na ilha da Sicília, com as filhas de Oceano, e a levou consigo para o seu reino, onde fez dela a sua esposa.

Lamentado-se, sua mãe vagou por nove dias e nove noites pela terra, à procura de sua filha perdida. Quando, no décimo dia, o deus-sol Hélio, que tudo vê, revelou-lhe o que acontecera com Perséfone, ela ficou tão desolada que fugiu da companhia dos deuses e, tomando a forma de uma mulher, passou a vagar entre os homens, vestida como uma mendiga.

Em Elêusis, perto de Atenas, foi reconhecida e recebida com grande hospitalidade. Foi construído um templo em sua homenagem, no qual ela passou a morar. Ela estava enfurecida com Zeus por ele ter permitido que sua própria filha fosse raptada, e privou a terra de sua fertilidade, de modo que uma grande fome ameaçava destruir toda a humanidade.

Zeus então determinou que Perséfone passaria dois terços do ano com sua mãe, e um terço com seu marido, nas profundezas da terra. Enquanto ela permanecia na superfície da terra, as flores e frutos apareciam; quando ela deixava a terra, chegava o inverno.

Ao filho do rei de Elêusis, Triptólemo, ela ensinou a agricultura como prova de gratidão pela acolhida que recebera. Em Elêusis ambas as divindades eram homenageadas com festivais todos os anos, os mistérios de Elêusis, onde a história dos sofrimentos de Deméter era representada para os iniciados neste ritual religioso.

Os romanos consideravam Deméter idêntica à sua deusa da fertilidade, Ceres.

Dioniso (em latim, Bacchus) era o deus do crescimento exuberante e da opulência, em particular do vinho. A poesia homérica não lhe faz nenhuma referência. Seu culto só chegou mais tarde à Grécia, proveniente da Trácia.

Ele era considerado filho de Zeus e da princesa Sêmele, da qual Zeus se aproximara depois de tomar forma humana. Ela pediu que Zeus se mostrasse a ela em sua forma divina, como trovão, mais isto fez com que ela fosse despedaçada. Seu filho foi criado pelas ninfas.

Quando Dioniso cresceu, passou a vagar pelo mundo, acompanhado de um grande séquito de ninfas e sátiros, espíritos da florestas com chifres, rabos e cascos de bodes, para disseminar seus rituais religiosos e o cultivo do vinho.

Dentre os romanos, Dioniso era homenageado sob o nome de Baco.

Pã (em latim, Faunus) era uma divindade das montanhas e das florestas, considerado como protetor de animais pequenos, pastores e caçadores. Era representado como um homem barbudo, com uma cabeleira desarrumada, cascos de bode e chifres.

Durante o dia, em companhia das ninfas, ele percorria os morros e vales, na hora do almoço, dormia (a hora de Pã), à noite tocava, em sua gruta, a Siringe, a flauta de pastor por ele inventada, que consistia de sete ou oito tubos, justapostos e presos um ao outro por uma faixa.

A ele era atribuído o terror súbito que toma as pessoas ao ouvirem um barulho inesperado em meio ao silêncio mortal de um dia de verão (terror pânico).

Os romanos viam em Pã o deus da fertilidade, Fauno, visto como o protetor da pecuária e da agricultura.

Os deuses dos Ínferos

Hades (em latim, Orcus) é o irmão de Zeus e Posídon. Junto com a sua esposa Perséfone (em latim, Proserpina) ele é o soberano do reino dos mortos. Como inimigo de tudo o que vive, é odiado por deuses e homens. No período pós-homérico, o espaço subterrâneo onde se imaginava que ficassem confinadas as almas dos finados também era chamado de Hades.

O deus romano dos Ínferos, que corresponde a Hades, é Orco.

Hécate. Originalmente uma deusa dos camponeses, Hécate era considerada pelos gregos como uma divindade dos fantasmas, que vagava pela noite nas estradas e nos túmulos, acompanhada das almas dos falecidos e dos fantasmas de todos os tipos. Tinha também um papel na magia.

Erínias (em latim, Furien). As Erínias eram deusas vingadoras, a serviço dos deuses dos Ínferos, que puniam todas as injustiças, não só nos Ínferos mas também no mundo superior. Imaginavam-se essas deusas como mulheres com cabelos de serpente, dentes arreganhados e línguas de fora, com cinturões de serpente, tochas e chicotes nas mãos. Para não provocá-las, costumava-se chamá-las de Eumênides “as benevolentes”. Dentre os romanos, eram chamadas de Fúrias.

As divindades da morte propriamente ditas eram Tânato, o irmão gêmeo do deus do sono, Hipnos, e as Keres, deusas da morte violenta.

Fonte: www.starnews2001.com.br

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