Interação Vegetação-Atmosfera

A influência da vegetação na atmosfera

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A radiação solar que incide sobre a superfície terrestre deixa uma quantidade de energia disponível. Essa energia aquece o ar e é utilizado pelas plantas.

As plantas utilizam uma pequena parte de energia para a fotossíntese, e o restante para a transpiração. Desde cedo aprendemos que as plantas fazem fotossíntese.

Mas você lembra o que isso significa?

Na fotossíntese, a planta absorve CO2 (gás carbônico) e fornece O2 (oxigênio). Ou seja, a fotossíntese é o contrário da respiração.

Interação Vegetação-Atmosfera
Elementos da fotossíntese

Além disso, na fotossíntese, a planta constrói glicose, que é a matéria-prima do amido e da celulose. Durante o dia, paralelamente à fotossíntese, ocorre a transpiração das plantas. Na transpiração, as plantas cedem vapor d’água para o ar; portanto, a transpiração deixa o ar mais úmido. O vapor pode ser transportado para cima, formar nuvens e, eventualmente, retornar à superfície na forma de chuva. Ou seja, o vapor d’água oriundo da transpiração é uma importante componente do ciclo hidrológico.

Interação Vegetação-Atmosfera
Absorção de energia solar por diferentes biomas

A atmosfera deixa uma quantidade de energia disponível para a superfície. As plantas “roubam” uma parte dessa energia para transpirar. Se não existisse a vegetação, toda a energia seria utilizada para o aquecimento do ar. A superfície ficaria mais quente e mais seca. Se compararmos duas regiões – uma desértica e outra densamente vegetada – sujeitas à mesma radiação solar, ou seja, localizadas na mesma latitude, veremos que, durante o dia, a região desértica é mais quente e seca que a vegetada. A transpiração influencia a superfície, deixando-a menos quente e mais úmida.

A influência da atmosfera na vegetação

Parece intuitivo associar vegetação a clima. Por exemplo, florestas tropicais – por exemplo, a floresta Amazônica – ocorrem em regiões onde as chuvas são abundantes e a temperatura é alta. Já onde as chuvas são muito escassas, independentemente da temperatura, ocorrem os desertos.

A medida que subimos uma montanha ou saímos do Equador em direção aos pólos a temperatura e a precipitação diminuem. Portanto, encontramos biomas diferentes à medida que subimos a montanha. Isto é a zonação da vegetação.

CAMPOS

A vegetação é constituída principalmente de plantas herbáceas, havendo poucos arbustos. As chuvas são menos abundantes que as das florestas mas mais abundantes que as dos desertos. Estão sujeitos a períodos de estiagem prolongados; portanto, o estresse hídrico dificulta a transpiração das plantas, deixando o ar mais seco.

DESERTO

Caracterizam-se por chuvas muito escassas. As plantas são esparsas, com muito espaço entre elas. Há adaptações especiais nos vegetais que vivem nos desertos. Muitos vegetais são suculentos, como os cactos que armazenam água. Nessas plantas, é o caule verde que faz fotossíntese, enquanto as folhas são transformadas em espinhos, o que reduz a área transpirante.

TUNDRA

São características do hemisfério norte, ocorrendo em altas latitudes (acima de 60o). As temperaturas são muito baixas (abaixo de –5oC). A precipitação é pequena (ao redor de 25 cm anuais) e, normalmente, em forma de neve. A vegetação se desenvolve apenas durante 2 a 3 meses por ano, pois os solos permanecem congelados a maior parte do tempo.

As plantas que conseguem sobreviver são de pequeno porte: sobretudo gramíneas, alguns poucos arbustos, grandes camadas de líquens e musgos sobre as rochas.

FLORESTA TROPICAL

Trata-se de uma floresta densa, composta por muitas espécies, e “sempre verde”, isto é, suas folhas não caem. As florestas tropicais ocorrem em regiões da faixa equatorial sujeitas a chuvas abundantes e altas temperaturas. Na vertical, podemos dividir a floresta em camadas, pois existe uma nítida estratificação. As camadas são também chamadas de estratos. Na camada superior (entre 30 e 40 m acima do solo), fica a copa das árvores mais altas. Abaixo dela, encontra-se uma camada contendo a copa das árvores menores (entre 5 e 30 m). Essa camada pode ser subdividida em duas ou mais subcamadas. Finalmente, encontramos a camada de arbustos (cerca de 5 m de altura). Próximo à superfície do solo, há pouca vegetação, devido à escassa quantidade de luz que consegue atravessar a densa folhagem e chegar ao solo.

FLORESTA TEMPERADA

Trata-se de florestas típicas do hemisfério norte, ocorrendo em latitudes médias (30 a 60o). Ao contrário das florestas tropicais, que são “sempre verdes”, as árvores da floresta temperada perdem as suas folhas no outono. São ditas, por isso, caducifólias. As chuvas são menos abundantes que as da faixa equatorial, mas continuam relativamente altas. As temperaturas são amenas. Nessas florestas são encontrados, comumente, faias, nogueiras e carvalhos. A diversidade das espécies é grande, mas menor que a da floresta tropical.

FLORESTA DE CONÍFERAS

Também chamada de taiga (nome russo para designar a floresta de coníferas da Sibéria), trata-se de florestas de pinheiros. Ocorrem entre as latitudes médias e as altas. As temperaturas são baixas e as chuvas, menos abundantes que as da floresta temperada. As florestas são “sempre verdes” e possuem adaptações para a vida em ambiente de inverno longo e com a presença de neve. As folhas das árvores têm a forma de agulhas, o que é uma adaptação para reduzir a transpiração. Existe pouca vegetação rasteira, pois pouca luz chega ao solo. As florestas de coníferas possuem pouca variedade de espécies.

A influência da atmosfera na vegetação

O corpo de uma planta terrestre típica é composto de três partes familiares e fundamentais.

Essas partes também chamadas de órgãos vegetativos são: raiz, caule e folha. A raiz das plantas é responsável pela retirada de água e nutrientes do solo. Quando adubamos o solo, estamos repondo os nutrientes que as plantas necessitam para o seu desenvolvimento. A água e nutrientes absorvidos compõem a seiva bruta.

Essa seiva bruta é transportada, da raiz para as folhas pelo xilema (conjunto de vasos encontrados no caule da planta).

Nas folhas, ocorre a fotossíntese, que é um processo de produção de glicose e oxigênio. A glicose produzida compõe a seiva elaborada conhecida como alimento da planta. A seiva elaborada é transportada, das folhas para a raiz, por um conjunto de vasos chamados de floema. Durante a descida, o floema fornece alimento aos demais órgãos, principalmente aos que não realizam fotossíntese, como as raízes.

Note que a respiração ocorre em todos os órgãos da planta. A respiração é um processo que consome glicose e oxigênio, e produção de gás carbônico, água e energia. Esse energia é utilizada pela planta para realizar as suas funções vitais.

Uma folha de forma simplificada é constituída de epiderme, estômatos, parênquima e nervuras. As paredes da epiderme da folha não perdem água, mas essa parede possui buracos, chamados de estômatos. É através dos estômatos que a folha realiza as trocas de gasosas.

O estômato é formado por duas células em forma de rim, denominadas células-guarda, com uma abertura entre elas, chamada de ostíolo.

As células-guarda controlam a abertura estomática: quando as células-guarda estão inchadas devido à absorção de água, o ostíolo fica aberto; quando estão murchas, o ostíolo se fecha.

VEGETAÇÃO BRASILEIRA

Estima-se que 10% das espécies vegetais do planeta vivam nas paisagens brasileiras, mas essa vegetação vêm sendo consumidas por desmatamento, queimadas e poluição.

FLORESTA AMAZÔNICA

A Floresta Amazônica é uma típica floresta tropical, com grande diversidade de espécies vegetais e animais. Ela é um gigante tropical que ocupa 5,5 milhões de km2 dos quais 60% estão em território brasileiro; o restante se reparte entre as duas Guianas, Suriname, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia.

Em geral, a vegetação amazônica é higrófila, ou seja, adaptada à vida em condições de excesso de água.

As adaptações que tais plantas apresentam são: ramos e folhas com os ápices voltados para baixo, folhas em goteira e ceras que revestem a superfície foliar.

Todas essas características permitem que o excesso de água goteje para baixo com facilidade, evitando assim a obstrução dos estômatos.

Na Floresta Amazônica vivem e se reproduzem mais de um terço das espécies existentes no planeta. Além de 2.500 espécies de árvores (um terço da madeira tropical do mundo), a Amazônia também abriga água, muita água. O Rio Amazonas ­ a maior bacia hidrográfica do mundo, que cobre uma extensão aproximada de 6 milhões de km2 ­ corta a região para desaguar no Oceano Atlântico, lançando no mar, a cada segundo, cerca de 175 milhões de litros de água. Esse número corresponde a 20% da vazão conjunta de todos os rios da terra.

E são nessas águas que se encontra o maior peixe de água doce do mundo: o pirarucu, que atinge até 2,5 m.

Todos os números que envolvem indicadores desse bioma são enormes. Uma boa idéia da exuberância da floresta está na fauna local. Das 100 mil espécies de plantas que ocorrem em toda a América Latina, 30 mil estão na Amazônia. A diversidade em espécies vegetais se repete na fauna da região. Os insetos, por exemplo, estão presentes em todos os estratos da floresta. Os animais rastejadores, os anfíbios e aqueles com capacidade para subir em locais íngremes, como o esquilo, exploram os níveis baixos e médios. Os locais mais altos são explorados por beija-flores, araras, papagaios e periquitos à procura de frutas, brotos e castanhas. Os tucanos, voadores de curta distância, exploram as árvores altas. O nível intermediário é habitado por jacus, gaviões, corujas e centenas de pequenas aves. No extrato terrestre estão os jabutis, cutias, pacas, antas etc. Os mamíferos aproveitam a produtividade sazonal dos alimentos, como os frutos caídos das árvores. Esses animais, por sua vez, servem de alimentos para grandes felinos e cobras de grande porte.

A maior parte dos solos da Floresta Amazônica é pobre em nutrientes. Pode parecer contraditório que uma floresta tão rica possa sobreviver sobre um solo pobre. Isso se explica pelo fato de ocorrer um ciclo fechado de nutrientes. Quase todos os minerais estão acumulados no vegetal. Quando os órgãos da planta morrem, são decompostos, e os nutrientes são reabsorvidos pelas raízes. Portanto, a floresta vive do seu próprio material orgânico. Se a água das chuvas caísse diretamente sobre o solo, tenderia a lavá-lo, retirando os sais minerais. Na floresta, porém, a queda das gotas é amortecida pela densa folhagem, o que reduz a perda de nutrientes. Portanto, o desmatamento, que reduz a folhagem da floresta, pode levar ao empobrecimento da terra. Isso mostra uma das fragilidades do ecossistema.

Atualmente, sabe-se que a Floresta Amazônica é um ecossistema frágil. A menor imprudência pode causar danos irreversíveis ao seu delicado equilíbrio ecológico.

MATA ATLÂNTICA

A Mata Atlântica é uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo. Hoje, está reduzida a apenas 7% de sua área original. Mais de 70% da população brasileira vivem na região da Mata Atlântica.

A Mata Atlântica também é uma floresta tropical típica, e muitas das características da Floresta Amazônica são válidas para ela. A diferença mais marcante é a topografia, que, no caso da Mata Atlântica, é mais íngreme e variável.

Na época do descobrimento do Brasil, a Mata Atlântica tinha uma área equivalente a um terço da Amazônia. Cobria 1 milhão de km2, ou 12% do território nacional, estendendo-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Apesar da devastação sofrida, a riqueza das espécies animais e vegetais que ainda se abrigam na Mata Atlântica é espantosa. Em alguns trechos remanescentes de floresta os níveis de biodiversidade são considerados os maiores do planeta. Em contraste com essa exuberância, as estatísticas indicam que mais de 70% da população brasileira vive na região da Mata Atlântica. Além de abrigar a maioria das cidades e regiões metropolitanas do país, a área original da floresta sedia também os grandes pólos industriais, petroleiros e portuários do Brasil, respondendo por nada menos de 80% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional.

A Mata Atlântica abrange as bacias dos rios Paraná, Uruguai, Paraíba do Sul, Doce, Jequitinhonha e São Francisco. Espécies imponentes de árvores são encontradas na região, como o jequitibá-rosa, de 40 m de altura e 4 m de diâmetro.

Também destacam-se nesse cenário várias outras espécies: o pinheiro-do-paraná, o cedro, as figueiras, os ipês, a braúna e o pau-brasil, entre muitas outras.

A região onde ocorre uma grande população do pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia) é chamada de Matas de Araucárias.

Nessa região, existem estações bastante delimitadas: verões razoavelmente quentes e invernos bastante frios. As precipitações são regulares. A copas das árvores não forma uma camada contínua, como ocorre na Floresta Amazônica. Por serem mais abertas, são menos úmidas que as florestas tropicais. Os pinheiros podem ter troncos com 1 m de diâmetro e atingem 25 a 30 m de altura. Só se vêem ramificações no topo da árvore, o que lhe dá um aspecto de guarda-sol. Os ramos mais baixos, que ficam na sombra, são eliminados, pois a araucária é uma planta de sol (heliófila). Na Mata das Araucárias também aparece o mate, usado para infusões.

MATA COSTEIRA

O Brasil possui uma linha contínua de costa Atlântica de 8.000 km de extensão, uma das maiores do mundo. Ao longo dessa faixa litorânea é possível identificar uma grande diversidade de paisagens como dunas, ilhas, recifes, costões rochosos, baías, estuários, brejos e falésias.

Ao longo da costa brasileira, as praias, restingas, lagunas e manguezais apresentam diferentes espécies animais e vegetais. Isso se deve, basicamente, às diferenças climáticas e geológicas. Grande parte da zona costeira, entretanto, está ameaçada pela superpopulação e por atividades agrícolas e industriais. É aí, seguindo essa imensa faixa litorânea, que vive mais da metade da população brasileira.

O litoral amazônico, que vai da foz do Rio Oiapoque ao Rio Parnaíba, é lamacento e tem, em alguns trechos, mais de 100 km de largura. Apresenta grande extensão de manguezais, assim como matas de várzeas de marés. Jacarés, guarás e muitas espécies de aves e crustáceos são alguns dos animais que vivem nesse trecho da costa.

O litoral nordestino começa na foz do Rio Parnaíba e vai até o Recôncavo Baiano. É marcado por recifes calcáreos e arenitos, além de dunas que, quando perdem a cobertura vegetal que as fixa, movem-se com a ação do vento. Há ainda nessa área manguezais, restingas e matas. Nas águas do litoral nordestino vivem o peixe-boi marinho e tartarugas (ambos ameaçados de extinção).

O litoral sudeste segue do Recôncavo Baiano até São Paulo. É a área mais densamente povoada e industrializada do país. Suas áreas características são as falésias, recifes, arenitos e praias de areias monazíticas (mineral de cor marrom escura). É dominado pela Serra do Mar e tem a costa muito recortada com várias baías e pequenas enseadas. O ecossistema mais importante dessa área são as matas de restingas. Essa parte do litoral é habitada pela preguiça-de-coleira e pelo mico-sauá (espécies ameaçadas de extinção).

O litoral sul começa no Paraná e termina no Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Cheio de banhados e manguezais, o ecossistema da região é riquíssimo em aves, mas há também outras espécies: ratão-do-banhado, lontras (também ameaçados de extinção), capivaras etc.

CAATINGA

A Caatinga distribui-se pelos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia, sul-leste do Piauí e norte de Minas Gerais.

A palavra Caatinga vem do tupi, e significa “mata branca”. A vegetação se caracteriza por ter folhas apenas nos 3 ou 4 meses da estação das chuvas. O resto do tempo as plantas ficam sem as folhas (vegetação caducifólia), e seu aspecto é claro, o que explica o nome “mata branca”. As temperaturas são elevadas e é baixa a umidade relativa do ar. As precipitações são relativamente baixas, podendo ocorrer de maneira bastante irregular. A estação da seca é superior a sete meses por ano. Os rios normalmente secam no verão, exceto o São Francisco, que é perene.

Os cerca de 20 milhões de brasileiros que vivem nos 800 mil km2 de Caatinga nem sempre podem contar com as chuvas de verão. Quando não chove, o homem do sertão e sua família sofrem muito. Precisam caminhar quilômetros em busca da água dos açudes. A irregularidade climática é um dos fatores que mais interferem na vida do sertanejo.

Mesmo quando chove, o solo raso e pedregoso não consegue armazenar a água que cai e a temperatura elevada (médias entre 25oC e 29oC) provoca intensa evaporação. Por isso, somente em algumas áreas próximas às serras, onde a abundância de chuvas é maior, a agricultura torna-se possível.

Na longa estiagem, os sertões são, muitas vezes, semi-desertos nublados mas sem chuva. O vento seco e quente não refresca, incomoda. As plantas da Caatinga apresentam várias adaptações que permitem a sobrevivência na estação seca. As folhas são muitas vezes reduzidas, como nas cactáceas, nas quais se transformam em espinhos. O mecanismo de abertura e fechamento dos estômatos é bem rápido. A queda das folhas na estação seca representa também um modo de reduzir a área exposta à transpiração. Algumas plantas possuem ter raízes praticamente na superfície do solo para absorver o máximo da chuva. As espécies mais comuns da região são, entre outras, a amburana, aroeira, umbu, baraúna, maniçoba, macambira, mandacaru e o juazeiro.

A Caatinga é coberta por solos relativamente férteis. Embora não tenha potencial madeireiro, exceto pela extração secular de lenha, a região é rica em recursos genéticos dada a sua alta biodiversidade. Por outro lado, o aspecto agressivo da vegetação contrasta com o colorido diversificado das flores emergentes no período das chuvas.

A Caatinga apresenta três estratos: arbóreos (8 a 12 metros), arbustivo (2 a 5 metros) e o herbáceo (abaixo de 2 metros). Contraditoriamente, a flora dos sertões, constituída por espécies com longa história de adaptação ao calor e à secura, é incapaz de reestruturar-se naturalmente se máquinas forem usadas para alterar o solo. A degradação é, portanto, irreversível na Caatinga.

CERRADO

Os viajantes que desbravaram o interior do Brasil há décadas atravessaram extensas áreas cobertas por um tapete de gramíneas com arbustos e pequenas árvores retorcidas, era o Cerrado.

A primeira impressão que se tem do cerrado é de uma vegetação seca, marcada por queimadas. Mas, de perto, ele apresentava toda a sua beleza de flores exóticas e plantas medicinais desconhecidas da medicina tradicional como arnica, catuaba, jurubeba, sucupira e angico. Soma-se a isso uma grande variedade de animais. O equilíbrio desse sistema, cuja biodiversidade pode ser comparada à Amazônica, é de fundamental importância para a estabilidade dos demais ecossistemas brasileiros.

O Cerrado é a segunda maior formação vegetal brasileira, superado apenas pela floresta Amazônica. São 2 milhões de km2 espalhados por 10 Estados. O Cerrado é um campo tropical na qual a vegetação herbácea coexiste com mais de 420 espécies de árvores e arbustos esparsos. A estação seca é bem pronunciada, podendo durar de 5 a 7 meses. Os rios não secam, porém a sua vazão diminui.

A vegetação do Cerrado tem aspectos que costumam ser interpretados como adaptações a ambientes secos (xeromorfismo). Assim, árvores e arbustos têm galhos tortuosos, folhas endurecidas, casca grossa; as superfícies das folhas são muitas vezes brilhantes, outras vezes recobertas por pêlos.

Outras plantas, contraditoriamente, têm características de lugares úmidos: folhas largas, produção de flores e brotos em plena estação seca.

A água não é o fator limitante do Cerrado. Descobriu-se que o solo, mesmo na estação seca, contém uma quantidade apreciável de água, a partir dos 2 metros de profundidade. As raízes de muitas espécies aprofundam-se muito, o que permite a abertura dos estômatos durante o dia todo.

Portanto, atualmente, acredita-se que as plantas do Cerrado apresentam um falso xeromorfismo (o que é chamado de pseudoxeromorfismo). O aspecto da vegetação não é devido à falta d’água, mas sim devido à escassez de nutrientes do solo.

Essa deficiência dificulta muito a produção de proteínas nas plantas, e o excesso de carboidratos se acumula em estruturas que dão às plantas o aspecto xeromórfico: súber espesso, cutículas grossas e excessivo esclerênquima (tecido de sustentação com células de paredes reforçadas). Diz-se, então, que a vegetação apresenta um escleromorfismo oligotrófico ou, em outras palavras, “um aspecto muito duro devido à falta de nutrição”.

O Cerrado tem a seu favor o fato de ser cortado por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins, São Francisco e Prata), favorecendo a manutenção de uma biodiversidade surpreendente. Estima-se que a flora da região possua 10 mil espécies de plantas diferentes (muitas delas usadas na produção de cortiça, fibras, óleos, artesanato, além do uso medicinal e alimentício). Isso sem contar as 400 espécies de aves, 67 gêneros de mamíferos e 30 tipos de morcegos catalogados na área.

O número de insetos é surpreendente: apenas na área do Distrito Federal, há 90 espécies de cupins, 1.000 espécies de borboletas e 500 tipos diferentes de abelhas e vespas.

PANTANAL

O Pantanal é um dos mais valiosos patrimônios naturais do Brasil. Maior área úmida continental do planeta – com 140 mil km2 em território brasileiro – destaca-se pela riqueza da fauna, onde dividem espaço 650 espécies de aves, 80 de mamíferos, 260 de peixes e 50 de répteis.

As chuvas fortes são comuns no Pantanal. Os terrenos, quase sempre planos, são alagados periodicamente por inúmeros córregos e vazantes entremeados de lagoas e leques aluviais. Ou seja, muita água. Na época das cheias estes corpos comunicam-se e mesclam-se com as águas do Rio Paraguai, renovando e fertilizando a região. Contudo, assim como nos demais ecossistemas brasileiros onde a ocupação predatória vem provocando destruição, a interferência no Pantanal também é sentida . Embora boa parte da região continue inexplorada, muitas ameaças surgem em decorrência do interesse econômico que existe sobre essa área. A situação começou a se agravar nos últimos 20 anos, sobretudo pela introdução de pastagens artificiais e a exploração das áreas de mata.

O equilíbrio desse ecossistema depende, basicamente, do fluxo de entrada e saída de enchentes que, por sua vez, está diretamente ligado à pluviosidade regional.

De forma geral, as chuvas ocorrem com maior freqüência nas cabeceiras dos rios que desaguam na planície. Com o início do trimestre chuvoso nas regiões altas (a partir de novembro), sobe o nível de água do Rio Paraguai provocando, assim, as enchentes. O mesmo ocorre paralelamente com os afluentes do Paraguai que atravessam o território brasileiro cortando uma extensão de 700 km. As águas vão se espalhando e cobrindo, continuamente, vastas extensões em busca de uma saída natural, que só é encontrada centenas de quilômetros adiante no encontro do Rio com o Oceano Atlântico, fora do território brasileiro. As cheias chegam a cobrir até 2/3 da área pantaneira. A partir de maio, então, inicia-se a “vazante” e as águas começam a baixar lentamente. Quando o terreno volta a secar permanece, sobre a superfície, uma fina camada de lama humífera (mistura de areia, restos de animais e vegetais, sementes e humus) propiciando grande fertilidade ao solo.

A natureza faz repetir, anualmente, o espetáculo das cheias proporcionando ao Pantanal a renovação da fauna e flora local . Esse enorme volume de água, que praticamente cobre a região pantaneira, forma um verdadeiro mar de água doce onde milhares de peixes proliferam. Peixes pequenos servem de alimento a espécies maiores ou a aves e animais.

Quando o período da vazante começa, uma grande quantidade de peixes fica retida em lagoas ou baías, não conseguindo retornar aos rios. Durante meses, aves e animais carnívoros (jacarés, ariranhas etc) têm, portanto, um farto banquete à sua disposição. As águas continuam baixando mais e mais e nas lagoas, agora bem rasas, peixes como o dourado, pacu e traíra podem ser apanhados com as mãos pelos homens. Aves grandes e pequenas são vistas planando sobre as águas, formando um espetáculo de grande beleza.

CAMPO

Os campos também fazem parte da paisagem brasileira.

Esse tipo de vegetação é encontrada em dois lugares distintos: os campos de terra firme são característicos do norte da Amazônia, Roraima, Pará e ilhas do Bananal e de Marajó, enquanto os campos limpos são típicos da região sul.

De um modo geral, o campo limpo é destituído de árvores, bastante uniforme e com arbustos espalhados e dispersos. Já nos campos de terra firme as árvores, baixas e espaçadas, se integram totalmente à paisagem. Em ambos os casos o solo é revestido de gramíneas, subarbustos e ervas.

Entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os campos formados por gramíneas e leguminosas nativas se estendem como um tapete verde por mais de 200.000 km2, tornado-se mais densas e ricas nas encostas. Nessa região, com muita mata entremeada, as chuvas distribuem-se regularmente pelo ano todo e as baixas temperaturas reduzem os níveis de evaporação. Tais condições climáticas acabam favorecendo ao crescimento de árvores. Bem diferentes, entretanto, são os campos que dominam áreas do Norte do país.

O domínio das florestas e dos campos meridionais se estende desde o Rio Grande do Sul até parte dos estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo. O clima é ameno e o solo naturalmente fértil. A junção destes dois fatores favoreceram à colonização acelerada no último século, principalmente por imigrantes europeus e japoneses que alcançaram elevados índices de produtividade na região.

Os campos do Sul ocorrem no chamado “Pampa”, uma região plana de vegetação aberta e de pequeno porte que se estende do Rio Grande do Sul para além das fronteiras com a Argentina e o Uruguai, no interior do estado. Esse tipo de vegetação ocorre em área contínua no Sul e também como manchas dispersas encravadas na floresta Atlântica do Rio Grande do Norte até o Paraná. São áreas planas, revestidas de gramíneas e outras plantas encontradas de forma escassa, como tufos de capim que atingem até um metro de altura.

Descendo ao litoral do Rio Grande do Sul, a paisagem é marcada pelos banhados, isto é, ecossistemas alagados com densa vegetação de juncos, gravatás e aguapés que criam um habitat ideal para uma grande variedade de animais como garças, marrecos, veados, onças-pintadas, lontras e capivaras. O banhado do Taim é o mais importante devido à riqueza do solo. Tentativas extravagantes de drená-lo para uso agrícola foram definitivamente abandonadas a partir de 1979 quando a área transformou-se em estação ecológica. Mesmo assim, a ação de caçadores e o bombeamento das águas pelos fazendeiros das redondezas continuam a ameaçar o local.

Mas enquanto sobra água no Sul, os campos do Norte do Brasil se caracterizam por áreas secas e de florestas dominadas pelas palmeiras. Tais florestas se situam entre a Amazônia e a Caatinga e se formam a partir do desmatamento da vegetação nativa. Livre da competição de outras plantas, as palmeiras de babaçu e carnaúba, o buriti e a oiticica se desenvolvem rapidamente. Algumas chegando a atingir até 15 metros de altura. Existem também áreas de campos “naturais”, com vegetação de porte mais raquítico, que ocorrem como manchas no norte da floresta Amazônica.

PROBLEMAS ECOLÓGICOS

FLORESTA AMAZÔNICA

Aclamado como o país de maior diversidade biológica do mundo, o Brasil tem sua riqueza natural constantemente ameaçada. Um exemplo dessa situação é o desmatamento anual da Amazônia, que cresceu 34% de 1992 a 1994. Na região, a atividade agrícola de forma não-sustentável continua e a extração madeireira tende a aumentar na medida em que os estoques da Ásia se esgotam. Relatório elaborado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, ligada à Presidência da República, indica que 80% da produção madeireira da Amazônia provêm da exploração ilegal. Existem 22 madeireiras estrangeiras conhecidas em operação na região e há pouca fiscalização sobre sua produção e área de exploração. Esses dados refletem o descontrole da região por parte das autoridades. O pior é que o desperdício da madeira gira entre 60% e 70%. Um outro agravante é o fato de o Governo desenvolver megaprojetos de infra-estrutura para a Amazônia que causam degradação ambiental sem trazer benefícios para os habitantes da região.

Embora o Brasil tenha uma das mais modernas legislações ambientais do mundo, ela não tem sido suficiente para bloquear a devastação da floresta. Os problemas mais graves são a insuficiência de pessoal dedicado à fiscalização, as dificuldades em monitorar extensas áreas de difícil acesso, a fraca administração das áreas protegidas e a falta de envolvimento das populações locais. Solucionar essa situação depende da forma pela qual os fatores político, econômico, social e ambiental serão articulados.

Mais de 12% da área original da Floresta Amazônica já foram destruídos devido a políticas governamentais inadequadas, modelos inapropriados de ocupação do solo e à pressão econômica, que levou à ocupação desorganizada e ao uso não-sustentável dos recursos naturais. Muitos imigrantes foram estimulados a se instalar na região, levando com eles métodos agrícolas impróprios para a Amazônia.

A ocupação da região amazônica começou a se intensificar na década de 40 quando o Governo passou a estimular, através de incentivos fiscais, a implantação de projetos agropecuários na área. As queimadas e o desmatamento tornaram-se constantes. Até o final de 1990 mais de 415 mil km2 tinham sido desmatados.

O total da área queimada foi 2,5 vezes maior. Em algumas localidades, como Porto Velho (RO), os aeroportos chegaram a ser fechados algumas vezes por causa da fumaça das queimadas. Outra forma de destruição tem sido os alagamentos para a implantação de usinas hidrelétricas. É o caso da Usina de Balbina ao norte de Manaus. A baixíssima relação entre a área alagada e a potência elétrica instalada tornou-se um exemplo de inviabilidade econômica e ecológica em todo o mundo. A atividade mineradora também trouxe graves conseqüências ambientais, como a erosão do solo e a contaminação dos rios com mercúrio.

Uma das medidas tomadas pelo Governo para proteção da floresta foi a moratória de dois anos, a partir de 1996, para concessão de novas autorizações para a exploração de mogno e virola. Como o desmatamento de florestas tropicais representa uma ameaça constante à integridade de centenas de culturas indígenas, tais medidas são de significativa importância. No caso da virola, projetos que priorizem sua conservação ou manejo adequado são fundamentais. A espécie, que chegou a ocupar o segundo lugar em valor na pauta de exportações de madeiras brasileiras, praticamente não é mais explorada comercialmente devido ao esgotamento das florestas nativas do gênero.

MATA ATLÂNTICA

Paralelamente à riqueza vegetal, a fauna é o que mais impressiona na região. A maior parte das espécies de animais brasileiros ameaçados de extinção são originários da Mata Atlântica, como os micos-leões, a lontra, a onça-pintada, o tatu-canastra e a arara-azul-pequena. Fora dessa lista, também vivem na área gambás, tamanduás, preguiças, antas, veados, cotias, quatis etc.

Durante 500 anos a Mata Atlântica propiciou lucro fácil ao homem. Madeiras, orquídeas, corantes, papagaios, ouro, produtos agrícolas e muito mais serviram ao enriquecimento de muita gente, além das próprias queimadas que deram lugar a uma agricultura imprudente e insustentável. Por muitos anos, nenhuma restrição foi imposta à essa fome por dinheiro. A Mata Atlântica é o ecossistema brasileiro que mais sofreu os impactos ambientais dos ciclos econômicos da história do país.

Primeiro, ainda no século XVI, houve a extração predatória do pau-brasil, utilizado para tintura e construção. A segunda grande investida foi o ciclo da cana-de-açúcar. Constatada a fertilidade do solo, extensos trechos de Mata Atlântica foram derrubados para dar lugar aos canaviais. No século XVIII, foram as jazidas de ouro que atraíram para o interior um grande número de portugueses. A imigração levou a novos desmatamentos, que se estenderam até os limites com o Cerrado, para a implantação de agricultura e pecuária. No século seguinte, foi a vez do café, provocando a marcha ao sul do Brasil e, então, chegou a vez da extração da madeira. No Espírito Santo, as matas passaram a ser derrubadas para o fornecimento de matéria-prima para a indústria de papel e celulose. Em São Paulo, a implantação do Pólo Petroquímico de Cubatão tornou-se conhecida internacionalmente como exemplo de poluição urbana.

Esse processo desorientado de desenvolvimento ameaça inúmeras espécies, algumas quase extintas como o mico-leão-dourado, a onça pintada e a jaguatirica.

MATA COSTEIRA

Há muito ainda para se conhecer sobre a dinâmica ecológica do litoral brasileiro. Complexos sistemas costeiros distribuem-se ao longo do litoral, fornecendo áreas para a criação, crescimento e reprodução de inúmeras espécies de flora e fauna. Somente na costa do Rio Grande do Sul – conhecida como um centro de aves migratórias ­ foram registradas, aproximadamente, 570 espécies.

Muitos desses pássaros utilizam a costa brasileira para alimentação, abrigo ou como rota migratória entre a América do Norte e as partes mais ao sul do Continente. A faixa litorânea brasileira também tem sido considerada essencial para a conservação de espécies ameaçadas em escala global, como as tartarugas marinhas, as baleias e o peixe-boi-marinho. É importante ressaltar que a destruição dos ecossistemas litorâneos é uma ameaça para o próprio homem, uma vez que põe em risco a produção pesqueira – uma rica fonte de alimento.

A integridade ecológica da costa brasileira é pressionada pelo crescimento dos grandes centros urbanos, pela especulação imobiliária sem planejamento, pela poluição e pelo enorme fluxo de turistas. A ocupação predatória vem ocasionando a devastação das vegetações nativas, o que leva, entre outras coisas, à movimentação de dunas e até ao desabamento de morros.

O aterro dos manguezais, por exemplo, coloca em perigo espécies animais e vegetais, além de destruir um importante “filtro” das impurezas lançadas na água. As raízes parcialmente submersas das árvores do mangue espalham-se sob a água para reter sedimentos e evitar que eles escoem para o mar. Alguns mangues estão estrategicamente situados entre a terra e o mar, formando um estuário para a reprodução de peixes. Já a expulsão das populações caiçaras (pescador ou o caipira do litoral) está acabando com uma das culturas mais tradicionais e ricas do Brasil. Outra ação danosa é o lançamento de esgoto no mar, sem qualquer tratamento. Operações de terminais marítimos têm provocado o derramamento de petróleo, entre outros problemas graves.

CAATINGA

O homem complicou ainda mais a dura vida no sertão. Fazendas de criação de gado começaram a ocupar o cenário na época do Brasil colônia. Os primeiros a chegar pouco entendiam a fragilidade da Caatinga, cuja aparência árida denuncia uma falsa solidez. Para combater a seca foram construídos açudes para abastecer de água os homens, seus animais e suas lavouras. Desde o Império, quando essas obras tiveram início, o governo prossegue com o trabalho.

Os grandes açudes atrairam fazendas de criação de gado. Em regiões como o vale do São Francisco, a irrigação foi incentivada sem o uso de técnica apropriada e o resultado tem sido desastroso. A salinização do solo é, hoje, uma realidade. Especialmente na região, onde os solos são rasos e a evaporação da água ocorre rapidamente devido ao calor. A agricultura nessas áreas tornou-se impraticável.

Outro problema é a contaminação das águas por agrotóxicos. Depois de aplicado nas lavouras, o agrotóxico escorre das folhas para o solo, levado pela irrigação, e daí para as represas, matando os peixes. Nos últimos 15 anos, 40 mil km2 de Caatinga se transformaram em deserto devido a interferência do homem sobre o meio ambiente da região. As siderúrgicas e olarias também são responsáveis por este processo, devido ao corte da vegetação nativa para produção de lenha e carvão vegetal.

O sertão nordestino é uma das regiões semi-áridas mais povoadas do mundo. A diferença entre a Caatinga e áreas com as mesmas características em outros países é que as populações se concentram onde existe água, promovendo um controle rigoroso da natalidade. No Brasil, entretanto, o homem está presente em toda a parte, tentando garantir a sua sobrevivência na luta contra o clima.

CERRADOS

Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o ecossistema brasileiro que mais alterações sofreu com a ocupação humana. Um dos impactos ambientais mais graves na região foram causados pelos garimpos, que contaminaram os rios com mercúrio e provocaram o assoreamento dos cursos de água. A erosão causada pela atividade mineradora tem sido tão intensa que, em alguns casos, chegou até mesmo a impossibilitar a própria extração do ouro rio abaixo. Nos últimos anos, contudo, a expansão da agricultura e da pecuária representa o maior fator de risco para o Cerrado. A partir de 1950 tratores começaram a ocupar sem restrições os hábitats dos animais.

O uso de técnicas de aproveitamento intensivo dos solos tem provocado, desde então, o esgotamento de seus recursos. A utilização indiscriminada de agrotóxicos e fertilizantes tem contaminado também os solos e as águas. A expansão agropecuária foi o fator fundamental para a ocupação do Cerrado em grande escala.

O problema do Cerrado não se resume apenas ao reduzido número de áreas de conservação, à caça ilegal ou ao comércio ilícito de peles, que já seriam questões suficientes para preocupação. O problema maior tem raízes nas políticas agrícola e de mineração impróprias e no crescimento da população.

Historicamente, a expansão agropastoril e o extrativismo mineral no Cerrado têm se caracterizado por um modelo predatório.

A ocupação da região é desejável, mas desde que aconteça racionalmente. Até o momento, o desenvolvimento da agricultura tem trazido graves consequências para a natureza. Um dos mais sérios problemas decorre do uso de técnicas falhas que deixam o solo desprotegido durante épocas de chuvas torrenciais.

Paralelamente, cresce o aparecimento de novas pragas e doenças nas monoculturas estabelecidas. A fauna encontrada na região também recebe pouca atenção no que concerne à sua conservação e proteção.

O resultado é que o Cerrado está acabando: metade da sua área já foi desmatada e se esse ritmo continuar até o ano 2000, o desmatamento vai chegar a 70%.

Esta situação está causando a fragmentação de áreas e comprometendo seriamente os processos que mantêm a sua biodiversidade.

PANTANAL

O Pantanal tem passado por transformações lentas mas significativas nas últimas décadas. O avanço das populações e o crescimento das cidades são uma ameaça constante. A ocupação desordenada das regiões mais altas, onde nasce a maioria dos rios, é o risco mais grave. A agricultura indiscriminada está provocando a erosão do solo, além de contaminá-lo com o uso excessivo de agrotóxicos. O resultado da destruição do solo é o assoreamento dos rios (bloqueio por terra ), fenômeno que tem mudado a vida no Pantanal. Regiões que antes ficavam alagadas nas cheias e completamente secas quando as chuvas paravam, agora ficam permanentemente sob as águas. Também impactaram o Pantanal nos últimos anos o garimpo, a construção de hidreléricas, o turismo desorganizado e a caça, empreendida principalmente por ex-peões que, sem trabalho, passaram a integrar verdadeiras quadrilhas de caçadores de couro.

Porém, foi de 1989 para cá que o risco de um desequilíbrio total do ecossistema pantaneiro ficou mais próximo de se tornar uma triste realidade. A razão dessa ameaça é o megaprojeto de construção de uma hidrovia de mais de 3.400 km nos rios Paraguai (o principal curso de água do Pantanal) e Paraná – ligando Cáceres no Mato Grosso a Nova Palmira no Uruguai. A idéia é alterar, com a construção de diques e trabalhos de dragagem, o percurso do Rio Paraguai, facilitando o movimento de grandes barcos e, conseqüentemente, o escoamento da produção de soja brasileira até o país vizinho. O problema é que isso afetará também todo o escoamento de águas da bacia. O resultado desse projeto pode ser a destruição do refúgio onde vivem hoje milhares de espécies de animais e plantas.

CAMPOS

Devido à riqueza do solo, as áreas cultivadas do Sul se expandiram rapidamente sem um sistema adequado de preparo, resultando em erosão e outros problemas que se agravam progressivamente. Os campos são amplamente utilizados para a produção de arroz, milho, trigo e soja, às vezes em associação com a criação de gado. A desatenção com o solo, entretanto, leva à desertificação, registrada em diferentes áreas do Rio Grande do Sul.

Para expandir a área plantada, colonos alemães e italianos iniciaram, na primeira metade do século, a exploração indiscriminada de madeira. Árvores gigantescas e centenárias foram derrubadas e queimadas para dar lugar ao cultivo de milho, trigo e videira, principalmente. A Mata das Araucárias ou pinheiros-do-paraná, de porte alto e copa em forma de guarda-sol, estendia-se do sul de Minas Gerais e São Paulo até o Rio Grande do Sul, formando cerca de 100.000 km2 de matas de pinhais. Na sua sombra cresciam espécies como a imbuia, o cedro, a canela, entre outras.

Hoje mais da metade desse bioma foi destruído, assim como diversas espécies de roedores que se alimentavam do pinhão, aves e insetos. O que resta está confinado a áreas de conservação do estado. Por mais de 100 anos a mata dos pinhais alimentou a indústria madereira do sul. O pinho, madeira bastante popular na região, foi muito usado na construção de casas e móveis.

A criação de gado e ovelhas também faz parte da cultura local. Porém, repetindo o mesmo erro dos agricultores, o pastoreiro está provocando a degradação do solo. Na época de estiagem, quando as pastagens secam, o mesmo número de animais continua a disputar áreas menores. Com o pasto quase desnudo, cresce a pressão sobre o solo que se abre em veios. Quando as chuvas recomeçam, as águas correm por essas depressões dando início ao processo de erosão. O fogo utilizado para eliminar restos de pastagem secas, torna o solo ainda mais frágil.

Fonte: www.cptec.inpe.br

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