Ao Senhor Lucas do Prado

Lima Barreto

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Não conheço o senhor Lucas do Prado, o famoso “salvador da Pátria”, que, com auxilio de suas bandeirinhas e um apito, proclama, no Largo de São Francisco, as suas virtu­des maravilhosas para levar esta “joça” em bom caminho.

Pouco frequento meetings; é gênero teatral que não me atrai, como não me atraem as revistas do senhor Castro ou de outra qualquer sumidade de escritor teatral; mas sigo a ação do “salvador da Pátria” pelas noticias que os jornais dão das suas pitorescas reuniões.

As suas teorias me seduzem, sobretudo a de fazer dinhei­ro, papel-moeda, a granel.

Floriano Peixoto que, no dizer de muita gente, sem esquecer o senhor Gomes de Castro e o apóstolo Teixeira Men­des, tinha nessa parte da ciência das finanças a mesma opinião que o senhor Lucas; Floriano foi e é ainda proclamado um benemérito, embora não tivesse tomado, como o senhor Lucas, por antecipação, o título que os povos lhe deram.

Esse negócio de fazer dinheiro devia ser inteiramente livre.

Albino Mendes, que é homem de letras, e, no dizer de muitos, não vulgar, por se ter convencido de semelhante doutrina, quase ficou na cadeia durante catorze anos.

O Estado é contra o indivíduo.

O governo julga-se no direito de fabricar dinheiro, entretanto, contesta semelhante faculdade nos indivíduos.

Porque? É que ele só e unicamente quer merecer confiança; mas confiança não se impõe, lá diz o vulgo, e há Estados que merecem muito menos que o vendeiro ali da esquina.

Todos deviam ter a faculdade de emitir moeda e só a confiança no emissor devia regular o recebimento da mesma.

Eu de muito boa vontade, receberia a que fosse estampada pelo Albino Mendes.

Dizem que são bem feitas, artísticas, bem acabadas, porque não circulam?

É o tirano do Estado, o monopolizador que só quer benefícios para o seu egoísmo sem entranhas.

O senhor Lucas devia ampliar as suas doutrinas financeiras até o ponto que acabo de apontar e a sua tenacidade e entusiasmo de apóstolo talvez conseguissem uma vitória sobre o odioso estanco governamental que nos põe a “nenê”.

Abaixo a Casa da Moeda! Abaixo o Enes que fabrica tesouros!

Correio da Noite, Rio, 22-1-1915

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