Usina Nuclear

Usina Nuclear – O que é

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Usina Nuclear
Usina Nuclear

As centrais nucleares, usina nuclear, utilizar o calor gerado pela fissão nuclear em um ambiente contido para converter água em vapor, que alimenta geradores para produzir eletricidade.

Uma usina nuclear é uma central térmica em que a fonte de calor é um reator nuclear.

Como é típico em todas as centrais térmicas convencionais o calor é utilizado para gerar vapor que acciona uma turbina de vapor ligada a um gerador elétrico, que produz eletricidade

Apesar de sua complexidade tecnológica, o funcionamento de uma usina nuclear é fácil de compreender.

Ela funciona com princípio semelhante ao de uma usina térmica convencional: o calor gerado pela combustão do carvão, do óleo ou do gás vaporiza a água em uma caldeira. Este vapor movimenta as pás de uma turbina, à qual está acoplado um gerador, que transformando energia mecânica em energia elétrica, produz a eletricidade. A energia elétrica é então conduzida, através de fios e torres de transmissão, até as casas, indústrias, etc. Na usina nuclear, o calor é produzido pela fissão do urânio no núcleo do reator.

O núcleo de um reator consiste de um conjunto de vários tubos longos com pastilhas de dióxido de urânio, substância que contém átomos de urânio. No urânio ocorre uma reação em cadeia causada pelas fissões do urânio-235, e a energia liberada é absorvida pelo material do reator na forma de calor – a energia nuclear contida nos núcleos atômicos é transformada em energia térmica.

O processo de geração de energia elétrica a partir da energia nuclear, então, pode ser esquematizado em três passos:

1 – No reator

Transformação da energia nuclear em energia térmica, através da reação nuclear em cadeia.

2 – Na turbina

Transformação da energia térmica em energia mecânica, através da ação do vapor d’água aquecido.

3 – No gerador

Transformação da energia mecânica em energia elétrica.

À medida que o tempo passa, o urânio do reator vai sendo “gasto”. Após 3 anos, cerca de 75% do urânio-235 desaparece, sendo substituído pelos produtos de fissão (como o estrôncio-90 e o famoso césio-137) e por outros elementos químicos (como o plutônio, o netúnio e outros isótopos do urânio), originados quando o urânio emite radioatividade ao invés de sofrer fissão. Essas substâncias são conhecidas como “rejeitos radioativos” ou “lixo atômico”, e algumas são extremamente radioativas.

Energia Nuclear

O Urânio

O elemento químico Urânio, que foi descoberto em 1789 pelo alemão Martin Heinrich Klaproth e cujo nome é uma homenagem ao planeta Urano, é um metal branco-níquel, pouco menos duro que o aço e encontra-se, em estado natural, nas rochas da crosta terrestre. Sua principal aplicação comercial é na geração de energia elétrica, na qualidade de combustível para reatores nucleares de potência. É também utilizado na produção de material radioativo para uso na medicina e na agricultura.

Encontram-se vestígios de urânio em quase todas as rochas sedimentares da crosta terrestre, embora este não seja muito abundante em depósitos concentrados.

O minério de urânio mais comum e importante é a uraninite, composta por uma mistura de UO2 com U3O8. O maior depósito do mundo de uraninite situa-se nas minas de Leopolville no Congo, na África.

Outros minerais que contêm urânio são a euxenite, a carnotite, a branerite e a cofinite. Os principais depósitos destes minérios situam-se nos EUA, no Canadá, na Rússia e na França.

O urânio foi o primeiro elemento onde se descobriu à propriedade da radioatividade. Em 1934 observaram que o bombardeamento de urânio com nêutrons, produzia emissão de partículas beta. Este reação só seria explicada em 1938, estes investigadores concluíram que o urânio bombardeado com nêutrons dava origem a isótopos de elementos mais leves, como o krípton ou o bário, por fissão do seu núcleo, libertando-se uma grande quantidade de energia. Entretanto, um cientista chamado Fermi sugeriu que a fissão produzia novos nêutrons que poderiam originar novas fissões em outros núcleos e assim tornar a reação auto-sustentada, fato este que só foi comprovado em 1939.

A primeira reação nuclear de fissão auto-sustentada foi realizada por Fermi, na Universidade de Chicago, em Dezembro de 1942. Para tal, Fermi e os seus colaboradores, utilizaram 400 toneladas de grafite, seis toneladas de urânio e 58 toneladas de óxido de urânio.

Na Bahia, a sudoeste do Estado, próximo aos Municípios de Caetité e Lagoa Real, está situada uma das mais importantes províncias uraníferas brasileiras. Suas características – teor e dimensão de reservas- estão estimadas em 100.000 toneladas, exclusivamente de urânio, sem outros minerais de interesse associados.

Esta quantidade é suficiente para o suprimento da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (usinas Angra I, II e III) por 100 anos.

O urânio presente na natureza tem três isótopos, átomos que têm peso atômico 234 (U-234), átomos com peso atômico 235 (U-235), e outros ainda, com peso atômico 238 (U-238),. Sendo estes os em maior abundancia.

O choque de um nêutron livre com o isótopo U-235 causa a divisão do núcleo desse isótopo em duas partes -dois outros átomos – e ocasiona uma liberação relativamente alta de energia. Dá-se a esse fenômeno o nome de fissão nuclear.

A fissão nuclear ocasiona a transformação da matéria em energia, através da divisão do isótopo U-235.

Por que o U-235 e não o U-234 ou o U-238?

Quando a fissão do isótopo U-235 ocorre, o núcleo divide-se em duas partes formando dois elementos novos, e dele se desprendem 2 ou 3 nêutrons que, por seu turno, podem chocar-se com outro núcleo de U-235 acarretando nova fissão, novos elementos são formados, provocando uma seqüência de fissões denominada reação nuclear em cadeia.

Somente o U-235 na natureza tem a propriedade de se fissionar e portanto, sustentar uma reação em cadeia.

O aproveitamento e controle dessa energia liberada é feito dentro de reatores nucleares, que nas usinas nucleares, fazem o mesmo papel que a caldeira desempenha nas usinas térmicas comuns.

A fim de otimizar as reações nucleares costuma-se enriquecer o urânio antes do seu uso nos reatores. Esta operação consiste simplesmente em aumentar o teor do Isótopo U-235 (o único que se fissiona) na mistura de isótopos do urânio natural (U-234, U-235 e U-238).

Preparando o Combustível

O minério de urânio é retirado da mina e após processos de extração é enviado para usina de beneficiamento e obtenção do concentrado de urânio, cuja composição química é o diuranato de amônia, conhecido como yellowcake ou concentrado de U3O8, matéria prima para produção da energia gerada em um reator nuclear.

O processo de beneficiamento do minério de urânio é o de lixiviação em pilhas (estática). Depois de britado, o minério é disposto em pilhas e irrigado com solução de ácido sulfúrico para a retirada do urânio nele contido. Esta técnica dispensa fases de moagem, agitação mecânica e filtração.

A concentração do urânio é realizada pelo processo de extração por solventes orgânicos, seguida da separação por precipitação, secagem e acondicionamento em tambores.

Após a concentração do urânio, ocorre a conversão em hexafluoreto de urânio (UF6), onde o urânio sob a forma de yellowcake, é dissolvido e purificado, obtendo-se então o urânio nuclearmente puro.

A seguir o hexafluoreto de urânio (UF6), é convertido para o estado gasoso, para permitir a transformação seguinte: o enriquecimento isotópico.

A operação de enriquecimento do urânio tem por objetivo aumentar a concentração do urânio235 acima da natural – o urânio natural contém apenas 0,7% de urânio235 – para, em torno de 3% permitindo sua utilização como combustível para geração de energia elétrica.

O hexafluoreto é então transformado em dióxido de urânio (UO2) para que seja possível a reconversão, ou seja, o retorno do gás UF6 ao estado sólido, sob a forma de pó de dióxido de urânio (UO2) .

A reconversão começa quando o urânio enriquecido, na forma de hexafluoreto de urânio (UF6), é levado para aquecimento no vaporizador.

A 100°C o UF6, já no estado gasoso, é misturado com outros dois gases: gás carbônico (CO2) e gás amoníaco (Nh2), em um tanque precipitador, contendo água desmineralizada (pura). A reação química entre estes compostos produz o tricarbonato de amônio e uranila (TCAU), sólido amarelo insolúvel em água. Em seguida, o conteúdo do precipitador é bombeado para filtros rotativos a vácuo onde o pó de TCAU é seco e transportado para o alimentador do forno. No forno de leito fluidizado, à temperatura de 600° C, o TCAU é alimentado juntamente com gás hidrogênio (H2) e vapor d’água. O produto gerado – dióxido de urânio (UO2), ainda instável – é descarregado no estabilizador onde recebe a adição de gás nitrogênio (N2) e ar. Após a estabilização, o UO2 é transportado para grandes caixas giratórias misturadoras, os homogeneizadores, que como o próprio nome diz homogenizam o pó com a adição de um outro composto de urânio (U308).

Reconversão

Energia Nuclear

Então são produzidas as pastilhas de UO2, estas pastilhas de dióxido de urânio, que tem a forma de um cilindro de mais ou menos um centímetro de comprimento e de diâmetro, após serem submetidas a diversos testes – dimensionais, metalográficos e químicos – estarão aptas a compor o combustível para centrais nucleares.

Para ser idéia da capacidade desse combustível basta considerar que apenas duas dessas pastilhas produzem energia suficiente para atender, por um mês, uma residência média em que vivam quatro pessoas.

Processo de Fabricação de Pastilhas de UO2

Energia Nuclear

Após o processo de mistura (homogeneização) com U3O8, o pó de UO2 é transportado para uma prensa rotativa automática, onde são produzidas pastilhas.

Nesta fase do processo são chamadas de “pastilhas verdes”. As “pastilhas verdes”, ainda relativamente frágeis, são encaminhados ao forno de sinterização, sob temperatura de 1750ºC, em processo semelhante ao da fabricação de cerâmicas, onde adquirem resistência (ou endurecimento) necessária às condições de operação a que serão submetidas dentro de um reator de uma usina nuclear. As pastilhas sintetizadas passam, ainda, por uma etapa de retificação para ajuste fino das dimensões. Após a retificação todas as pastilhas sintetizadas são verificadas através de medição a laser, que rejeita aquelas cuja circunferência estiver fora dos padrões adequados. As pastilhas sintetizadas aprovadas são acondicionadas em caixas e armazenadas adequadamente num depósito.

Finalmente obtem-se o “Elemento Combustível” que alimentam a usina. Ele é composto pelas pastilhas de dióxido de urânio montadas em tubos de uma liga metálica especial – o zircaloy – formando um conjunto de varetas metálicas de quatro metros de comprimento cada, cuja estrutura é mantida rígida, por reticulados chamados grades espaçadoras.

Os vários elementos combustíveis, inseridos no núcleo do reator, produzem calor que será transformado em energia. Cada elemento combustível supre de energia elétrica 42.000 residências de porte médio, durante um mês.

Energia Nuclear

Após o processo de mistura (homogeneização) com U3O8, o pó de UO2 é transportado para uma prensa rotativa automática, onde são produzidas pastilhas.

Nesta fase do processo são chamadas de “pastilhas verdes”. As “pastilhas verdes”, ainda relativamente frágeis, são encaminhados ao forno de sinterização, sob temperatura de 1750ºC, em processo semelhante ao da fabricação de cerâmicas, onde adquirem resistência (ou endurecimento) necessária às condições de operação a que serão submetidas dentro de um reator de uma usina nuclear. As pastilhas sintetizadas passam, ainda, por uma etapa de retificação para ajuste fino das dimensões. Após a retificação todas as pastilhas sintetizadas são verificadas através de medição a laser, que rejeita aquelas cuja circunferência estiver fora dos padrões adequados. As pastilhas sintetizadas aprovadas são acondicionadas em caixas e armazenadas adequadamente num depósito.

Finalmente obtem-se o “Elemento Combustível” que alimentam a usina. Ele é composto pelas pastilhas de dióxido de urânio montadas em tubos de uma liga metálica especial – o zircaloy – formando um conjunto de varetas metálicas de quatro metros de comprimento cada, cuja estrutura é mantida rígida, por reticulados chamados grades espaçadoras.

Os vários elementos combustíveis, inseridos no núcleo do reator, produzem calor que será transformado em energia. Cada elemento combustível supre de energia elétrica 42.000 residências de porte médio, durante um mês.

Energia Nuclear
Ciclo do Combustível Nuclear

Reservas de Urânio no Brasil

Energia Nuclear

O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de urânio o que permite o suprimento das necessidades domésticas a longo prazo e a disponibilização do excedente para o mercado externo.

Em junho/2001 o País registrava a sexta maior reserva geológica de urânio do mundo. Com cerca de 309.000t de U3O8 nos Estados da Bahia, Ceará, Paraná e Minas Gerais, entre outras ocorrências.

Estudos de prospecção e pesquisas geológicas foram realizadas em apenas 25% do território nacional. O País possui também ocorrências uraníferas associadas a outros minerais, como aqueles encontrados nos depósitos de Pitinga no Estado do Amazonas e área de Carajás, no Estado do Pará, com um potencial adicional estimado de 150.000t.

As reservas geológicas brasileiras evoluíram de 9.400 toneladas, conhecidas em 1975, para a atual quantidade, podendo ser ampliada com novos trabalhos de prospecção e pesquisa mineral.

Reservas Mundiais de Urânio

As reservas deste elemento, para que se tornem economicamente atrativas, dependem do teor de urânio presente assim como da alternativa tecnológica usada para o seu aproveitamento.

A produção de urânio, no mundo, vem decrescendo desde 1988 em virtude, principalmente, dos baixos preços que o mercado vem praticando ocasionando o fechamento de algumas minas de baixo teor, que eram exploradas na Europa Oriental. Porém, países tradicionalmente produtores de yellowcake vem aumentando a capacidade de suas plantas, como é o caso do Canadá e da Austrália.

Considerando o quilo (kg) de urânio possível de ser obtido a custos inferiores a US$130.00, as reservas mundiais se distribuem conforme a tabela a seguir:

País t U
Cazaquistão 957.000
Austrália 910.000
África do Sul 369.000
Estados Unidos 355.000
Canadá 332.000
Brasil 309.000
Namíbia 287.000
Total no Mundo 4.416.000

Reutilização de Rejeitos

Os rejeitos radioativos não viabilizam um total reaproveitamento do combustível utilizado no reator; no entanto, possibilitam sua reutilização parcial através de um processo chamado reprocessamento.

O reprocessamento dos elementos combustíveis descarregados dos reatores visa separação do material físsil e fértil, principalmente plutônio e urânio, dos produtos de fissão, para eventual uso posterior como combustível. O reprocessamento constitui-se em uma tecnologia comprovada e os seus serviços estão disponíveis em nível comercial para todas as empresas de energia elétrica do mundo.

O objetivo principal do reprocessamento é reduzir o volume de rejeitos. Sua política é, também, uma ação ecológica que visa a preservar os recursos naturais (jazidas de urânio). No Brasil, não há reprocessamento do combustível usado.

No final de 1998, a capacidade mundial instalada para reprocessar combustível irradiado de reatores a água leve era de 3.300 t MP/a. (MP=Material Pesado, urânio, plutônio, etc., contido no combustível irradiado, descarregado do reator após produzir energia).

A capacidade mundial para todos os tipos de combustível era de 4.930 t MP/a. A demanda por serviços de reprocessamento foi de cerca de 4.500 tU em 1998, 90% da capacidade instalada.

Os custos de reprocessamento variam entre US$ 600 a US$ 1.000/kg MP, devendo-se adicionar mais US$ 100 a 500/kg MP para o tratamento e eliminação dos resíduos altamente radioativos produzidos no reprocessamento.

O reprocessamento só se aplica naqueles casos em que se considera o fechamento do ciclo, com extração do urânio residual e plutônio para serem reciclados no reator. Naqueles casos em que o reprocessamento não é utilizado há os custos para a estocagem do combustível descarregado.

A quantidade de combustível irradiado reprocessado proveniente de usinas nuclelétricas, até o final de 1998, atingiu cerca de 77.410 tMP, sendo 58.020 tMP de GCR, 19.350 tMP de reatores a água leve e cerca de 40 tMP de FBR e Mox.

Algumas Dúvidas

1)Qual o tipo de reator utilizado pelas usinas nucleares brasileiras?

É um reator a água pressurizada – Pressurized Water Reactor (PWR). É um reator nuclear de potência, no qual o calor é transferido do núcleo para um trocador de calor, por meio de água, que é mantida sob alta pressão para alcançar altas temperaturas sem ebulição do sistema primário. O vapor é produzido no trocador de calor (gerador de vapor) do circuito secundário.

2)Quais os processos de enriquecimento de urânio?

Já foram desenvolvidos vários processos de enriquecimento de urânio.

Dentre eles: o da Difusão Gasosa e da Ultracentrifugação (em escala industrial), o do Jato Centrífugo (em escala de demonstração industrial) e o processo a Laser (em fase de pesquisa).

3)Uma instalação nuclear pode ocasionar ou causar explosão atômica?

Não. Um reator nuclear, para gerar energia elétrica, é construído de forma a ser IMPOSSÍVEL explodir como uma bomba atômica. Tal receio não tem qualquer fundamento, já que a concentração de urânio-235 é muito baixa (cerca de 3%), não permitindo que a reação em cadeia se processe com rapidez suficiente para se provocar uma explosão. Ao contrário dos reatores que são concebidos para reter as substâncias radioativas, as bombas são concebidas para tornar eficaz a sua dispersão.

4)Como os rejeitos são manuseados e armazenados?

Os rejeitos ao serem gerados passam por um processo de solidificação, após o que são acondicionados em embalados especiais (tambores de aço, liners, caixas metálicas ou de concreto) no interior das usinas. Estes embalados são manuseados através de empilhadeiras, talhas e pontes rolantes.

O armazenamento se dá por meio do empilhamento destas embalagens conforme estabelecido em projeto. No caso dos tambores metálicos, os mesmos são colocados sobre pallets para o empilhamento. Toda a operação com os embalados contendo rejeitos radioativos é monitorada pela divisão de proteção radiológica da Usina.

Usinas Nucleares do Brasil

Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto

Situada na Praia de Itaorna, Município de Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, a Central Nuclear de Angra está próxima dos principais centros consumidores de energia do país. A escolha do local envolveu uma série de condicionantes, ligadas às características do sistema de geração nuclear, tais como abundância de água de refrigeração e facilidade de transporte e montagem de equipamentos pesados, sendo precedida de inúmeros estudos desenvolvidos com o apoio de empresas de consultoria internacionais, com ampla experiência em seleção de sítios para a construção de usinas nucleares. A proximidade dos grandes centros de consumo evita a construção de dispendiosos sistemas de linhas de transmissão e a conseqüente elevação do custo da energia produzida.

Central Nuclear de Angra recebeu o nome de Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto em homenagem a este pioneiro pesquisador do campo da tecnologia nuclear no Brasil. Álvaro Alberto da Motta e Silva (1889–1976) impôs-se como o principal articulador de uma política nacional de energia nuclear, sendo um dos incentivadores da criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear, em 1956. Foi também liderança incansável na criação do Conselho Nacional de Pesquisas, cuja presidência exerceu de 1951 até 1955. Membro de sociedades científicas nacionais e internacionais, presidiu a Academia Brasileira de Ciências de 1935 a 1937.

Usina Nuclear

A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto é constituída pelas Usinas Angra 1, Angra 2 e Angra 3 e suas instalações de apoio, dentre as quais destacam-se o Laboratório de Monitoração Ambiental, um Simulador para o treinamento dos operadores de Angra 2 e também de outras instituições nacionais e estrangeiras e um Centro de Informações.

Segurança acima de tudo

Procedimentos rigorosos de acompanhamento, verificação e controle, consolidados através de um Programa de Garantia da Qualidade, abrangendo o projeto básico, as diversas etapas de fabricação dos componentes, a construção civil e a montagem e a realização de testes funcionais de desempenho de equipamentos e sistemas, bem como, de testes periódicos de rotina, fazem parte das medidas adotadas para impedir a ocorrência de acidentes com liberação de radioatividade.

ANGRA 1

Em 1968, o Governo Brasileiro decidiu ingressar no campo da produção da energia nucleoelétrica, com o objetivo primordial de propiciar ao setor elétrico a oportunidade de conhecer esta moderna tecnologia e adquirir experiência para fazer frente às possíveis necessidades futuras. Como àquela época já estava prevista uma complementação termelétrica na área do Rio de Janeiro, foi decidido que este aumento se fizesse mediante a construção de uma usina nuclear de cerca de 600MW. Esta incumbência foi, então, confiada pela ELETROBRÁS à FURNAS Centrais Elétricas S.A., que realizou uma concorrência internacional, vencida pela empresa norte-americana Westinghouse.

A construção de Angra 1 foi iniciada em 1972 , a primeira reação em cadeia foi estabelecida em 1982 e a usina entrou em operação comercial em 1985. Desde então já gerou mais de 40 milhões de MWh, energia equivalente ao consumo aproximado de 20 milhões de habitantes ao longo de um ano, ou de um milhão de habitantes ao longo dos seus 20 anos de operação. Após a solução de alguns problemas surgidos nos primeiros anos de sua operação, Angra 1 apresenta um excelente desempenho, tendo operado em 2001 com um fator de disponibilidade de 83%. Isto a coloca dentro dos padrões mundiais de desempenho, de acordo com os critérios da WANO e do INPO.

Angra 1, com 657 MW de potência, é constituída pelos edifícios do Reator, de Segurança, do Combustível, do Turbogerador, Auxiliares Norte e Sul e da Administração.

Usina Nuclear

Edifício do Reator: o principal deles, pelas características especiais de sua construção, pois é em seu interior que ocorre a fissão nuclear. Repousando diretamente sobre a rocha, é de forma cilíndrica e tem 58 m de altura e 36 m de diâmetro. Sua estrutura de concreto tem 75 cm de espessura. Em seu interior há um envoltório de contenção em aço, de 30 mm de espessura. Internamente ao envoltório estão localizados os componentes principais do sistema nuclear gerador de vapor, tais como o vaso de pressão do reator dentro do qual está o núcleo do reator, geradores de vapor, e pressurizador.

Edifício de Segurança: nele, localiza-se a maioria dos componentes dos sistemas destinados a garantir a segurança da usina, como o de Injeção de Segurança e o de Remoção de Calor Residual.

Edifício do Combustível: onde estão as áreas de armazenagem dos elementos combustíveis novos e usados, bem como os equipamentos que possibilitam a sua movimentação na operação de recarga do reator nuclear, recebimento do combustível novo e remessa do combustível usado.

Edifício do Turbogerador: abriga o grupo Turbogerador , seus acessórios, os condensadores e a maioria dos componentes dos sistemas auxiliares convencionais.

A potência elétrica instalada em Angra 1 está concentrada em um único turbogerador.

Edifícios Auxiliares Sul e Norte: neles está a maioria dos componentes auxiliares do Sistema Nuclear de Geração de Vapor. Também se localizam os painéis auxiliares de controle, a Sala de Controle de Angra 1, a maioria dos sistemas de ventilação, o ar condicionado e o grupo gerador diesel de emergência.

Próximo ao Edifício Auxiliar Sul, localiza-se o Edifício da Administração, onde são realizados serviços de apoio à operação da usina.

Angra 1 possui ainda uma estrutura independente que abriga o circuito de captação e de descarga de água do mar. Esta água é utilizada para refrigeração do condensador de vapor.

ANGRA 2

Em junho de 1975, o Governo Brasileiro assinou com a República Federal da Alemanha o Acordo sobre Cooperação para Uso Pacífico da Energia Nuclear.

Dentro do âmbito deste acordo, em julho de 1975 foi concretizada a aquisição das usinas Angra 2 e 3 à empresa alemã Kraftwerk Union A.G. – KWU, subsidiária da SIEMENS.

As obras civis de Angra 2 foram contratadas à Construtora Norberto Odebrecht e iniciadas em 1976. Entretanto, a partir de 1983, o empreendimento teve o seu ritmo progressivamente desacelerado devido à redução dos recursos financeiros disponíveis.

Em 1991, o Governo decidiu retomar as obras de Angra 2 e a composição dos recursos financeiros necessários à conclusão do empreendimento foi definida ao final de 1994, sendo então realizada em 1995 a concorrência para a contratação da montagem eletromecânica da usina. As empresas vencedoras associaram-se formando o consórcio UNAMON, o qual iniciou as suas atividades no canteiro em janeiro de 1996.

A primeira reação em cadeia ocorreu em 14 de julho de 2000. A “trial operation” (fase de teste em que a usina opera continuamente a 100%) foi concluída em 21 de dezembro de 2000. Durante o período de comissionamento e de testes (até 31 de dezembro de 2000), Angra 2 produziu 2.622,65 GWh.

Angra 2 foi projetada com uma potência de 1309 MW mas, graças à adoção de melhorias tecnológicas e ao excelente desempenho de seus sistemas e operadores, seu valor nominal foi revisto, passando para 1350MW disponíveis para operação em regime contínuo, valor este homologado pela ANEEL e incorporado aos processos de planejamento e programação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Em 2001, durante seu primeiro ano completo de operação, Angra 2 apresentou um excepcional desempenho, alcançando um fator de disponibilidade de 94% e gerando 10,5 milhões MWh, o que a colocou em 16º lugar no ranking mundial das usinas nucleares com maior volume de geração de energia.

Em março de 2002, foi realizada a primeira troca de combustível de Angra 2. Durante a parada, foram substituídos 60 elementos e o desligamento do reator foi aproveitado para a execução de diversos testes periódicos nas áreas mecânica, elétrica, e de instrumentação. Foi realizada também a revisão de diversas válvulas e de outros equipamentos, a inspeção das bombas de refrigeração do reator e implementadas algumas modificações de projeto.

Em sua primeira parada, Angra 2 bateu um recorde pois todas as ações planejadas foram executadas em 28 dias – menos do que o prazo previsto, o que permitiu à usina atingir as suas metas de desempenho pré-estabelecidas, ultrapassando inclusive a média mundial da WANO para o fator de disponibilidade.

ANGRA 3

Usina Nuclear

A usina Angra 3, com 1309 MW, foi contratada em 1976, juntamente com Angra 2, visando uma redução de custos, devido a terem o mesmo projeto. Por serem usinas similares, a potência de Angra 3 também deverá ser elevada para 1350 MW, a exemplo do que ocorreu com Angra 2.

Em 1984, deu-se início à mobilização do canteiro de obras, no mesmo sítio de Angra 1 e Angra 2. Foram executados os serviços de cortes de rocha e de abertura de cavas para os blocos de fundação, porém, as obras foram paralisadas por falta de recursos, em 1986. Grande parte do suprimento de equipamentos importados, entretanto, já está concluída. Os equipamentos estão armazenados no local e a Eletronuclear mantém um sistema de preservação e inspeções técnicas que garantem as perfeitas condições de sua utilização.

Em agosto de 2001, a Eletronuclear submeteu ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), proposta de retomada do empreendimento, cujo progresso atual é de 30 %. Em dezembro, a Eletronuclear foi autorizada pelo CNPE a seguir com as ações relativas ao empreendimento levando em conta a Moção 31 do CONAMA, de novembro de 2001, que recomenda a realização dos procedimentos relativos ao processo de licenciamento ambiental de Angra 3.

Em agosto de 2002, a Eletronuclear fez a apresentação da situação do empreendimento ao CNPE propondo o equacionamento econômico, financeiro e orçamentário, bem como ambiental e solução para armazenamento de rejeitos radioativos.

Para atender ao Plano Decenal de Expansão do Sistema Elétrico 2002-2011, o CNPE, através da resolução n° 8, de 17 de setembro de 2002,estabeleceu as condições para a retomada do empreendimento, autorizando a Eletronuclear a adotar as medidas necessárias, tendo novembro de 2008 como data de referência para entrada em operação da usina. O andamento dessas medidas, bem como o atendimento às disposições da Moção CONAMA n° 31, de novembro de 2001 e demais questões referentes ao licenciamento ambiental, serão objeto de avaliação a ser realizada pelo CNPE em maio de 2003,com vistas à decisão sobre a continuidade do empreendimento

Como Surgiu ANGRA I

Em 10.10.1956, data de sua criação, a CNEN-Comissão Nacional de Energia Nuclear foi encarregada de “propor as medidas julgadas necessárias à orientação da política geral da energia atômica”, vinculada à Presidência da República e 4 anos depois passou para o âmbito do Ministério de Minas e Energia, quando este foi criado, tornando-se um órgão mais executivo. Em 27.08.1962, a Lei n° 4.118 definiu que “Política Nacional e Energia Nuclear” era assunto de Estado, o princípio foi consagrado mais uma vez na Constituição Brasileira de 1988. Noutros países, a energia nuclear é supervisionada pelo Estado e desenvolvida por instituições e empresas privadas .

Enquanto isto, os Institutos de Energia da USP e UFRJ desenvolviam seus estudos com reatores de pesquisa e o Instituto Militar de Engenharia já contava com um curso de engenharia nuclear, mais tarde servindo como pós-graduação (1969).

Em dezembro de 1959, a CNEN estudava a viabilidade da construção de uma usina na faixa litorânea entre as cidades de Angra dos Reis e Paraty, criando a Superintendência do Projeto Mambucaba. Seria uma usina-piloto de 150 a 200 MW para treinamento de técnicos. Em 1963 estes planos foram esquecidos por falta de força política da CNEN, e acabaram engavetados pela decisão momentânea dos militares de não usar a energia nuclear como fonte de energia elétrica e retomados 2 anos depois quando a CNEN criou o Grupo de Trabalho de Reatores de Potência e começou a trabalhar numa proposta de uma Central Nuclear Centro-Sul de 538 MWe, um reator moderado a água leve e a urânio enriquecido.

Somou-se a isto um consórcio de consultores do Brasil, Estados Unidos e Canadá que reexaminaram o assunto através do Consórcio CANAMBRA (CANAMBRA Engineering Consultant Limited) sobre alternativas de energia para o País. Mas, só em 1967 é que foi elaborado um plano de nuclearização para o país.

Em 12.04.1967, o presidente Costa e Silva, em Punta del Este-Uruguay anunciou o propósito de construir a primeira usina nuclear e neste sentido baixou o Decreto n° 60.890. Costa e Silva também recebeu uma comitiva alemã ( Alfred Böttcher, Hans Joos, Klaus Wagner) com a proposta de desenvolver no Brasil experiências que não seriam permitidas na Alemanha

Os americanos fizeram um levantamento de nossas potencialidades e entregaram ao Governo em 1968 o Projeto Lane (J.A. Lane), que constituiu-se no primeiro instrumento normativo brasileiro para aproveitamento nuclear.

Em 26.04.1968 um convênio entre a ELETROBRÁS, holding do setor de energia, e a CNEN, abriu caminho para a exploração nuclelétrica no Brasil e no início de 1969 foi tomada a decisão de construir tal unidade nuclear, que deveria ficar pronta em 1975. Em 31.01.1969 foi assinado contrato com a NUS Corporation para assessoramento na implantação de uma usina nuclear. Em 25.06.1969 a CNEN estabeleceu normas para escolha do local. A Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado da Guanabara reivindicou a instalação para si alegando que era o único estado sem fonte própria de energia hidrelétrica.

FURNAS Centrais Elétricas S.A.

John Cotrim, primeiro presidente de FURNAS, posicionou-se contra uma usina nuclear, em 1966. FURNAS, mais tarde, em 1970, seria a primeira subsidiária a ter em seu sistema de geração uma central nuclear de 500 MW, tornando-se responsável pela construção e operação da nova usina. Em abril de 1970 decidiu-se para a construção dessa instalação a Praia de Itaorna no distrito de Cunhambebe, município fluminense de Angra dos Reis, próximo dos grandes centros consumidores do país -Minas Gerais (350 km), São Paulo (220 km) e Rio de Janeiro (130 km). A Praia de Itaorna, um dia habitada por índios guaranis com conhecimento sísmico (o nome da praia significa “pedra podre”) era uma vila de pescadores e plantadores de banana. Também foram consideradas as áreas de Ponta Negra (Maricá), Muriqui (Mangaratiba), Prainha, Grumari (Rio de Janeiro) e Mambucaba (Angra dos Reis).

Os convites foram feitos em junho de 1970. Em 26.01.1971 foram abertas as propostas de 5 fabricantes:

Fabricante País Tipo de Reator ASEA-ATOM Suécia Água leve fervente THE NUCLEAR POWER GROUP Reino Unido Água leve fervente e moderado a água pesada COMBUSTION ENGINEERING EUA Água leve pressurizada WESTINGHOUSE EUA Água leve pressurizada GENERAL ELECTRIC EUA

Água leve fervente KRAFTWERK UNION (SIEMENS) Alemanha Água leve pressurizada KRAFTWERK UNION (AEG) Alemanha Água leve fervente 

A ASEA-ATOM e a COMBUSTION ENGINEERING declinaram do convite devido à limitações técnicas.

Angra I

Em janeiro de 1971, FURNAS recebeu as propostas dos pré-qualificados e em 18.05.1971 o relatório apontando o vencedor (Westinghouse) foi levado ao ministro Antônio Dias Leite-MME por uma comissão de FURNAS, CNEN e ELETROBRÁS. A compra seria financiada pelo EXIMBANK, contrato que foi assinado em 27.01.1972. O contrato “turnkey” híbrido, porque em parte da obra houve participação de componentes fornecidos pela indústria nacional, foi assinado em Brasília em 07.04.1972 -um contrato para construção e outro para fornecimento de elementos combustíveis, e as obras começaram em 01.10.1972. Este acordo encerrou a fase diplomática – em que foram criados os principais institutos de pesquisa e órgãos estatais para assuntos nucleares e iniciou a fase do desenvolvimento dependente.

Os EUA forneceram urânio enriquecido (numa quantidade que não ultrapassasse 2.300 kg em 30 anos) em troca de urânio natural brasileiro. O urânio era da África do Sul, hexafluoretado na Inglaterra e enriquecido nos EUA. Ficava a cargo da Comissão de Energia Atômica dos EUA o controle das instalações brasileiras para que estas não fizessem uso militar. Neste acordo também ficou acertado que o reator de potência a ser vendido para o Brasil seria um PWR (Reator de Água Pressurizada). Também o financiamento do projeto gerou muitas suspeitas, pois foi feito por um banco que logo em seguida foi comprado pelo então ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen.

“Em 1972, Angra era uma cidade ainda sem muitos recursos. FURNAS necessitou implantar uma estrutura enorme, algo semelhante ao que aconteceu em Volta Redonda, desde os anos 40, quando lá se construiu a Companhia Siderúrgica Nacional. Foram construídas vilas, hospedagens, hospital, supermercado, escolas etc. A cidade cresceu e a próprias vilas do Frade e a de Mambucaba começaram a oferecer algumas facilidades.” Em 24.05.1974 chegaram o vaso do reator e os geradores de vapor.

Em 1974 a CNEN concedeu a Licença de Construção para algo que já estava em andamento. As incongruências de etapas se explica no fato de que a legislação brasileira estava enfrentando um assunto totalmente novo e os passos além foram dados numa época em que a sociedade não tinha meios eficientes para questionar os tecnocratas e militares. Os EUA também passaram por problema similar. Com o passar dos anos foram fortalecidas estruturas que implicam hoje em atender vários itens, como a realização de um Estudo de Impacto Ambiental, autorização do IBAMA, ANEEL, FEEMA (no Estado do Rio de Janeiro), e por fim a CNEN.

Em 29.04.1975 chegaram as turbinas de alta e baixa pressão, o pressurizador do sistema primário, o gerador elétrico e o condensador. Em 27.10.1975 o presidente Geisel visitou as obras e em 20.12.1976 começou a montagem dos equipamentos pesados de Angra I. Em 23.11.1978 chegou o primeiro carregamento de combustível nuclear fornecido pela Westinghouse.

Foi fixada a data de 31.03.1977 para o término das obras, devendo começar a operar em fins de 1978. Angra I é do tempo que características de segurança não estavam no horizonte dos projetistas. Durante o longo tempo para conclusão das etapas que por fim a colocaram em operação muitos detalhes tiveram que ser revistos. Problemas financeiros também comprometeram o andamento das obras e algumas surpresas técnicas, como a necessidade de melhorar o estaqueamento dos prédios, além de uma falha de projeto nos geradores de vapor, os geradores de vapor são trocadores de calor verticais em usinas nucleares que transferem calor do circuito primário para o circuito secundário, sendo que os adquiridos para Angra I, fabricados com tubos de Liga 600, vêm apresentando corrosão sob tensão. Dessa forma, a Usina poderia ter, a longo prazo, uma gradativa redução de sua capacidade de geração, sem comprometimento da segurança. Das 128 usinas no mundo que possuem ou possuíam geradores de vapor fabricados com tubos do mesmo material (Liga 600), 69 já substituíram esses trocadores de calor e outras 20 estarão realizando essa substituição até 2007.

A Licença de Operação foi emitida em 20.09.1981 pela CNEN, quando também foi feito o primeiro carregamento do núcleo. O defeito dos geradores de vapor foi constatado no reator de Angra I, o que levou FURNAS a processar a Westinghouse. O assunto acabou numa Corte do Estado de Nova York a favor da ré. A Empresa recorreu ao Tribunal Internacional e teve o mérito reconhecido. A troca dos geradores está prevista para setembro de 2007.

Usina Nuclear de Angra I

A Usina Nuclear de Angra I, ao custo de US$ 308 milhões (no contrato), mas fala-se em US$ 9 bilhões, só deu sinal de vida em 1980, com o seu comissionamento. Os cientistas brasileiros jamais concordaram. O grau de nacionalização dessa unidade foi inferior a 10%. Queriam algo mais próximo de nossa realidade como um reator do tipo CANDU, um reator a base de urânio natural e água pesada, esta tecnologia é mais simples e o método é aberto. Com um combustível sem enriquecimento, o Brasil não ficaria refém dos EUA no seu fornecimento e teria transferência de tecnologia facilitada devido a ter características mais simples, que poderiam ser executadas pela indústria nacional. As obras terminaram somente em 1983. O Relatório Anual de Operação de Angra I (1982) informa que a unidade Westinghouse PWR de dois loops com potência térmica de 1.876 MW e 626 MW brutos de capacidade elétrica, entrou em sincronismo pela primeira vez com o sistema elétrico no dia 01.04.1982 às 15:26 e está em operação comercial desde 01.01.1985.

Naquele ano gerou 3.169.379,2 MW e o fator de capacidade alcançou a média de 57,8%. De 1982 até o fim de 1998, Angra I gerou 26.916 GWh de eletricidade. Se essa quantidade de eletricidade fosse substituída pela eletricidade gerada por usinas térmicas convencionais, um acréscimo de 13,1% ou 26,2 milhões de t de CO2 seria emitido para a atmosfera. Mas parece que este tipo de informação é atípica. Angra I teve uma coleção de deméritos. Veja a sala de controle, o salão do turbogerador e o centro de informações (imagens pertencentes a ELETRONUCLEAR S.A.). Em 04.01.1986 teve início a Parada 2, para o primeiro recarregamento de um terço do núcleo do reator, teste nos geradores de vapor, revisão do turbogerador e retubagem do condensador com tubos especiais de titânio (a usina que a Westinghouse vendeu era para ser resfriada com água doce e não com água do mar). Angra I poderá funcionar até 2023.

Parece que a usina conseguiu superar o seu instinto nato: em 2002 garantiu mais 16 MW. O programa de melhoria de performance prosseguirá e calcula-se mais 14 MW de ganho. Leite de pedra! A troca dos dois geradores de vapor para Angra I vai possibilitar a extensão da vida útil da usina nuclear em 30 anos além do previsto, portanto até 2050. O contrato para construção envolve investimentos de 44 milhões de euros (cerca de US$ 54 milhões), com prazo de 40 meses. A ELETRONUCLEAR conseguiu redução de ICMS de R$ 50 milhões com o governo do estado. Os parceiros neste contrato são a NUCLEP e a francesa FRAMATOME.

ANGRA 2

Já em 1986, durante o Governo José Sarney foi estabelecida uma Comissão de Alto Nível para a Avaliação do Programa Nuclear (Comissão Vargas), sendo uma de suas recomendações ” -9. Quanto aos aspectos institucionais… j. Criar uma subsidiária da ELETROBRÁS para tratar da construção e operação de centrais nucleares.” Isto tiraria de FURNAS a administração e operação da Central Nuclear Almte. Álvaro Alberto nalgum dia. Devido a intenção do Governo federal em privatizar suas empresas elétricas e energia nuclear ser uma área de monopólio da União (artigo 21 da Constituição Federal), foram necessários vários trâmites burocráticos e jurídicos para se conseguir a separação, abrindo o caminho para a venda de FURNAS e manutenção do monopólio da energia nuclear pela União.

Através de uma cisão empresarial ocorrida em 01.08.1997 surgiu a ELETRONUCLEAR (ELETROBRÁS Termonuclear S.A.), que vem a ser a consolidação da área nuclear de FURNAS (Diretoria de Produção Termonuclear) com a NUCLEN. A CNEN já estava com a Portaria pronta para transferir a Autorização para Operação Permanente.

Em junho de 1999, a Justiça Federal no Rio de Janeiro deu 45 dias, após a publicação da sentença (ocorrida no final de agosto de 1999), para a ELETRONUCLEAR retornar para FURNAS, reconhecendo que a cisão deveria ser resolvida no Congresso Nacional.

Normalmente o pessoal de operação de Angra I é levado para serem avaliados nos EUA (Ginna) ou Espanha (Tecnatom) em um simulador idêntico às características de controle da usina. Os operadores de Angra II contam desde 1985 com um simulador da unidade II na praia de Mambucaba, que tem gerado recursos próprios com a venda de serviços para operadores de usinas idênticas à Angra II da Alemanha, Suiça, Espanha e também Argentina.

Nos piores anos de Angra I, dizia-se que o simulador para aquela unidade estava situado na própria sala de controle de Angra I. Não se precisava ir lá fora para fazer testes de emergência e segurança, segundo a piada que se contava. Em setembro de 2001, a ELETRONUCLEAR resolveu contratar serviços para montar também um simulador para a unidade I.

Em 23.05.1997 o Governo já tinha preparado a minuta do decreto.

O Presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Velloso, suspendeu os efeitos desta sentença em 26 de outubro, permanecendo as empresas como definido na cisão das atividades e evitando maior estrago.

Em 1999, terminada a montagem, com indice de 30% de nacionalização, começaram os testes de comissionamento da unidade II e o trabalho de convencimento da opinião pública. Quando um sistema era concluído, era avaliado e testado por técnicos estrangeiros e brasileiros, enquanto seus operadores estavam sendo avaliados pela CNEN.

Partida

Em 30.03.2000, a CNEN concedeu a Autorização de Operação Inicial, com isto a ELETRONUCLEAR iniciou o carregamento do núcleo com o combustível nuclear, passando para o status de instalação nuclear. Às 09:34 do dia 02.04.2000, após 3 dias, o reator de Angra II foi finalmente carregado com os 193 elementos combustíveis.

“Angra II atingirá a fase de criticalidade (momento em que o reator entra numa reação em cadeia) já em abril. A operação a plena carga está prevista para fim de maio ou início de junho.” A expectativa passou para o dia 15 de junho, com 30% de carga. Devido a defeito nos mancais de 3 bombas do Sistema de Resfriamento, Angra II teve mais um atraso e prejuízo na venda de energia contratada. Em 13.07.2000 às 23:50 a Comissão Nacional de Energia Nuclear liberou o início do processo de fissão nuclear, que se refere apenas à operação para atingir 30% da capacidade de geração da usina, ou seja, 390 MW. A usina entrou em criticalidade – processo em que se atinge uma reação nuclear em cadeia auto-sustentada – em 14.07.2000. As etapas seguintes, com o aumento da geração da usina, teriam que receber novos licenciamentos da CNEN.

Às 22:16 do dia 21.07. 2000, Angra II foi sincronizada, pela primeira vez, na rede elétrica. Começou com potência de 150 MW, atingindo 270 MW. O reator havia entrado em criticalidade às 23:50 do dia 14.07.2000. Angra II encontrava-se em testes e durante essa fase dependia de mais duas autorizações da CNEN, até atingir 100% de sua capacidade. Desde 18 de agosto de 2000 Angra II tinha autorização da CNEN para realizar os testes até a potência de 80%. Em 28.08.2000 atingiu 80% de carga.

Em 26.09.2000 a CNEN autorizou a subida de carga para 100%. Às 14:30 de 28 de setembro com 98% da capacidade, seu gerador produzia 1.350 MW, potência acima da esperada (1.309 MW). O teste de aumento de potência, que aconteceu em setembro de 2002 demonstrou que Angra II pode atingir uma potência de 1.436 MWe. A central é uma das tábuas de salvação com que o país conta para enfrentar a demanda de energia elétrica no momento em que o governo diz temer o “blackout”. Em 17.10.2001 atingiu 1.374 MW.

Até fins de dezembro de 2000 a unidade esteve em pré-operação (try-operation) e já apresentou algumas falhas operacionais, implicando na sua retirada do sistema. Mas com Angra II aumentaram as preocupações quanto ao Plano de Emergência e a destinação dos rejeitos radioativos.

Angra II foi sincronizada no sistema elétrico às 9h 06 min do dia 21 de janeiro de 2001, adiantando-se ao cronograma previsto para o dia 23, para a instalação de um novo transformador, danificado em outubro de 2000. Num horizonte de escassez energética, a contribuição de Angra II foi significativa e deu força à construção da unidade III. Angra II poderá funcionar até 2040, podendo ser estendida até 2060. Construída com tecnologia alemã, Angra II custou cerca de R$ 12 bilhões. Pelos cálculos de especialistas do setor vale R$ 2,5 bilhões. Concorreu como a unidade termonuclear com a mais alta performance mundial no ano de 2001

ANGRA 3

Angra III ainda é um buraco escavado na rocha a 200 m de Angra II, mas 43% de seus equipamentos já foram comprados e estão guardados em 24 galpões na Central Nuclear e em Itaguaí, na NUCLEP. São cerca de 10 mil t de equipamentos comprados da Alemanha, que chegaram ao Brasil a partir de 1986.

O atraso do projeto impôs uma série de desafios aos construtores de Angra II. Depois de 23 anos de paredes pichadas por trabalhadores, uma Comissão Parlamentar de Inquérito e um interminável confronto entre os a favor e os contra, ficamos conhecidos na comunidade nuclear internacional como exímios armazenadores de US$ 750 milhões (equipamentos e início das obras civis). Tanto que Cuba solicitou ajuda para cuidar do que sobrou de sua Central Nuclear de Juragua em Cienfuegos, interrompida pelo esfacelamento do parceiro, a União Soviética.

A solução encontrada foi criar uma embalagem especial, que evitasse a entrada de ar e protegesse os equipamentos da corrosão. Cada equipamento foi embalado em uma capa de alumínio hermeticamente fechada por costura eletrônica. Dentro da embalagem, foram colocados absorventes de umidade. Cerca de 50 operários a cada dois anos, os pacotes são abertos e os equipamentos examinados e de novo, embalados. A manutenção das peças já levou mais cerca de R$ 900 milhões em 18 anos, ou R$ 50 milhões por ano.

Infelizmente, o estator (carcaça do gerador onde ficam as bobinas) de Angra II ficou comprometido durante o passar dos anos e utilizou-se na montagem o estator reservado à Angra III. Para Angra III, só há o rotor do gerador.

Também foi necessário proteger o material empregado na concretagem da usina. Foi preciso preservar toda a ferragem que não iria ser concretada a curto prazo, para evitar que se enferrujasse.

Entraves Diplomáticos e Financeiros

Contratou-se os serviços de consultoria da empresa espanhola Iberdrola em julho de 1998, com objetivo de realizar uma auditoria sobre as obras da usina nuclear de Angra III, que já consumiram US$ 1,4 bilhão. O Governo reavaliará aqueles cálculos feitos antes da desvalorização cambial de 1999 e segundo o resultado obtido na visita do presidente da República à Alemanha em outubro de 2000 se decidirá pelo futuro da nova unidade. Com o fechamento das usinas alemãs num prazo de 20 anos, a Bundesregierung alemã não incentiva novos projetos e com isto, a curto prazo, o suporte financeiro está comprometido e o Governo brasileiro com um abacaxi na mão.

Apesar da resistência do Partido Verde alemão, o Acordo Nuclear Brasil – Alemanha foi renovado (2000) pelos dois países. Ele é confirmado a cada 5 anos e seu texto diz ser necessário que uma das partes o rompa com pelo menos 12 meses de antecedência, o que não foi feito. Segundo o documento assinado pelos governantes brasileiro e alemão, o acordo “prorrogar-se-á tacitamente” se não for denunciado por uma das partes no prazo estipulado.

Com a quebra do contrato, caberá uma compensação indenizatória pelos equipamentos comprados há mais de 20 anos; algo que será levado avante se os alemães oficializarem a posição do seu Partido Verde.

Por sua vez, a empresa Siemens começou a alinhavar sua fusão com a francesa FRAMATOME e do outro lado da fronteira, não haveria problema ético em ajudar o Brasil. A empresa comprou em 2000 a KWU, em nota oficial, informou estar pronta a retomar o projeto de Angra III, agora que se tornou responsável pelo cumprimento dos acordos de cooperação nuclear entre o Brasil e a Alemanha, com vigência até 2005.

Pela análise realizada pela EdF, pelo Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CEPEL) e pela Iberdrola, a usina de Angra III teria uma vida útil de 40 anos e o empreendimento seria pago em 10 anos. Se o governo autorizar, Angra III poderá ser construída em cinco anos e meio.

Em julho de 1999 foi publicado na imprensa que a unidade III é viável ao custo de mais US$ 1,7 bilhão, e poderá ficar pronta em 2006, se o presidente da República der autorização com base nos estudos. (Entrevista com diretor da ELETRONUCLEAR, entrevista com o ministro de Minas e Energia)

A construção de Angra III foi muito mais avaliada pela iniciativa privada do que pelo Governo federal. O Crédit Agricole francês, associado à EdF, empresa controladora da Light fluminense esteve interessado em estabelecer uma cadeia de geração, futuramente transmissão, e distribuição bastante vantajosa para a Light, o que asseguraria a conclusão da usina em tempo hábil.

A EdF, Siemens, Westinghouse e GE estariam interessadas na instalação também de uma unidade no Estado de Minas Gerais, motivados pela escassez de encomendas no setor e compensação dadas por lei no Brasil à opção nuclear. A operação de usinas nucleares é prerrogativa do Estado, mas a lei é omissa quanto à participação societária de empresas privadas.

Caso se opte por não construir e montar Angra III, a venda de seus equipamentos no mercado atingiria somente US$ 60 milhões.

Num seminário na FIRJAN em janeiro de 2001, o presidente da ELETROBRÁS/ELETRONUCLEAR (Firmino Sampaio) informou que o estudo de avaliação será passado para a área econômica do governo e submetido ao Congresso Nacional para debate. Cada consumidor de eletricidade das regiões Sul e Sudeste do País tem contribuído com 0,3% do valor de suas contas mensais de luz desde julho de 2003 para cobrir o déficit da ELETRONUCLEAR, só para manter as usinas, são torrados cerca de R$ 1 milhão por dia dos cofres públicos.

Construção sob Pressão

Sua construção ganhou novo impulso com a perspectiva de racionalização, racionamento, falta de energia e crise, embora este problema venha sendo anunciado desde 1996, somente em 2001 é que se consideram seriamente medidas concretas para evitar o pior. Neste cenário, o caminho poderá ser encurtado e receber uma canetada do Palácio do Planalto determinando a retomada da obra. Mas, o passo em direção à construção será percebido pelo sistema elétrico em pelo menos 6 anos.

As áreas econômica e ambiental do Governo parecem não ter simpatia pelo projeto, o que será uma grande tarefa para o Ministério de Minas e Energia. A PETROBRAS que tem interesse que o consumo de gás natural aumente faz o lobby da não-construção. A decisão pode ser encaminhada a favor após uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética.

Para isto há o apoio formal do Governo do Rio de Janeiro e de políticos do Congresso Nacional, para não falar dos interessados-beneficiados (construtoras, fornecedoras, a ELETRONUCLEAR, CNEN, ABEN, ABDAN, etc.) Para isto seria criada uma Sociedade de Propósito Específico com a ELETROBRÁS detendo 51% e acionistas privados, onde se incluem os interessados-beneficiados -privados e internacionais.

A usina de Angra III irá agregar uma potência firme de 1.300 MW ao sistema interligado da região Sul/Sudeste/Centro-Oeste, atendendo a demanda crescente desta região. Mesmo que todas as hidrelétricas planejadas sejam feitas, o país terá um déficit de energia de 2.500 MW em 2010, e seria necessário construir várias termelétricas. A usina de Angra III também representará importante contribuição para diminuir a dependência de energia elétrica do Estado do Rio de Janeiro, que importava 70% de sua demanda até o final de 2001.

A usina de Angra III, também viabilizará a auto-sustentabilidade econômica do ciclo do combustível nuclear pela garantia de escala de demanda do mesmo, tornando viável a ampliação da FEC–Fábrica de Elementos Combustíveis, localizada na cidade de Resende, com a entrada em operação da fase de enriquecimento do urânio.

O ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, disse, em discurso em Viena (Áustria), durante a 48ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que a matriz energética brasileira precisa ser diversificada:

— A energia de fonte nuclear tem papel assegurado, sendo concretas as possibilidades de ampliação de sua participação na matriz energética do país.

Marinha e Angra III

A Marinha irradiou pressão para todos os lados dentro do governo, na tentativa de evitar a entrada de capital privado no negócio. Do outro, os bancos alemães Dresdner Kleinwort Benson e o KFW, virtuais conselheiros financeiros do projeto, favoráveis à abertura da construção de Angra III para grupos internacionais. Aliás, não só favoráveis, como intermediários. Os dois bancos gostariam muito de ver a URENCO, grupo de capital alemão, holandês e inglês, fornecendo urânio para a nova usina.

E há ainda outros candidatos. A Iberdrola, as americanas Westinghouse e Duke Energy e a sueca Asea Brown Boveri já teriam remetido à ELETRONUCLEAR seu interesse no negócio. Estas empresas participariam da construção de Angra III e, em troca, receberiam a energia gerada. O mais provável é que a ELETRONUCLEAR aceite o modelo proposto pelos bancos alemães e abra espaço para empresas internacionais na usina.

A venda de combustível para as centrais argentinas também são consideradas para o fechamento de contas para a construção. Devido a crise financeira do país vizinho, o Governo proporá venda de combustível também à Coréia, como forma de se proteger de um possível “forfait” portenho.

A Marinha gostaria de ver a presença do capital privado em Angra III afundar, porque vem desenvolvendo pesquisas para utilizar a tecnologia da ultracentrifugação em escala industrial e tem interesse em processar urânio para a nova usina. Porém, dificilmente vencerá esta batalha. Primeiro, porque não tem poder de decisão sobre a questão, de responsabilidade do Ministério de Minas e Energia. Segundo, não dispõe de tecnologia em grande escala para competir com grupos internacionais.

E, como se não bastassem estes dois motivos, há mais um, praticamente decisivo: a Marinha não ajudaria no financiamento do projeto. Como a ELETRONUCLEAR não pretende tirar um tostão do bolso, deve acabar apelando para a iniciativa privada. Tanto é que a montagem financeira da operação, que estaria recebendo os primeiros esboços por parte do Dresdner Kleinwort Benson e do KFW, já contemplaria a presença de grupos internacionais no consórcio que construiria Angra III, possivelmente liderado pela Andrade Gutierrez.

Não é só a operação de Angra III que está em jogo neste momento. Quem conseguir colocar os pés na usina conquistará uma posição privilegiada para o momento em que o governo privatizar o sistema de geração nuclear.

O processo ocorreria tão logo fossem vendidas todas as geradoras e transmissoras da ELETROBRÁS (FURNAS, CHESF, ELETRONORTE). O consórcio que construir Angra III e controlar parte da venda da energia teria vantagens comparativas na disputa pelo controle desta e das outras duas usinas por já conhecer todos os dados operacionais e financeiros do negócio.

Resumo da Ópera

O Conselho Nacional de Política Energética não aprovou a retomada do projeto na reunião de 31.07.2001. Houve resistências por parte de membros do Conselho (presidente da Agência Nacional de Petróleo e o ministro de Meio-Ambiente), além de que o orçamento não tem verba prevista para a obra no ano de 2001 (aparece apenas uma rubrica de R$ 10 milhões), diplomaticamente pediram mais um estudo (o que levará 6 a 12 meses) e empurraram o assunto com a barriga.

Em 26.09.2001 a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados realizou audiência pública para implantação da unidade III num péssimo momento quando a revista Época denunciou que houve em 28.05.2001 um acidente envolvendo o vazamento de 22.000 l de água do circuito primário e que não foi informado à sociedade, à ELETROBRÁS, Ministério de Minas e Energia, Ministério do Meio Ambiente e prefeituras de Angra dos Reis e Paraty. O debate em torno da falta de transparência e promiscuidade dos tratos entre a ELETRONUCLEAR e a CNEN comprometem mais uma vez a aceitação de uma terceira unidade. O novo diretor-presidente, Flávio Decat, fez profissão de dar transparência e não deixar que um fato coloque desconfiança sobre o setor.

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou em 05.12.2001 a realização de estudos para a continuação das obras de Angra III. Não haverá prazo para a conclusão desse levantamento. A proposta que foi apresentada pelo Ministério de Minas e Energia previa o prazo de um ano para a conclusão dos estudos, o que não foi aceito pelo CNPE.

Outra decisão do CNPE foi desaconselhar a implantação de novas usinas nucleares no País. De acordo com a resolução, a implantação de novas usinas nucleares para integrar o sistema elétrico nacional após a construção de Angra III deve ser “postergada e condicionada à realização de uma ampla avaliação quanto ao uso futuro da tecnologia nuclear para a geração de eletricidade no País”.

Este estudo seria feito por um grupo de representantes de universidades e institutos de pesquisa, entidades empresariais e representantes dos ministérios de Minas e Energia, Meio Ambiente e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, sob a coordenação do Ministério de Ciência e Tecnologia.

Segundo o ministro de Minas e Energia, José Jorge, as obras de Angra III só serão retomadas caso os estudos concluam que ela é técnica e economicamente viável em termos de prazos, custos e atendimento aos requisitos ambientais. A resolução do CNPE determinou que seja feito estudo de revisão orçamentária, através de avaliações que serão acompanhados por uma equipe de especialistas da FUSP – Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo; elaboração do EIA/RIMA e obtenção da Licença de Instalação junto ao IBAMA; preparação do Relatório Preliminar de Análise de Segurança (PSAR) e obtenção da Licença de Construção junto à CNEN; equacionamento do modelo financeiro; renegociação dos contratos; manutenção das fundações. Este estudo deverá ser aprovado pelos Ministérios da Fazenda, Planejamento e Minas e Energia.

O estudo de impacto ambiental deverá passar pela aprovação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.

A decisão tomada pelo CNPE também determina que seja encontrada uma solução para a armazenagem de longo prazo dos rejeitos radioativos de média e baixa atividades. Por fim, o projeto será decidido por outro governo, permanecendo uma incógnita mesmo após a realização de cinco estudos de viabilidade.

Com a visita do chanceler alemão Gerhard Schroeder (13-14.02.2002) a Siemens, que participou desta comitiva, tem interesse em fazer lobby na continuidade do projeto de Angra III, paralisado por divergências na coalizão que governa a Alemanha (com participação do Partido Verde).

Em 2003 ascendeu o PT ao Governo federal e subiram também os críticos do passado, como o prof. Pinguelli Rosa, responsável pelo conteúdo programático e levado à presidência da ELETROBRÁS. Com tantos contratos assinados envolvendo empresas e governos o mais simples a decidir é pagar a conta da megalomania e encerrar o caso com mais 1.300 MW. Se a Central Nuclear de Angra for concluída com as 3 unidades terão sido gastos 14 bilhões de dólares, o mesmo que Itaipu, apenas com 1/3 daquela energia.

O físico Luiz Pinguelli diz que um grave problema é a receita da ELETRONUCLEAR. A empresa espera reajuste em suas tarifas. Enquanto isso, deve ter prejuízo de R$ 400 milhões em 2004.

— Como construir Angra III, se a ELETRONUCLEAR não tem recursos para pagar as outras duas? — pergunta Pinguelli, ressaltando que a participação de recursos privados é fundamental para a obra.

A obra geraria cerca de 5 mil empregos diretos e 15 mil indiretos. Edson Kuramoto, diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) — que faz parte do Fórum Pró-Angra III, um grupo que reúne da Federação das Indústrias do Estado do Rio (FIRJAN) ao governo do estado e o Clube de Engenharia — acrescenta que já há no local subestação e linhas de transmissão.

O deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ), que é contra a construção de Angra III, diz que 70% dos equipamentos armazenados podem ser aproveitados em termelétricas movidas a gás, dado contestado por outros especialistas.

Minc alerta que não há um plano de escoamento na região. O deputado lembra que em 18 anos houve 34 pequenos e médios acidentes e incidentes em Angra I, como vazamento de água e defeito no gerador de vapor.

Em setembro de 2004 o jornal O Globo publicou que está praticamente acertada pelo governo a retomada da construção da usina nuclear Angra III. A avaliação é de um integrante do grupo interministerial que analisa a viabilidade da usina, orçada em R$ 7,5 bilhões. O grupo deve concluir os estudos até dezembro de 2004.

O financiamento terá que ser majoritariamente externo e já há instituições financeiras da França interessadas. O BNDES também deve participar, como avalista da ELETROBRÁS, responsável pelas obras. A decisão deve ser tomada no máximo no início de 2005. A usina ficaria pronta de cinco anos e meio a seis anos depois.

O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, disse que a decisão será do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e o problema é o custo da energia a ser produzida, devido ao valor salgado da obra.

Em 21.10.2004 foi publicado que o Brasil prepara a reforma de seu programa nuclear com a adição de mais quatro usinas, além de Angra III, duas para 2010 e outras em 2016. Seriam unidades de 300 MW com custo de US$ 2,8 bilhões a serem construídas em Manaus e na região Nordeste com tecnologia nacional, com o fim de abastecimento de energia e filtragem de água salobra. Também está previsto a construção de unidades de 40 MW a 60 MW. Aumento da produção de rádio-fármacos e irradiação de alimentos para exportação. É fissão ou ficção nuclear? A TV Globo apresentou em seu telejornal de fim de noite a série de reportagens “Desafio Nuclear”.

Usinas Nucleares do Mundo

País

Nº. de
unidades em
operação

Capacidade
geração MW

Nº. de
unidades em
construção

Capacidade
geração MW

África do Sul 2 1800    
Alemanha 19 21122    
Argentina 2 935 1 692
Armenia 1 376    
Bélgica 7 5712    
Brasil 2 1855    
Bulgária 6 3538    
Canadá 14 9998    
China 3 2167 8 6420
China (Taiwan) 6 4884 2 2560
Coréia 16 12990 4 3820
Eslovênia 1 676    
Espanha 9 7512    
Estados Unidos 104 97411    
Finlândia 4 2656    
França 59 63073    
Grã-Bretanha 35 12968    
Holanda 1 449    
Hungria 4 1755    
Índia 14 2503    
Irã     2 2111
Japão 53 43491 3 3190
Lituânia 2 2370    
México 2 1360    
Paquistão 2 425    
República Eslováca 6 2408 2 776
República Tcheca 5 2569 1 912
Romênia 1 650 1 650
Rússia 29 19843 3 2825
Suécia 11 9432    
Suíça 5 3192    
Ucrânia 13 11207 4 3800
Total 438 351327 31 27756

Fonte: www.energiatomica.hpg.ig.com.br/www.eletronuclear.gov.br/qaonline.iqsc.usp.br

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