A Sultana – Junqueira Freire

Junqueira Freire

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Sultana! – por que teus olhos
pululam choro tão triste?
No vôo de ave sinistra
algum mau agouro viste?
Ou dos lábios do teu mago
más profecias ouviste?

Que tens que choras, sultana,
co’as mãos no queixo – tão bela
Tanto palor nestas faces,
que foram cor de canela?
Desalinhada a madeixa,
sentada junto à janela?

Sultana! – por que dedilhas
os bilros nesse tear?
Os dedos correm e correm
à toa, sem acertar!
Os dedos erram pontos
bem fora de seu lugar!

Sultana! – que dor tamanha
que te esmaga o coração?
Que te pode armar nas faces
tão estranha contração?
Que pode arrojar-te a mente
em tão vaga distração?

– Meu senhor hoje chamou-me:
quando mais me chamará?
Meu senhor hoje falou-me:
quando mais me falará?
Meu senhor hoje abraçou-me:
quando mais me abraçará?

Naquele colchão macio
eu junto dele dormi;
eu vi o céu do profeta,
o céu verdadeiro eu vi:
oh! que bela a noite de ontem!
– Não terei mais noite assim!

Beijou-me co’a sua boca
macia como cetim:
abraçou-me com seus braços
mais lindos do que o marfim:
reclinou minha cabeça
em cima de seu coxim.

Eu ficava toda fria,
se ele se achegava a mim:
minhas faces palejavam,
como cândido jasmim:
– e depois… ficava ardente,
vermelha – como um rubim.

Eu lhe ouvi a voz sonora,
como a voz de um querubim:
que doce roçar de beijos
macios como o cetim!
Que dedos tão delicados,
que se imprimiram em mim!

Julguei eterna a ventura,
– fui louca – pobre de mim!
Não luzem mais de uma noite
as lâmpadas do festim!
– Revelai-me, ó grão-profeta,
se terei mais noite assim!

Meu senhor tem mil mulheres
tão doces como o maná;
amante de coisas novas,
as novas chamando irá:
meu senhor – de mim, coitada,
de mim não se lembrará!

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