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Todos os dias somos bombardeados com uma quantidade infinita de informações que nos chegam pelos órgãos dos sentidos. Tudo isso nos afeta, nos transforma, servem de parâmetro para a forma como lidamos com o mundo.
Diante desse bombardeio de informações, cabe ao indivíduo saber selecionar o que irá lhe afetar, constituir a sua visão de mundo. Desse modo, pensar criticamente não é apenas sair criticando a tudo e a todos, nem reproduzir a tudo que vê ou ouve, mas antes ser capaz de posicionar-se frente às diversidades de ideias e informações.
E é nesse contexto que uma série de perguntas começam a borbulhar em nossas mentes quando nos deparamos com o pensamento crítico: o que é o pensamento crítico; que significa pensar criticamente;qual a necessidade/vantagem de pensar criticamente;quais as dificuldades encontram os indivíduos que optam por pensar por si? Essas e outras perguntas servirão de base para a compreensão do chamado pensamento crítico e podem ser respondidas se recorrermos a um valiosíssimo texto da filosofia alemã de autoria de Immanuel Kant.
Em seu texto Resposta à Pergunta: Que é esclarecimento? o filósofo nos apresenta a árdua passagem da menoridade (pensamento acrítico) auto imposta à maioridade (pensamento crítico). É claro que o filósofo não usou esses termos que colocamos em parênteses, mas eles são úteis para entendermos a diferença básica entre os conceitos de maioridade e menoridade quanto ao uso da razão, do pensamento crítico ou acrítico.
A menoridade seria o estágio em que o indivíduo delega ao outro a tutela sobre a sua vida. E é nesse momento que principia o controle mental exercido por morais dominantes dando início a uma jornada rumo ao aprisionamento do Ser, que aos poucos emudece, submete-se aos dizeres e fazeres retroprojetados por uma massa que se diz guardiã dos valores, sentidos e leis humanas.
O indivíduo que está na condição de menoridade intelectual recusa-se a pensar por si, opta de bom grado a seguir cegamente e sem nenhuma reflexão prévia às ideologias dominantes. Torna-se, por assim dizer, um alienado incapaz de ter consciência do seu processo de exploração e dependência.
Todavia, infelizmente, tal processo de dependência, submissão, subjugação, ideologização e despotismo moral, não é percebido pela grande maioria, pois tal sistema organizado age astuciosamente semelhante ao bote rápido e eficaz duma serpente traiçoeira que envenena para imobilizar suas presas e daí ter o absoluto domínio das artérias, intelecto, corpo e ações; inviabilizando seus esclarecimentos quanto à condição pérfida de seus dominadores e criando uma massa de menores incapazes de pensar, agir e tutelar sua existência.
É tão confortável ser menor! Tenho à disposição um livro que entende por mim, um pastor/padre que tem consciência por mim: então não preciso me esforçar. Não me é necessário pensar, quando posso pagar; nem estudar para a prova, quando amigos prontamente me passarão a resposta: outros assumirão a tarefa espinhosa por mim.
Percebam que embora pérfida a condição de menoridade ela é extremamente confortável a muitos indivíduos que se sentem bem em não fazer uso da sua racionalidade. Dificultando, por assim dizer, a passagem da menoridade à maioridade intelectual, onde o indivíduo é capaz de, abandonando a preguiça e a covardia, “servir-se de si mesmo” e legislar sua vida independente dos doutrinadores morais.
E é justamente na condição de maioridade intelectual que fixamos o pensamento crítico. Nesse estado o indivíduo recusa os tutores, não lhes permite o controle, domínio, direção de suas vidas, mas antes assume as rédeas da sua existência, passa a usar publicamente a sua razão, e deixa de absorver toda e qualquer ideologia só porque ela era a dominante. Daí o filósofo dizer que para o esclarecimento nada é exigido além da liberdade em fazer uso da própria razão em todas questões que afetam os seres humanos.
Pensamento Crítico na Música
A música AnotherBrick In The Wall, composta pelo baixista Roger Waters, da banda de rock inglesa Pink Floyd, reflete a repulsa ao controle mental exercido nas escolas, mas que pode ser estendido, sem perdas de sentido, às religiões, governos, organizações; que nos faz insignes tijolos a sustentar o palácio moral da tradição. Impedindo-nos de alçar voos profícuos rumo às potencialidades dos nexos humanos. No limite, inviabilizam o pensamento crítico, distanciando da real função da escola que é nos tornar cidadãos críticos da realidade em que vivemos.
Fábio Guimarães de Castro
Referências Bibliográficas
KANT, I. Resposta à pergunta: que é esclarecimento? In: KANT, I. Textos seletos. Petrópolis: Vozes, 1974.
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