Lima Barreto
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Este charivari do Tiro 5, em que entraram o João do Norte, o senhor Denis Júnior e o tenente Nei merece alguns comentários. Os tiros, especialmente o 7 e o 5, eram tidos como o mais eficaz meio de semear em todos nós o gosto pelas coisas militares, o hábito da obediência, o sentimento de hierarquia, etc.
Calmon, que havia sido ministro e queria ser mais uma vez, não teve dúvidas em assentar praça num deles, marcha pelas ruas com o seu tank-limousine à vista, fazendo tudo o que compete a um soldado.
Os seus companheiros que têm o sentimento da hierarquia, viram logo que um antigo deputado, um ex-ministro, um lente que não dá aulas, um agricultor incansável nos discursos, um felizardo que tem limousines,um senhor assim não podia ser uma simples praça. Fizeram-no coronel, isto é, presidente do tiro.
No Tiro 5, nós tínhamos João do Norte e Denis Júnior, ambos literatos ou escritores. O primeiro já publicou alguns livros e o segundo já arranjou um bom emprego e comprou roupas. Aí, neste tiro, havia dessa forma mais estas dificuldades no restabelecimento da hierarquia. Demais… Continuemos: Denis, lançado pelo Binóculo não podia comparecer em frente de nossas damas binoculares, fardado de simples soldado.
A Barroso (J. do Norte), deputado, não ficava bem a blusa de praça.
Daí a necessidade urgentíssima, muito democrática de ambos se fazerem oficiais.
Barroso foi, Denis também; mas apareceu o ministro da Guerra e não quis mais esta guarda nacional. Acabou com os tais oficiais atiradores e tanto Barroso como o Denis voltaram para a fileira.
No domingo passado, eles, os do Tiro 5, iam fazer uma passeata pela cidade. O instrutor viria a cavalo, com um ajudante ao lado; Denis, que é solteiro e premedita, certamente, arranjar um bom casamento, para o que está inteiramente talhado, teceu as coisas de modo que foi escolhido para ajudante, e apareceria, na cidade, em cima de um bucéfalo policial, empunhando a espada nua e faiscante.
O sucesso de Denis seria incomparável. As damas vê-lo-iam logo de elmo e penacho, braçais, lanças, cota de malha e a divisa das armas esquarteladas no escudo: “Por ela e só!” Pleno torneio!
Esta “ela” podia ser uma qualquer, desde que satisfizesse certas condições monetárias suficientemente razoáveis.
Denis ficaria transfigurado e, com toda a razão cavaria o casamento rico. Ele tem obtido coisas mais difíceis, como ser inspector escolar, porque não conseguiria uma pequena com um bom dote? João do Norte não viu bem a coisa do cavalo. Bolas! Ele, deputado, autor de dois ou três livros, boa e bela figura, sabendo ler e escrever corretamente, tinha que ir a pé, enquanto o Denis iria a cavalo? Fez um estardalhaço e acabou-se a passeata do tiro.
Denis adiou o negócio do casamento; mas na próxima vez, ele não perderá a ocasião, pois as coisas se passarão de outra forma.
Tudo virá a cavalo e não haverá discórdia.
Lanterna, Rio, 29-1-1918
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