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Nascimento: 1 de maio de 1829, Fortaleza, Ceará.
Falecimento: 12 de dezembro de 1877, Rio de Janeiro.
Nome de nascença: José Martiniano de Alencar.
José de Alencar – Vida
José Martiniano de Alencar advogado, político, orador, romancista e dramaturgo brasileiro.
Ele foi um dos mais famosos escritores da primeira geração do Romantismo brasileiro, escrevendo romances históricos, regionalistas e indianistas … sendo o mais famoso o Guarani.
Ele escreveu alguns trabalhos sob pseudônimo Erasmo.
Ele é patrono da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras.
José de Alencar
José de Alencar, advogado, jornalista, político, orador, romancista e teatrólogo, nasceu em Mecejana, CE, em 1o de maio de 1829, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de dezembro de 1877.
É o patrono da Cadeira n. 23, por escolha de Machado de Assis.
Era filho do padre, depois senador, José Martiniano de Alencar e de sua prima Ana Josefina de Alencar, com quem formara uma união socialmente bem aceita, desligando-se bem cedo de qualquer atividade sacerdotal. E neto, pelo lado paterno, do comerciante português José Gonçalves dos Santos e de D. Bárbara de Alencar, matrona pernambucana que se consagraria heroína da revolução de 1817. Ela e o filho José Martiniano, então seminarista no Crato, passaram quatro anos presos na Bahia, pela adesão ao movimento revolucionário irrompido em Pernambuco.
As mais distantes reminiscências da infância do pequeno José mostram-no lendo velhos romances para a mãe e as tias, em contato com as cenas da vida sertaneja e da natureza brasileira e sob a influência do sentimento nativista que lhe passava o pai revolucionário. Entre 1837-38, em companhia dos pais, viajou do Ceará à Bahia, pelo interior, e as impressões dessa viagem refletir-se-iam mais tarde em sua obra de ficção. Transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, onde o pai desenvolveria carreira política e onde freqüentou o Colégio de Instrução Elementar. Em 1844 vai para São Paulo, onde permanece até 1850, terminando os preparatórios e cursando Direito, salvo o ano de 1847, em que faz o 3o ano na Faculdade de Olinda. Formado, começa a advogar no Rio e passa a colaborar no Correio Mercantil, convidado por Francisco Otaviano de Almeida Rosa, seu colega de Faculdade, e a escrever para o Jornal do Commercio os folhetins que, em 1874, reuniu sob o título de Ao correr da pena. Redator-chefe do Diário do Rio de Janeiro em 1855. Filiado ao Partido Conservador, foi eleito várias vezes deputado geral pelo Ceará; de 1868 a 1870, foi ministro da Justiça. Não conseguiu realizar a ambição de ser senador, devendo contentar-se com o título do Conselho. Desgostoso com a política, passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
A sua notoriedade começou com as Cartas sobre a Confederação dos Tamoios, publicadas em 1856, com o pseudônimo de Ig, no Diário do Rio de Janeiro, nas quais critica veementemente o poema épico de Domingos Gonçalves de Magalhães, favorito do Imperador e considerado então o chefe da literatura brasileira. Estabeleceu-se, entre ele e os amigos do poeta, apaixonada polêmica de que participou, sob pseudônimo, o próprio Pedro II. A crítica por ele feita ao poema denota o grau de seus estudos de teoria literária e suas concepções do que devia caracterizar a literatura brasileira, para a qual, a seu ver, era inadequado o gênero épico, incompatível à expressão dos sentimentos e anseios da gente americana e à forma de uma literatura nascente. Optou, ele próprio, pela ficção, por ser um gênero moderno e livre.
Ainda em 1856, publicou o seu primeiro romance conhecido: Cinco minutos. Em 1857, revelou-se um escritor mais maduro com a publicação, em folhetins, de O Guarani, que lhe granjeou grande popularidade. Daí para frente escreveu romances indianistas, urbanos, regionais, históricos, romances-poemas de natureza lendária, obras teatrais, poesias, crônicas, ensaios e polêmicas literárias, escritos políticos e estudos filológicos.
A parte de ficção histórica, testemunho da sua busca de tema nacional para o romance, concretizou-se em duas direções: os romances de temas propriamente históricos e os de lendas indígenas. Por estes últimos, José de Alencar incorporou-se no movimento do indianismo na literatura brasileira do século XIX, em que a fórmula nacionalista consistia na apropriação da tradição indígena na ficção, a exemplo do que fez Gonçalves Dias na poesia. Em 1866, Machado de Assis, em artigo no Diário do Rio de Janeiro, elogiou calorosamente o romance Iracema, publicado no ano anterior. José de Alencar confessou a alegria que lhe proporcionou essa crítica em Como e porque sou romancista, onde apresentou também a sua doutrina estética e poética, dando um testemunho de quão consciente era a sua atitude em face do fenômeno literário. Machado de Assis sempre teve José de Alencar na mais alta conta e, ao fundar-se a Academia Brasileira de Letras, em 1897, escolheu-o como patrono de sua Cadeira.
Sua obra é da mais alta significação nas letras brasileiras, não só pela seriedade, ciência e consciência técnica e artesanal com que a escreveu, mas também pelas sugestões e soluções que ofereceu, facilitando a tarefa da nacionalização da literatura no Brasil e da consolidação do romance brasileiro, do qual foi o verdadeiro criador. Sendo a primeira figura das nossas letras, foi chamado “o patriarca da literatura brasileira”. Sua imensa obra causa admiração não só pela qualidade, como pelo volume, se considerarmos o pouco tempo que José de Alencar pôde dedicar-lhe numa vida curta.
Faleceu no Rio de Janeiro, de tuberculose, aos 48 anos de idade.
José de Alencar – Biografia
José Martiniano de Alencar foi poeta, romancista, dramaturgo, crítico, jornalista, político, ensaísta, orador parlamentar e consultor do Ministério da Justiça
Sua infância foi impregnada das cenas da vida sertaneja e da natureza brasileira.
Entre 1840 e 1843, estudou no Rio de Janeiro.
Em 1846, transferiu-se para São Paulo, onde matriculou-se no curso jurídico.
Em 1848, estudou em Pernambuco, retornando a São Paulo diplomou-se em 1850. No ano seguinte fixou-se no Rio de Janeiro, (RJ).
Leu mestres estrangeiros de todos os gêneros: Balzac, Chateaubriand, Victor Hugo, Dumas, Byron, Eugenie Sue, Walter Scott, Fenimore Cooper.
Em 1844, escreveu Os contrabandistas, O ermitão da Glória e Alma de Lázaro, influenciado pelo êxito de A Moreninha, de Joaquim Manoel de Macedo.
Projetou-se no mundo literário através da polêmica em torno do poema épico «Confederação dos Tamoios», de Gonçalves de Magalhães, considerado, então, o chefe da literatura brasileira.
Sua crítica demonstrava a concepção do que deveria caracterizar a literatura brasileira, para a qual o gênero épico era incompatível. Colaborou nos periódicos Correio Mercantil, Folha Nova, Revista Brasileira. Foi redator-chefe do Diário do Rio de Janeiro.
Foi o maior representante da corrente literária indianista.
Cearense, com parte da adolescência vivida na Bahia, José de Alencar formou-se em direito e foi jornalista no Rio de Janeiro.
Vaidoso e sentimental, iniciou sua carreira literária em 1857, com a publicação de O guarani, lançado como folhetim e que alcançou enorme sucesso, o que lhe rendeu fama súbita.
Sua obra costuma ser dividida em três etapas:
1) Romances urbanos
Cinco minutos (1860)
A viuvinha (1860)
Lucíola (1862)
Diva (1864)
A pata da gazela (1870)
Sonhos d’ouro (1720)
Senhora (1875)
Encarnação (1877)
2) Romances históricos
O Guarani (1870)
Iracema (1875)
As Minas de prata (1865)
Alfarrábios (1873)
A guerra dos mascates (1873)
Ubirajara (1874)
3) Romances regionalistas
O gaúcho (1870)
O tronco do Ipê (1871)
Til (1872)
O sertanejo (1876)
José de Alencar criou uma literatura nacionalista onde se evidencia uma maneira de sentir e pensar tipicamente brasileiras. Suas obras são especialmente bem sucedidas quando o autor transporta a tradição indígena para a ficção. Tão grande foi a preocupação de José de Alencar em retratar sua terra e seu povo que muitas das páginas de seus romances relatam mitos, lendas, tradições, festas religiosas, usos e costumes observados pessoalmente por ele, com o intuito de, cada vez mais, “abrasileirar” seus textos.
Ao lado da literatura, José de Alencar foi um político atuante — chegou a ocupar o cargo de ministro da Justiça do gabinete do visconde de Itaboraí — e foi um prestigiado deputado do Partido Conservador por quatro legislaturas. Todas as reformas pelas quais lutou propunham a manutenção do regime monárquico (ver Monarquia) e da escravatura (ver Escravidão).
Famoso a ponto de ser aclamado por Machado de Assis como “o chefe da literatura nacional”, José de Alencar morreu aos 48 anos, no Rio de Janeiro, deixando seis filhos, inclusive Mário de Alencar, que seguiria a carreira de letras do pai.
José de Alencar – Autor
José de Alencar
Logo depois da proclamação da Independência, em 1822, o prestígio de D. Pedro I era muito grande, já que o povo e a maioria dos políticos o admiravam muito. Mas, aos poucos, essa situação foi se alterando.
Por volta de 1830, o Brasil enfrentava sérios problemas econômicos, que tinham se agravado com a falência do Banco do Brasil, em 1829, e com a Guerra da Cisplatina, que durou três anos, de 1825 a 1828.
Com isso, D. Pedro I, vendo sua popularidade decaindo cada vez mais, foi obrigado a abdicar em favor de seu filho, em abril de 1831. Ele voltou a Portugal e em seu lugar ficou a Regência Trina Provisória, constituída de políticos que substituiriam seu filho e herdeiro do trono, D. Pedro de Alcântara, então com 5 anos.
José Martiniano de Alencar nasceu em 1.º de maio de 1829, em Mecejana, Ceará, filho do padre José Martiniano de Alencar (deputado pela província do Ceará) ele foi o fruto de uma união ilícita e particular do padre com a prima Ana Josefina de Alencar. Quando criança e adolescente, era tratado em família por Cazuza, mais tarde, adulto, ficou conhecido nacionalmente como José de Alencar, um dos maiores escritores românticos do Brasil.
O pai de José de Alencar assumiu o cargo de senador do Rio de Janeiro em 1830, o que obrigou a família a se mudar para lá. Mas quatro anos depois a família voltou ao estado natal pois Martiniano foi nomeado governador do Ceará. Alguns anos mais tarde a família voltou ao Rio de Janeiro, desta vez para fica. O pai assumiu novamente seu cargo de senador e o menino começou a freqüentar a Escola e Instrução Elementar.
Filho de político, jovem Alencar assistia a tudo isso de perto. Assistia e, certamente, tomava gosto pela política, atividade em que chegou a ocupar o posto de ministro da Justiça. Mas isso ocorreria bem mais tarde.
Em meio à agitação de uma casa freqüentada por muita gente, como era a do senador, passou pelo Rio um primo de Cazuza. O jovem dirigia-se a São Paulo, onde completaria o curso de Direito, e Alencar resolveu acompanhá-lo. Ia seguir a mesma carreira.
Fria, triste, garoenta, apresentando uma vida social que dependia quase exclusivamente do mundo estudantil, graças à existência de sua já famosa faculdade de Direito: assim era São Paulo em 1844, quando nela desembarcou o cearense José Martiniano de Alencar, para morar com o primo e mais dois colegas numa república de estudantes da Rua São Bento.
Na escola de Direito discutia-se tudo: Política, Arte, Filosofia, Direito e, sobretudo, Literatura. Era o tempo do Romantismo, novo estilo artístico importado da França.
Esse estilo apresentava, em linhas gerais, as seguintes características: exaltação da Natureza, patriotismo, idealização do amor e da mulher, subjetivismo, predomínio da imaginação sobre a razão.
Mas o Romantismo não era apenas um estilo artístico: acabou tornando-se um estilo de vida.
Seus seguidores, como os acadêmicos de Direito, exibiam um comportamento bem típico: vida boêmia, regada a muita bebida e farras. As farras, segundo eles, para animar a vida na tediosa cidade; a bebida, para serem tocados pelo sopro da inspiração.
Introvertido, quase tímido, o jovem Alencar mantinha-se alheio a esses hábitos, metido em estudos e leituras. Lia principalmente os grandes romancistas franceses da época.
O jovem cearense jamais se adaptaria às rodas boêmias tão assiduamente freqüentadas por outro companheiro que também ficaria famoso: Álvares de Azevedo.
Terminado o período preparatório, Alencar matriculou-se na Faculdade de Direito em 1846. Tinha 17 anos incompletos e já ostentava a cerrada barba que nunca mais raparia. Com ela, a seriedade de seu semblante ficava ainda mais acentuada.
O senador Alencar, muito doente, voltava para o Ceará em 1847, deixando o resto da família no Rio. Alencar viajou para o Estado de origem, a fim de assistir o pai. O reencontro com a terra natal faria ressurgir as recordações de infância e fixaria na memória do escritor a paisagem da qual ele jamais conseguiria se desvincular inteiramente.
É esse o cenário que aparece retratado em um de seus romances mais importantes: Iracema.
Surgiram na época os primeiros sintomas da tuberculose que infernizaria a vida do escritor durante trinta anos.
No seu livro Como e por que sou romancista, Alencar registrou: “… a moléstia tocara-me com a sua mão descarnada. . . ”.
Transferiu-se para a Faculdade de Direito de Olinda. O pai, bem de saúde, logo voltava ao Rio, e Alencar, a São Paulo, onde terminaria o curso. Dessa vez morava numa rua de prostitutas, gente pobre e estudantes boêmios. Alencar continuava desligado da boemia. Com certeza preparando sua sólida carreira, pois seu trabalho literário resultou de muita disciplina e estudo.
Aos18 anos, Alencar já tinha esboçado o primeiro romance – Os contrabandistas. Segundo depoimento do próprio escritor, um dos inúmeros hóspedes que freqüentavam sua casa usava as folhas manuscritas para… acender charutos. Verdade? Invenção? Muitos biógrafos duvidam da ocorrência, atribuindo-a à tendência que o escritor sempre demonstrou a dramatizar excessivamente os fatos de sua vida. O que ocorreu sem dramas ou excessos foi a formatura, em 1850.
No ano seguinte, Alencar já estava no Rio de Janeiro, trabalhando num escritório de advocacia. Começava o exercício da profissão que jamais abandonaria e que garantiria seu sustento. Afinal, como ele próprio assinalou, ” não consta que alguém já vivesse, nesta abençoada terra, do produto de obras literárias”.
Um dos números do jornal Correio Mercantil de setembro de 1854 trazia uma seção nova de folhetim – “Ao correr da pena” – assinada por José de Alencar, que estreava como jornalista.
O folhetim, muito em moda na época, era um misto de jornalismo e literatura: crônicas leves, tratando de acontecimentos sociais, de teatro, de política, enfim, do cotidiano da cidade.
Alencar tinha 25 anos e obteve sucesso imediato no jornal onde trabalharam posteriormente Machado de Assis (dez anos mais jovem que ele) e Joaquim Manuel de Macedo. Sucesso imediato e de curta duração. Tendo o jornal censurado um de seus artigos, o escritor desligou-se de sua função.
Começaria nova empreitada no Diário do Rio de Janeiro, outrora um jornal bastante influente, que passava naquele momento por séria crise financeira. Alencar e alguns amigos resolveram comprar o jornal e tentar ressuscitá-lo, investindo dinheiro e trabalho.
Nesse jornal aconteceu sua estréia como romancista: em 1856 saiu em folhetins o romance Cinco minutos. Ao final de alguns meses, completada a publicação, juntaram-se os capítulos em um único volume que foi oferecido como brinde aos assinantes do jornal. No entanto, muitas pessoas que não eram assinantes do jornal procuraram comprar a brochura.
Alencar comentaria: ” foi a única muda mas real animação que recebeu essa primeira prova. Tinha leitores espontâneos, não iludidos por falsos anúncios”.
Nas entrelinhas, percebe-se a queixa que se tornaria obsessiva ao longo dos anos: a de que a crítica atribuía pouca importância a sua obra.
Com Cinco minutos e, logo em seguida, A viuvinha, Alencar inaugurou uma série de obras em que buscava retratar (e questionar) o modo de vida na Corte.
O que aparece nesses romances é um painel da vida burguesa: costumes, moda, regras de etiqueta… tudo entremeado por enredos onde amor e casamento são a tônica. Nessas obras circulam padrinhos interesseiros, agiotas, negociantes espertos, irmãs abnegadas e muitos outros tipos que servem de coadjuvantes nos dramas de amor enfrentados pelo par amoroso central. É o chamado romance urbano de Alencar, tendência em que se enquadram, além dos acima citados, Lucíola, Diva, A pata da gazela, Sonhos d’ouro e Senhora, este último considerado sua melhor realização na ficção urbana. Além do retrato da vida burguesa na Corte, esses romances também mostram um escritor preocupado com a psicologia dos personagens, principalmente os femininos. Alguns deles, por isso, são até chamados de “perfis de mulheres”.
Em todos, a presença constante do dinheiro, provocando desequilíbrios que complicam a vida afetiva dos personagens e conduzindo basicamente a dois desfechos: a realização dos ideais românticos ou a desilusão, numa sociedade em que ter vale muito mais do que ser.
Alguns exemplos: em Senhora, a heroína arrisca toda sua grande fortuna na compra de um marido. Emitia, o personagem central de Diva, busca incansavelmente um marido mais interessado em amor que em dinheiro. Em Sonhos d’ouro, o dinheiro representa o instrumento que permitiria autonomia de Ricardo e seu casamento com Guida. A narrativa de A viuvinha gira em torno do compromisso assumido por um filho no sentido de pagar todas as dívidas deixadas pelo pai.
Lucíola, finalmente, resume toda a questão de uma sociedade que transforma amor, casamento e relações humanas em mercadoria: o assunto do romance, a prostituição, obviamente mostra a degradação a que o dinheiro pode conduzir o ser humano.
Entre Cinco minutos (1856) e Senhora (1875), passaram-se quase vinte anos e muitas situações polêmicas ocorreram.
Alencar estreou como autor de teatro em 1857, com a peça Verso e reverso, em que focalizava o Rio de Janeiro de sua época.
No mesmo ano, o enredo da peça O crédito antecipava um problema que o país logo iria enfrentar: a desenfreada especulação financeira, responsável por grave crise político-económica. Desse ano data ainda a comédia O demônio familiar.
Em 1858, estreou a peça As asas de um anjo, de um Alencar já bastante conhecido. Três dias após a estréia, a peça foi proibida pela censura, que a considerou imoral. Tendo como personagem central uma prostituta regenerada pelo amor, o enredo ofendeu a sociedade ainda provinciana de então. (O curioso é que o tema era popular e aplaudido no teatro da época, em muitas peças estrangeiras). Alencar reagiu, acusando a censura de proibir sua obra pelo simples fato de ser ”. . . produção de um autor brasileiro. . .
” Mas a reação mais concreta viria quatro anos mais tarde, por intermédio do romance em que o autor retoma o tema: Lucíola.
Profundamente decepcionado com a situação, Alencar declarou que iria abandonar a literatura para dedicar-se exclusivamente à advocacia. É claro que isso não aconteceu.- escreveu ainda o drama Mãe, levado ao palco em 1860, ano em que morreu seu pai. Para o teatro, produziu ainda a opereta A noite de São João e a peça O jesuíta.
A questão em torno de As asas de um anjo não era a primeira nem seria a última polêmica enfrentada pelo escritor. De todas, a que mais interessa para a literatura foi anterior ao caso com a censura e relaciona-se ao aproveitamento da cultura indígena como tema literário. Segundo os estudiosos, foi este o primeiro debate literário ocorrido no Brasil.
Certamente, quando resolveu assumir o Diário do Rio de Janeiro, Alencar pensava também num veículo de comunicação que permitisse a ele expressar livremente seu pensamento. Foi nesse jornal que travou sua primeira polêmica literária e política. Nela, o escritor confronta-se indiretamente com ninguém menos que o imperador D. Pedro II.
Gonçalves de Magalhães (que seria posteriormente considerado como o iniciador do Romantismo brasileiro) tinha escrito um longo poema intitulado A confederação dos Tamoios, em que faz um exaltado elogio à raça indígena. D. Pedro II, homem voltado às letras e artes, viu no poema de Magalhães o verdadeiro caminho para uma genuína literatura brasileira. Imediatamente, o imperador ordenou que se custeasse a edição oficial do poema.
Alencar, sob o pseudônimo “Ig “, utilizando seu jornal como veículo, escreveu cartas a um suposto amigo, questionando a qualidade da obra de Magalhães e o patrocínio da publicação por parte do imperador: “As virgens índias do seu livro podem sair dele e figurar em um romance árabe, chinês ou europeu (…) o senhor Magalhães não só não conseguiu pintar a nossa terra, como não soube aproveitar todas as belezas que lhe ofereciam os costumes e tradições indígenas…”.
No início, ninguém sabia quem era o tal Ig, e mais cartas foram publicadas sem merecer réplica. Após a quarta carta, alguns escritores e o próprio imperador, sob pseudônimo, vieram a público na defesa de Magalhães. Ig não deixou de treplicar.
A extrema dureza com que Alencar tratou o poeta Magalhães e o imperador parece refletir a reação de um homem que se considerava sempre injustiçado e perseguido. Alguns críticos acham que Alencar teria ficado furioso ao ser ”passado para trás” num plano que considerava seu, pois já tinha pensado em utilizar a cultura indígena como tema de seus escritos. As opiniões sobre a obra de Magalhães denunciariam, portanto, o estado de espírito de alguém que se sentira traído pelas circunstâncias.
Qualquer que tenha sido o motivo, essa polêmica tem interesse fundamental. Discutia-se de fato, naquele momento, o que seria o verdadeiro nacionalismo na literatura brasileira, que até então tinha sofrido grande influência da portuguesa. Alencar considerava a cultura indígena como um assunto privilegiado, que, na mão de um escritor hábil, poderia tornar-se a marca distintiva da autêntica literatura nacional.
Mas veja bem: na mão de um escritor hábil.
Aos 25 anos, Alencar apaixonou-se pela jovem Chiquinha Nogueira da Gama, herdeira de uma das grandes fortunas da época.
Mas o interesse da moça era outro: um rapaz carioca também muito rico. Desprezado, custou muito ao altivo Alencar recuperar-se do orgulho ferido.
Somente aos 35 anos ele iria experimentar, na vida real, a plenitude amorosa que tão bem soube inventar para o final de muitos aos seus romances. Desta vez, paixão correspondida, namoro e casamento rápidos. A moça era Georgiana Cochrane, filha de um rico inglês. Conheceram-se no bairro da Tijuca, para onde o escritor se retirara a fim de se recuperar de uma das crises de tuberculose. Casaram-se em 20 de junho de 1864. Muitos críticos vêem no romance Sonhos d’ouro, de 1872, algumas passagens que consideram inspiradas na felicidade conjugal que Alencar parece ter experimentado ao lado de Georgiana.
Nessa altura, o filho do ex-senador Alencar já se achava metido – e muito – na vida política do Império. Apesar de ter herdado do pai o gosto pela política, Alencar não era dotado da astúcia e da flexibilidade que tinham feito a fama do velho Alencar.
Seus companheiros da Câmara enfatizam sobretudo a recusa quase sistemática de Alencar em comparecer a solenidades oficiais e a maneira pouco polida com que tratava o imperador. A inflexibilidade no jogo político fazia prever a série de decepções que de fato ocorreriam.
Eleito deputado e depois nomeado ministro da Justiça, Alencar conseguiu irritar tanto o imperador que este, um dia, teria explodido: ”É um teimoso esse filho de padre”. Só quem conhecia a polidez de D. Pedro seria capaz de avaliar como o imperador estava furioso para referir-se assim ao ministro José de Alencar.
Enquanto era ministro da Justiça, contrariando ainda a opinião de D. Pedro II, Alencar resolveu candidatar-se ao senado. E foi o mais votado dos candidatos de uma lista tríplice. Ocorre que, de acordo com a constituição da época, a indicação definitiva estava nas mãos do imperador. E o nome de Alencar foi vetado.
Esse fato marcaria o escritor para o resto da vida. Daí para diante, sua ação política traz os sinais de quem se sentia irremediavelmente injustiçado. Os amigos foram aos poucos se afastando e sua vida política parecia ter terminado. Mas era teimoso o suficiente para não abandoná-la.
Retirou-se para o sítio da Tijuca, onde voltou a escrever. Desse período resultam O gaúcho e A pata da gazela (1870). Tinha 40 anos, sentia-se abatido e guardava um imenso rancor de D. Pedro II. Eleito novamente deputado, voltou à Câmara, onde ficaria até 1875. Nunca mais, como político, jornalista ou romancista, iria poupar o imperador.
Em 1865 e 1866 foram publicadas as Cartas políticas de Erasmo. Partindo da suposta condição de que D. Pedro ignorava a corrupção e a decadência em que se achava o governo, Alencar dirige-se ao imperador tentando mostrar a situação em que se encontrava o país, com seus inúmeros problemas, entre eles o da libertação dos escravos e o da Guerra do Paraguai (1865-1870).
Comentando aquela guerra, a mais sangrenta batalha que já ocorrera na América do Sul, na qual o Brasil perdera cem mil homens, Alencar deseja ao chefe do gabinete governamental: “E ordene Deus conceder-lhe compridos anos e vigor bastante para reparar neste mundo os males que há causado”.
No entanto, foi a questão dos escravos que mais aborrecimentos trouxe ao escritor. Manifestando-se contra a Lei do Ventre Livre (1871), tomava ele posição ao lado dos escravocratas, despertando a ira de grande contingente de pessoas que, no país inteiro, consideravam a aprovação dessa lei uma questão de honra nacional.
Foi então que no Jornal do Comércio publicaram-se as Cartas de Semprônio (o pseudônimo escondia a figura do romancista Franklin Távora) a Cincinato (o escritor português José F. de Castilho, que Alencar um dia chamara de “gralha imunda”).
Pretextando analisar a obra de Alencar, o que se fazia era uma injuriosa campanha contra o homem e o político. Távora e Castilho não escreveram, de fato, crítica literária válida quando julgaram as obras de Alencar como mentirosas e frutos de exageros da imaginação.
A crítica atual não tem nenhuma dúvida a respeito da importância fundamental dos romances de Alencar – principalmente os indianistas – para compreendermos o nacionalismo em nossa literatura.
Além do romance urbano e do indianista, o escritor ainda incorporaria outros aspectos do Brasil em sua obra. Romances como Til, O tronco do ipê, O sertanejo e O gaúcho mostram as peculiaridades culturais da nossa sociedade rural, com acontecimentos, paisagens, hábitos, maneiras de falar, vestir e se comportar diferentes da vida na Corte.
Assim é que em O gaúcho a Revolução Farroupilha (1835/1840) serve como pano de fundo à narrativa. O enredo de O tronco do ipê traz como cenário o interior fluminense e trata da ascensão social de um rapaz pobre. Em Til, o interior paulista é o cenário da narrativa.
Mas Alencar não se limitou aos aspectos documentais. O que vale de fato nessas obras é, sobretudo, o poder de imaginação e a capacidade de construir narrativas bem estruturadas. Os personagens são heróis regionais puros, sensíveis, honrados, corteses, muito parecidos com os heróis dos romances indianistas.
Mudavam as feições, mudava a roupagem, mudava o cenário.
Mas, na criação de todos esses personagens, Alencar perseguia o mesmo objetivo: chegar a um perfil do homem essencialmente brasileiro.
Não parou aí a investigação do escritor: servindo-se de fatos e lendas de nossa história, Alencar criaria ainda o chamado romance histórico. “… o mito do tesouro escondido, a lenda das riquezas inesgotáveis na nova terra descoberta, que atraiu para ela ondas de imigrantes e aventureiros, as lutas pela posse definitiva da terra e alargamento das fronteiras…”, segundo o crítico Celso Luft, aparecem em tramas narrativas de intensa movimentação. Nessa categoria estão Guerra dos mascates, As minas de prata e Os alfarrábios.
Em Guerra dos mascates, personagens ficcionais escondem alguns políticos da época e até o próprio imperador (que aparece sob a pele do personagem Castro Caldas). As minas de prata é uma espécie de modelo de romance histórico tal como esse tipo de romance era imaginado pelos ficcionistas de então. A ação passa-se no século XVIII, uma época marcada pelo espírito de aventura. É considerado seu melhor romance histórico.
Com o romance histórico, Alencar completava o mapa do Brasil que desejara desenhar, fazendo aquilo que sabia fazer: literatura.
Na obra de Alencar há quatro tipos de romances: indianista, urbano, regionalista e histórico.
Evidentemente, essa classificação é muito esquemática, pois cada um de seus romances apresenta muitos aspectos que merecem ser analisados: é fundamental, por exemplo, o perfil psicológico de personagens como o herói de O gaúcho, ou ainda do personagem central de O sertanejo. Por isso, a classificação acima prende-se ao aspecto mais importante (mas não único) de cada um dos romances.
Em 1876, Alencar leiloou tudo o que tinha e foi com Georgiana e os seis filhos para a Europa, em busca de tratamento para sua saúde precária. Tinha programado uma estada de dois anos. Durante oito meses visitou a Inglaterra, a França e Portugal. Seu estado de saúde se agravou e, muito mais cedo do que esperava, voltou ao Brasil.
A pesar de tudo, ainda havia tempo para atacar D. Pedro II. Alencar editou alguns números do semanário O Protesto durante os meses de janeiro, fevereiro e março de1877. Nesse jornal, o escritor deixou vazar todo o seu antigo ressentimento pelo imperador, que não o havia indicado para o Senado em 1869.
Mas nem só de desavenças vivia o periódico. Foi nele que Alencar iniciou a publicação do romance Exhomem – em que se mostraria contrário ao celibato clerical, assunto muito discutido na época.
Escondido sob o pseudônimo Synerius, o escritor faz questão de explicar o título do romance Exhomem: ” Literalmente exprime o que já foi homem “.
Alencar não, teve tempo de passar do quinto capítulo da obra que lhe teria garantido o lugar de primeiro escritor do Realismo brasileiro. Com a glória de escritor já um tanto abalada, morreu no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1877.
Ao saber de sua morte, o imperador D. Pedro II teria se manifestado assim: “Era um homenzinho teimoso”.
Mais sábias seriam as palavras de Machado de Assis, ao escrever seis anos depois: “… José de Alencar escreveu as páginas que todos lemos, e que há de ler a geração futura. O futuro não se engana” .
José de Alencar – Escritor
QUANDO TUDO ACONTECEU…
José de Alencar
1829: No dia primeiro de Maio nasce José de Alencar em Mecejana, Ceará, Brasil.
1830: A família Alencar muda-se para o Rio de Janeiro.
1846: José de Alencar matricula-se na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.
1847: Esboça Os Contrabandistas, seu primeiro romance.
1854: No Correio Mercantil, assina o folhetim Ao Correr da Pena; apaixona-se por Chiquinha Nogueira.
1856: No Diário do Rio de Janeiro, com o folhetim Cinco Minutos, e logo a seguir com A Viuvinha, estreia-se como romancista; polêmica a propósito do livro A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães.
1857: Publica o romance O Guarani. Estreia-se como autor teatral com a peça Verso e Reverso.
1860: É encenado o seu drama Mãe.
1861: É publicado o seu romance Lucíola.
1864: Casa-se com Georgina Cochrane.
1865: Publica o romance Iracema.
1869: O Imperador D. Pedro II recusa-se a indicar José de Alencar para o Senado.
1870: Baseando-se no romance de José de Alencar, o compositor Carlos Gomes apresenta a ópera O Guarani no Scala de Milão.
De 1870 a 1877: José de Alencar publica os livros Guerra dos Mascates, Til, O Tronco do Ipê, Sonhos D’Ouro, O Gaúcho, A Pata da Gazela, Senhora.
1873: Polêmica de Alencar com Joaquim Nabuco.
1876: Buscando tratamento para a sua tuberculose, Alencar vende tudo o que tem e com Georgina e os seus filhos viaja para a Europa.
1877: Tuberculoso, a 12 de Dezembro, no Rio de Janeiro, morre José de Alencar.
O GUARANI
O Guarani
O Guarani (1857) no meu ponto de vista é a obra prima de José de Alencar pois nos dá uma idéia histórica e poética dos primeiros passos do nosso imenso Brasil. O autor nos mostra o nascimento da hoje internacional Metrópole do Rio de Janeiro, mas também nos joga dentro do emaranhado de emoções envolvendo os indígenas, a família de colonizadores portugueses e a vida inicial na colônia lusa.
Carlos Gomes (1836-1896), o maior compositor clássico do Brasil e quiçá do mundo lusófono, baseando-se na obra de Alencar, em 1870 criou a ópera O Guarani, que por sinal se tornou famosa na Europa, e foi apresentada em vários teatros europeus.
Recentemente o teatro de Sofia na Bulgária mostrou uma montagem da ópera na qual Plácido Domingo fazia o papel do índio Peri. No mesmo ano a ópera foi mostrada em Nova Iorque no Metropolitan Opera House, também com Plácido no papel central.
Seria uma maravilha se uma rede de televisão brasileira juntamente com a televisão portuguesa produzisse uma série baseada no livro O Guarani usando atores brasileiros e portugueses.
DO CEARÁ PARA O BRASIL
José Martiniano de Alencar nasce no dia primeiro de maio de 1829, na localidade de Mecejana no Ceará, filho do senhor José Martiniano de Alencar (deputado pela província do Ceará). É o fruto de uma união ilícita e particular do pai com a prima Ana Josefina de Alencar. Nos anos de criança e adolescente, é tratado dentro da família pelo apelido de Cazuza. Mais tarde, adulto, ficará conhecido nacionalmente como José de Alencar, um dos maiores escritores românticos do Brasil e quiçá da língua portuguesa.
DE FORTALEZA PARA A CAPITAL FEDERAL
O pai de José de Alencar assume o cargo de senador do Rio de Janeiro em 1830, obrigando a família a se mudar para a capital federal.
Na escola de Direito, onde mais tarde será matriculado, tudo é discutido: Política, Arte, Filosofia, Direito e, sobretudo, Literatura. É a fase alta do Romantismo, novo estilo artístico e literário importado da França. O autor lê principalmente os grandes romancistas franceses da época.
O jovem cearense não se adapta às rodas boêmias, moda absorvida pelos romancistas da época, muitos deles seus amigos.
Terminado o período preparatório, Alencar matricula-se na Faculdade de Direito em 1846. Com os seus dezessete anos incompletos, o jovem já ostenta uma barba cerrada que jamais será raspada. Com ela, a seriedade de seu rosto torna-se ainda mais evidente.
DESPONTA O ESCRITOR E JORNALISTA
Aos dezoito anos Alencar esboça o seu primeiro romance – Os Contrabandistas. Segundo depoimento do próprio escritor, um dos inúmeros hóspedes que freqüentam sua casa, usa as folhas manuscritas para acender charutos.
Um dos números do jornal Correio Mercantil de setembro de 1854 traz uma seção nova de folhetim – Ao Correr da Pena – assinada por José de Alencar, que estreia como jornalista.
O folhetim, moda na época, é uma mistura de jornalismo e Literatura: narrativas leves, tratando de acontecimentos sociais, artísticos, políticos, enfim, coisas do cotidiano da vida e da cidade.
Alencar, aos vinte e cinco anos, obtém um sucesso imediato no jornal onde trabalharam anteriormente o mestre Machado de Assis e Joaquim Manuel de Macedo. Sucesso rápido, porém de curta duração. Tendo o jornal proibido um de seus artigos, o escritor decepcionado desliga-se de sua função.
Depois da decepção o escritor começa uma nova empreitada no Diário do Rio de Janeiro, no passado um jornal bastante influente, que passa naquele momento por uma séria crise financeira. Alencar e alguns amigos resolvem comprar o jornal e tentar ressuscitá-lo, investindo dinheiro e muito trabalho.
ROMANCES RETRATANDO A VIDA NA CORTE
No Diário do Rio de Janeiro acontece sua estreia como romancista: em 1856 sai em folhetins, o romance Cinco Minutos. Ao final de alguns meses, completada a publicação, juntam-se os capítulos num só volume que é oferecido como brinde aos assinantes do jornal.
Com Cinco Minutos e, logo em seguida, A Viuvinha, Alencar inaugura uma série de obras em que busca retratar (e questionar) a forma de vida na Corte.
Lucíola, finalmente, resume toda a questão de uma sociedade que transforma amor, casamento e relações humanas em mercadoria: o assunto do romance, a prostituição, obviamente mostra a degradação que o dinheiro pode levar o ser humano a fazer.
Entre Cinco Minutos (1856) e Senhora (1875), decorrem quase vinte anos e muitas situações polêmicas, entretanto ocorreram.
UM DRAMATURGO POLÊMICO E DECEPCIONADO
A Censura corta trechos de uma peça de Alencar. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?
Alencar estreia como autor de teatro em 1857, com a peça Verso e Reverso, na qual focaliza o Rio de Janeiro de sua época. Alencar fica furioso, acusando a Censura de cortar sua obra pelo simples fato de ser ”… produção de um autor brasileiro…”
Mas a reação mais concreta virá quatro anos mais tarde, por intermédio do romance em que o autor retoma a mesma temática: Lucíola.
Imensamente decepcionado com os acontecimentos, Alencar declara que vai abandonar a Literatura para dedicar-se exclusivamente ao Direito. É claro que isso não acontece, escreve ainda o drama Mãe; o mesmo é levado ao palco em 1860, ano em que morre seu pai. Para o teatro, produz ainda a opereta A Noite de São João e a peça O Jesuíta.
O debate em torno de As Asas de Um Anjo não é a primeira nem será a última polêmica enfrentada pelo autor. De todas, a que mais interessa para a Literatura é anterior ao caso com a Censura e relaciona-se ao aproveitamento da cultura Indígena como tema literário. Segundo os estudiosos, é este o primeiro debate literário realmente brasileiro.
FARPAS POLÍTICAS ENTRE ALENCAR E D. PEDRO II E O NASCIMENTO DA LITERATURA NACIONAL
Quando resolve assumir o Diário do Rio de Janeiro, Alencar pensa também num veículo de comunicação que lhe permita expressar livremente suas idéias. É nesse jornal que trava sua primeira polêmica literária e política. Nela, o escritor confronta-se indiretamente com o imperador D. Pedro II.
Seja qual for o motivo, essa polêmica tem interesse fundamental. De fato, nessa época discute-se o que será o verdadeiro nacionalismo na Literatura Brasileira, que até então tinha sofrido grande influência da Literatura Portuguesa.
Alencar considera a cultura indígena como um assunto primordial que, na mão de um escritor inteligente, poderá tornar-se a marca registrada da autêntica Literatura Nacional.
Note-se: na mão de um escritor hábil e inteligente…
POLÍTICO REVOLTADO, ESCRITOR CONSAGRADO
Caricatura de José de Alencar
O veto do imperador impulsiona Alencar para a produção literária.
Escreve mais e mais romances, crônicas, teatro: Guerra dos Mascates, Til, O Tronco do Ipê, Sonhos D’Ouro, O Gaúcho, A Pata da Gazela, Senhora, livros publicados entre 1870 e 1877. Muitas polêmicas envolvem José de Alencar, polêmicas em que ele critica e polêmicas em que é criticado por suas idéias políticas e opiniões literárias.
Com relação à literatura, duas delas ficam famosas: a primeira, em 1856, em torno do livro A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães.
Alencar se manifesta duramente contra o indianismo do poeta. A segunda, em 1873, em debate com Joaquim Nabuco no jornal O Globo, na qual defende o fato de o público revelar-se desinteressado pelo escritor nacional.
Falecido em 1877, José de Alencar deixa como legado uma obra de extraordinária importância e, principalmente, a realização de um projeto que sempre acalentou: o abrasileiramento da literatura brasileira.
IRACEMA
Abrasileirar a Literatura Brasileira é o intuito de José de Alencar. Iracema, um de seus romances mais populares (1865), é um exemplo profundo dessa ansiosa mudança desejada pelo autor. A odisséia da musa Tupiniquim combina um perfeito encontro do colonizador português com os nativos da terra. Iracema é uma bela virgem tabajara e esta tribo é amiga dos franceses na luta contra os portugueses que tem como aliados os índios pitiguaras. Porém Martim, o guerreiro português, nas suas investidas dentro da mata descobre Iracema, e ambos são dominados pela paixão.
José de Alencar assim nos conta o primeiro encontro entre a musa Tupiniquim e seu príncipe lusitano:
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.”
De Iracema, dirá Machado de Assis no Diário do Rio de Janeiro:
“Tal é o livro do Sr. José de Alencar, fruto do estudo e da meditação, escrito com sentimento e consciência… Há de viver este livro, tem em si as forças que resistem ao tempo, e dão plena fiança do futuro… Espera-se dele outros poemas em prosa. Poema lhe chamamos a este, sem curar de saber se é antes uma lenda, se um romance: o futuro chamar-lhe-á obra-prima”.
José de Alencar assim nos conta o primeiro encontro entre a musa Tupiniquim e seu príncipe lusitano:
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho; o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.”
De Iracema, dirá Machado de Assis no Diário do Rio de Janeiro:
“Tal é o livro do Sr. José de Alencar, fruto do estudo e da meditação, escrito com sentimento e consciência… Há de viver este livro, tem em si as forças que resistem ao tempo, e dão plena fiança do futuro… Espera-se dele outros poemas em prosa. Poema lhe chamamos a este, sem curar de saber se é antes uma lenda, se um romance: o futuro chamar-lhe-á obra-prima”.
O ROMANCISTA E SUAS PAIXÕES AVASSALADORAS
José de Alencar casa com Georgina Cochrane. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo?
Aos vinte e cinco anos, Alencar apaixona-se pela jovem Chiquinha Nogueira da Gama, herdeira de uma das grandes riquezas da época.
No entanto o interesse da moça é outro: um rapaz carioca também vindo da burguesia. Desprezado pela moça, custa muito ao altivo Alencar recuperar-se do orgulho ferido. Somente aos trinta e cinco anos ele irá sentir o sabor, de fato, da plenitude amorosa que tão bem soube criar para o final de muitos dos seus romances. Desta vez sua paixão é correspondida, o namoro e matrimônio são rápidos. A moça é Georgina Cochrane, filha de um rico inglês. Conheceram-se no bairro da Tijuca, para onde o escritor se retirara para se recuperar de uma das crises de tuberculose que teve na época. Casam-se em 20 de junho de 1864.
INDIANISMO, URBANISMO, REGIONALISMO E ROMANCES HISTÓRICOS
Alencar não se limita aos aspectos documentais como autor. Na verdade o que vale de fato em suas obras é, sobretudo, o poder criativo e a capacidade de construir narrativas muito bem estruturadas. Os personagens são heróis regionais puros, sensíveis, honestos, educados, muito parecidos com os heróis de seus romances indianistas. Mudavam as feições, mudava a roupagem, mudava o cenário.
Porém, na invenção de todos esses personagens, Alencar busca o mesmo objetivo: chegar a um retrato do homem totalmente brasileiro.
Não cessa por aí a busca do escritor: servindo-se de fatos e lendas de nossa história, Alencar inventará ainda os chamados romances históricos.
No romance Guerra dos Mascates, personagens fictícios escondem alguns políticos da época e até o próprio imperador. As Minas de Prata é uma espécie de modelo de romance histórico tal como esse tipo de romance é imaginado pelos ficcionistas de então. A ação passa-se no século XVIII, uma época marcada pelo espírito aventureiro. É considerado seu melhor romance histórico.
Com as narrativas históricas, Alencar cria o mapa do Brasil que desejara desenhar, fazendo aquilo que sabe fazer: a verdadeira Literatura.
Nos trabalhos de Alencar há quatro tipos de romances: indianista, urbano, regionalista e histórico.
Evidentemente, essa classificação é muito esquemática, pois cada um de seus romances apresenta muitos aspectos que merecem ser analisados separadamente: é fundamental, por exemplo, o perfil psicológico de personagens como o herói de O Gaúcho, ou ainda do personagem central de O Sertanejo. Por isso, a classificação acima se prende ao aspecto mais importante (mas não único) de cada um dos romances.
PASSAGEM PELA EUROPA
No ano de 1876, Alencar vende tudo o que tem e vai com Georgina e os seus filhos para a Europa, buscando tratamento para sua saúde precária. Tinha programado uma estada de dois anos. Durante oito meses visita a Inglaterra, a França e Portugal. Seu estado de saúde se agrava e, mais cedo do que pensava, retorna ao Brasil.
RETORNO AO BRASIL
Apesar dos pesares, ainda sobra tempo para atacar D. Pedro II. Alencar publica alguns números do semanário O Protesto durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 1877. Nesse jornal, o escritor deixa vazar todo o seu velho ressentimento contra o imperador, que não o havia indicado para o Senado em 1869.
MORRE NOSSO GRANDE ROMANCISTA
José de Alencar
O escritor já com a saúde um tanto abalada, morre no Rio de Janeiro, no dia 12 de dezembro de 1877.
Alencar além de ser o nosso maior romancista e um dos maiores do mundo lusófono, foi também a base do que podemos chamar hoje: Literatura Brasileira.
Fonte: Academia Brasileira de Letras/www.bibvirt.futuro.usp.br/www.vidaslusofonas.pt
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