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O “Vale dos Reis“, onde serpenteia o Loire, o mais bravio dos rios da Europa, desfia um incomparável rosário de castelos da Renascença. Nesse “Jardim da França”, onde luz e vida calma são legendárias, os homens lapidaram um mosaico de paisagens harmoniosas, de calmos horizontes.
Na noite de 28 para 29 de maio de 1914, o centro político da França agita-se. O delfim, futuro Carlos VII, foge de Paris, ocupada pelos Bourguignons¹, aliados dos ingleses. A partir daí, os reis instalam-se por um século na Touraine.
Apaixonados por arquitetura e seduzidos pela cultura italiana, que descobrem em suas campanhas na península, Carlos VIII, Luiz XII e depois Francisco Iº transformam as lúgubres fortalezas medievais de Amboise e Blois em suntuosas residências reais.
Supra-sumo da elegância e do exagero com seus 440 quadros e suas 365 lareiras, Chambord marca o apogeu dessa época gloriosa. Depois da magistral vitória de Marignan em 1515, Francisco Iº confia sua construção a Leonardo da Vinci.
Autor de uma extraordinária escada de dupla hélice, o gênio italiano erige um edifício pleno de força e graça que parece surgir bruscamente dos bosques do parque, povoados de corças e javalis.
Castelo de Azay-le-Rideau
Contagiados pelo entusiasmo dos reis construtores, nobres e altas personalidades da Corte trançam, entre Tours e Orléans, uma coroa de castelos de sugestivos nomes: Beauregard, Villesavin, Cheverny.
Obras de financistas esclarecidos, Chenonceaux e Azay-le Rideau são as jóias mais raras dessa coroa. Eles abarcam as cortes do Cher e do Indre com uma graça muito feminina, onde continuam a flanar as sombras de Diane de Poitiers – a favorita de Henrique II – e a rainha Catherine de Médicis.
Cinco séculos mais tarde, visitantes do mundo inteiro comprimem-se para admirar essa excepcional concentração de monumentos históricos, manifestação da arte francesa em tudo o que ela possui de refinamento, suavidade e fantasia.
“O caminho que caminha”
Não foi à toa que cidades e castelos cresceram em profusão às margens do Loire e seus afluentes. Fronteira entre o norte e o sul da França, o rio impetuoso foi o primeiro grande obstáculo no caminho dos invasores.
O “caminho que caminha” era também, até o século XIX, o reino da navegação. Extraindo sua prosperidade do comércio fluvial, cada cidade possuía um porto onde vinham atracar os “gabares”, grandes embarcações de fundo chato e vela quadrada, capazes de ir contra a correnteza graças aos ventos dominantes do oeste.
Ainda hoje, o Loire bravio, de luzes cristalinas e bancos de areia perpetuamente mutantes, forma a ossatura e a unidade de uma região plural, com cidades e paisagens marcadas pela História.
Os vitrais da catedral de Chartres (início do século XIII) formam, na França,
o conjunto mais rico e mais completo da Idade Média.
Longe do centro, fazendo limite com a Île-de-France, a planície da Beauce estende a perder de vista suas ondas de trigo, tendo como únicos pontos de referência os silos, os campanários dos vilarejos e as duas torres da catedral gótica (século XII) de Chartres.
Foi sob suas imensas abóbadas que Henrique IV, recentemente convertido ao catolicismo, foi sagrado rei da França, em 1594. Grande ponto de convergência da cristandade, “Notre-Dame-de-la Beauce” banha com um halo de luz que colore o conjunto mais completo de vitrais da Idade Média. Fascinado com sua radiação mística, o escritor católico Paul Claudel (1868-1955) bradará: “Eis o paraíso reencontrado!”
Um século e meio antes, Carlos VII era por sua vez sagrado em Reims, mas é a figura de Joana d’Arc, sua conselheira e inspiradora, que continua a planar sobre o Vale do Loire. Chinon, berço dos Capetos (2), conserva mais ainda do que Orléans a memória de suas façanhas guerreiras. Simples pastora, ela tem apenas dezessete anos em 1429, quando expulsa os ingleses da cidade depois de apenas nove dias de cerco.
Vale a pena ver a catedral de Santa-Cruz durante a Festa de Joana d’Arc, decorada com as bandeiras dos companheiros de armas da “Pucelle”, ou quando inflamada, no dia 7 de maio à noite, pelos cantos e metais sonoros.
O complexo labirinto da Sologne
Das torres da catedral pode-se ver, ao nordeste, a floresta de Orléans, a maior floresta dominical da França (34.500 hectares). Ao sul, o olhar perde-se nas landes, terras cobertas de charneca e giestas envolvidas nas brumas da Sologne.
A floresta de pinheiros dissimula um complexo labirinto de 3.000 lagos, domínio das carpas, lúcios e outros peixes, além de patos, adens e narcejas… Nesse santuário natural, a caça é vista como elegante e refinada, vestígio um pouco antiquado do Segundo Império (1852-1870), época em que 340 castelos foram construídos com esse fim.
A catedral Saint-Etienne (final do século XII – início do século XIV), em Bougres,
é uma das mais admiráveis edificações góticas da França.
Subindo o Loire, a Sologne cede lugar às ricas terras dominadas pelas renomadas colinas vitícolas de Sancerre. Mais a oeste começa a vasta mesa calcária de horizontes livres do Berry. Ela leva, através de intermináveis linhas retas, a Bourges, capital da região, onde as casas e mansões burguesas dos séculos XV e XVI são admiravelmente bem conservadas.
Encaixada na rede de ruazinhas antigas, a catedral gótica, que ignora o nome de seu construtor, é de deixar mudo de admiração. É do jardim do bispo que a imensa nau de pedra sem transepto (124 metros de comprimento) do século XII assume toda sua amplidão, com sua quíntupla nave abrindo para a fachada por cinco portais esculpidos, e sua excepcional coleção de vitrais medievais.
Serena austeridade
A graça de Chenonceau, que avança sobre o Cher, moradia de Diane de Poitiers
e depois de Catherine de Médicis.
Bourges deve também uma grande parte de sua glória passada a Jacques Coeur. Grande argentier (ministro das Finanças) de Carlos VII e poderoso homem de negócios, ele suscitou a construção em sua região natal de inúmeros castelos, cidades e mansões particulares.
Do Vale do Loire ao centro de Berry, a estrada Jacques-Coeur permite hoje que se descubram inúmeros monumentos do final da Idade Média, entre os quais o suntuoso palácio Jacques-Coeur em Bourges, e a serena austeridade da abadia cisterciense de Noirlac.
Cantor de sua Berry natal, a escritora Georges Sand (1804-1876) descobriu as alegrias da natureza no arvoredo entrecortado de lagoas e álamos do Boischaut, essa região secreta do Indre “de horizontes melancólicos e profundos”.
Desde o século passado, o tempo parou na casa da escritora, em Nohant-Vic. Ainda hoje paira no ar o odor das geléias, acompanhado de alguns compassos de piano… No pequeno teatro familiar são animadas as marionetes fabricadas por Maurice, o filho de Georges, que ela veste com suas próprias mãos.
Terra de landes, florestas e lagos, a Sologne é uma região de caça e pesca excepcional.
Ainda mais a oeste, Berry encontra as cores da Sologne: lagoas, pântanos, charnecas, frêmitos dos canaviais, bramidos de um alcaravão (4)… Estamos em Brenne. Entre os vales do Indre e do Creuse, a “região das mil lagoas” oferece o espetáculo de um mundo selvagem, calmo e inquietante.
As comunas dessa região “esquecida por Deus” organizaram recentemente um Parque natural regional, a fim de assegurar simultaneamente o desenvolvimento, em primeiro lugar turístico, e a preservação de um meio-ambiente excepcional.
Todo o desafio do Centro-Vale do Loire encontra-se aí: conciliar o que aparentemente é inconciliável: natureza e crescimento das riquezas, passado e modernidade, senso do sagrado e turismo de massa, dinamismo econômico e qualidade de vida.
Tours, a maior aglomeração da região, é o símbolo mais evidente dessa arte de bem viver. Para se convencer disso, basta flanar pelas ruas animadas do centro da cidade, onde a biblioteca municipal de ares pós-modernos fica vizinha à igreja gótica Saint-Julien, tão naturalmente quanto o Museu de Belas Artes, de concepção clássica, com a catedral, harmoniosa mistura de arquitetura gótica e Renascentista.
O centro da festa
No verão, os castelos mais famosos (Amboise, Azay-le-Rideau, Blois, Chambord, Chenonceaux, Cheverny, Valençay…) apresentam suntuosos espetáculos de som e luz. Em Amboise, 450 figurantes em vestimentas do século XVI fazem renascer o ambiente que reinava “Na corte do rey Francisco”. Uma outra grande reconstituição histórica popular são as Festas de Joana d’Arc em Orléans.
Castelos, igrejas e abadias acolhem também uma longa série de festivais de música organizados pelo grande pianista russo Sviatoslav Richter, as Festas Românticas de Nohant, no castelo de Georges Sand, o Festival de Sully-sur-Loire e o Festival Internacional de Órgão, em Chartres.
O jazz também está bem representado: Jazz no Sul de Berry, Jazz em Touraine, Orléans Jazz, os Swing de Março (Eure-et-Loir), mas também as músicas de hoje, com os Rockmotives de Vendôme, e o popularíssimo Primavera de Bourges.
Durante seis dias, estrelas e astros franceses e internacionais do rock e da canção popular, artistas confirmados e grupos a serem descobertos inflamam a capital do Berry. E, para finalizar, destacamos as inúmeras manifestações locais menos célebres, mas que perpetuam tradições antiqüíssimas como a Feira das Bruxas, de Bué-en-Sancerrois…
A arte da jardinagem
A estrada por jardins recorta a dos castelos: Chenonceaux, Ussé, Raux, Cheverny, Beauregard (Vale do Loire), ou Frazé, no Perche… Torna-se obrigatório um passeio pelos jardins do século Xvi de Villandry [(33-2) 47 50 02 05], sem esquecer o roseiral de Ainay-le-Vieil [(33-2) 48 63 50 67], às portas de Berry, ou os pátios do castelo de Valmer, em Chancay [(33-2) 47 52 93 12].
E, buquê final, Chaumont e seu Festival Internacional de Jardins. Na fazenda do século XIX, ligado ao magnífico castelo Renascentista às margens do Loire, o festival propõe todos os anos que se descubram trinta paisagistas do mundo inteiro. Tema da edição de 1997: “A água nos jardins do século XIX”. Uma abundante fonte de idéias, formas e associações vegetais completamente originais.
Fonte: www.ambafrance.org.br
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