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O Mal Para Santo Agostinho
Desde o passado mais remoto que filósofos, sociólogos, antropólogos, literatos, religiosos etc buscam, a partir das mais diversas intencionalidades pensar a problemática do mal.
E nisso, surgem questões do tipo: O que é o mal? Qual a sua origem? Por que o mal existe? Terá ele alguma finalidade? Será o mal ação de agentes concretos ou abstratos? Haverá uma natureza maligna que impõe um agir maligno friamente calculado? Será o mal uma criação divina? Se sim, e Deus é bom e onipotente por qual motivo permitiria a criação e persistência do mal no mundo? Isso não feriria a sua onipotência ou benevolência?
Essas e outras questões incitam debates profundos quando o mal é pensado seja nas relações de internacionais, familiares, sociais. O objetivo deste texto é trazer as contribuições agostiniana para pensarmos o estatuto do mal e suas implicações não apenas para as religiões (particularmente para o Cristianismo), mas também para o que se pensa atualmente a cerca do mal.
Praticamente todo o edifício filosófico e teológico agostiniano é uma tentativa de dissociar Deus e o mal. Esse, não é considerado criação de Deus, mas a defecção de um bem. Para Agostinho, Deus é o Bem Supremo, a substância suprema da qual nada de ruim pode proceder. Daí concluir que o mal é a ausência de Deus, o distanciamento do Sumo Bem. Nesse sentido, Deus, embora onipotente, jamais poderia ter criado algo contrário à sua natureza. Todavia, o problema persiste insolúvel haja vista o mal persistir no mundo mesmo que sem ter sido criado por Deus.
Outra grande contribuição de Agostinho é destituir o mal de materialidade, corporeidade. O que o leva a afirmar que, ontologicamente,o mal enquadra-se no não-ser e do ponto de vista moral resume-se ao pecado. Isso fica claro quando, no livro Confissões, o filósofo afirma: “Procurei o que era a maldade e não encontrei substância, mas sim uma perversão da vontade desviada da substância suprema”.
Nesse sentido, superado o dualismo maniqueísta que enquadrava o bem e o mal como substancias absolutas, o filósofo reduzo mal a um bem menor que não estaria presente no universo ou em Deus, mas no próprio homem e seu desregramento da vontade pelo mal-uso que faz do livre-arbítrio. E com isso, Agostinho, em sua obra o Livre-Arbítrio, é categórico ao dizer: “De onde se segue que a raiz de todos os males não está na natureza. E isso basta, por enquanto, para refutarmos todos aqueles que pretendem responsabilizar a natureza pelos pecados”. Ou ainda quando caracteriza que o pecado (mal moral) é fruto do agir voluntário: “ninguém está forçado a pecar, nem por sua própria natureza, nem pela natureza dos outros, logo só vem a pecar por sua própria vontade”. Daí a presença de uma vontade livre imputar ao homem a necessária responsabilização pelos seus atos sejam eles bons ou ruins e retirar o fardo da culpa de Deus.
Fábio Guimarães de Castro
Referência Bibliográfica
BELLEI, Ricardo J.; BUZINARO, Délcio M. O livre-arbítrio e o mal em Santo Agostinho. 2010. (As citações das obras de Agostinho são todas retiradas deste artigo).
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