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Folclore – Arco-íris – História
Arco, arco celeste, arco-da-chuva, olho-de-boi, conhecido em Portugal e no sul do Brasil como arco-da-velha.
Erasmo Braga (Leitura, I, 94): “Sobre o oriente nublado apareceu um lindo arco-íris duplo. – Lá está o arco-da-velha, gritou Joãozinho. – Tio Carlos, é verdade que o arco-íris está bebendo água no córrego, e engole as crianças que andam pela beira do rio?”.
Sobre o arco-íris, Luís da Câmara Cascudo (Informação de história e etnografia): “O sertanejo não gosta do arco-íris porque furta água. No litoral se distrai bebendo água nos rios, lagoas, fontes.
Não bebe água do mar como as nuvens. Ao princípio da sucção é fino, transparente, incolor. Depois fica largo, colorido, radioso. Farto, desaparece.
Você é como o arco-íris – diz o sertanejo – bebeu, sumiu-se!
Para o sertão o arco-íris sorve a água das nuvens. Bebe a dos riachos e córregos. Quando se dissipa, deixa o céu limpo de névoas, nuvens anunciando chuvas. Há um remédio para fazê-lo ir-se embora.
O arco-íris é inimigo das linhas retas. Riscam desenhos direitos, põem filas de pedrinhas, gravetos, pauzinhos. O arco desmancha a galhardia seticolor, e viaja.
Não conheço lenda sertaneja sobre o arco-íris. Para as populações indígenas, de quase todo continente americano, é uma víbora que ataja la lluvia y no deja llover.
O arco-íris víbora é a materialização mais espalhada no mundo. Na terra americana é sempre maléfico e odiado. Na Europa é figura de carinho e com respeitos sobrenaturais.
Os gregos e romanos diziam-no sinal luminoso das passagens de Íris, voando do Olimpo à terra com mensagem de Juno. Na poesia guerreira dos Edas, as sagas do Niebelungnot, o arco-íris é Bifroest.
A morada dos deuses nórdicos, Asgard, é cercada pelo rio Mota-Bifroest, é a ponte que transpõe o rio. Caminho eterno dos pés divinos.” (p.210-203).
Quem passa por debaixo do arco-íris muda de sexo e o recobrará, se o repassar em sentido contrário. Na Córsega, Finisterra (França) e norte da Inglaterra há a mesma tradição de dispor pedras em filas para desfazer o arc-en-ciel (P. Sébillot, Le Paganisme Conteporain chez les Peuples Celto-Latins, Paris, 1908).
A serpente, personalizando um fenômeno meterológico, é universal. Para os gregos e romanos era o símbolo dos rios, pela sinuosidade e rapidez do curso. Na África a serpente é o arco-íris para sudaneses e bantos, a N’Tyama, cavalo de Nz’ambi, a Mu-kyama, etc. (Pe. Tastevin, Les idées religieuses des africains, 8, 10).
Robert Lehmann-Nitsche (Mitologia sudamericana) reuniu os depoimentos indígenas sobre o arco-íris, mostrando a maioria coincidir com a imagem serpentina.
Os albaneses também creem que o arc-en-ciel est un serpent qui descend sur la terre pour boire de l’eau Gihac. Joaquim Ribeiro, estudou extensamente o assunto (A tradição e as lendas, 19-34, Rio de Janeiro, 1929).
Folclore – Arco-íris
Paul Sébillot (Le folk lore, 118) resumiu as versões europeias: “Seu poder para o bem ou para o mal é considerável; pode secar lagoas e rios, engolir peixes, remover navios, murchar as plantas sobre as quais repousa uma de suas extremidades, mudar o sexo de quem passa sob ela; onde toca a terra há maravilhas ou presentes; a água tirada dela cura doenças”.
A representação do tempo, ano, defuntos, vida subterrânea, encarnação de ressuscitados têm igualmente grandes áreas de fixação, oráculo de Piton, símbolos de adivinhos e médicos, etc.
No Panteon mexicano há multidões de deuses com nomes terminais em coatl. Coatl é serpente e traduzir-se-á: o que contém água, co, vazinha, o continente, e atl, água.
As serpentes eram os emblemas dos Lares Compitales ou Viales.
Indicava o lugar consagrado, sacer locus. Por isso Pérsio mandava pintar duas serpes, mostrando a santidade do local: pinge duos angues (Sátira, I).
O arco-íris serpente desapareceu nas tradições brasileiras mas sobrevive a impressão indecisa e vaga de uma grandeza maléfica.
Osvaldo Lamartine reuniu uma série de comparações populares no agreste do Rio Grande do Norte. Destaco: beber como o arco-íris.
Arco-da-velha, comum em Portugal e Brasil, tem merecido comentários e pesquisas (João Ribeiro, Frases feitas, 151-154, Rio de Janeiro, 1908; Luís Chaves, Ocidente, XXVII, 257).
João Ribeiro: “A idéia de velha, reunida a arco, provém da corcova ou corcunda que é própria tanto do arco como da velha… Esta analogia tenho para mim que é a fonte mais segura; os fabulários e isopetes medievais contaram a história do arco da velhice, isto é, da corcova valetudinária e senil, ocasião de motejo para os rapazes”.
Cita Francesco Pera, que simula um diálogo entre a Gioventu que quer comprar, por zombaria, o arco da Vecchieza, respondendo esta que de futuro a mocidade o possuirá, envelhecendo.
Folclore – Arco-íris – Conto
O João era pobre. O pai tinha morrido e era muito difícil a mãe manter a casa e sustentar os filhos.
Um dia ela pediu-lhe que fosse pescar alguns peixes para o jantar.
O João reparou numa coisa a mexer-se no meio do arvoredo….viu um pequeno homem… Aproximou-se sorrateiro, abaixou-se, afastou as folhas devagarinho e . . . viu um pequeno homem sentado num minúsculo banco de madeira. Costurava um colete verde com um ar compenetrado enquanto cantarolava uma musiquinha.
À frente do João estava um anão. Rapidamente esticou o braço e prendeu o homenzinho entre os dedos.
– Boa tarde, meu senhor.
Como estás, João?
– respondeu o homenzinho com um sorriso malicioso.
Mas o anão tinha montes de truques para se libertar dos humanos. Inventava pessoas e animais a aproximarem-se, para que desviassem o olhar e ele pudesse escapar.
– Diz-me lá, onde fica o tesouro do arco-íris?
…vinha lá um touro a correr para o João…Mas o anão gritou para o João que vinha lá um touro bravo a correr bem na sua direcção. Ele assustou-se, abriu a mão e o anão desapareceu.
O João sentiu uma grande tristeza, pois quase tinha ficado rico.
E, com estas andanças, voltou para casa de mãos a abanar, sem ter pescado peixe nenhum.
Mal chegou contou à mãe o sucedido. Esta, que já conhecia a manha dos anões, ensinou-o:
-Se alguma vez o encontrares, diz-lhe que traga o tesouro imediatamente….um dia encontrou o anão…
Passaram-se meses.
Até que um dia, ao voltar para casa, sentiu os olhos ofuscados com um brilho intenso. O anão estava sentado no mesmo pequeno banco de madeira, só que desta vez consertava um dos seus sapatos.Cuidado!
Vem lá o gavião!
– Cuidado! Vem lá o gavião! – gritou o anão, fazendo uma cara de medo.
– Não me tentes enganar! – disse o João. – Traz já o pote de ouro!
– Traz já o pote de ouro ou eu nunca mais te solto.
– Está bem! – concordou o anão. – Desta vez ganhaste!
O pequeno homem fez um gesto com a mão e imediatamente um belíssimo arco-íris iluminou o céu, saindo do meio de duas montanhas e terminando bem aos pés do João….até esconderam o pequeno pote…
As 7 cores eram tão intensas que até esconderam o pequeno pote de barro, cheio de ouro e pedras preciosas, que estava à sua frente.
O anão baixou-se, com o chapéu fez-lhe um aceno de despedida, e gritou, pouco antes de desaparecer para sempre: Adeus João. Terás sorte e serás feliz para sempre!
– Adeus, João! És um menino esperto! Terás sorte e serás feliz para sempre!
E foi o que aconteceu. O pote de ouro nunca se esgotou e o João e a sua família tiveram uma vida de muita fartura e de muita alegria.
Fonte: ifolclore.vilabol.uol.com.br/sotaodaines.chrome.pt
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