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A atividade industrial no Brasil teve início no período colonial.
Sua história, entretanto, não se caracteriza por uma evolução sistemática. As atividades agrícolas e o extrativismo absorviam os poucos capitais e a mão-de-obra, só dando margem, naquele período, às indústrias caseiras, à agro-indústria do açúcar, a pequenas indústrias no litoral, e aos estaleiros em que se construíam embarcações de madeira. A população extremamente rarefeita, mesmo ao longo da costa; as dificuldades de transporte, decorrentes das distâncias; o regime da escravidão e do latifúndio, e a própria política da metrópole, que proibia, em 1766, a prática do ofício de ourives, e por carta régia de 1785, todas as manufaturas de fumo, panos e bordados, foram outros tantos obstáculos a qualquer surto de manufaturas de valor.
Tal situação se prolongou através do primeiro e do segundo reinado, quando ainda faltavam todos os elementos para uma indústria autônoma, concentrada e mecanizada, que procura a proximidade das fontes de energia, de matéria-prima, da clientela, dos transportes e, sobretudo, da mão-de-obra. Na verdade, só depois da transferência da corte de D. João para o Brasil foram revogados os editos que vedavam até a existência de depósitos de salitre, fechavam as fábricas têxteis e mantinham a proscrição das fundições de ferro instaladas em São Paulo e Minas.
Depois da independência, o reconhecimento pelas potências europeias só se tornou possível mediante a concessão de tarifas especiais para os produtos britânicos, concessão que vigorou até 1844.
Um antigo empregado de firma britânica no Brasil, que conseguiu estabelecer-se e expandir seus negócios, tornando-se um homem de finanças que acompanhava o surto industrial da Europa, Irineu Evangelista de Souza, teve o descortino de tentar o caminho da indústria, sem levar em conta, entretanto, o grave obstáculo que representava o escravismo, inviável à criação de um mercado nacional.
Não obstante isso, registraram-se algumas iniciativas no campo da indústria. Surgiu a fundição de tubos de encanamento de água do rio Maracanã, no Rio de Janeiro. O estaleiro montado na Ponta da Areia, em Niterói, ampliou a construção naval do país, fabricando setenta navios em pouco mais de dez anos. Ligada ao impulso dos serviços urbanos, criou-se a primeira empresa de iluminação a gás.
Organizou-se uma companhia de navegação no rio Amazonas. Em 1870, estimou-se em 742 mil contos de réis, quantia avultada para a época, a produção industrial do Brasil. O governo monárquico, todavia, voltava-se mais para as obras públicas do que para prestigiar as iniciativas da indústria privada nacional e o surgimento e consolidação de um empresariado vinculado aos interesses do país.
Construíram-se, desse modo, portos para atender às necessidades do comércio externo. As estradas de ferro se prolongaram, mas só a partir de 1870, vindo a interessar capitais ingleses e desempenhar um papel mais dinâmico na economia do país. Instalaram-se companhias de força elétrica, de bondes, de telefones, de luz, de telégrafos, por iniciativa do capital estrangeiro ou vindo a ser concedidas a este.
No período da primeira guerra mundial, instalaram-se no Brasil cerca de 5.940 empresas industriais, compreendendo-se aí a produção de uns trinta artigos novos.
Mas dentre essas indústrias não figurava a indústria mecânica nem os bens fundamentais capazes de possibilitar a criação da base industrial do país. Na década de 1940, pela primeira vez o valor da produção industrial brasileira ultrapassou o da produção agrícola, elevando-se a 13.000.000 de contos de réis, contra 8.590.000.
Verdadeiramente, só na década de 1940 o Brasil logrou a primeira iniciativa industrial de vulto, que iria servir de base a uma modificação na sua estrutura econômica.
Esta se verificou em face de circunstâncias criadas pela segunda guerra mundial. Necessitando instalar bases aéreas no território brasileiro para o trânsito dos seus aviões de guerra para a África e Europa, os E.U.A. negociaram a implantação de uma unidade siderúrgica que veio a constituir a Companhia Siderúrgica Nacional, pertencente ao Estado. A usina de Volta Redonda desempenhou, de fato, o papel de célula-mater da indústria pesada nacional, propiciando ao longo de sua atividade, a criação de novas indústrias e a expansão siderúrgica.
Outro passo importante no sentido de uma industrialização autônoma foi a instituição do monopólio estatal do petróleo, mediante a criação da Petrobrás por meio da lei 2.004, de 3 de outubro de 1953.
A descoberta do lençol petrolífero do Lobato, na Bahia, em 1937, propiciou uma modificação no código de minas e a posterior instituição do Conselho Nacional do Petróleo, a fim de orientar o problemas do ponto de vista brasileiro.
Para levar adiante o processo de desenvolvimento industrial, os países adotam uma série de medidas que caracterizam suas opções.
O conjunto dessas medidas e a orientação que lhe é implícita constituem a política industrial. No caso brasileiro, a industrialização se iniciou tardiamente, o que leva o país a realizar grandes esforços, visando a diminuir a distância que o separa dos países desenvolvidos. A dependência do mercado externo e a desigual distribuição da renda, que restringe o mercado interno, constituem ainda aspectos negativos para a industrialização do país.
Fatores ligados aos grandes acontecimentos econômicos mundiais, profundos movimentos políticos internos, condições peculiares da região, a política industrial seguida pelos governos – têm importância determinante em relação as avanços industriais. Na América Latina, cujos países durante longo tempo se mantiveram na posição de fornecedores de matérias-primas para clientes industriais, tornou-se evidente que a substituição das importações constituía uma exigência imperiosa para a industrialização e o desenvolvimento econômico. A partir da década de 1930 se fez sentir particularmente nesses países o enfraquecimento do setor externo. No Brasil, contudo, os sinais de debilitamento desse setor ocorreram bastante antes, após o auge da borracha amazônica, que precedeu a primeira guerra mundial. Mas o país, essencialmente agrícola, como era qualificado, simplesmente intensificou as exportações de café, reforçou o comércio de algodão e do cacau, sem vislumbrar ainda os rumos de uma política de substituição das importações.
O deslocamento progressivo do centro do comércio internacional, do Reino Unido para os E.U.A., e medidas tomadas por esses dois países durante a crise, entre as quais sobressaem as fortes restrições protecionistas norte-americanas de 1930, tiveram consequências funestas para as economias dos países latino-americanos. A gravidade de tais reflexos, em cada país, fez-se sentir em função do coeficiente da importação e da estrutura industrial de que este já dispusesse, para nessa estrutura apoiar seus esforços de substituição das importações.
Rapidamente recuperado em seguida à década de 1930, não prosseguiu de maneira favorável a evolução posterior desse coeficiente: o descenso continuou até a década de 1950.
O Brasil constitui-se na América Latina no país de mais baixo coeficiente de importação, o que representou um fator decisivo para o crescimento do volume da produção industrial interna. Iniciada a expansão do incipiente parque industrial com as indústrias de bens de consumo, procurou-se atingir, nos últimos anos, uma fase mais avançada, a da produção de bens de equipamento e materiais básicos indispensáveis à aceleração do ritmo do crescimento geral. Sensíveis desequilíbrios ainda se fazem notar, principalmente nos ramos produtores de matérias-primas básicas, a exemplo do que acontece com alguns produtos siderúrgicos e químicos que demandam vultosos investimentos e alta técnica de que carece a economia nacional. Em termos absolutos, segundo o relatório anual do BID (1969), o Brasil desfrutava em 1968 do maior crescimento industrial da América Latina, tendo superada a Argentina, a partir de 1962 (a taxa de crescimento industrial do Brasil entre 1961 e 1968 era de 5,2% contra 2,5% da Argentina). Tal resultado foi obtido em virtude de um elenco de providências governamentais, incluindo isenção de impostos, abatimentos no imposto de renda e correspondentes incentivos fiscais, relativos não só às exportações, o que representou, em 1968, um aumento de 15% na produção industrial que participou com 28% do produto interno bruto. Tal posição, por sua vez, se reflete no mercado externo.
Em 1970 o objetivo da economia brasileira era deixar de depender exclusivamente da substituição das importações, ultrapassar a fase da exportação de gêneros alimentícios e matérias-primas da produção primária e ampliar a pauta exportável com variados produtos industriais. As metas mínimas estabelecidas para o período 1970-1973 estabeleciam o crescimento anual de 9 a 11% para a indústria manufatureira e a mineração; 9 a 11% para a indústria siderúrgica; 7 a 9% para o setor enérgico. Influindo fortemente na composição da taxa de crescimento industrial da América Latina, em que ocupa o primeiro lugar, em 1973, o Brasil divide com a Argentina, a Colômbia e o México, a responsabilidade por 80% da produção industrial dessa parte do mundo.
A grande concentração industrial na Região Sudeste
Buscando as causas que influem na distribuição espacial da atividade industrial, podem se destacar dois fatores:
Fatores histórico-econômicos (mão-de-obra, capital, mercado consumidor – interno e externo – tecnologia, transportes etc.)
Fatores naturais, isto é, aqueles que derivam das condições naturais de uma certa área ou região (matérias-primas e fontes de energia, por exemplo).
Após a decadência da agroindústria canavieira do Nordeste, no século XVII, e a descoberta de metais preciosos nas Minas Gerais, a Região Sudeste começou a estruturar-se como área de atração de população e de inversão de capitais. Data, inclusive, dessa época, a mudança da capital político-administrativa da colônia, de Salvador para o Rio de Janeiro, cidade mais próxima da atividade mineradora. Esse fato constitui-se de grande importância no crescimento da cidade do Rio de Janeiro e de sua área próxima, pois essa cidade tornou-se o centro de intercâmbio comercial. Através de seu porto, estabelecia-se o contato com o exterior e com as outras regiões do Brasil.
Quando ocorreu a decadência da atividade mineradora, os trabalhadores das minas deslocaram-se em busca de solos mais férteis onde pudessem desenvolver uma agricultura de maior rendimento, encontrando-os no norte e nordeste de São Paulo.
No início do século XIX, a cafeicultura, vinda do Rio de Janeiro, penetrava em solo paulista e, logo em seguida, atingia os solos férteis do planalto ocidental (as terras roxas).
Além de atrair populações de outras regiões e áreas do Brasil, a expansão da cafeicultura requisitou mão-de-obra estrangeira, representada por imigrantes italianos, espanhóis, alemães e outros.
Além disso estimulou o desenvolvimento ferroviário e a concentração financeira.
A instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro, a partir de 1808, também contribuiu para dinamizar não só a cidade, mas também a área próxima à capital.
A crise da cafeicultura de 1929/30 possibilitou que muitos recursos financeiros que eram aplicados nessa cultura fossem transferidos para a atividade industrial.
Vê-se, então, que desde o século XVIII, o Sudeste foi-se estruturando como área de atração de população e de capitais, tornando-se a região concentradora da riqueza. Assim, o mercado consumidor e financeiro que aí se formou, o crescimento das cidades, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, o desenvolvimento ferroviário e rodoviário, ao lado de recursos naturais favoráveis (potencial hidrelétrico, recursos minerais, solos férteis) e ainda o fluxo imigratório estrangeiro que trouxe técnicas de produção influíram na concentração espacial da atividade industrial nessa região.
Em tempos recentes, essa posição do Sudeste reafirmou-se, em vista de que, no governo do Presidente Juscelino Kubitcshek (1956-1961), o Plano de Metas deu ênfase à concentração industrial nessa região e particularmente em São Paulo. Os planejadores acreditavam na necessidade de se criar um grande pólo de desenvolvimento, tendo São Paulo como centro e que a partir do mesmo o desenvolvimento se propagaria, em círculos concêntricos, contagiando as outras áreas e regiões do país. Em vista dessa interpretação, o governo de JK canalizou grandes investimentos públicos em infra-estrutura (energia e transportes, além de siderúrgicas) e empréstimos para a expansão econômica de São Paulo e, em menor escala, do Rio de Janeiro e do sul de Minas Gerais.
Essa orientação aprofundou ainda mais os desequilíbrios regionais já existentes e consolidou a posição do Sudeste, como a região de forte concentração industrial, financeira, populacional e de renda. Desse modo, a Região Sudeste tornou-se o centro das decisões do país, exercendo forte polarização sobre as demais regiões.
Repetiam-se, assim, ao nível interno, isto é, entre as regiões do Brasil, as relações de dominação e exploração espacial, exercidas pela metrópole sobre a colônia, no passado, ou pelos países centrais (E.U.A. e países da Europa Ocidental e Japão) sobre os países periféricos (países subdesenvolvidos) na atualidade.
A Região Sudeste tornou-se a produtora de manufaturados e exportadora dos mesmos para as demais regiões do país, a preços elevados e, estas, fornecedoras de mercados consumidores e de matérias-primas a preços baixos. Reproduziam-se, assim, ao nível interno, as relações coloniais do passado e do presente entre os países.
Tendências da industrialização no Brasil
Vem acontecendo gradualmente uma descentralização industrial, ou seja, a implantação de indústrias em outras regiões do país, e não só na Região Sudeste.
Regiões que não se encontravam no “mapa” de empregos agora oferecem centenas de empregos, a mão-de-obra está sendo procurada em estados que antes as pessoas se viam obrigadas a virem para São Paulo, a fim de trabalharem.
Entretanto, esta região continua centralizando e polarizando a vida econômica nacional, reproduzindo, como já foi assinalado, ao nível interno, o neocolonialismo que se manifesta nas relações espaciais internacionais: de um lado os países centrais e de outro os países periféricos ou satélites dos primeiros.
Etapas da Industrialização – História
A frase “revolução industrial” tem sido usada há muito tempo para identificar o período aproximadamente de 1750 a 1825, durante o qual a aplicação acelerada de princípios mecânicos, incluindo energia a vapor, à manufatura na Grã-Bretanha produziu uma mudança identificável na estrutura e no crescimento econômico. Os trabalhadores foram agrupados em fábricas usando concentrações de equipamentos de capital maiores em custo e mais eficientes em operação do que os equipamentos de capital conhecidos na Grã-Bretanha anteriormente.
Essas fábricas utilizaram algumas inovações mecânicas, principalmente na fabricação de têxteis e ferro, que, com a aplicação da máquina a vapor, tornaram a escala fabril o tamanho mais econômico para a unidade de produção.
A proximidade de outras pessoas envolvidas em tais atividades manufatureiras tornou-se mais um fator de redução de custos de grande importância, resultando em “economias externas” que estimularam o agrupamento de empresas manufatureiras e, consequentemente, o crescimento de novas agregações urbanas.
O resultado foi que a Grã-Bretanha rapidamente se tornou o primeiro estado industrial urbanizado.
Atualmente, há pouco consenso entre os estudiosos sobre as origens da revolução industrial na Grã-Bretanha.
Trabalhos recentes até questionam a singularidade do período clássico da revolução industrial na evolução de longo prazo da estrutura industrial da economia britânica (Deane & Cole 1962).
A visão mais antiga de que as melhorias agrícolas do final do século XVII e início do século XVIII, juntamente com a ascensão do comércio exterior, tornaram possível um setor manufatureiro com uma população em rápido crescimento na Grã-Bretanha também foi questionada.
Esses problemas finais da historiografia econômica relativos à revolução industrial na Grã-Bretanha não podem ser resolvidos aqui.
O padrão de industrialização em outros países depois de 1800 foi amplamente semelhante em muitos aspectos ao experimentado pela Grã-Bretanha, embora, é claro, as permutações nunca tenham sido as mesmas em dois países (Maizels, 1963). “Os têxteis primeiro” (junto com o processamento de alimentos) tem sido quase a regra na industrialização, seguido pelo desenvolvimento do transporte, indústria pesada e empresas mais sofisticadas, como metalurgia, química e eletrônica.
Na maioria dos casos, avanços substanciais na produção agrícola, ou aumento do comércio exterior, ou ambos, foram concomitantes ao desenvolvimento industrial. Estes foram essenciais, pois, como na Grã-Bretanha do século XVIII, a industrialização foi acompanhada por dois fenômenos demográficos onipresentes: um rápido aumento no tamanho da população total e sua agregação em áreas urbanas.
Tem havido alguma confusão sobre as lições desta história. Desde a Segunda Guerra Mundial, alguns economistas interessados em promover o desenvolvimento de nações industrialmente atrasadas têm defendido a adoção de um planejamento de “crescimento equilibrado”. De acordo com essa proposta, a economia em desenvolvimento deveria suprir seus próprios mercados e insumos de produção, com todos os setores crescendo “simultaneamente” (Lewis 1955, p. 283).
A história do crescimento industrial bem-sucedido não mostra evidências de tal crescimento no passado (Hughes, 1958). Em vez disso, a industrialização tem sido o produto de certas indústrias ou grupos de indústrias – “setores líderes” e “indústrias dominantes” (Rostow 1952; Hoffmann 1931) – avançando à medida que avanços tecnológicos ocorreram e novos mercados foram abertos.
O crescimento e mesmo o declínio absoluto de indústrias particulares também caracterizaram o desenvolvimento industrial, sendo o atraso no crescimento geral compensado por novos empreendimentos industriais que surgem e empurram para suas taxas máximas de crescimento, levando assim a economia com eles (Kuznets [1953]. ] 1954, pp. 253-277; Burns 1934) Nenhum conjunto de indústrias que compunha uma determinada estrutura industrial em qualquer país foi responsável pelo desenvolvimento industrial, porque a mudança foi contínua.
Nascimento das Fábricas
Além da modernização da agricultura, a Inglaterra tornou-se, em meados do século XVIII, pioneira na evolução do sistema manufatureiro para o sistema fabril.
Entre as razões desse pioneirismo, destacou-se o desenvolvimento do comércio externo, favorecido pelas práticas mercantilistas. Apoiada por uma frota mercante poderosa, a Inglaterra passou a dominar os mares, fazendo com que a América, a África e a Ásia fossem exploradas pelas companhias de comércio que se dedicavam à compra de produtos agrícolas e matérias primas coloniais, ao tráfico negreiro e à venda de produtos manufaturados ingleses.
0 desenvolvimento mercantil inglês impulsionou a busca de novas técnicas e métodos de produção de mercadorias. Assim, a produção realizada nas casas ou nas oficinas foi substituída, no decorrer do século XVIII,, pela produção nas fábricas. Esses estabelecimentos concentra vam um número maior de operários, utilizando-se de equipamentos fornecidos pelo empregador e produziam para um mercado mais vasto.
A organização das fábricas ampliou o controle do empresário sobre o trabalhador que ainda detinha os conhecimentos técnicos sobre a produção.
Criaram-se nelas uma hierarquia e uma ordem inexistentes no sistema doméstico e nas oficinas. A partir de meados do século XVIII, quando surgiram as primeiras máquinas na indústria têxtil do algodão, já existia nas fábricas um operário disciplinado e assalariado.
A MECANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO
As primeiras invenções que deram inicio ao processo de mecanização da produção ocorreram no setor têxtil do algodão que, por ser uma atividade mais recente na Inglaterra, não estava controlado pelos regu lamentos das corporações de ofício. A indústria algodoeira concentrava-se na região do Lancaster, próxima ao porto de Liverpool, ligada ao comércio colonial, que recebia a matéria prima do Oriente, das Antilhas, do Brasil e das colônias inglesas da América.
As máquinas que revolucionaram a produção do algodão foram: a “spinning-jenny”, ou filatório, uma roda de fiar composta que produzia oito fios ao mesmo tempo, criada por James Hargraves, em 1767; a “water-frame” ou bastidor hidráulico, que produzia fios para a urdidura e a trama do tecido, desenvolvida por Richard Arkwright, em 1769; e a “mula”, uma versão aperfeiçoada das duas máquinas anteriores, patenteada em 1779 por Samuel Crompton, que chegava a produzir 400 fios da melhor qualidade (mais finos e mais resistentes) ao mesmo tempo. Em 1785, Edmund Cartwright criou o tear mecânico aumentando a produção de tecidos e em 1792, Eli Whitney inventou o descaroçador do algodão, barateando a oferta da matéria prima em bruto.
0 avanço técnico decisivo para a mecanização da indústria foi a utilização da energia a vapor, a partir da máquina criada em 1712 por Thomas Newcomen e aperfeiçoada em 1769 por James Watt, um construtor de instrumentos científicos da Universidade de Glascow. A máquina a vapor de Newcomen foi muito empregada nas minas de carvão para bombear a água; as modificações introduzidas por Watt permitiram a sua utilização nas indústrias. A energia a vapor substituiu com enorme vantagem a energia muscular, hidráulica ou eólica, até então usadas para movimentar as máquinas.
A energia a vapor possibilitou o crescimento da mineração, da metalurgia, da tecelagem e dos transportes; foi aplicada às máquinas de bombear a água e de içar os minérios do fundo das minas, tornando o carvão mais barato; movimentou fábricas de fiação, de tecidos, de cerveja, de papel e moinhos de grãos.
As inovações tecnológicas atingiram a indústria metalúrgica com a invenção do laminador para a fabricação de chapas de ferro e com o método de pudlagem que eliminava o carbono do minério de ferro, produzindo um metal de melhor qualidade e mais forte. 0 ferro foi utilizado na fabricação de máquinas mais resistentes, que podiam ser moldadas de forma padronizada, substituindo a madeira.
0 uso do ferro e da energia a vapor permitiram a invenção de barco a vapor (1807), da locomotiva a vapor (1822) e de ferrovias de uso comercial facilitando e barateando o transporte a longa distância de matérias primas, mercadorias e passageiros.
Criaram-se também melhores arados e generalizou-se o uso da debulhadora e da ceifadeira, A máquina a vapor e a indústria do ferro contribuíram para a primeira arrancada da Revolução Industrial. “0 mundo industrial tornou-se como uma imensa fábrica, onde a aceleração do motor, sua desaceleração e suas paralisações modificam a atividade dos operários e regulam a produtividade”. (MANTOUX P, op. cit. p. 340.)
AS CIDADES E AS FÁBRICAS
Antes da invenção da máquina a vapor, as fábricas situavam-se em zonas rurais próximas às margens dos rios, dos quais aproveitavam a energia hidráulica. Ao lado delas, surgiam oficinas, casas, hospeda rias, capela, açude, etc. A mão-de-obra podia ser recrutada nas casas de correção e nos asilos. Para fixarem-se, os operários obtinham longos contratos de trabalho e moradia.
Com o vapor, as fábricas passaram a localizar-se nos arredores das cidades, onde contratavam trabalhadores. Elas surgiam “tenebrosas e satânicas”, em grandes edifícios lembrando quartéis, com chaminés, apitos e grande número de operários. 0 ambiente interno era inadequado e insalubre, com pouca iluminação e ventilação deficiente.
Até o século XVIII, cidade grande na Inglaterra era uma localidade com cerca de 5 000 habitantes. Em decorrência da industrialização, a população urbana cresceu e as cidades modificaram-se. Os operarios, com seus parcos salários, amontoavam-se em quartos e porões desconfortáveis, em subúrbios sem condições sanitárias.
As cidades tornaram-se feias e negras, envoltas numa atmosfera fumarenta, estendendo por todos os lados seus subúrbios mal construí dos. ( …. ).
Nelas desenvolveu-se uma vida urbana que a velha Inglaterra não havia conhecido. Era a massa enorme e confusa do proletariado, que ocupava o formigueiro industrial com seu movimento disciplinado; a cima dela, dirigindo para seu lucro todo o mecanismo da grande indústria, a aristocracia manufatureira, a classe poderosa dos capitalistas fundadores e proprietários das fábricas”.
Consequências da Industrialização
Etapas da Industrialização
A Revolução Industrial teve consequências de curto à longo prazo, sendo que uma das mais visíveis e uma das primeiras foi a explosão demográfica devido ao êxodo rural que culminou com o crescimento desordenado das cidades e a exploração dos seres humanos, pois a procura de emprego passou a ser maior que a oferta.
[…] a “explosão demográfica”, parece habilitar-se, na imprensa popular, para a metáfora da mudança ruidosa. Em vista da cacofonia das cidades, sem falar da violência incidental das ruas, o conceito de “explosão” ou “revolução” seria, pelo menos, igualmente adequado. (MOORE, 1968, p 94)
O desemprego concentrou-se nas maiores cidades, o que proporcionava ao empresário capitalista burguês um grande contingente de mão-de-obra que poderia ser explorado por um preço irrisório.
A consequência disso foi o avançado do capitalismo, no qual existe uma intensificação generalizada da exploração humana por parte dos emergentes detentores dos novos meios de produção – fato que, por sua vez, gerará inúmeras reações violentas em todo continente europeu por parte dos trabalhadores explorados e desempregados miseráveis. Outra consequência foi o isolamento do ser humano, como um fator psicológico a ser estudado.
[…] a Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, sua ignorância lucrativa, seu desespero lucrativo… Pois a nova cidade não era um lar onde o homem pudesse achar beleza, felicidade, lazer, conhecimento, religião e as influências que civilizam a visão e o hábito, mas um lugar deserto e desolado, sem cor, ar ou riso, onde o homem, a mulher e a criança trabalhavam, comiam e dormiam… as novas fábricas e os novos altos-fornos eram como as pirâmides, mostrando mais a escravização do homem do que seu poder, lançando sua longa sombra sobre a sociedade que tinha tanto orgulho de tais coisas. (HAMMOND apud DEANE, 1969, p 271)
Percebemos que as cidades metropolitanas se transformaram em locais nos quais as pessoas apenas dormiam, o que demonstra que o relacionamento com a família se tornou ínfimo, pela falta de tempo.
Estudando a evolução dos sistemas sociais, Moore (1968) mostra que todas as mudanças interferiram não somente na sociedade como um todo, mas também trouxeram consequências para cada indivíduo, sendo, uma delas, a solidão, objeto de estudo deste trabalho, sobre a qual ele afirma que: A principal quebra das grandes organizações de parentesco é a ampla mobilidade exigida pela industrialização. Estas mobilidades geográficas, implicando uma separação simultânea de parentes, é também social, supondo assim a separação de parentes em status e estilo de vida. (MOORE, 1968, p 110- 111)
Das ideias desse autor pode-se depreender que a mobilidade geográfica, ou seja, a saída das pessoas dos campos rurais para as grandes metrópoles contribuiu para a separação da família e os indivíduos começaram a ficar mais solitários dentro de sua própria família, ou seja, dentro da instituição que traz a base para sua socialização.
No ambiente rural as famílias e os vizinhos não moravam tão perto, mas os encontros eram constantes, seja nas reuniões familiares ou nos encontros religiosos.
Essas situações eram criadas com frequência. Nas cidades o espaço físico para esses encontros ficou reduzido, como no caso dos cortiços. As pessoas viviam em casas muito próximas umas às outras, mas não tinham tempo para conhecer melhor o seu vizinho, pois tinham uma carga de pelo menos 14 horas de trabalho fabril, segundo Hobsbawn (1983). Esse fato mostra a grande contradição em que viviam, porque tantas pessoas juntas poderiam ter uma vida social mais intensa, mas, ao contrário disso, esses indivíduos viviam mais isolados.
As famílias também se separaram nesse espaço geográfico. Tios e primos em diversos graus, em busca de status social, necessitavam morar em localidades que convinham ao seu crescimento.
Os parentes já não tinham mais tempo para se relacionar, pois a nova sociedade girava em torno da produtividade e do lucro, que dependia da mão de obra de homens, mulheres e até mesmo crianças.
Com o surgimento da indústria, o ser humano foi remodelado. Sua carga horária aumentou e ele passou a ter menos tempo para a interação familiar, com isso desenvolvem-se formas de convívio condizentes com o novo modo de vida nas quais a presença física foi se tornando cada vez menos importante em um relacionamento social.
A especificação e a automatização criada e introduzida pela indústria avançam seus tentáculos para muito além do território de trabalho.
A praticidade das máquinas que garantiam o sustento enquanto embalavam pessoas em seu conforto, produziam, ao mesmo tempo, um crescente desconforto quando a pauta era a interação física com o outro.
O individualismo e a importância da satisfação do “eu”, servem muito bem ao propósito capitalista. As necessidades desse meio possuem uma carga pesada, pois atendem muito mais a interesses e intenções mercadológicas e publicitárias do que humanistas.
A sociedade pós-industrial, ao estabelecer as bases para a cultura de massas, propiciou ao capitalismo disseminar quase universalmente sua ideologia individualista e pragmática: cada um por si.
A máquina tinha, inicialmente, a função de facilitar o trabalho. Ela parecia ser a solução de tantos problemas, na medida em que era capaz de produzir o dobro na metade do tempo e, com isso, permitiria viver em condições mais humanas. Acreditava-se que enquanto a máquina produzia as pessoas poderiam conviver mais.
Foi um sonho ingênuo, uma vez que o homem está muito mais apto a conhecer o funcionamento de uma máquina e a sua previsibilidade do que alguém de sua própria espécie ou a si mesmo.
Uma das formas de disseminar o estado profundo da solidão foi o equipamento televisivo.
A mídia sempre foi o braço vitalício do domínio sobre o aparelho social e a televisão foi mero catalisador de um padrão previamente consumado.
Seguindo as afirmações de Branco, pode-se concluir que no processo de materialização o outro passou a SER estranho. A televisão conseguia reunir toda a família ao seu redor, mas apesar de as pessoas estarem juntas em um mesmo ambiente, suas atenções se dividiam com o aparelho.
As pessoas que viviam em pequenas cidades rurais tinham uma interação pessoal com mais afinidades entre os moradores, pois a maioria se conhecia pelo nome e quase todos sabiam onde moravam e o que faziam.
Moore (1968) descreve que nas cidades industriais existe um congestionamento anônimo.
Ele explica que:
[…] existem multidões sem verdadeira interação social, abundando as interações segmentarias ou mesmo transitórias. As chamadas relações secundárias são nominalmente características das relações de emprego e, na realidade, de muitas outras entre o professor e o pai, funcionário público e cidadão, senhorio e locatário e, num grau extremo comprador e vendedor (MOORE 1968, p.115 e 116).
O automóvel, avião, assim como os telefones reduziam distâncias, nos colocando mais próximos aos indivíduos, assim como as diferenças sociais nos colocavam mais longe do nosso semelhante.
Com a individualização veio esse aspecto da indiferença pelo outro.
Há a idéia do homem contemporâneo fechado em sua casa e rodeado de equipamentos eletrônicos (pc, secretária eletrônica, fax, impressora, cd rom, tv, vídeo, som, celular) que procuram aliviar esse mal estar, anestesiá-lo desse estranhamento, encapsulando-o em uma vida onde o contato com o mundo externo é cada vez mais feito através de caminhos eletrônicos.
A ideologia capitalista também apresenta aspectos antagônicos porque embora tenha criado o indivíduo (ao invés do semelhante) em sua insatisfação, apresenta um apelo maciço da indústria para nos fazer entrar na massa, para agir como os outros e participar do que é coletivo. Forjando em nós a ideia de que o que é da maioria é necessariamente o melhor, de que estamos integrados em uma sociedade. Isso nos põe em contato direto com essas duas forças (individual/coletivo) que nos fragmenta ainda mais.
Ao sair de casa queremos nos certificar de que estamos engajados no melhor de nosso social, as marcas de produtos que nos revestem não facilitam o encontro com o semelhante, apenas os desencontros entre os indivíduos.
Somos por assim dizer um produto deste meio, capazes de amar a humanidade ao mesmo tempo em que não suportamos o próximo, o estranho.
O homem é um ser que não coincide consigo mesmo e traz dentro de si uma negatividade. A busca inquieta da totalidade e satisfação deverá se regular sobre as coisas, sobre o mundo, levando a vontade na procura da posse, do domínio e da Glória. O homem se aliena naquilo que lhe oferece uma imagem de sua unidade desejada: a coisa. (RICOUER, 1996 apud LEVY p. 17)
Ao estabelecer as bases para a cultura de massas, a sociedade pós-industrial, forneceu ferramentas ao capitalismo para espalhar pelo globo terrestre a ideologia individualista do “cada um por si.” A competição que antes era entre povos, nações, e sociedades passou a ser entre indivíduos.
Estamos todos caminhando para um isolamento, sem nos darmos conta desse fato que a cada dia traz péssimas consequências para a pessoa como ser humano.
As três etapas das organizações no decorrer do século XX
Etapas da Industrialização
Era! | Era da iuduniazaço C1a!ica | Era da mdu!triaIuaçto Yeoc1aúca | Era da Informaçao |
Penodo | 19OO-190 | 19S0 -1990 | Apo 1990 |
Estrutura organizacional predominante | Burocrática, funcional, piramidal, centrahzadora, rígida e inflexível, Enfase nos õrgãos | Mista, matricial, com ênfase na departamentalização por produtos ou serviços ou unidades estratégicas de negóos | Fluida, ágil e flexível. totalmente descentralizadora. Enfase nas redes de equipes rnuftifuncionais |
Cultura organizacional predominante | Teona X. Foco no passado, nas tradições e nos vakres conservadores. | Transição. Foco no presente e no atual. Enfase na adaptação ao ambiente. | Teoria Y. Foco no futuro e no destino Enfase na mudança e na inovação. Valorização do conhecimento e da cnatividade. |
Ambiente organizacional | Estático, previsivel, poucas e gradativas mudanças. | Intensificação e aceleração das mudanças ambientais | Mutável, imprevisível. turbulento, com grandes e intensas mudanças. |
Modo de lidar com as pessoas | Pessoas corno fatores de produtos inertes e estáticas. Enfase nas regras e controles rígidos para regular as pessoas | Pessoas como recursos organizacioriais que devem ser administrados. Erifase nos objetivos organizacionais pai-a dirigir as pessoas. | Pessoas corno seres humanos proativos e inteligentes que devem ser irnpulsionados. Enfase na liberdade e no comprometimento para motivar as pessoas. |
Administração de pessoas | Relações industriais | Administração de recursos humanos | Gestão de pessoas |
Fonte: www.hystoria.hpg.ig.com.br/www.agapo.com.br(Franchi Foglia)/maxpages.com/orbita.starmedia.com
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