Lima Barreto
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A questão da venda de jornais volta a ser ventilada e há a tal respeito um projeto no Conselho Municipal.
Os jornais, em geral, se insurgem contra a regulamentação desse comércio. Não vemos razão para semelhante procedimento.
São as folhas volantes artigo de comércio como outro qualquer e dessa mercancia diversas pessoas auferem lucros, às vezes mesmo fabulosos, como no caso dos distribuidores.
É verdade que o imposto sobre os pequenos vendedores viria dificultar a circulação dos jornais, mas continuar a exposição dos jornais, como se faz atualmente na via pública, tomando os passeios, é coisa que não depõe muito francamente para o nosso adiantamento.
Os gansos do Binóculo, é de estranhar que não tenham ainda dado o alarme… Acresce o fato de que tais lugares são vendidos por avultadas quantias, passam de dono a dono, como se fossem verdadeiras casas comerciais, para justificar um maior rigor na fiscalização de tal comércio.
Não se compreende que certa e determinada classe de mercantes goze de privilégios e não se pode compreender também que a rua, propriedade comum, patrimônio de todos, seja cindida, limitada aqui e ali, transformando-se certos espaços dela em propriedade de alguns.
Que o Conselho Municipal tem toda a razão em voltar as suas vistas para o caso, não há pessoa de bom senso que o negue.
Basta passar pelas esquinas das ruas transitadas para verificar como é desagradável, como perturba o trânsito, o acúmulo de jornais que os vendedores nelas fazem.
Considere-se ainda que o número de jornais tende a crescer, que todos eles querem ser postos à venda, para justificar uma regulamentação, que se faz mister a menos que não queiramos ver os passeios das nossas ruas transformados em mostruário de quotidianos.
Os homens viajados e passeados pelo mundo dizem que essa venda é feita em outras capitais em quiosques especiais – porque não pode ela ser feita aqui da mesma maneira?
Os pequenos vendedores não são o mais grave aspecto da questão; os “jornaleiros” estacionados nas esquinas, julgo eu é que constituem a face mais importante do problema.
Os nossos edis, que já protegeram a virtude com certo uniforme adequado, devem quanto antes voltar as suas vistas para essa feição da nossa vida urbana e resolvê-la cabalmente.
Correio da Noite, Rio, 9-1-1915
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