PUBLICIDADE
A Ferrari Testarossa (Tipo F110) é um carro esportivo de 12 cilindros fabricado pela Ferrari, que entrou em produção em 1984 como o sucessor do Ferrari Berlinetta Boxer.
O nome Testarossa, que significa “cabeça vermelha” em italiano, vem do pintado de vermelho excêntrico coberturas no motor.
O duplo sentido com uma mulher ruiva foi intencional – Ferrari e Pininfarina utilizam regularmente os termos descritivos relacionados com o corpo de uma mulher ao descrever o estilo de seus automóveis.
1984
O Paris Motor Show em Outubro de 1984 viu o retorno do glorioso Testarossa como herdeiro do 512 BBi.
O projeto de Pininfarina quebrou um pouco com a tradição e foi marcante e inovador.
As entradas laterais foram maiores do que no modelo anterior e este constrangimento viu a introdução das tábuas laterais longos que se tornaria característica mais reconhecível do Testarossa.
O antecessor: derivado do Berlinetta Boxer de 1971, o 512 BBi apresentava claro envelhecimento, embora ainda conquistasse pelo desempenho e carisma
A Ferrari já sabia que precisava de um modelo que resgatasse a identidade da marca. Desde 1978 estudava um sucessor para o 512 BBi.
Para desenvolver o projeto (tipo F110 AB), o comendador Enzo convocou uma equipe de quatro renomados engenheiros: Angelo Bellei, Nicola Materazzi, Maurizio Rossi e Leonardo Fiovaranti, este último do estúdio Pininfarina, que desenhara verdadeiras lendas como o 365 GTB/4 “Daytona”.
O novo Ferrari seguiria a concepção mecânica do Berlinetta Boxer, como motor central-traseiro de 12 cilindros opostos e chassi tubular de aço.
Entre 1979 e 1982 foram desenvolvidos vários protótipos do novo motor (tipo F113A), derivado do motor 312B, e da nova carroceria, que os engenheiros do centro de pesquisa do Estúdio Pininfarina denominaram BBN (Berlinetta Boxer New).
Os cabeçotes vermelhos, visíveis nos extremos superior e inferior da imagem, são a origem do nome do Testarossa, que já fora utilizado no 250 Testa Rossa da década de 1950
Em 1982 era construído o primeiro protótipo completo, mas não continha adereços de conforto em seu interior, apenas componentes mecânicos. Ao todo, foram feitas 30 unidades de teste, sendo 12 completas e o restante apenas para testar partes e peças individuais.
V12 a 180 graus
O resultado foi um cupê – ou berlinetta, como os chamam os italianos – de 4,48 metros de comprimento, 1,97 m de largura e 1,13 m de altura, pesando 1.500 kg. Possuía câmbio manual de cinco marchas e seu motor de 5,0 litros, com 12 cilindros opostos (ou V12 a 180º, como dizia o comendador), adotava duplo comando em cada cabeçote e 48 válvulas, resultando em 390 cv e um torque de 49 m.kgf. A injeção era Bosch K-Jetronic, mecânica. Tudo isso fazia com que o Testarossa alcançasse a velocidade máxima de 290 km/h, com aceleração de 0 a 100 km/h em 5,3 segundos.
Seu desenho era revolucionário. As enormes entradas de ar laterais, para alimentar os radiadores, possuíam aletas que iniciavam nas portas e chegavam ao pára-lama traseiro. Essas aletas foram colocadas devido à exigência de alguns mercados, em que se acreditava que as tomadas de ar expostas poderiam causar acidentes. As lanternas traseiras também apresentavam visual inédito: pela primeira vez um Ferrari deixava de usar as tradicionais lanternas duplas redondas, passando a usar modelos retangulares camuflados por uma grade.
As formas retilíneas e imponentes marcaram o Testarossa como poucos Ferraris conseguiram; as lanternas traseiras ficavam por trás de uma grade negra
O chassi tubular – o mesmo do BB, mas alongado e amplamente reestudado – garantia boa rigidez à torção e a largura elevada, aliada à baixa altura, garantia boa estabilidade em alta velocidade. O coeficiente aerodinâmico (Cx) não era brilhante, 0,36, talvez por ter a sustentação prioridade no desenho em relação à fluidez do ar. As suspensões eram de braços sobrepostos, a traseira com duas molas por lado, para lidar com o maior peso.
O interior era bastante luxuoso para um Ferrari, equipado com ar-condicionado, bancos revestidos em couro com várias regulagens, painel bem-equipado e com boa visualização dos instrumentos. Sistema de áudio, porém, não existia, pois para a marca do cavalinho empinado o próprio motor já produz a música para o motorista – ou piloto.
Em setembro de 1984 a Ferrari convidava um seleto grupo de clientes e jornalistas para apresentar com exclusividade o Testarossa, no autódromo de Ímola. No mês seguinte o carro era apresentado oficialmente ao público no Salão de Paris. Havia dois modelos expostos, um no estande da Ferrari e outro no do estúdio Pininfarina. O Testarossa foi um dos maiores sucessos do evento.
Os quatro faróis eram escamoteáveis, tendência nos anos 80, e havia apenas um retrovisor externo no projeto original, para beneficiar a aerodinâmica
Um ano depois o novo Ferrari era colocado à venda nos Estados Unidos, Japão e toda a Europa, sendo que havia derivações em alguns mercados. As alterações de maior importância, tanto no desempenho quanto no estilo, ficavam a cargo dos modelos produzidos para os consumidores americanos.
O Testarossa original foi lançado com apenas um retrovisor, no lado esquerdo, para otimizar a aerodinâmica, mas para se enquadrar à legislação local – e também de alguns países europeus – a Ferrari adotou o retrovisor direito. O motor também sofreu alterações para os EUA, perdendo 10 cv de seus 390, de modo a se adequar às normas de emissões de poluentes daquele país.
As demais modificações eram aparentemente simples, como tipos de pneus, que nos EUA utilizavam Goodyear 225/50 VR 16 (à frente) e 255/50 VR 16 (atrás), sendo que nos outros países o Testarossa era equipado com pneus Michelin TRX 240/45 VR 415 (à frente) e 280/45 VR 415 (atrás), sendo o diâmetro do aro correspondente a 16,3 pol. As lanternas também sofriam modificações: no mercado americano as luzes de posição dianteiras eram em em tom âmbar, em vez da lente com seção incolor de outros países. E os EUA o recebiam com faróis diferentes, do tipo selado (sealed-beam).
O modelo se tornou um sucesso, o que o tornou bastante cotado no mercado.
De julho de 1984 até o fim de 1991 foram produzidos 5.648 Testarossas, uma produção elevada para um veículo construído de forma artesanal, que levava quase 40 dias para ficar pronto. Isto fazia com que o cliente levasse de dois a três anos para receber o carro!
Essa demora inflacionou o preço sugerido de fábrica: era de cerca de US$ 150 mil, mas podia chegar a até US$ 1 milhão no mercado.
O interior do Testarossa: revestimento em couro, painel bem-equipado e a tradicional alavanca de câmbio Ferrari, como uma chapa-guia cromada na base para orientar os engates
512 TR, a evolução da espécie
Em 1987, dois anos após o início das vendas, a Ferrari iniciou os estudos para desenvolver o sucessor do Testarossa, que seria lançado em 1992 com o nome de Ferrari 512 TR – sigla para Testarossa, naturalmente. Como já ocorrera no passado com o 512 BB, o primeiro algarismo indicava a cilindrada, em litros, e os outros o número de cilindros.
Logo em 1988 o estúdio Pininfarina iniciava os testes do protótipo F110 EB no túnel de vento. Entre 1990 e 1991 foram construídos 22 protótipos, sendo que 18 eram na versão “americanizada” e quatro na versão européia – uma prova da importância dos EUA como mercado para a marca, que o havia desprezado ao tempo do Berlinetta Boxer. Essa prioridade tornou-se ainda mais evidente na escolha do local de seu lançamento oficial.
Na frente, a marca da distinção do 512 TR: os faróis auxiliares não mais estavam integrados à grade, o que rejuvenescia a aparência de um carro com oito anos
No dia 2 de janeiro de 1992 o Ferrari 512TR era apresentado no Salão de Los Angeles. Em relação ao Testarossa original, recebera uma plástica que o deixara com um desenho mais moderno e bonito. A nova frente, semelhante à do 348, separava os faróis da grade, que lhe proporcionava um visual mais sóbrio. Entre as três versões do Testarossa, essa era que a que tinha o estilo mais harmônico.
As rodas também eram redesenhadas, mantendo o tradicional formato de estrela de cinco pontas, mas com raios mais estreitos, que passava a impressão de serem maiores. Os pneus dianteiros estavam mais finos (235/40) mas os traseiros mais largos (295/35). O interior recebia leves modificações e ganhava novo volante, com desenho mas arredondado, de melhor empunhadura.
A adoção de injeção eletrônica no motor boxer de 5,0 litros elevava a potência de 390 para 428 cv, mas as aletas nas tomadas de ar laterais permaneciam
Seu motor permanecia o boxer de 5,0 litros, com torque de 49,1 m.kgf, mas a potência subia de 390 para 428 cv e a velocidade máxima saltava para 314 km/h. O 512 TR contava com maior taxa de compressão, novos coletores de admissão e escapamento, válvulas maiores e injeção eletrônica, Bosch Motronic 2.7, no lugar da mecânica K-Jetronic. O motor estava montado mais baixo, o que o novo escapamento permitia, rebaixando o centro de gravidade. A suspensão era recalibrada, tornando-se mais firme, e a bitola dianteira aumentava. De 0 a 100 km/h bastavam agora 4,8 segundos.
Em 1993 a Ferrari lançava uma série equipada com sistema de freios antitravamento (ABS), o que é considerado uma heresia para os puristas, que preferem modular eles próprios a pressão de frenagem. Para contentá-los, o ABS podia ser desligado por um interruptor no console. Os carros equipados com ele eram identificados pela inscrição Testarossa no capô traseiro. O 512 TR foi produzido entre 1991 e 1995, sendo produzidas 2.295 unidades, o que o tornou ainda mais exclusivo do que seu antecessor.
O interior do 512 TR era mais refinado, com novo volante e pequenas alterações; as unidades equipadas com freios antitravamento traziam um botão no console para desligar o sistema
O último boxer de Maranello
Mesmo reestilizado, o 512 TR já dava sinais de defasagem em seu estilo, como os faróis escamoteáveis, estilo quase em desuso na década de 90 e que prejudicava a aerodinâmica quando em uso. Seu desenho já estava ultrapassado; a longa frente afinada com cantos vivos, além do excesso de vincos e linhas, indicava sua idade.
Em outubro de 1994, exatamente uma década após o modelo original, a Ferrari apresentava, no Salão de Paris, a última versão do Testarossa, a 512 M – de modificatta, modificado em italiano. As principais modificações estavam no desenho: uma grade semelhante à do recém-lançado F355, faróis fixos dentro do capô e protegidos por uma lente transparente, semelhantes aos do F40, além de duas entradas de ar no capô. A grade traseira, que escondia as lanternas retangulares, dava espaço a um jogo duplo de lanternas redondas expostas, bem ao estilo da Ferrari. Seu interior permanecia inalterado.
A última evolução da série: o 512 M, com frente baseada na do F355, faróis expostos, motor 12 cv mais potente e peso pouco menor; atingia máxima de 315 km/h
As principais modificações mecânicas ficavam a cargo do novo motor (F113G040), que tinha um ganho de potência de 12 cv, passando para 440 cv a 6.750 rpm. Rendia uma velocidade máxima de 315 km/h. Seu torque crescia pouco, passando de 49,1 para 51 m.kgf. O restante permanecia na mesma configuração, mas com peso reduzido em 18 kg. O 512 M foi produzido apenas nos anos de 1995 e 1996, tendo sido fabricadas apenas 500 unidades.
Apesar de muitos acharem que o Testarossa é um carro com linhas extravagantes e exageradas, poucos carros tiveram uma identidade tão marcante quanto ele.
Nem seus mais que respeitáveis rivais, como Porsche 959 e 911 Turbo, Lamborghini Countach e Diablo, Lotus Esprit e os Aston Martins V8, conseguiram ofuscar seu brilho.
As lanternas redondas, tão tradicionais da Ferrari, enfim em um modelo da linha Testarossa: puristas atendidos
Sua imagem se assemelhava ao máximo do prestígio e da sofisticação que um carro poderia ter. Possuía todos os requisitos que um superesportivo exigia – muita potência, muito torque, ronco agressivo, notável comportamento dinâmico. Definitivamente, o Testarossa foi um dos Ferraris mais charmosos de todos os tempos, feito que nem mesmo seus sucessores F550 e F575 Maranello conseguirão superar.
Ficha técnica:
Motor: 4.9 litros V12
Potência: 390 hp
0-60 mph: 5,3 segundo
Velocidade máxima: 179 mph
Fotos
Ferrari Testarossa – 1991
Fonte: auto.ferrari.com/www2.uol.com.br
Redes Sociais