Thiago de Mello
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(21 de Julho a 20 de Agosto)
Leão é fogo, sonhos cerrados,
a rosa de amor feita de brasa.
A vida te será amável,
companheiro que avanças
sob o sortilégio do Sol.
A menos que sejas um Leão
cujos dias se cumprem
em certos pedaços de chão como o do Nordeste
da minha pátria, sob o sol da injustiça.
Mas é desgraça demasiada
para tão pouco horóscopo.
De resto, trata o meu zodíaco da vida,
que não é precisamente o que tu levas,
companheiro camponês.
Contudo, algo te digo: não te submetas,
dentes de esmeralda já se cravam
na entranha do latifúndio.
Quanto a ti, Leão poderoso,
sei que não calculas os momentos que vives,
não calculas nem medes,
confias nos teus átomos,
te encantam as turquesas,
ostentas a gordura,
esbanjas as suavidades.
Tuas razões terás, e são das fortes,
porque se nutrem da alheia desventura.
Mas não posso ocultar-te
que vejo fluidos escuros
baixando sobre tua cabeça.
Enquanto caminhas confiante,
levado por tua extrema ganância,
Saturno está só te olhando
com seu olho implacável.
Te recomendo, para começar,
empinar um papagaio agora mesmo,
pelo menos uma tarde por mês,
e publicamente.
Queres que eu te diga tudo?
Haverá um instante de inverno
em que sete astros se unirão
à esquerda da tua indiferença.
Sete astros, sete ventos,
sete nebulosas verdes,
sete segredos reunidos
contra tua força de homem,
que sempre foste sozinho,
que apenas contas contigo.
Vais ver enfim como te odeia
a multidão que te adula.
Vê se descobres um irmão,
vê se ainda podes ser irmão,
talvez possas, ainda é tempo.
Depende do teu coração,
se é que ainda o levas.
E tu, doce mulher de Leão,
não abandones assim tanto a cozinha:
inventa um guisado,
com aipo, ternura e orégano,
em fogo bem brando,
para o teu homem.
(Transcrito de Horóscopo para os que estão vivos, Martins Fontes)
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