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Biodiversidade Amazônica – Conceito
De acordo com o conceito de BIODIVERSIDADE formalizado pela da Comissão de Ciência e Tecnologia do Congresso dos Estados Unidos da América (OTA – Office of Technology Assessment) em 1987 que assim se traduz: Biodiversidade abrange a variedade e a variabilidade entre os organismos vivos e os complexos ecológicos nos quais eles ocorrem.
Diversidade pode ser definida como o número de itens diferentes e sua frequência relativa.
Por diversidade biológica, esses itens são organizados em muitos níveis, variando de ecossistemas completos a estruturas químicas que são a base molecular da hereditariedade. Assim, o termo engloba diferentes ecossistemas, espécies, genes e sua abundância relativa.
Da conceituação acima é possível depreender que a biodiversidade não é somente o número de espécies como imagina a maioria das pessoas. É verdade que o número de espécies, em muitos casos, representa uma ideia vaga do que é a biodiversidade, mas, quando se trata desse assunto, devem ser incorporados na análise os fenômenos populacionais e os de comunidade.
Tal fato torna a biodiversidade algo tão complexo quanto de difícil entendimento.
Os complexos sistemas naturais amazônicos requerem atenção especial, uma vez que o maior remanescente de floresta tropical chuvosa é a Amazônia. Cuidar da biodiversidade tem elevado custo, mas é necessário, uma vez que todos querem um ambiente limpo, belo, etc.
Em resumo, a biodiversidade significa basicamente a variedade da vida. Como se trata de um conceito abstrato, não existe um cálculo que possa dimensionar claramente a biodiversidade, muito embora seja possível calcular diversidade de espécies que se refere somente à quantificação das mesmas.
Do ponto de vista social e político o conceito de biodiversidade está relacionado à perda de ambientes naturais e seus componentes, dada à preocupação que permeia diversos segmentos da sociedade e de governos.
Origem da Biodiversidade
A vida provavelmente surgiu na Terra a partir da evolução de moléculas orgânicas auto-replicantes que foram sendo selecionadas ao longo da história do planeta.
Desde então, ao longo de cerca de 3,5 bilhões de anos, a natureza vem sendo moldada e vem moldando o seu próprio ambiente, resultando na criação e extinção de espécies. Para que tais mudanças tenham ocorrido, foi necessário que houvesse uma seleção de padrões ecologicamente vantajosos, os quais se fixaram nas populações e nas comunidades naturais.
A grande biodiversidade amazônica é fruto da existência de: heterogeneidade ambiental e variabilidade genética.
As espécies atuais dependeram de uma série de mudanças ocorridas ao longo de muitos milhares de anos para que tenham se tornado o que são.
Na natureza, o processo de formação de novas espécies, a partir de ancestrais, adiciona novos representantes à lista de espécies, ou outros organismos. Porém, na natureza, as espécies são extintas naturalmente.
Infelizmente, as ações do ser humano têm acelerado o processo de extinção das espécies.
Novas espécies devem surgir quando uma parte da população da espécie vivente é isolada da outra parte, não havendo mais reprodução entre as mesmas, num processo chamado de especiação. Contrariamente, quando uma espécie não tem capacidade de garantir a sua permanência no ambiente ao longo de um tempo considerável, por cerca de mil anos, por exemplo, ela tende a ser extinta no local ou globalmente.
Charles Darwin, naturalista autor do livro ?a origem das espécies?, descreveu a evidente especiação dos tendilhões no arquipélago de Galápagos, na Venezuela.
Grandes extinções ocorreram com os dinossauros, que claramente marcam uma fase da história da vida na Terra na qual os répteis gigantes dominaram as paisagens.
A complexidade da biodiversidade
A teia da vida? que representa as espécies naturais organizadas é um emaranhado ordenado de relações que envolvem trabalho cooperado e/ou relações alimentares.
Quanto maior o número de espécies numa dada área, maior o número de interações e maior a complexidade. Deste modo, a biodiversidade é tão maior quanto maior for o número de espécies que habitam um dado sistema ou bioma.
Duas comunidades aquáticas hipotéticas, por exemplo, podem ter o mesmo número de espécies e apresentarem teias alimentares completamente distintas, inclusive com valor de complexidade distintos, o que mostra que somente o número de espécie não é suficiente para representar a biodiversidade.
As necessidades das espécies afetam a Biodiversidade
Cada espécie natural possui suas necessidades de alimentos, abrigo, reprodução, etc. Tais necessidades são satisfeitas na medida em que as mesmas usam recursos de outras espécies, causando uma interação.
Indivíduos de uma espécie predadora, por exemplo, se alimenta de indivíduos de uma espécie de presa, causando uma relação de benefício para o predador e prejuízo para a presa (predação).
A espécie presa pode ser herbívora e necessita se alimentar de uma espécie de planta. Deve-se notar com esse exemplo que toda vez que um organismo se alimenta na natureza, está estabelecendo uma interação biológica.
Quanto maior o generalismo na dieta das espécies, maior o número de interações e maior a complexidade da estrutura da comunidade.
Contrariamente, especialidade na dieta provoca uma diminuição da complexidade estrutural, uma vez que diminuem os caminhos de ligação desde a base (produção primária) até o topo (predação).
Utilização da Biodiversidade pelo ser humano
A espécie Homo sapiens é uma das que mais transformam o ambiente natural; cujas necessidades estão muito além da busca de alimento na natureza.
Esse fato é um dos mais preocupantes em relação à biodiversidade, pois a cada intervalo de uma ou duas décadas o consumo aumenta bastante.
Várias são as empresas que exploram os recursos de fármacos das florestas, principalmente os de origem vegetal.
Exemplo tal como a utilização de substâncias contidas em espécies da floresta brasileira é o da produção de artigos de perfumaria e cosméticos por duas empresas nacionais.
Além de benefícios diretos na forma de extração de produtos comerciais, os ecossistemas realizam ?serviços ambientais? tais como purificação do ar e da água, manutenção de temperatura ambiente estável, etc…
Relação entre Floresta e Recursos Hídricos
A bacia amazônica é coberta por grandes extensões de florestas densas. Na região, principalmente a partir da década de 1960, a fronteira agropecuária, com incentivo do Governo Federal, se expandiu para o Oeste do País. Tal expansão continua ocorrendo, uma vez que anualmente se observam ações de desmatamento para a conversão de florestas nativas em sistemas produtivos agrários.
O desmatamento raso é o método fundamental do modelo tradicional de desenvolvimento que tem sido utilizado e é a principal causa de distúrbios na natureza na região Amazônica, pois interfere em ciclos naturais, como os da água e do carbono. Tal método altera rapidamente as condições de retenção e circulação da água, o que resulta em problemas na disponibilidade hídrica. Por sua vez, a diminuição da disponibilidade hídrica causa problemas no funcionamento dos ecossistemas aquáticos, comprometendo sua prestação de serviços ambientais? ao ser humano.
Tal fato decorre principalmente da necessidade de haver um nível mínimo de qualidade e quantidade de água.
Para garantir a reposição dos estoques de água dos mananciais, especialmente os subterrâneos, deve-se favorecer maior poder de infiltração de água no solo, o que está muito relacionado com a cobertura vegetal.
Segundo Mendes et al. (2004), coberturas vegetais densas, como é o caso das matas, viabilizam maior infiltração de água, o que aumenta o tempo de sua retenção no solo, e, consequentemente, proporcionam maior oferta e disponibilidade para o manancial.
Além disso, o sombreamento ocasionado pela vegetação arbórea reduz a evaporação da água e promove a manutenção de maior constância da umidade do ar e da temperatura.
Por outro lado, nos campos antrópicos e nos campos naturais, os quais têm semelhanças em termos e condições ambientais e estruturais, a maior exposição do solo aumenta a evaporação e o expõe ao maior impacto da chuva.
Dentre os problemas em recursos hídricos resultantes de ações de desmatamento, além da deterioração da qualidade e da diminuição da quantidade de água, provocam também impacto direto na estabilidade ecológica, alteração nos padrões de drenagem superficial e subterrânea, alteração da recarga natural dos aqüíferos, aumento da sedimentação de partículas, aumento dos riscos de inundações (impacto no controle natural de enchentes), prejuízos à pesca comercial, e diminuição da biodiversidade.
A supressão da cobertura florestal promove, além de maior evaporação da água do solo, aumento na quantidade de calor irradiado e de calor refletido, o que contribui de modo significativo para o aumento de variações térmicas na região.
Modelos de cenários de futuro para a Amazônia dão conta de que o desmatamento, associado às grandes mudanças ambientais globais, deve provocar elevação da temperatura com processos de savanização de extensas áreas na região, resultando na diminuição da umidade relativa do ar e do nível dos rios, ou seja, a diminuição da disponibilidade hídrica.
Tal fato deverá ser agravado, segundo os modelos preditivos, devido a uma redução de 20% no volume de chuva nos próximos 20 a 50 anos, para uma visão mais pessimista (MARENGO et. al., 2007).
Biodiversidade Amazônica – Bacia Amazônica
Biodiversidade Amazônica
A grande bacia hidrográfica do rio Amazonas configura-se como a maior do mundo, tendo uma área de 6.925.674 km2 e sendo responsável pela descarga de 133.861 m3. s-1 no Oceano Atlântico (68% do total vertido pelos rios do país), considerando apenas as contribuições brasileiras.
Dada a sua configuração de característica de formação geológica, a bacia Amazônica apresenta uma grande variedade de sistemas naturais, o que resulta em grande quantidade de oportunidades ecológicas.
A conseqüência dessa heterogeneidade e grandiosidade territorial é uma incrível biodiversidade, considerada megadiversidade por pesquisadores do mundo inteiro.
Para se ter uma idéia dessa diversidade, a Amazônia concentra cerca de 80% das espécies de peixes conhecidas para toda a Região Neotropical. Há registro de que a Amazônia possui 50% das espécies de aves do Brasil, 40% dos mamíferos e 30% dos anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas).
As algas microscópicas conhecidas no Acre somam 463 espécies, a vegetação mais de 4.000 espécies, os peixes mais de 270 espécies, os anfíbios 126 espécies, as aves 723 espécies, e os mamíferos cerca de 210 espécies. Ressalte-se que no Acre as coletas de organismos são numericamente incipientes, sendo concentradas apenas nas porções extremas do leste e do oeste do Estado, havendo enormes “buracos negros” no conhecimento sobre a sua biodiversidade.
O potencial de utilização da biodiversidade se estende desde o uso de plantas e animais para fins ornamentais, até o uso dos componentes genéticos e químicos nas áreas de biotecnologia e farmacêutica.
Algumas das principais indústrias de cosméticos do Brasil, por exemplo, utilizam essências vegetais da Amazônia como base para algumas linhas de produtos.
Nesse campo, até comunidades tradicionais têm utilizado tais essências para fabricar produtos artesanais, o que tem melhorado a qualidade de vida de muitos.
Além disso, é comum a descoberta de falsos cientistas e turistas pirateando plantas e animais com a finalidade de fornecer as grandes indústrias estrangeiras os elementos e conhecimentos tradicionais para o aproveitamento de materiais genuinamente brasileiros.
Apesar da grande diversidade e de sua importância a Amazônia está sendo empobrecida pelo avanço do desmatamento que inviabiliza a continuidade da existência de populações de diversas espécies, inclusive várias de interesse comercial, com é o caso da castanheira (Bertholetia excelsa).
Outra grande ameaça à biodiversidade, que também decorre do desmatamento (lançamento de carbono na atmosfera), é o conjunto de mudanças ambientais globais que alteram ciclos naturais e põem em risco muitas espécies naturais e à saúde do ser humano.
Estima-se que a bacia amazônica contenha mais de 20% de todas as espécies de plantas superiores da Terra, bem como cerca de 20% de todas as aves e 10% de todos os mamíferos. Mais de 2.000 espécies conhecidas de peixes de água doce vivem no rio Amazonas e representam cerca de 8% de todos os peixes do planeta, tanto de água doce quanto marinhos.
Esse número de espécies é cerca de três vezes o total da ictiofauna da América do Norte e quase dez vezes o da Europa. Os números mais surpreendentes, no entanto, vêm dos insetos da bacia do rio.
Cada expedição à bacia amazônica produz inúmeras novas espécies de insetos, com algumas árvores individuais na floresta tropical fornecendo aos cientistas centenas de formas não descritas.
Os insetos representam cerca de três quartos de toda a vida animal na Terra, mas os biólogos acreditam que as 750.000 espécies que já foram nomeadas cientificamente representam menos de 10% de toda a vida de insetos que existe.
Por mais incríveis que sejam esses exemplos de biodiversidade, eles podem ser destruídos em breve à medida que o desmatamento desenfreado na bacia amazônica continuar. Grande parte dessa destruição é diretamente atribuível ao crescimento da população humana. O número de pessoas que se estabeleceram nos planaltos amazônicos da Colômbia e do Equador aumentou 600% nos últimos 40 anos, o que levou ao desmatamento de mais de 65% das florestas da região para a agricultura.
No Brasil, até 70% do desmatamento está ligado à pecuária. No passado, grandes subsídios governamentais e incentivos fiscais incentivaram essa prática, que teve pouco ou nenhum sucesso financeiro e causou danos ambientais generalizados. Os solos tropicais perdem rapidamente sua fertilidade, e isso permite apenas uma produção anual limitada de carne. Muitas vezes, é apenas 136 kg por acre, em comparação com mais de 1.360 kg por acre na América do Norte.
Danos adicionais às florestas tropicais da bacia amazônica estão ligados à extração comercial de madeira. Embora apenas cinco das cerca de 1.500 espécies de árvores da região sejam exploradas extensivamente, um tremendo dano é causado à floresta circundante à medida que elas são removidas seletivamente. Quando os madeireiros constroem estradas com equipamentos pesados, eles podem danificar ou destruir metade das árvores em uma determinada área.
O desmatamento que ocorre na bacia amazônica tem uma ampla gama de efeitos ambientais. A limpeza e queima da vegetação produz fumaça ou poluição do ar, que às vezes foi tão abundante que é claramente visível do espaço. A limpeza também leva ao aumento da erosão do solo após chuvas fortes e pode resultar na poluição da água por meio do assoreamento, bem como no aumento da temperatura da água devido ao aumento da exposição. No entanto, o problema ambiental mais alarmante e definitivamente mais irreversível que a bacia amazônica enfrenta é a perda de biodiversidade. Através do processo irrevogável de extinção, isso pode custar à humanidade mais do que a perda de espécies. Pode nos custar a perda de potenciais descobertas de medicamentos e outros produtos benéficos derivados dessas espécies.
OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE A BIODIVERSIDADE
Vista panorâmica da floresta tropical Amazônica
A floresta amazônica, como qualquer outra floresta, vive em equilíbrio com o seu meio. A vegetação encontra-se em equilíbrio ecológico, isto é, com as condições vigentes em seu meio.
Ela está continuamente retirando elementos e também está devolvendo material. Alterando o equilíbrio da floresta as consequências certamente serão desastrosas, pois quando a floresta é derrubada ou destruída ela não volta a sua forma primitiva (SIOLI, 1983).
As mudanças climáticas já estão afetando a floresta amazônica, em especial o regime de chuvas da região e, como consequência, o número de queimadas que ocorrem na região.
O círculo é vicioso: as emissões de gases de efeito estufa (GEE) aumentam a quantidade destes gases na atmosfera e, por consequência, o aquecimento global, que, por sua vez, altera o clima na região Amazônica, favorecendo climas mais secos, novas queimadas e mais emissão de GEE (OTCA, 2007).
O IPCC projeta que, até meados do século, os aumentos de temperatura e as correspondentes reduções da água no solo acarretem uma substituição gradual da floresta tropical por savana no leste da Amazônia.
Há um risco de perda significativa de biodiversidade por causa da extinção de espécies em muitas áreas da América Latina tropical. Todas estas afirmações são apresentadas no relatório com um alto nível de confiança (chance de cerca de oito em 10).
As alterações no clima afetam diretamente o ciclo de chuvas e ventos causando intensas oscilações na temperatura, sabe-se que a temperatura é um fator importantíssimo para o crescimento, desenvolvimento e reprodução de um infinito número de espécies, por tanto essas mudanças de regimes acarretam um vasto conjunto de efeitos biológicos que por sua vez afetam também o clima, alguns dos quais acabam, de forma circular, contribuindo com mudanças ambientais regionais que intensificam os efeitos das mudanças climáticas tanto em nível regional como global.
Por exemplo, o aquecimento do ambiente aquático resulta na migração de algumas espécies de peixes para ambientes mais frios, como o que ocorre com as populações de algumas espécies de plantas que se movimentam para altitudes maiores. Como diversas espécies de peixes de ambientes tropicais são importantes dispersoras de sementes, a manutenção da floresta nos ambientes afetados é comprometida, o que resulta na diminuição das populações de árvores e peixes (VAL & VAL, 2008).
Uma abordagem ampla sobre as mudanças climáticas globais e sua implicação na biodiversidade na Amazônia foi feita por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) apresentando que uma das consequências de tais mudanças é o aumento da incidência de radiação ultravioleta na superfície de ambientes aquáticos que, subsequentemente, tem um efeito dramático sobre as populações de peixes. E assim os efeitos das mudanças climáticas se potenciam no nível regional, com consequências globais imprevisíveis.
É importante se ter em conta que a velocidade com que essas mudanças estão ocorrendo é superior a todas as que ocorreram nos últimos dez mil anos. As estimativas mais recentes indicam que, mantidas as taxas atuais de desmatamento, entre dois e oito por cento das espécies desaparecerão nos próximos 25 anos e pelos menos 30% de toda a diversidade biológica existente no planeta sofrerão algum tipo de efeito das mudanças climáticas (VAL & VAL, 2008).
De acordo com VAL & VAL (2008) a cada expedição científica são descritas novas espécies em todos os níveis da escala filogenética, mas delas não se conhece a biologia e a capacidade adaptativa em face de mudanças ambientais. Os efeitos das mudanças climáticas podem ser opostos, dependendo da biologia, da capacidade adaptativa e da distribuição e ocorrência das espécies nos diferentes ecossistemas. Supostamente, espécies com hábitos restritos e ocorrendo em populações pequenas são mais vulneráveis do que espécies que apresentam maior plasticidade adaptativa e se distribuem de forma contínua por regiões mais amplas.
Por isso, a fragmentação de ecossistemas na Amazônia poderá ampliar os efeitos das mudanças climáticas na região De acordo com MARENGO (2007), e assim como o verificado nas previsões mundiais, o Brasil e sua população tendem a sofrer diferentes consequências das mudanças climáticas de acordo com a região e projeção do clima futuro. Com base nas análises dos modelos do IPCC AR4 e do relatório de Clima do INPE foram estimados dois cenários de altas (A2) e baixas (B2) emissões, assim como seus impactos em nível regional.
O cenário A2, para região Norte (inclusive Amazônia), mostra que temperatura pode se elevar de 4 a 8°C, com redução de 15% a 20% do volume de chuvas, atrasos na estação chuvosa e possíveis aumentos na frequência de extremos de chuva no oeste da Amazônia. O cenário B2, para mesma região, apresenta temperatura de 3 a 5°C mais quente, com redução de 5% a 15% nas chuvas. O impacto não é muito diferente daquele previsto pelo cenário A2. Os impactos na biodiversidade são significantes apresentando alto risco da floresta ser substituída por outro tipo de vegetação (tipo cerrado).
O VALOR DA BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA PARA O PLANETA
A floresta amazônica tem um papel fundamental na ciclagem d’água na região, a metade da chuva sendo atribuída à água reciclada através das árvores.
A transformação de áreas grandes de floresta tropical em pastagens poderia ter efeitos importantes em ciclagem de água e precipitação na região. Considerando que a evapotranspiração é proporcional à área foliar, a quantidade de água reciclada pela floresta é muito maior que a quantidade reciclada pela pastagem, especialmente na estação seca quando a pastagem fica seca enquanto a floresta permanece verde.
Isto é agravado pelo maior escoamento sob pastagem (FEARNSIDE, 2003).
Se áreas desmatadas se expandem, a evapotranspiração reduzida conduziria à chuva reduzida durante períodos secos na Amazônia.
Essas diminuições seriam aproximadamente constantes em termos absolutos ao longo do ano, mas em termos porcentuais eles aumentariam substancialmente durante a estação seca.
Embora o total de chuva anual diminuísse em apenas 7% pela conversão da floresta em pastagem, no mês de agosto a chuva média diminuiria de 2,2 mm/dia com floresta para 1,5 mm/dia com pastagem, o que implica em uma diminuição de 32% (LEAN et al., 1996).
Com conversão de floresta amazônica em pastagens, a chuva também seria reduzida nas regiões Centro-Oeste, Centro-Sul e Sul do Brasil (EAGLESON, 1986; SALATI & VOSE, 1984). O fato que aproximadamente 50% da chuva que cai na Bacia sai pelo rio Amazonas implica que os outros 50% seriam reciclados, presumindo que o vapor d’água ficaria dentro da Bacia. Na realidade, um pouco do vapor d’água escapa para o Pacífico, passando por cima do Andes, especialmente no canto noroeste da Bacia na Colômbia.
O papel do vapor d’água amazônico no suprimento de chuva para esta região deveria ressaltar a importância da conservação da floresta amazônica.
Por outro lado, a capacidade de geração hidrelétrica é particularmente dependente da chuva no verão austral (dezembro) que corresponde à estação chuvosa na parte sudoeste da Amazônia quando a diferença entre o comportamento hidrológico de áreas florestadas e desmatadas é menor. Aproximadamente 70% da chuva no Estado de São Paulo durante este período vem de vapor d’água amazônico, de acordo com estimativas preliminares por Pedro Silva Dias, da Universidade de São Paulo (FEARNSIDE, 2003).
Mais importante é o transporte de água para o as regiões sul e sul-central do Brasil, para o Paraguai, Uruguai e Argentina, além de cruzar o oceano Atlântico, para a parte sul da África.
Este transporte de água para outras bacias, especialmente a bacia do rio de la Plata, dá ao desmatamento amazônico um impacto que tem sido pouco apreciado ao nível da geopolítica (FEARNSIDE, 2003).
A importância da chuva para a agricultura implica em um valor monetário substancial para o país em manter um nível de precipitação adequada e estável nas principais zonas agrícolas brasileiras na região Centro-Sul. A crise energética nas partes não amazônicas do Brasil em 2001 tem aumentado o entendimento publico da importância da chuva, já que grande parte da geração de energia elétrica é por hidrelétricas. Infelizmente, pouco entendimento tem resultado desta ?crise? sobre a importância da manutenção da floresta amazônica para manter a capacidade geradora do País no futuro (MONZONI, 2008).
A manutenção da ciclagem de água é fortemente do interesse nacional brasileiro, mas, diferente de manter a biodiversidade e evitar o efeito estufa, não impacta diretamente os países da Europa, America do Norte e Ásia. Portanto, não tem o mesmo potencial para gerar fluxos monetários internacionais. No entanto, pela lógica, a importância da água amazônica para o Brasil deveria, no mínimo, contribuir para motivar o governo a aceitar fluxos monetários internacionais para manter floresta amazônica com base nos outros serviços ambientais, sobretudo, os ligados ao efeito estufa (SUGUIO, 2008).
Quando se fala em conservação do meio ambiente, muitas vezes se entende erroneamente como sinônimo de preservação intocável e se identifica o desenvolvimento do país como uma produção destrutiva.
Mas a verdade é que se unidades de conservação apoiadas por programas de uso e desenvolvimento sustentável que objetivassem a adoção de novas estratégias de manejo para sustentar a população da região ao invés de destruir a floresta e suas espécies animais fossem implantadas, pontos positivos seriam obtidos, pois somente a redução do desmatamento reduziria em quantidade significativa a quantidade de gases estufas lançados na atmosfera.
É preciso valorizar programas que tenham objetivos como estes, pois são importantes para a conservação da floresta amazônica e, consequentemente, para a manutenção da biodiversidade e do clima do planeta.
Biodiversidade Amazônica – Resumo
Muito se discute atualmente sobre as mudanças climáticas globais, despertando uma profunda reflexão sobre a necessidade de manutenção de condições ambientais adequadas que possibilitem ao ser humano e aos demais seres vivos se estabelecerem no planeta. Na verdade, as mudanças no clima são apenas parte das transformações que ocorrem no planeta Terra, que infelizmente estão sendo aceleradas pelo homem.
Sabe-se que o aquecimento global é causado pelo efeito estufa como consequência das atividades antrópicas poluidoras, como o lançamento anual de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera em decorrência da queima de 20 bilhões de toneladas de combustíveis fósseis, sete bilhões causados pelo desmatamento e dois bilhões de toneladas pela respiração de seis bilhões de habitantes.
Presume-se que o teor deste gás, que hoje chega a cerca de 0,035%, possa dobrar e atingir 0,06%.
O aumento da concentração de CO2 na atmosfera interfere diretamente no clima causando uma elevação da média da temperatura global em 2°C (SUGUIO, 2008).
Se essas previsões se confirmarem muitos eventos catastróficos podem ocorrer ao redor do planeta causando mudanças nas correntes oceânicas, direção dos ventos, alteração no ciclo de chuvas e também derretimento de geleiras e elevação do nível do mar. A vida na terra será afetada de maneira irreversível.
Para evitar que isso aconteça é necessário que haja uma maior interação entre os principais atores desse processo: os seres humanos e a natureza.
Deve-se analisar em escala mundial e implementar medidas efetivas em escala regional, principalmente no que tange ao ambiente amazônico, pois de acordo com previsões alarmantes há possibilidade de que 60% da Amazônia venham a converter-se em savana por intensificação da anomalia climática ?El Niño? em função do aquecimento global o que causaria a extinção de grande parte da biodiversidade dessa região.
Somente com um esforço conjunto será possível impedir que as mudanças climáticas avancem mais.
Fonte: www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br(Lisandro Juno Soares Vieira)/Marilu Teixeira Amaral/Rúbia Camila dos Santos Vale/www.encyclopedia.com
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