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04 de Janeiro
A data foi criada em homenagem ao nascimento do médico brasileiro Manoel Dias de Abreu, que descobriu um método de diagnosticar precocemente a tuberculose. Ele se formou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e mudou-se com a família para a França a fim de aperfeiçoar os estudos. Depois de especializar-se em radiologia, Manoel de Abreu voltou para o Brasil.
Em 1936, trabalhando no Rio de Janeiro, pesquisou maneiras de rastrear a tuberculose no organismo e a descoberta acabou sendo batizada com seu nome. Em 1958, a exemplo do presidente da República Juscelino Kubitschek, o prefeito de São Paulo, Ademar de Barros, instituiu o Dia da Abreugrafia em 4 de janeiro.
O que é
Abreugrafia é o nome dado ao dispositivo que possibilitou fazer o diagnóstico da Tuberculose.
História
Manoel Dias de Abreu foi o inventor da abreugrafia que revolucionou o diagnóstico e tratamento da tuberculose, através de um método de diagnóstico coletivo e o primeiro no mundo a falar sobre Densitometria Pulmonar.
O papel social da ciência era algo claro para Abreu: “No valor da ciência, está o valor da vida; fora da vida, a ciência não tem a menor finalidade”. Abreu escreveu poesias e trabalhos em filosofia, além de inovar em outras áreas fora da medicina, como em hidráulica.
Em Manuel de Abreu, observa Barros Vidal, lampejava “esse gênio de múltiplas formas, que fazia a grandez do sábio, alimentava a inspiração do poeta e dava originalidade e profundeza ao filósofo”.
Não raro se encontra o poeta e o cientista como no momento em que descreve a emoção que experimentou ao contemplar os primeiros resultados daquilo que perseguia com tenacidade por anos: “no fime revelado estavam as primeiras fluorografias; olhei-as longamente; eram flores para mim, eram pássaros, cantavam um canto matinal que me extasiava”.
Manoel de Abreu foi o terceiro filho do casal Júlio Antunes de Abreu, português da província do Minho, e Mercedes da Rocha Dias, natural de Sorocaba. Nasceu em São Paulo a 4 de janeiro de 1892. Diplomou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1913 e defendeu tese de doutoramento intitulada “Natureza Pobre”, relativa à influência do clima tropical sobre a civilização, em julho de 1914.
Nesse mesmo ano, deixa o Brasil acompanhado de seus pais, seu irmão Júlio Antunes de Abreu Júnior e sua irmã Mercedes Dias de Abreu, com destino à Europa, a fim de aperfeiçoar-se nos hospitais de Paris.
A primeira Grande Guerra obriga-os a desembarcar e permanecer em Lisboa até o início do ano de 1915 quando, enfim, a família Abreu chega à capital da França. Seu primeiro contato com a medicina francesa foi no “Nouvel Hôpital de la Pitié”, mais precisamente, no serviço do professor Gaston Lion.
Encarregado de fotografar peças cirúrgicas, Manoel de Abreu demonstra engenhosidade e constrói um dispositivo especial para obter fotografias da mucosa gástrica. Além do aparelho, Abreu tem a idéia de mergulhar as peças a serem fotografadas, na água, visando à uniformização da superfície faiscante.
Uma das primeiras radiografias feitas por Röntgen. Foi entre as paredes do Hôtel-Dieu, no ano de 1916, que o jovem brasileiro despertou para os encantos da emergente radiografia, especialidade criada por Roentgen em 1895, cerca de vinte anos antes.
Uma das mais espetaculares e influentes invenções, o aparelho de radiografia, inventado pelo físico alemão Wilhelm Röntgen, em 1895, revolucionou a medicina ao permitir que os médicos obtivessem imagens não invasivas do corpo dos pacientes, ou seja, sem precisar abri-los. Milhares de diagnósticos se tornaram possíveis, desde fraturas até tumores, úlceras e distúrbios das veias e artérias.
Mas até os tempos de Abreu, os médicos não utilizavam radiografias com fins de diagnósticos, confiando apenas no método de percussão e auscultação, com uso de estetoscópio. Radiografias chegavam a ser utilizadas com fins de diversão. A primeira radiografia foi realizada no Brasil em 1896. A primazia é disputada por vários pesquisadores: Silva Ramos, em São Paulo; Francisco Pereira Neves, no Rio de Janeiro; Alfredo Brito, na Bahia e físicos do Pará.
Como a história não relata dia e mês, conclui-se que as diferenças cronológicas sejam muito pequenas. Em 1897 um rico comerciante de Recife, capital de Pernambuco, importou um aparelho para fazer, em suas festas, radioscopias das mãos das senhoras da Sociedade local.
No seu livro, o doutor Itazil dos Santos narra com rara felicidade o fascínio que causou em Manoel de Abreu, em 1916, o inesperado diagnóstico radiológico de tuberculose em doente cujo exame propedêutico clínico, realizado pelo chefe do Serviço, o professor Gilbert, nada havia revelado de anormal: “Feita a chapa, Abreu levou-a -ainda molhada e prêsa aos grampos com os quais deveria voltar à solução fixadora,- a seu mestre….Tomando a chapa nas mãos, Gilbert suspendeu-a em face da janela, para examiná-la por transparência…Não pôde esconder mais do que a sua surprêsa, o seu espanto, ante o quadro que se lhe deparava aos olhos, de uma tuberculose avançada, complicada de piopneumotórax….aquela contradição entre o achado clínico e o achado radiológico era resultante da transição que experimentavam os conhecimentos médicos na ocasião…a radiologia ensaiava seus primeiros passos…para êle, Abreu, aquela contradição chocante, entre a estetacústica e a radiologia, teve uma grande significação.” Esse acontecimento provavelmente contribuiu para que o jovem médico brasileiro se inclinasse definitivamente para a radiologia.
O professor Gilbert viria a aproximar Manoel de Abreu da promissora especialidade ao confiar-lhe a chefia do Laboratório Central de Radiologia do Hôtel-Dieu, ocupando o posto do Dr. Guilleminot, afastado para servir na Grande Guerra. Guilleminot relata a Abreu suas pesquisas em radiocinematografia indireta, assinalando que seu êxito definitivo dependeria de obter ecrans de maior fluorescência (as imagens não tinham muita definição), emulsões fotográficas mais sensíveis e objetivas de abertura maior.
Não pensava Abreu ainda na fluorografia, na fotografia do ecran como solução para o exame coletivo “Há certas criações do pensamento que somente se realizam numa encruzilhada. No caso da fluorografia em massa, a idéia nasceu do encontro da fotografia da imagem fluorescente e do diagnóstico das afecções toráxicas. Quando ambos atingiram a plenitude no meu pensamento, eu teria encontrado a chave do recenseamento em massa das populações”
O terceiro nosocômio que frequentou em Paris foi o Hospital Laennec , desta vez como assistente do professor Maingot. Lá, aperfeiçoou-se na radiologia pulmonar e desenvolveu a densimetria, isto é, a mensuração das diferentes densidades. O tom, a densidade, a tonalidade das sombras ou imagens, não haviam sido ainda devidamente valorizados. Não haviam sido ainda convenientemente pesados como elementos de apreciação das mesmas.
Coube a Abreu o mérito de salientar a importância da tonalidade da sombra pulmonar, como um elemento indispensável à própria caracterização da imagem radiológica. Ao invés de termos vagos, imprecisos, para exprimir as diferentes nuances de tonalidades das sombras, dever-se-ia fazer a mensuração delas e exprimi-las em graus.
Para tanto utiliza o cm3 de água como unidade densimétrica, como elemento de comparação, pela razão de que água apresenta uma opacidade quase idêntica à dos tecidos orgânicos. Faz então a mensuração da densidade por dois modos: servindo-se de um dispositivo contendo uma sequência de lâminas de prata correspondente, densimetricamente, a uma gradação de 1 a 30 cm3 de água.
Desse dispositivo, ajustado sobre o tórax, obtinham-se simultaneamente, ao fazer a radiografia do paciente, as imagens a ele correspondentes. Por comparação da tonalidade da sombra radiológica em questão com aquela projetada pela escala de lâminas de prata, fazia a sua densimetria.
O segundo modo consistia em compara a densidade da imagem com a opacidade de determinados reparos anatômicos (ósseos ou não) cujo valor densimétrico fora estimado previamente, em relação aos valores da escala de lâminas prata. Esse trabalho intitulado “Densimetria Pulmonar”, levou Abreu à Academia de Medicina de Paris.
A frequencia ao Hospital Laennec proporcionou a Abreu o convívio com personalidades de projeção na época, da medicina torácica e pulmonar, entre as quais Rist, Leon Bernard, Ameuille, Kuss. Ao pensar nas vantagens da sistematização dos quadros da radiologia pulmoar da tuberculose, Abreu, sobrepondo-se à sua época e à fase de evolução que atravessava a radiologia entrevê na fotografia (filme pequeno de 36 mm) da radioscopia do tórax (ecran, 30 x 40 cm) o meio exequível de realizar em massa o exame de tórax, em tempo mínimo e por baixo custo.
Foi também no hospital que leva o nome do inventor do estetoscópio que visualizou pela primeira vez na fotografia do “écran” fluorescente o meio de realizar exame do tórax em massa e por baixo custo com a finalidade de detectar precocemente a tuberculose pulmonar. Infelizmente, obstáculos técnicos o impediram de desenvolver a abreugrafia já em 1919: “a luminosidade muito fraca da fluorescência do ecran está longe de ser suficiente para impressionar os ceclulóides com sais de prata em tão mínima fração de segundo; tal é, pelo menos, o resultado de nossas experiências”.
Teria decidido aguardar o momento oportuno para retomar suas experiências, quando se entregou aos trabalhos de catalogação, de ordenação dos aspectos radiológicos, isto é, das imagens ou sombras pulmonares e pleurais; identificando as imagens segundo suas características emprestando-lhes o sentido clínico necessário.
Além da nomenclatura das imagens radiológicas pleuropulmonares, tentou a caracterização de alguns quadros na tuberculose pulmonar. O trabalho foi publicado como livro “Radiodiagnostic dans la tuberculose pleuro-pulmonaire”, publicado em 1921, prefaciado pelo Dr. Rist, que para fazê-lo exigiu em troca que se eliminasse alguns pontos “quanto à suposta superioridade da radiologia sobre a estetacústica”, que concordou em fazê-lo: “As novas ideias, se propagam pela sua própria fascinação, que é irresilível”.
Ao retornar ao Rio de Janeiro em 1922, encontra a cidade assolada por uma epidemia de tuberculose que o impressiona a ponto de declarar: “Havia óbitos, não havia doentes, os quais ocultavam seu diagnóstico na espessa massa da população; os poucos doentes que havia, procuravam o dispensário na fase final da doença, quando o tratamento, o isolamento e as várias medidas profiláticas já eram inúteis”.
Á este quadro soma-se as dificuldades em prosseguir suas pesquisas, como relata seu assistente Carlos Osborne: “A falta de recursos das instituições, a falta de visão política e social dos governantes para assuntos médicos e científicos…tudo era difícil”. Abreu traduzia para os íntimos a falta de afinidade entre ele e o meio médico, científico e social do Rio: “Tenho as vezes a impressão de que estou numa grande aldeia”
Graças a Braeuning e Redeker descobriu-se que a tuberculose, em sua fase inicial era assintomática, e que, consequentemente os doentes deveriam ser procurados no seio dos grupos aparentemente sadios. Só a Manuel de Abreu ocorreu a idéia, de profundo alcance social, de aplicação da foografia do ecran ao exame sistemático das coletividades, abreugrafia como hoje é denominada.
A preocupação de fotografar o ecran, propriamente remonta contudo á época do descobrimento dos raios X, conforme os trabalhos de Bleyer, seis meses após o descobrimento de Roentgen em 1895, através de um aparelho que denominou fotofluoroscópio, bem como nos trabalhos de radiocinematografia de Kohler em 1907.
Copbe contudo a Abreu, sem dúvida, o mérito de haver conseguido de maneira prática e definitiva, a fotografia do ecran fluorescente. Mas seu maior mérito é o de o de ter conseguido com a finalidade de dar solução ao problema do exame sistemático de diagnóstico precoce da tuberculose das coletividades.
Uma segunda tentativa de obter fotografia do “écran” tem lugar em 1924. Desafortunadamente, ainda não é desta vez que alcançará o sucesso. Apesar disso, prossegue na luta contra a tuberculose e, por sua influência, junto com o primeiro dispensário organizado no Rio, é instalado o primeiro Serviço de Radiologia destinado ao diagnóstico daquela doença.
A exequibilidade prática da fotografia do ecran estava sobretudo na dependência de um ecran capaz de emitir, pela sua maior energia actínica, luminosidade suficiente para impressionar a película fotográfica. Somente a partir de 1933 se conseguiram ecrans aperfeiçoados, de maior energia actínica, chamados fluorográficos.
Foram esses os ecrans de sulfureto de cádmio e zinco, que emitem fluorescência verde-amarelo para serem usados com película de 35mm. Esse tipo de ecran foi fabricado pela Casa Patterson com o nome de ecran tipo B.
À espera de aperfeiçoamentos tecnológicos, Abreu assume uma atitude ativa, e transforma esse período de 1924 a 1936 em um dos mais fecundos de sua vida de homem da ciência. Retoma seus estudos sobre a formação da imagem radiológica, que haviam começado em Paris com a densitometria pulmonar e que constituíram a radiogeometria: “Enquanto a geometria estuda os volumes e a sua projeção no espaço, não se preocupando com a absorção e a intensidade, a radiogeometria associa o elemento dimensional, hoje espacial, atravessado pelo feixe de radiações, ao elemento densidade ou absorção, pois os dois elementos determinam a nitidez do contraste.
É pois, uma associação físico-geométrica, onde a forma e a matéria se ligam indissoluvelmente”, explica Abreu. Em lugar de uma diferença de opacidade característica entre os órgãos do mediastino, explicando a visualização radiológica destes, Abreu propunha que a visualização dos contornos dos órgãos do mediastino se davam devido a um fator físico (relacionada as densidades do organismo) e de um fator puramente geométrico, representado pelas superfícies de contraste ou superfícies de oposição.
Quando Abreu iniciou seus estudos sobre o mecanismo de formação da imagem radiológica, era pensamento dominante que a visualização radiológica dos contornos do mediastino (espaço toráxico) se baseava apenas na densidade que este oferece aos raios X pelos órgãos que o constituem.
Coube a Manoel de Abreu, em 1924, demonstrar através da teoria da superfície de contraste pulmonar, que a visualização radiológica dos contornos mediastinais decorrem do contato anatômico destes com a transparência pulmonar e da extensão da superfície de contraste. Considerando Manoel de Abreu o mediastino como um corpo geométrico, cuja visualização radioológica depende fundamentalmente das condições referidas a pouco, criou a radiogeometria: “onde se combinavam o elemento físico, constituído pela irradiação e as várias densidades do organismo, ao elemento puramente geométrico, constituído pelas superfícies de oposição”. Suas teses são coligidas em 1926, no livro “Essai sur une nouvelle Radiologie Vasculaire”. Em 1928 decide voltar à Europa com a idéia de expor suas teses em congressos e palestras.
Em Paris compõem poesias para jovem Dulcie, que ficara no Brasil: “sentirei contigo a piedade desta sombra, a libertação da tua doçura, realizarei o meu verdadeiro destino, não possuir, não vencer, não odiar, apenas viver, humilde, feliz, desconhecido, no estreito limite que separa o teu corpo do meu”. Casa-se, na residência de seus pais, em São Paulo, com a senhora Dulcie Evers de Abreu no dia sete de setembro de 1929.
No Rio de Janeiro, assume, a pedido do médico e prefeito Pedro Ernesto, a chefia do Serviço de Radiologia do Hospital Jesus e, diante do imenso número de casos de tuberculose pulmonar que diagnostica nas crianças radiografadas, decide-se pela terceira tentativa de criar a fluorografia. Ao invés do antigo ecran de platino-cianureto de bário, contava-se agora com o ecran de tungstato de cálcio, capaz de emitir uma fluorescência muito maior e ecran de grãos mais finos (o tamanho dos cristais do sal sensível, ou grão, relaciona-se com questões de nitidez da imagem). O sucesso sorriu-lhe numa noite do ano de 1936. As imagens das primeiras fluorografias eram suficientementes nítidas. O desafio do diagnóstico radiológico a baixo custo parecia superado. Restava-lhe sistematizar o novo método, divulgá-lo e utilizá-lo em massa no combate à tuberculose.
Relataria mais tarde o próprio Abreu: “naquele instante, eu sabia que estava em jogo a profilaxia ampla e racional da tuberculose; a importância do resultado era enorme, era fabulosa para a sociedade, não para mim; confesso que nunca havia medido o valor dos meus trabalhos; a ciência é uma sucessão de ideias; o meu lugar nessa teoria luminosa sempre me pareceu pequeno e transitório”. Ao analisaras imagens, Abreu constata os pormenores, todas as estrururas que se projetam no campo de uma radiografia do tórax estavam presentes. Ao interpôr uma lente de duas dioptrias entre o filme contendo as imagens e o seu olhar perscrutador observa todos os detalhes: “Não havia dúvida, a fluorografia já nascia em condições de ser empregada no exame das populações.
O primeiro aparelho destinado a realizar exames em série da população foi construído pela Casa Lohner, filial da fábrica Siemens, e instalado no Centro de Saúde n° 3, à Rua do Rezende n° 128, na cidade do Rio de Janeiro. No mesmo lugar, foi inaugurado o primeiro Serviço de Cadastro Torácico, em 1937. Casa Lohner S.A., tradicional firma do ramo médico hospitalar e odontológico, subsidiária e representante da Siemens, famosa produtora de aparelhos de Raios X, ondas curtas, ultra-som, etc. A Casa Lohner foi a responsável pelo lançamento do, à época revolucionário, aparelho de Abreugrafia. Seu presidente Henrique Strattner viria a fundar em 1950 a empresa que leva seu nome, ainda existente com sede no Rio de Janeiro. De 8 à 21 de julho desse ano, foram examinados 758 indivíduos aparentemente sãos, dois quais 44 apresentavam lesões pulmonares detectadas pela fluorografia. A nova técnica começava a provar sua utilidade. Ainda em 1937, o Centro de Saúde n.3, onde se achava instalado o serviço de exame coletivo recebe a visita de personalidades ilustres, entre as quais: A. Sarno do Uruguai; Unvenrricht e Ulrici, de Berlim; Holfelder, de Frankfurt. Em 1938 viriam Bustos, do Chile; Sayé, da Espanha; Sayago, da Argentina; Lindberg, dos EUA.
Durante o ano de 1938, três Serviços de Recenseamento Torácico foram criados em São Paulo: no Instituto Clemente Ferreira, no Hospital Municipal e no Instituto de Higiene. Outras cidades do Brasil, da América do Sul, Estados Unidos e Europa também adotaram a fluorografia como instrumento na luta contra a epidemia de tuberculose. Holfeder, entusiasta do método, vaticinou em 1938, para tempo não superior a dez anos “a erradicação da tuberculose na Alemanha”. O novo método diagnóstico recebeu várias denominações tais como fluorografia, fotofluorografia, radiofotografia e Roentgenfotografia. Esta última foi a escolhida por Manoel de Abreu na sua apresentação do novo processo de exame à Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro em julho de 1936: “na verdade, na especialidade, tudo deriva desse puro gênio que foi Roentgen”.
O Dr. Ary Miranda, presidente do I Congresso Nacional de Tuberculose realizado em maio de 1939, propôs que fosse utilizado o nome Abreugrafia para designar o método criado por Manuel de Abreu. Anos depois, em 1958, o prefeito de São Paulo Ademar de Barros determinou que as repartições públicas da Prefeitura deveriam obrigatoriamente usar o termo Abreugrafia e instituiu o dia 4 de janeiro, dia do nascimento de Manoel de Abreu, como o Dia da Abreugrafia, imitando o gesto do então Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira. Manuel de Abreu foi premiado mundialmente: na Argentina com a MEDALHA DE OURO Mentor de la radiologia Americana, em 1953, dada pela Sociedade Argentina de Radiologia; na França como Membro Honorário da Academia de Medicina de Paris, onde apresentou o trabalho “Densitometria pulmonar”; nos Estados Unidos como Membro Honorário do American College of Chest Physician e foi condecorado em vários países do mundo, incluindo Japão, Alemanha, Suécia, etc.
Ao receber o prêmio do American College of Chest Physicians em 1950, o presidente do Comitê, Jay Myers discursa: “Ao mencionar o seu nome, ocorre na mente de todos os médicos do mundo o método usado por ele no diagnóstico das doenças do tórax, como um auxílio universal … Durante muitos anos antes de 1936, foi reconhecido que a inspeção do tórax pelos raios X era um auxílio importante ao diagnóstico … Nesse tempo, o uso extensivo da inspeção do tórax pelos raios X, em grande número de pessoas normais, era fisicamente impossível; primeiro porque o método de exposição e revelação do filme era muito demorado e, segundo, o custo era proibitivo … Em 1936 o dr. Abreu reportou em seus estudos fotofluorográficos, haver fotografado a imagem fluoroscópica em um filme de 35 x 35 mm. Isto foi o começo da fotofluorografia extensiva, agora empregado em todo o mundo”.
Imperdíveis são os trechos das cartas que o Dr. Itazil reproduziu no seu livro a respeito da legitimidade do pioneirismo de Manoel de Abreu. A indignação da comunidade científica brasileira e dos vizinhos sulamericanos surgiu da publicação do trabalho do Dr. Friedrich Berner, no qual o aparelho fluorográfico da Casa Siemens-Reiniger-Werke está citado como “roentgenreihenbildner” (seriógrafo) segundo o Prof. Holfelder.
Na carta que o Dr. Th. Sehmer, diretor da Casa Siemens, de Berlim, enviou a Manoel de Abreu lemos: ” … Pelas notícias recebidas, estamos extremamente consternados e na minha qualidade de gerente da Casa Siemens-Reiniger-Werke sinto-me obrigado a dar-lhe esclarecimentos detalhados … Nós denominamos oficialmente o nosso aparelho de Schirmbildgerat Siemens (Aparelho fluorográfico Siemens) ou Schirmbildgerat (Aparelho fluorográfico Siemens) segundo Abreu, com melhoramento segundo indicações do Prof. Holfelder … É verdade que o Sr. Dr. Berner citou unicamente o senhor Prof. Holfelder. Naquele trabalho êle não citou V. Exa. Nem outros investigadores notáveis. Em parte pode isso explicar-se pelo fato do Sr. Dr. Berner ser o primeiro assistente do Sr. Prof. Holfelder e que neste caso especial o Sr. Dr. Berner aproveitava a ocasião para exprimir a sua veneração pessoal ao seu mestre … mas certamente não queria dizer que Holfelder seja o inventor do processo seriográfico, mas sim aquele que o aperfeiçoou … Permita-me, excelentíssimo senhor Professor, aproveitar esta ocasião para chamar a sua atenção para o fato que mesmo o descobridor dos Raios X, o Professor Roentgen, sofreu maior injustiça do que sofre neste momento V. Exa. Sabemos que os cientistas inglêses e franceses opuseram-se por longo tempo à denominação Raios Roentgen, mas sim X-Rays, Rayons X e Raios X. Repetidas vêzes rogaram os alemães que mencionassem o nome do descobridor, porém em vão … A invenção fala por ela mesma e tanto o nome de Roengten está inseparavelmente ligado à invenção dos Raios X, também o nome Abreu ficará sempre citado em primeiro lugar em relação ao aparelho seriográfico”.
Essa carta, mais do que apenas um esclarecimento ou um pedido de desculpas, constitui um documento histórico no qual percebe-se um certo ressentimento do médico alemão em relação aos ingleses e franceses aproximadamente dois meses antes do início da Segunda Guerra Mundial. Para melhor avaliar as imagens suspeitas obtidas com a abreugrafia, propôs o emprego da Tomografia Localizada que, por ser menos dispendiosa que a tomografia de todo o tórax, poderia ser utilizada de forma sistemática.
Visando eliminar os inconvenientes da demora e do custo elevado do estudo tomográfico corte a corte de determinada área do tórax, Manoel de Abreu idealizou a Técnica das Tomografias Simultâneas, isto é, a realização de vários cortes simultâneos em uma só exposição, através do emprego de vários filmes superpostos. Usualmente, ao fazer um corte tomográfico os raios X projetam um número infinito de cortes, os quais não são aproveitados. Para radiografar os planos que se projetam em profundidade, isto é, atrás do filme onde se vai obter o corte tomográfico, bastaria apenas ter vários filmes dispostos sucessivamente, ou ter um chassi contendo vários filmes superpostos.
Com o intuito de diminuir o número de casos sem diagnóstico baciloscópico, Abreu desenvolveu a pesquisa do bacilo de Koch no lavado pulmonar ou lavado traqueobroncoalveolar. Isso contribuiu muitas vezes para encontrar o bacilo da tuberculose, em lesões suspeitas, quando ele não era encontrado no esputo. Um grande número de pesquisadores confirmaram melhores resultados a este respeito do que com o lavado gástrico.
O primeiro lavado foi realizado em 17 de agosto de 1944 no Hospital São Sebastião. A importância de sua obra rendeu-lhe inúmeras homenagens no Brasil e no exterior, conduziu à criação da Sociedade Brasileira de Abreugrafia em 1957 e à publicação da Revista Brasileira de Abreugrafia. Em 1950, na XI Conferência da União Internacional realizada na Dinamarca, Abreu apresenta um trabalho mostrando a queda acentuada dos índices de mortalidade da doença no Brasil observados no final da década de 40, em grande parte devido ao tratamento precoce da doença, graças a maior difusão das abreugrafias na massa da população da cidade.
Abreu inovou também em área bem diversa da medicina: a hidráulica. Montou um protótipo de motor hidráulico que era regido por princípios distintos dos tradicionais que se utilizam do desnível da água para produção de energia: “No caso do dispositivo, como eu imaginei, cujo modelo voce vê aqui, a energia é gerada não pelo escoamento do volume líquido que determina o desnivelamento, mas, pela variação de pressão de uma massa líquida sobre um sistema de corpos ocos e deformáveis, articulados, que são estes foles … No sistema hidráulico que criei, o volume dagua que move o teto e as folhas não é o mesmo que escoa. O volume de trabalho resulta do movimento do teto e das folhas, ao passo que o volume de escoamento resulta da redução do volume total do fole durante o ciclo. Sendo assim, a água de trabalho é o volume de água que move o teto e as folhas do fole.” Completada a fase experimental, com pleno êxito de resultados, procurava Abreu entender-se com instituições oficiais e particulares para a construção e experimentação do seu dispositivo, em proporções industriais, entretanto, não chegou a concluir resultados satisfatórios, por problemas de saúde.
Abreu rejeita a tese de que a tuberculose seria uma “doença social” determinada pelas condições sociais, em particular por uma alimentação deficiente. Para Abreu a profilaxia da tuberculose baseia-se essencialmente no diagnóstico e no tratamento. Com a possibilidade do diagnóstico da doença em indivíduos aparentemente sãos, pode-se tratar a doença sem a necessidade de dispendiosas internações, necessárias quando detecção na fase terminal da doença. Era a fórmula diagnóstico-isolamento que cedia lugar assim à fórmula diagnóstico-tratamento, sem necessidade de internações.
Em simpósio de abreugrafia realizado em 1960 na Bahia, Abreu propõem o exame periódico obrigatório como o melhor meio de controle das populações pobres, alegando que a abreugrafia realizada duas vezes ao ano não oferecia qualquer risco quanto à radiação, posição aliás ratificada pela Comissão Internacional das Unidades Radiológicas ICRU em 1958. Manoel de Abreu, tabagista crônico, faleceu de câncer de pulmão em 30 de abril de 1962. Se a ideia de fotografar o ecran e as tentativas de sua realização material remontam à época do descobrimento dos raios X e se a ideia do exame sistemático datava de 1921-1927 com os estudos de Redeker, é fora de dúvida que a solução prática da fotografia do ecran fluorescente e sua aplicação ao exame coletivo sistemático da tuberculose cabem a Manoel de Abreu, em 1936.
O que é
A abreugrafia é um método, derivado dos raios-X, que permite o diagnóstico precoce da tuberculose. Este método foi inventado pelo médico e cientista brasileiro, Manoel Dias de Abreu em 1936 e tem, até hoje, ajudado a salvar muitas vidas.
Trata-se de um método tecnicamente mais eficaz e de um custo operacional bastante reduzido, o que contribuiu para o acesso das populações carentes.
Este dia é dedicado em homenagem ao saudoso médico nascido nesta mesma data, em 1892. Manoel de Abreu frequentou a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou médico em 1913. Tinha então 21 anos e um grande espírito crítico e investigativo.
Sua grande preocupação era encontrar meios para se diagnosticar eficientemente a tuberculose, buscando custos menores, a fim de que o processo pudesse estar disponível para a população carente. Naquela época, a tuberculose causava altos índices de mortalidade, situação essa que se estendeu por muito tempo.
Abreu mudou-se para Paris, em 1915, onde trabalhou nos hospitais Nouvel Hôpital de la Pitié, Laennec e no laboratório de radiologia do Hôtel-Die. Como resultado de seus estudos, descobriu o método da abreugrafia em 1936.
Assim, publicou diversos livros e muitos artigos sobre a abreugrafia, em revistas especializadas nacionais e internacionais. Como reconhecimento à importante contribuição deste ilustre brasileiro no combate à tuberculose, lhe foram rendidas diversas homenagens das principais entidades médicas internacionais.
Além disso, recebeu o título de membro honorário do Colégio Americano de Radiologia e da Sociedade Alemã de Radiologia. A importância de sua obra também levou à criação da Sociedade Brasileira de Abreugrafia em 1957, elevando o reconhecimento da radiologia brasileira em todo o mundo. Em seguida, a publicação da Revista Brasileira de Abreugrafia contribuiu para a divulgação e popularização do método.
Quem foi Manoel Dias de Abreu
Manoel Dias de Abreu nasceu em 4 de janeiro de 1892. Filho de Júlio Antunes de Abreu, um português de Minho, e de Mercedes da Rocha Dias, de Sorocaba, ele se formou médico pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1913. No ano seguinte, recebe o título de doutor com a tese Influência do clima na civilização pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. Em 1915, acompanhado dos pais, do irmão Júlio Antunes de Abreu Júnior e da irmã Mercedes Dias de Abreu, partiu para a Europa a fim de aperfeiçoar os estudos. Por causa da Primeira Guerra Mundial, a família teve que permanecer em Lisboa até poder mudar-se definitivamente para Paris.
Trabalhando no Nouvel Hôpital de la Pitié, junto com o professor Gaston Lion, ficou encarregado de fotografar peças cirúrgicas. Então, ele desenvolveu um dispositivo para fotografar a mucosa gástrica. O jovem Abreu foi se envolvendo com a radiografia, criada pelo médico alemão Roentgen, em 1895. Certa vez, ele ficou fascinado com um diagnóstico radiológico de tuberculose. O paciente já havia passado por outros exames que nada haviam detectado.
Abreu tornou-se chefe do Laboratório Central de Radiologia do Hotel-Dieu quando o titular do posto, doutor Guilleminot, afastou-se para servir na guerra. Manoel de Abreu aperfeiçoou-se em radiologia pulmonar quando foi assistente do professor Maingot, no Hospital Laennec, em Paris. Em 1919, apesar de já possuir conhecimento para desenvolver a abreugrafia, faltavam-lhe recursos técnicos. Ele defendia a utilização da radiofotografia como forma de diagnosticar a tuberculose, doença bastante comum na época.
Quando voltou ao Brasil, foi recebido por uma epidemia de tuberculose que assolava o Rio de Janeiro, em 1922. Sua influência proporcionou a instalação, no Rio de Janeiro, do primeiro serviço de radiologia destinado ao diagnóstico da doença. Passou a década de 1920 desenvolvendo estudos sobre a formação da imagem, que resultaram na radiogeometria. Abreu se casou em 1929 com Dulcie Evers, na casa de seus pais, em São Paulo. Quando assumiu a chefia do Serviço de Radiologia do Hospital Jesus, no Rio de Janeiro, decidiu criar a fluorografia por causa dos numerosos casos de crianças com tuberculose.
Numa noite de 1936, as imagens das primeiras fluorografias apareceram nítidas. No início, a fluorografia recebeu nomes como fotofluorografia, radiografia e Roentgenfotografia. O nome abreugrafia foi sugerido pelo médico Ary Miranda, presidente do I Congresso Nacional de Tuberculose, realizado em 1939. O termo tornou-se obrigatório em São Paulo no ano de 1958. O prefeito Ademar de Barros, a exemplo do presidente Juscelino Kubitschek, determinou que as repartições públicas usassem o nome abreugrafia para designar o exame e instituiu o dia 4 de janeiro, nascimento de Manoel de Abreu, como o Dia da Abreugrafia.
Publicou diversos livros, entre eles o Radiodiagnostic dans la tuberculose pleuro-pulmonaire e diversos artigos sobre a abreugrafia em periódicos nacionais e internacionais como Collective Fluorography no Radiology e Processus and Apparatus for Roentgenphotography no The American Journal of Roentgenology and Radium Therapy (AJR), ambos em 1939. Em reconhecimento ao seu trabalho, o ilustre radiologista recebeu diversas homenagens das principais entidades médicas como a medalha de ouro médico do ano) do American College of Chest Physicians (1950), o diploma de honra da Academy of Tuberculosis Physicians (1950) e a medalha de Ouro do Colégio Interamericano de Radiologia (1958). Além disso, recebeu o título de membro honorário da Sociedade Alemã de Radiologia (1940) e do American College of Radiology (1945).
Sua obra estimulou a criação da Sociedade Brasileira de Abreugrafia em 1957 e a publicação da Revista Brasileira de Abreugrafia. Manoel de Abreu morreu de câncer de pulmão em 30 de abril de 1962.
O exame
Abreugrafia é um tipo de exame que diagnostica precocemente a tuberculose. O método, descoberto em 1936 pelo médico brasileiro Manoel de Abreu, tornou-se conhecido graças ao seu baixo custo operacional e eficiência técnica. O Dia da Abreugrafia foi instituído em 1958 em homenagem ao nascimento de Manoel de Abreu. Antes de ser definido o termo abreugrafia, o exame recebeu nomes como fluorografia, fotofluorografia, radiografia e Roentgenfotografia.
O nome abreugrafia foi sugerido pelo médico Ary Miranda, presidente do I Congresso Nacional de Tuberculose, realizado em 1939. O termo tornou-se obrigatório em São Paulo no ano de 1958. O prefeito Ademar de Barros, a exemplo do presidente Juscelino Kubitschek, determinou que as repartições públicas usassem o nome abreugrafia para designar o exame e instituiu o dia 4 de janeiro, nascimento de Manoel de Abreu, como o Dia da Abreugrafia.
Manoel Dias de Abreu nasceu em 4 de janeiro de 1892 e formou-se médico pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1913. No ano seguinte, partiu para a Europa a fim de aperfeiçoar os estudos. Por causa da Primeira Guerra Mundial, Manoel teve que permanecer em Lisboa até poder mudar-se definitivamente para Paris.
Manoel Dias se envolveu bastante com o estudo do raio x e foi a partir do diagnóstico radiológico de tuberculose que seu interesse nessa área cresceu. Em 1919, Manoel Dias já possuía o conhecimento para realizar a abreugrafia, mas lhe faltava recursos técnicos. Foi somente em 1936 que Manoel Dias de Abreu consegui nitidez nas suas experiências.
Fonte: www.redetec.org.br/www.paulinas.org.br/www.dcma.com.br/Soleis, CEDI/www.jambo.com.br
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