Machado de Assis
PUBLICIDADE
Tu foges à cidade?
Feliz amigo! Vão
Contigo a liberdade,
A vida e o coração.
A estância que te espera
É feita para o amor
Do sol co’a primavera,
No seio de uma flor.
Do paço de verdura
Transpõe-me esses umbrais;
Contempla a arquitetura
Dos verdes palmeirais.
Esquece o ardor funesto
Da vida cortesã;
Mais val que o teu Digesto
A rosa da manhã.
Rosa…que se enamora
Do amante colibri,
E desde a luz da aurora
Os seios lhe abre e ri.
Mas Zéfiro bregeiro
Opõe ao beija-flor
Embargos de terceiro
Senhor e possuidor.
Quer este possuí-la
Também o outro a quer.
A pobre flor vacila,
Não sabe a que atender.
O sol, juiz tão grave
Como o melhor doutor,
Condena a brisa e a ave
Aos ósculos da flor.
Zéfiro ouve e apela.
Apela a colibri.
No entanto a flor singela
Com ambos folga e ri.
Tal a formosa dama
Entre dois fogos, quer
Aproveitar a chama…
Rosa, tu és mulher!
Respira aqueles ares,
Amigo. Deita ao chão
Os tédios e os pesares.
Revive. O coração
É como o passarinho
Que deixa sem cessar
A maciez do ninho
Pela amplidão do ar.
Pudesse eu ir contigo,
Gozar contigo a luz;
Sorver ao pé do amigo
Vida melhor e a flux!
Ir escrever nos campos,
Nas folhas dos rosais,
E à luz dos pirilampos,
Ó Flora, os teus jornais!
Da estrela que mais brilha
Tirar um raio, e então
Fazer a gazetilha
Da imensa solidão.
Vai tu que podes. Deixa
Os que não podem ir,
Soltar a inútil queixa,
Mudar é reflorir.
Redes Sociais